GOVERNO DEVE AGIR NO NORDESTE PARA NÃO PERDER CONTROLE DA SITUAÇÃO, DIZ ALCÂNTARA



O governo federal precisa agir rápido para resolver o problema da seca no Nordeste, porque o descontrole pode resultar numa situação social "séria e grave", segundo advertiu hoje (dia 8) o senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE).

- Não é caso para debate jurídico de saber se o saque é válido ou não, se há alguém insuflando o saque ou se ele é feito por gente desesperada por comida. Temos é que agir e atuar, senão poderá haver descontrole - disse.

Lúcio Alcântara leu um relatório sobre a exploração dos nordestinos pelos industriais da seca, feito em 1958, a mando do então presidente Juscelino Kubitschek. O relatório, de quase 20 páginas, foi feito pelo coronel Orlando Ramagem e narra a situação de pobreza no Nordeste naquele ano, quando foi registrada uma das piores estiagens na região.

De acordo com esse relatório, o coronel ficou em dúvida sobre o que mais o estarreceu: se o "quadro dantesco da seca, a figura humilhante do flagelado ou a miséria moral dos aproveitadores da desgraça alheia". Para Lúcio Alcântara, o presidente Fernando Henrique Cardoso deveria fazer o mesmo, e enviar uma pessoa de sua confiança para ver o que realmente acontece na região. O senador lamentou que, nesses 40 anos, o país permaneça com as mesmas discussões sobre o problema, com governo e oposição tirando proveito político da situação.

Depois de afirmar que não há mais espaço para soluções como as frentes de trabalho, Lúcio Alcântara citou a alternativa adotada pelo governador do Ceará, Tasso Jereissati, de instituir uma renda mínima para as vítimas da seca na região, e disse que deve haver outras soluções mais efetivas para combater o problema.

As soluções adotadas até então pelo governo, acrescentou, vão resultar novamente em gastos excessivos, porque não há planejamento, mas somente soluções "tópicas e paliativas" que não resolvem a situação. O senador observou, ao ler o relatório do governo Kubitschek, que o problema da seca continua o mesmo daquela época, com a perplexidade dos governantes diante desse quadro, e disse que a situação não pode continuar.

Na parte intitulada "observações gerais" do relatório do coronel Orlando Ramagem, lida pelo senador, ele descreve: "A região atingida pela seca apresenta um quadro indescritível. É um deserto onde tudo secou e talvez até as lágrimas dos flagelados... Tudo é desolação. O quadro sócio-econômico apreciado nessa região é dos que somente podem subsistir em países subdesenvolvidos".

O coronel relata minuciosamente as irregularidades praticadas por autoridades na região, tais como omissão, falta de coordenação entre poderes para lidar com o problema da seca, completa ausência do governo em determinadas regiões, e interferência de políticos na caça ao voto dos flagelados, com apadrinhamentos e intimidações, interferindo irregularmente nas frentes de trabalho e nos recursos destinados às obras de emergência.

Na conclusão do relatório, o coronel diz que a seca afeta a segurança nacional e tende a se agravar caso não sejam tomadas medidas enérgicas e oportunas pelo governo. Segundo ele, o dinheiro destinado às vítimas é desperdiçado e as autoridades são omissas ou coniventes com o problema.

Como uma das sugestões para combater a pobreza no Nordeste, o relatório aponta a utilização de 3% da renda tributária da União na região, além da criação de uma comissão técnica, com a presença das Forças Armadas, para planejar e realizar medidas de combate à seca.



08/05/1998

Agência Senado


Artigos Relacionados


Para líderes, governo recorrerá ao STF para não perder controle sobre Orçamento

Governo federal deve agir duramente contra o Canadá, afirma Suplicy

Mão Santa: Parnaíba deve perder sua ZPE por omissão do governo estadual

ALCÂNTARA ELOGIA GOVERNO POR ATUAÇÃO NO CONTROLE DA AIDS

Governo tem total controle da situação fiscal, afirma Mantega

Alcântara acha que lista do governo para votações deve ser melhor discutida