Guerra do emprego domina campanha








Guerra do emprego domina campanha
Propostas para a criação de postos de trabalho ocupam centro do debate eleitoral

BRASÍLIA - O debate sobre o emprego ocupou definitivamente o centro da campanha eleitoral, depois que os candidatos à Presidência apresentaram propostas ambiciosas para a criação de postos de trabalho. Até o presidente Fernando Henrique Cardoso entrou ontem em cena para contestar os números da oposição e explicar o aumento do desemprego durante o Plano Real.

O debate foi desencadeado pelo candidato tucano, José Serra, que lançou na TV o Projeto Segunda-feira, prometendo criar 8 milhões de empregos. Acusado por Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB) de não ter autoridade para assumir tamanho compromisso por fazer parte de um governo no qual o desemprego aumentou, Serra adotou a tática de dizer que sabe "como fazer" e passou a desafiar o petista Luiz Inácio Lula da Silva, cujo programa fala em 10 milhões de empregos.

Em resposta à ofensiva, o petista usou o programa eleitoral de ontem para apresentar seu projeto Carteira Profissional de Primeiro Emprego, acenando para as empresas com isenção fiscal de R$ 200 mensais por cada jovem empregado. Em Minas, Lula assegurou nunca ter prometido criar 10 milhões de empregos, alegando que seu programa apenas aponta a "necessidade" de abrir tal número de vagas. O documento petista intitulado Compromisso com a Soberania, o Emprego e a Segurança do Povo Brasileiro afirma que "o País precisa criar 10 milhões de empregos". No debate da TV Record, Lula disse que é "necessário" criar 10 milhões de postos de trabalho. Em outro texto, entregue à CUT, garante que o número pode "parecer exagerado, mas não é".

Promessa ou meta, a criação de empregos não depende só da vontade dos candidatos.

Economistas têm dito que para reduzir significativamente a taxa de desemprego o Produto Interno Bruto (PIB) precisaria crescer a uma taxa média de pelo menos 5% ao ano, o que não acontece desde a década de 70. Uma forma de estimular a criação de empregos é incentivar setores da economia em que a mão-de-obra é intensiva, como agricultura e construção civil - o que já faz parte do programa de quase todos os candidatos. O problema é saber se o próximo governo terá condições financeiras para apoiar esses setores como promete.


Serra insiste em debate com Lula, 'sem agressões'
Tucano cobra explicação para proposta de emprego e volta a acusar adversário de evitar a discussão

BRASÍLIA - Preocupado em evitar que o confronto com o PT desça ao nível das baixarias de campanha, o candidato do PSDB a presidente, senador José Serra (SP), voltou ontem a convocar o petista Luiz Inácio Lula da Silva para debater a questão do emprego no País. O tucano quer saber - mas sem agressões - que propostas de governo Lula tem para o futuro e como ele pretende criar 10 milhões de empregos. "Jamais vou me voltar contra o Lula", afirmou.

A proposta petista para a área de emprego foi o tema central das declarações do tucano. "Mais útil e importante do que renunciar à paternidade da proposta é a gente debater como o PT vai criar 10 milhões e nós vamos criar 8 milhões de empregos, que é uma proposta realista. Eu venho fazendo isto o tempo inteiro", observou Serra, convencido de que o petista está "evitando o debate".

Ao deixar ontem o Memorial JK, onde participou de uma homenagem ao presidente Juscelino Kubitschek, pela passagem do centenário de seu nascimento, Serra insistiu em que quer manter o debate eleitoral em alto nível. Ele previu que cada um acabará mostrando o que julga de errado na proposta do outro, e concluiu: "Isto é normal, faz parte do regime democrático, sem nenhum elemento de natureza pessoal. Eu debato idéias."

Na mesma linha, o ex-senador José Richa, um de seus conselheiros políticos, garantiu ontem que os ataques recíprocos entre o tucano e o candidato do PPS, Ciro Gomes, não irão se reproduzir na relação com Lula, depois da polarização com o PT. "O Ciro provocou demais e o Serra acabou perdendo a paciência, mas com Lula é diferente: não haverá ataques", diz Richa. O ex-governador explica que Serra apenas pede aos eleitores que haja a comparação entre os dois. "Isto não é ofensa".

Segurança - Depois da visita ao memorial, Serra foi ao Ministério da Defesa, para uma audiência com o ministro Geraldo Quintão. "Vamos conversar sobre as questões da defesa, que envolvem as três Forças, e não sobre segurança", salientou o tucano antes do encontro. Ele lamentou o recente episódio da rebelião no presídio de Bangu I, mas evitou responsabilizar o governo petista de Benedita da Silva e disse que a situação não é propriamente nova.

"O que está acontecendo reflete uma tremenda impunidade em relação aos criminosos perigosos, que vai da legislação à atitude policial, passando pelo sistema de segurança", disse Serra. Ele acha que o governo do PT tem sua responsabilidade, assim como tem o governo anterior, de seu adversário na corrida sucessória, Anthony Garotinho (PSB). "Este é um problema crônico no Rio de Janeiro. O PT não tem responsabilidade por ter criado esta situação, mas é o governo responsável por isto."

Serra considerou "uma aberração, um absurdo" que Fernandinho Beiramar comande esquartejamentos e assassinatos cruéis de presos, na condição de prisioneiro. Também criticou a transferência do criminoso para o Rio. E lembrou que quem mandou Beiramar ser transferido foi o juiz de execuções criminais de Brasília - quando Miguel Reale, na época ministro da Justiça, era contra a transferência.

"É óbvio que é preciso tirá-lo do Rio, mas o problema não se resolve tirando o Fernandinho do Rio.

Se resolve fazendo presídios que funcionem como centros de reclusão dos criminosos, que sejam presídios de verdade e não casas de luxo a partir de onde são dirigidos crimes, assaltos, o tráfico e até assassinatos muito cruéis", analisou.


Lula agora fala em recuperar empregos
Ele diz que terá de gastar os 4 anos de mandato para reaver postos 'fechados por Serra e FHC'

DIAMANTINA - Numa resposta às críticas do tucano José Serra, que o acusa de não dizer como vai gerar novos empregos no País, o presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem em Diamantina que, se eleito, terá de gastar seus quatro anos de mandato para recuperar os empregos que "Serra e o governo de Fernando Henrique Cardoso fecharam".

"Eles (o governo e Serra) deveriam olhar para trás e ver o que fizeram. Vou tentar recuperar os postos de trabalho que eles fecharam em oito anos", disse Lula. O petista afirmou que em seu programa não promete criar 10 milhões de empregos, mas que o Brasil precisa desse número para resolver o problema do desemprego. "Nós afirmamos com todas as letras que o Brasil precisa gerar 10 milhões de empregos. Se vamos gerar um pouco menos ou um pouco mais, vai depender da retomada do desenvolvimento", disse. "Nós, do PT, vamos transformar a questão do emprego numa verdadeira obsessão. Para isso acontecer, vamos ter de retomar o crescimento econômico, reduzir os juros, aumentar a produção interna, criar uma Secretaria de Comércio Exterior."

Logos depois, Lula voltou a dizer que não vai atacar nenhum dos candidatos a presidente da República. "Nossa estratégia até agora funcionou bem. Vamos fazer uma campanha sem criticar os adversários. Tenho coisas para falar. É melhor falar bem do PT, do meu programa, do que falar mal dos outros. Deixa eles falarem, não tem problema."

A promessa, no entanto, não durou muito. Durante a entrevista coletiva, ele deu mais uma resposta a Serra: "Acho que quando um candidato começa a ler o programa do outro para fazer críticas, é porque ele não tem programa." Lula sugeriu ao tucano que leia também seus outros programas, como o da moradia popular, da segurança pública, da educação, de energia e de saúde. "Quem sabe eles saibam o que deixaram de fazer em 8 anos."

Diamantina, cidade visitada ontem por Lula, fica na porta de entrada do Vale do Jequitinhonha, tido como uma das áreas mais pobres do País. Estava enquadrada no setor de responsabilidade da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), autarquia extinta pelo presidente Fernando Henrique. Lula prometeu, mais uma vez, que se chegar ao poder recriará a Sudene. "Nesse País, quando você tem um ladrão numa instituição pública, em vez de prender o ladrão você acaba com a instituição."

Segundo ele, de todo o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) arrecadado na Região Nordeste, 60% são originários de projetos aprovados pela Sudene.

Anarquismo - Lula voltou a falar da rebelião ocorrida no complexo penitenciário de Bangu, no Rio, na quarta-feira.

Parabenizou a governadora Benedita da Silva (PT) pelo desfecho e criticou o governo federal por não ter uma política para isolar os bandidos perigosos.

"É o anarquismo elevado às suas últimas conseqüências. Um cidadão preso conta com mais poder do que a sociedade livre", disse. "Essas pessoas que são efetivamente perigosas têm que estar subordinadas a uma prisão ligada ao governo federal. A Polícia Federal tem que se envolver nisso."

Lula destacou que no programa de segurança do PT está claro que bandidos perigosos têm de ter tratamento diferenciado. "Você não pode deixar o coronel Hildebrando Pascoal (deputado cassado) preso no Acre. Ele tem de ser levado para um lugar longe de onde era comandante. Levar o Fernandinho Beira-Mar para o Rio de Janeiro é colocar ele num mundo de seu domínio."


No palanque, Aécio chama Lula de 'presidente'
Tucano tentou se corrigir, petista riu; lado a lado, os dois pediram votos pelas ruas

DIAMANTINA - O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido), conseguiu reunir ontem, num mesmo palanque, o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e o tucano Aécio Neves, que disputa o governo de Minas e, na sucessão presidencial, apóia José Serra, do PSDB.

Itamar declarou apoio a Lula e Aécio. Durante cerimônia pelas comemorações do centenário de nascimento do presidente Juscelino Kubitschek, em Diamantina, Itamar agraciou os dois com a medalha JK.

Com a atitude, acabou fazendo uma provocação a José Serra. Permitiu que Aécio e Lula tirassem fotos juntos pelas ruas de Diamantina, onde pediram votos lado a lado, e que levantassem a taça de pentacampeão, especialmente enviada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para a casa onde residiu Juscelino.

Itamar também concedeu a Lula o direito de transformar a cerimônia de entrega de medalhas num comício. O candidato não perdeu tempo. Chamado a discursar, enalteceu JK e fez campanha.

Num ato falho, Aécio Neves, referiu-se a Lula como "presidente Luiz Inácio Lula da Silva". Em seguida, tentou se corrigir: "Quero dizer, presidente do PT."

Lula riu muito. Depois, disse que ficara satisfeito, mas que compreendia que aquela referência fora um lapso do presidente da Câmara e candidato à sucessão de Itamar. "Não ganhei nada ainda.

Estou aguardando o meu adversário do segundo turno."

Aécio e Itamar chegaram ao Aeroporto de Diamantina minutos antes de Lula.

Enquanto os dois esperavam pelo o candidato petista, bandeiras de apoio a Lula e a Aécio se misturaram. Uma ala gritava o nome de Aécio; outra, o de Lula. Itamar enfrentou algumas vaias, comandadas por universitários que reclamavam do veto a um crédito para as universidades estaduais.

Prefeitos de diferentes partidos que apóiam Lula e Aécio também foram ao encontro dos dois. É o caso de Joaquim Antônio Guimarães, do PMDB, prefeito de Couto Magalhães, que trabalha pela eleição do petista e do tucano. Também apóiam os dois candidatos de partidos tão diferentes o prefeito de São Gonçalo do Rio Preto, Adalberto Pires, do PFL, e seu vice Carmelino Gomes, do PSDB.

Abraçados - Nas ruas centenárias de Diamantina, patrimônio cultural da humanidade em 1999, Aécio e Lula caminharam juntos.

Ao chegarem à Praça JK, onde foram entregues as medalhas, eles avançaram até as proximidades de uma bica, cuja água até hoje é potável. Esperaram Itamar Franco. Ao chegar, o governador pediu socorro a Lula. "Vamos comigo, para você dividir as vaias." Lula riu e se abraçou a Itamar e a Aécio.

Juntos, os três foram até o palanque armado na Praça JK. Ao discursar, Lula agradeceu a medalha de homenagem pelo centenário de JK. Disse que durante os cento e poucos anos de República, o Brasil jamais teve um presidente com o desprendimento e a vocação empreendedora de Juscelino.

"Quanto mais eu leio sobre JK, mais acho que a grande virtude dele era a relação que tinha com a sociedade através de suas organizações. O plano de metas de JK e a sua execução só foram possíveis porque ele governava de forma plural."

Lula afirmou que, durante o governo de Juscelino, o povo brasileiro recuperou a auto-estima.

"Nenhum povo consegue vencer na vida se está desacreditado de sua autoridade, de si mesmo, das instituições."

Segundo Lula, no governo de Juscelino o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7%, a produção industrial, 80%, as indústrias de aço, 100%, a metal-mecânica, 380% e a infra-estrutura para transporte, 600%. O candidato citou os dados referindo-se a uma biografia de JK, que acabou de ler. (J.D.)


Garotinho acredita ser novo alvo de Serra
Para candidato, tucano ‘já demonstra preocupação’ com a sua candidatura

BELO HORIZONTE – O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, disse ontem que se sente o novo alvo do presidenciável José Serra (PSDB). “Ele já demonstra preocupação com a nossa candidatura, (tanto) que colocou todo o seu horário eleitoral no rádio hoje (ontem) para me atacar”, disse o ex-governador do Rio. “Bem no estilo dele, baixaria, não assina que ele é que está colocando.”

No programa de rádio do tucano, foram feitas críticas às promessas de criação de empregos de todos os adversários. Sobre Garotinho o locutor fala: “Ele diz meio timidamente, parece que nem ele mesmo acredita, que vai gerar 8 milhões de empregos.” Garotinho afirmou que não pretende rebater as acusações, mas disse que o PSB iria entrar com um requerimento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo direito de resposta e suspensão do programa do candidato do PSDB.

Segundo ele, o motivo de entrar na mira de Serra seria a sua ascensão nas pesquisas eleitorais. Garotinho acusou o tucano de ser um candidato “que não sabe perder”. “Toda vez que alguém encosta perto dele, ele apela, mas eu não estou preocupado com o Serra”, afirmou, dando os ombros.

O presidenciável contestou ainda a declaração de Serra de que se o presidente Juscelino Kubitschek estivesse vivo, “seria tucano”. “Juscelino era um desenvolvimentista, provavelmente não seria do partido que está provocando uma taxa de crescimento tão baixa no Brasil, que é o PSDB”, afirmou. “O Juscelino foi o primeiro brasileiro a ter coragem de discordar do Fundo Monetário Internacional. Não seria um tucano em hipótese alguma”, completou Garotinho, antes de ser agraciado com o diploma “Sociedade dos Amigos do JK”, homenagem oferecida à ele pela Câmara Municipal de Belo Horizonte.

Desequilíbrio – A solenidade foi esvaziada: dos 25 convidados, somente 6 – incluindo Garotinho e a candidata do PSB ao governo de Minas, Margarida Vieira – compareceram. Entre os ausentes, estavam o governador Itamar Franco (sem partido) e o candidato do PSDB ao governo de Minas, Aécio Neves.

Na visita à capital mineira, Garotinho não poupo u seus outros dois adversários, além de Serra. Ele acusou Ciro Gomes (PPS) de não ter equilíbrio para ser presidente do Brasil. “No Rio de Janeiro eu fiz um governo cheio de problemas, mas nem por isso perdi o equilíbrio. O homem público não pode perder o equilíbrio.” O candidato do PSB voltou a criticar o petista Luiz Inácio Lula da Silva pela sua “falta de experiência administrativa” e pela aliança com o senador José Sarney.


No Sul, Britto e Tarso têm programas suspensos
Coligações que apóiam os candidatos parecem se preocupar só em agredir o adversário

PORTO ALEGRE – A campanha ao governo do Rio Grande do Sul atingiu, nesta semana, tão alto nível de agressividade que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) suspendeu a veiculação de dois programas de televisão, um do candidato Antônio Britto, da coligação O Rio Grande em 1.º Lugar (PPS-PFL-PSL-PT do B), e outro de Tarso Genro, da Frente Popular (PT-PCB, PC do B, PMN). Confirmando a tendência da polarização da disputa, os blocos trocam acusações mútuas de irregularidades.

A principal preocupação nos programas, aparentemente, é levantar suspeita em relação ao adversário. O grupo de Britto acusa o PT de tentar esconder o ex-tesoureiro do partido, Jairo Carneiro, que denunciou o envolvimento da sigla com o jogo do bicho e o uso de verbas com origem não explicada pelo Clube de Seguros da Cidadania. Nos programas, lembram que Tarso Genro comprou passagens para viagens particulares à Europa na Pangea Viagens e Turismo, que tem como sócio Diógenes de Oliveira, ex-arrecadador de recursos para campanhas do PT e diretor do Clube de Seguros da Cidadania. E afirma que Tarso, por já ter advogado ações contra o Estado, não estaria apto a comandar o governo.

Resposta – O coordenador de campanha do PT, José Eduardo Utzig, diz que Carneiro nunca esteve escondido, tanto que depôs na CPI da Segurança Pública, no ano passado, quando desmentiu a acusação que havia feito ao partido. Lembra, ainda, que Tarso tem direito de comprar passagens pagas com seu dinheiro em qualquer agência de viagens, inclusive a Pangea, e que é normal que um advogado defenda um cliente.

Desde que foi eleito prefeito, em 2000, Tarso está desligado do escritório dele. A pedido da Frente Popular, o TRE determinou a suspensão do programa que fazia menção às relações de Tarso com Diógenes.

A Frente Popular também tem um programa suspenso, no qual denuncia supostas irregularidades envolvendo as empresas de Assis Roberto de Souza, ex-secretário de Energia, Minas e Comunicações de Britto e homem que comandou o processo de privatizações do Estado na gestão de 1995 a 1998.

Outras peças da propaganda salientam que Britto foi consultor do Banco Opportunity, atual sócio da CRT, empresa de telefonia privatizada em seu governo; e chamam a atenção para uma investigação do Ministério Público Estadual sobre o superfaturamento de competições esportivas no governo anterior.

INTERTITULO/INTERTITULOA defesa do ex-governador é feita pelo coordenador de campanha de Britto, Nelson Proença, que lembra que o Opportunity perdeu o leilão de privatização da CRT e só se tornou sócio da empresa quase dois anos depois, quando a Telefonica saiu do negócio.

Proença também destaca que Britto nunca teve relações profissionais com as empresas de Assis Roberto de Souza e diz que as denúncias apresentadas pelo PT ao Ministério Público, que causaram a investigação no Departamento de Desporto, são manobras eleitoreiras.

Sem benefício – A estratégia de privilegiar as acusações ao adversário direto esquentou a temperatura da campanha, mas não parece ter beneficiado os candidatos envolvidos. Quem mais ganhou com isso, até agora, foi Germano Rigotto (PMDB-PSDB), que, nas sondagens de intenções de votos do Centro de Pesquisa do Correio do Povo, em 12 de agosto, saltou de 4,1% para os 10,4% do último levantamento, publicado em 9 de setembro. Celso Bernardi (PPB) também cresceu, de 5,2% para 7,4%. No mesmo tempo, Britto caiu de 35% para 31% e Tarso subiu de 31,2% para 32,5%.


Artigos

O debate
João Mellão Neto

Moderador: - Senhores telespectadores, boa noite! Estamos iniciando um debate inédito na TV brasileira. Para poder participar dele os candidatos tiveram de se submeter à aplicação do "soro da verdade". Ninguém poderá mentir! Mais ainda, o soro induz as pessoas a se abrirem completamente. Como se cada um estivesse no divã de seu psicanalista! Começaremos com uma pergunta a todos os quatro candidatos: por que o senhor decidiu candidatar-se à Presidência?

Candidato 4: - Veja bem, Boris. Quando eu entrei neste jogo, eu achava que tinha chances de ganhar. Lá, na minha igreja, a gente acha sinceramente que fala com Deus. E que Deus sempre responde. Eu tive uma revelação de que iria ser presidente da República! Larguei o governo do meu Estado e entrei de corpo e alma nessa fria. Agora eu já sei que não vai dar e, para não cair no ridículo, eu trato de bancar o engraçadinho. Meu negócio é gozar os outros e fazer um cacife para disputar a próxima eleição.

Candidato 3: - Desde criança eu sonho ser presidente. As cartomantes sempre disseram que eu sou um predestinado. Já tentei uma vez e não deu. Estou aqui de novo e vou brigar até o fim. E já vou avisando: quem me chamar de destemperado, eu vou quebrar a cara!

Candidato 2: - Para um homem inteligente e preparado como eu, a Presidência é um caminho natural. Meus adversários me chamam de pretensioso e antipático. Logo eu! De qualquer maneira, eu estou tratando de aprender a sorrir, a cumprimentar as pessoas e até mesmo a dizer obrigado.

Votem em mim! Reconheçam o meu esforço!

Candidato 1: - Sou candidato porque lá no partido o pessoal acharam que eu devia ser. Os meus adversários dizem que eu não tenho experiência. Como não tenho? É a quarta vez que eu me candidato. Sou o candidato mais experiente de todos!

Moderador: - Vamos à rodada seguinte! Cada um pergunta aos demais e seja lá o que Deus quiser...

Candidato 1 - Não vou mais fazer perguntas para o candidato 3 porque ele é um destemperado...

Candidato 3 - Destemperada é a sua mãe!

Candidato 1 - ... Minha pergunta, então, vai para o candidato 2: você não tem vergonha de ser candidato do governo?

Candidato 2 - Eu não sou candidato do governo!

Candidato 3 - É, sim! Quem tem cara de jacaré, couro de jacaré, jeito de jacaré, o que é?

Todos: - Jacaré!

Candidato 2 - Vocês dizem isso porque não sabem da minha vida. Este governo só me ferrou. Eu queria ser ministro da Fazenda e o FHC não deixou. Deram-me a pasta do Planejamento. Eu já me estava acostumando a mandar pouco quando o Fernando me convenceu a ser candidato a prefeito de São Paulo. Entrei numa gelada. Perdi o ministério e tomei uma bela lavada na eleição. Implorei para voltar. Seis meses depois, o amigo da onça do presidente me chamou e me colocou na área da Saúde. Logo eu, que sou economista! Passei três anos vacinando criança e bancando o doutor Kildare. Haja saco! Quando me lancei como candidato, o Fernando não me ajudou em nada. Ele preferia o Malan, ele sempre gostou mais do Malan do que de mim... (lágrimas, soluços) Tive de dar rasteira em meio mundo para me fazer notar. Não, não sou candidato do governo. O FHC só me apóia porque não tem outro.

Candidato 1: - Sic transit gloriam mundi...

Moderador: - O que quer dizer isso?

Candidato 1: - Não sei ao certo, mas a gente achamos que latir pega bem...

Moderador: - Latir?!

Candidato 1: - É. Falar em latim. O candidato 2 não me convenceu. Se for eleito, ele vai manter a mesma equipe que está aí...

Candidato 2: - E você? Qual vai ser a sua equipe? Os moderados ou os radicais?

Candi dato 1: - Eu vou tratar de balançar...

Moderador: - Balancear!

Candidato 1: - É isto. O poder é como um torno mecânico: a gente aperta aqui, solta ali, dá uma desbastada, raspa os excessos...

Candidato 2: - Você está enrolando! Não respondeu à minha pergunta!

Candidato 1: - E você quer que eu diga o quê? Isso se resolve depois... O poder é como um torno...

Candidato 2 - Você já disse isso antes! Como é que você vai conciliar a CUT, o MST e os trotskistas com os recém-convertidos à ideologia do mercado?

Candidato 1 - Duda! O que eu digo para ele?

Uma voz ao fundo: - Diz que o seu critério vai ser o da competência!

Candidato 1 - O meu critério vai ser o da competência! Eu vou deixar o pessoal competirem entre si e ficar com o que sobrar...

Candidato 4 - Assim não dá! Só os dois falam, nós também queremos falar!

Candidato 3 - É isso aí!

Moderador: - Ordem no debate!

Candidato 1: - Como eu dizia, o poder é como um torno...

(E vai por aí afora. Não ria. Um deles será o nosso próximo presidente.)


Editorial

'TÁ TUDO DOMINADO'

Há pouco mais de um mês, Fernandinho Beira-Mar - que, graças à formação adquirida nas favelas do Rio e a uma pós-graduação feita na Colômbia, com os narcoguerrilheiros das Farc, se tornou um dos mais perigosos chefes do tráfico de drogas e de armas do País - usou o seu telefone celular para dar instruções precisas a alguns membros de sua quadrilha sobre como executar três traidores. Enquanto vários disparos liquidavam os seus desafetos, Beira-Mar dizia a seu interlocutor, às gargalhadas: "Só tô preso, não estou morto não." O telefonema foi interceptado por promotores, que também gravaram um telefonema do meliante, encomendando armas, inclusive um míssil Stinger, para seus comparsas.

Anteontem, Fernandinho Beira-Mar comprovou, mais uma vez, que está vivo, dominando o Presídio Bangu I, que as autoridades cariocas classificaram como sendo de segurança máxima, e executando quatro presos que, também da prisão, chefiavam quadrilhas rivais. E não apenas isso: sem sair da cadeia, deixou nove bairros sem comércio e provocou grande inquietação em toda a cidade, a ponto de um dos policiais militares que cercavam Bangu I ter comentado:

"Agora eles vão tomar o Rio."

Os promotores também gravaram o telefonema no qual Fernandinho Beira-Mar comemorou a chacina: "Aqui está tudo bem. Tá dominado, está tudo dominado."

E, de fato, estava. Fernandinho Beira-Mar dominou o presídio quando quis e, como quis, matou os bandidos que se opunham a seus planos de controlar hegemonicamente o tráfico no Rio, numa primeira etapa para estabelecer um comando único nas principais praças consumidoras de drogas, especialmente São Paulo, articulando-se com o PCC.

Estava tudo dominado, antes mesmo de começar. Só isso explica que Fernandinho Beira-Mar e seus cúmplices tenham conseguido dominar os agentes penitenciários e ter acesso ao local onde estavam guardados dois revólveres e uma escopeta. Só isso explica que Beira-Mar tenha dito à polícia, pelo telefone celular - que é o que não falta nos presídios brasileiros, embora os presos estejam proibidos de usá-los - que não voltaria para a cela antes de "terminar o serviço". E também não há outra explicação para o fato de os agentes penitenciários terem formado uma barreira humana para impedir que a tropa de choque, autorizada pela governadora Benedita da Silva, entrasse na ala dominada pelos amotinados.

A rebelião começou quando Fernandinho Beira-Mar quis e terminou quando ele achou conveniente. Há dias, a juíza que preside os processos sobre os celulares encontrados na Penitenciária Bangu I foi avisada pelo diretor do Departamento do Sistema Penitenciário (Desipe) que haveria um "banho de sangue" na prisão. Quando Beira-Mar foi transferido para o presídio dito de segurança máxima, comunicou a quem quis ouvir que controlaria o tráfico do Rio a partir da prisão e, no processo, mataria Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, que cumpria penas acumuladas de mais de 270 anos de cadeia, mas jamais deixou de comandar seus "soldados" do interior da prisão.

Como Fernandinho Beira-Mar é um homem de palavra e as autoridades penitenciárias não moveram uma palha para evitar o crime anunciado, deu-se a chacina.

Terminado o motim, a governadora do Rio exonerou o diretor do presídio e suspendeu 12 agentes penitenciários. Foi uma débil reação diante da magnitude do que vem ocorrendo no Rio de Janeiro, em matéria de segurança pública. Há dois meses, o Ministério Público obteve uma ordem judicial para o afastamento de todos os agentes penitenciários de Bangu I, por serem suspeitos de conivência com os presos que contrabandeavam armas e celulares para o interior do presídio. A direção da Desipe afastou apenas alguns dos agentes e os chefões do tráfico continuaram a comandar suas quadrilhas de dentro da prisão, usando telefones à vontade.

O que se passa no interior da penitenciária não é apenas, como afirmou um delegado, uma guerra entre quadrilhas - "lobos comendo lobos". Sobre os escombros da autoridade do Estado - cujos agentes não conseguem impor um mínimo de disciplina a criminosos que a Justiça segregou da sociedade -, os barões da droga ditam suas leis: matam, ordenam o fechamento do comércio em nove bairros, metralham escolas e as obrigam a suspender as aulas. São, enfim, os donos da cidade.


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09/13/2002


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