Governo Obama abre caminho a "diálogo harmonioso", diz embaixador indicado para EUA



O início do governo Barack Obama indica a possibilidade de construção de um "diálogo harmonioso" entre o Brasil e os Estados Unidos, disse nesta quinta-feira (12) o futuro embaixador brasileiro em Washington, Mauro Luiz Iecker Vieira, cuja indicação recebeu parecer favorável da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). A mensagem presidencial será agora examinada em Plenário.

Segundo o diplomata, o novo governo norte-americano tem emitido sinais de que considera o Brasil um importante interlocutor para temas globais. Ele anunciou a criação de um "mecanismo abrangente", que reunirá 18 comitês e grupos de trabalho atualmente em funcionamento, sob a presidência da Secretária de Estado Hillary Clinton e do ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. E recordou "atitudes positivas" de Obama em relação ao continente, como a sua presença em um encontro de presidentes da União das Nações Sul-Americanas (Unasul).

- Vamos ter uma grande possibilidade de negociar e, quando necessário, manter nossas posições discordantes, sem comprometer a relação como um todo - disse Vieira, atual embaixador brasileiro em Buenos Aires, cuja indicação teve como relator o senador Heráclito Fortes (DEM-PI).

O embaixador considerou muito boas as perspectivas de recuperação da economia dos Estados Unidos, que, como observou, "são e continuarão sendo a maior potência econômica e militar do mundo, apesar de todas as previsões em contrário". Ele ressaltou ainda o recorde no comércio bilateral - de US$ 53 bilhões - registrado em 2008, apesar da crise econômica que começou no ano passado.

A ampliação do comércio com os Estados Unidos foi registrada com satisfação pelo senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), para quem a relação com Washington deveria ser considerada prioritária pela política externa brasileira. Ele criticou o protecionismo argentino e disse ver o Mercosul como um "peso" para o Brasil, uma vez que dificulta a celebração de acordos comerciais com outros países. Para ele, o Chile adotou foi "sábio" ao evitar o ingresso como membro efetivo do Mercosul.

O senador José Agripino (PFL-RN) também criticou o Mercosul, que, para ele, estaria "cambaleante". E considerou oportuno o reinício do debate sobre a possível criação de uma Área de Livre Comércio das Américas (Alca), proposta nos anos 90.

Durante o debate, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) pediu atenção ao futuro embaixador a respeito de um acordo a ser firmado com os Estados Unidos para evitar a dupla tributação de renda. Segundo o senador, outros acordos já firmados com países da Europa têm funcionado bem e evitado a dupla tributação, em países como Itália e França, de atividades no Brasil de empresas como Fiat e Peugeot. Mas o modelo sugerido por Washington, alertou, seria lesivo aos interesses do Brasil e, caso aceito, poderia levar outros países a defender uma revisão dos acordos já existentes.

Ainda a respeito do relacionamento econômico bilateral, o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) lembrou que os produtores de suco de laranja brasileiros estão sendo acusados de prática de dumping pelos produtores americanos. Esta seria talvez uma represália, como observou, às sanções decretadas pela Organização Mundial de Comércio contra produtores de algodão, por subsídios que receberam do governo dos Estados Unidos.

Durante o debate nas comissão, a indicação do embaixador recebeu elogios dos senadores Roberto Cavalcanti (PRB-PB), Paulo Duque (PMDB-RJ), João Tenório (PSDB-AL), Eduardo Suplicy (PT-SP). Pedro Simon (PMDB-RS), Marcelo Crivella (PRB-RJ), Augusto Botelho (PT-RR) e Cristovam Buarque (PDT-DF), além do presidente da comissão, senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG).



12/11/2009

Agência Senado


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