Governador eleito do MS afirma que Lei Kandir é uma das maiores responsáveis pelo endividamento dos estados



O governador eleito do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, afirmou nesta quarta-feira (20), em audiência pública para discutir a regulamentação da Lei Kandir, que essa legislação (Lei Complementar 87/96) é, atualmente, um dos maiores responsáveis pelo endividamento dos estados.

VEJA MAIS

A Lei Kandir, criada em 1996, isenta do pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) os produtos primários e semi-elaborados destinados à exportação. Para compensar os estados pelas perdas decorrentes da isenção desses impostos, a legislação prevê que a União repasse os valores desonerados, a título de compensação pelas perdas.

Na Comissão de Assuntos Sociais (CAE), Puccinelli explicou que o governo federal fez um acordo para ressarcir os estados com a metade dos impostos desonerados pela Lei Kandir, mas não tem cumprido a promessa. Para exemplificar, o governador eleito afirmou que a desoneração das exportações no ano de 2004 foi de no mínimo R$ 15 bilhões, podendo até ter ultrapassado a casa dos R$ 18 bilhões. Mas o governo federal, segundo ele, somente reconheceu o valor R$ 10,4 bilhões. Desse total, os R$ 5,2 bilhões (50% do total reconhecido) acertados pela União só foram pagos "na marra", ao longo de 18 meses, de acordo com Puccinelli.

- A Lei Kandir deveria durar quatro anos, mas já está durando dez anos. Estamos empobrecendo. Esperamos que pelo menos nos seja garantido o ressarcimento de cinqüenta por cento do valor acordado, mas cinqüenta por cento dos números reais, para que os estados não quebrem - afirmou Puccinelli.

A secretária da Fazenda do Governo do Pará, Rute Tostes, defendeu a imediata regulamentação do artigo 91 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que dispõe sobre o repasse dos recursos da União aos estados. Ela lembrou que os estados não são contra o espírito da Lei Kandir, que é o de estimular as exportações, mas sim contra o não-ressarcimento das perdas pela União, conforme acordo estabelecido quando a legislação foi criada.

- O que não achamos justo é não sermos ressarcidos pela União. Precisamos da regulamentação urgente da Lei Kandir, para que não precisemos mais passar pela humilhação de, a cada início de ano, termos que ir ao Congresso Nacional pedir a inclusão de valores no Orçamento da União para atender aos estados - afirmou Rute.

A necessidade da regulamentação imediata da Lei Kandir também foi defendida pelo representante do governo de Minas Gerais, Ricardo Luiz Oliveira de Souza, segundo o qual o artigo 91 da ADCT é claro quanto ao repasse dos recursos desonerados para os estados.

- Nós não podemos concordar com uma mera previsão orçamentária para nos atender. O que precisamos é do efetivo ressarcimento dos tributos da exportação - afirmou Ricardo Souza.

Já o representante do Ministério da Fazenda, André Paiva, afirmou que o governo federal está atento a todas as propostas para resolver o problema do repasse de recursos. Uma das sugestões que estão sendo estudadas, segundo ele, é a criação de um fundo patrocinado pela União e pelos estados que permitiria a estes últimos receberem os créditos obtidos com a desoneração das exportações. Mas essa e outras propostas têm que ser discutidas, segundo André, na reforma tributária.

- Esse fundo seria bancado, em parte, pela importação dos estados e, em parte, com aporte da União. Mas isso depende de mudança constitucional. Por isso, entendemos que o espaço mais apropriado para discutir essa e outras propostas é a reforma tributária - destacou André Paiva.



20/12/2006

Agência Senado


Artigos Relacionados


Expedito Júnior comenta reportagem que aponta Incra como um dos maiores responsáveis pelo desmatamento na Amazônia

Governo afirma que responsáveis pelo vazamento de óleo na Bacia de Campos serão penalizados

Falta de repasse do Fundef agrava endividamento dos estados, diz governador do Amazonas

Leonel de Moura Brizola foi o único político eleito pelo povo a governar dois estados

Motoristas responsáveis por acidentes com morte poderão ter penas maiores

Estados não produtores só querem mudar regras que não lhes beneficiam, afirma governador Sérgio Cabral