Governo e sindicalistas defendem redução de jornada de trabalho em frigoríficos
Representantes do governo e sindicalistas defenderam nesta terça-feira (10) medidas para melhorar as condições de trabalho nos frigoríficos, entre as quais a redução da jornada de trabalho para seis horas diárias. Eles participaram de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), na qual relataram a incidência de grande número de acidentes de trabalho e doenças decorrentes das condições enfrentadas pelos funcionários das indústrias de alimentação.
O representante da Diretoria de Políticas de Saúde e Segurança Ocupacional do Ministério da Previdência Social, Remigio Todeschini, afirmou que a indústria de alimentação está entre os setores brasileiros que apresentam maior número de acidentes de trabalho.Para ele, a redução da jornada de trabalho no setor alimentício contribuirá parauma redução também no número de acidentalidade no país.
Opinião semelhante foi manifestada pela assessora do Departamento de Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Soraia Wingesper Vilas Boas, para quem a saúde do trabalhador está vinculada à questão da carga horária. Ela explicou, no entanto, que é preciso também garantir ao trabalhador medidas preventivas que evitem problemas de saúde.
- A gente tem que pensar num modelo diferenciado de atenção à saúde, que busque uma vigilância contínua do trabalhador - explicou.
Segundo o procurador de Trabalho de Santa Catarina Sandro Sarda, as atuais condições de trabalho nos frigoríficos são "absolutamente incompatíveis com a saúde física e mental dos trabalhadores".
- Estão abatendo frangos pelo pescoço e trabalhadores pelos membros superiores. Há um verdadeiro exército de jovens trabalhadores lesionados. Estamos todos consumindo produtos do fruto do sofrimento humano - afirmou o procurador, que denunciou jornadas de trabalho diárias de até 16 horas no setor.
Além da redução da jornada de trabalho, Sandro defendeu ainda algumas pausas durante o trabalho, para atenuar as conseqüências de ações repetitivas.
Denúncias
Na audiência, vários representantes de sindicatos e confederações denunciaram maus tratos no setor frigorífico e levaram trabalhadores lesionados para relatar os problemas no setor. O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação, Arthur Bueno de Camargo, afirmou que é preciso criar uma lei para assegurar condições humanas dentro do setor.
- Nosso país está caminhando para o primeiro mundo, mas à custa da saúde dos trabalhadores. Chegamos num momento que precisamos de uma lei que possa realmente dar um basta nesta exploração - ressaltou Arthur Bueno.
O secretário-geral do Sindicato Intermunicipal dos Empregados de Indústrias de Fabricação de Massas, Biscoito, Macarrão, Panificação, Confeitaria, Laticínios, Frigoríficos, Abatedouro e Produtos Derivados de Mato Grosso do Sul (Sindmassa), Fábio Alex Salomão, observou que nem mesmo as fiscalizações nas empresas têm surtido efeito.
- A fiscalização reduz por um dia o ritmo excessivo de produção, mas, no outro, volta tudo como antes - garantiu.
Para Fábio, os trabalhadores dos frigoríficos deveriam lotar o plenário do Senado no dia de votação do projeto, para fazer pressão pela aprovação da matéria e, ao mesmo tempo, identificar os parlamentares que estão a favor e os que estão contra a proposta.
Já o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Porto Alegre (RS), Renato de Oliveira Borges, denunciou que 30% dos funcionários da empresa Perdigão estão mutilados devido a problemas no trabalho, sem receber qualquer apoio da empresa.
- Para um funcionário da Perdigão conseguir algum benefício, precisa entrar na justiça - denunciou Renato.
10/11/2009
Agência Senado
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