Heráclito denuncia ter sido coagido por juiz e promotor de Barreirinhas



O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) denunciou que, no último sábado (2), véspera das eleições municipais, foi abordado pelo juiz Fernando Barbosa de Oliveira Júnior e pelo promotor Ronaldo Campos Júnior, ambos da comarca de Barreirinhas, no Maranhão. As duas autoridades do Judiciário revistaram a bagagem de Heráclito e das pessoas que o acompanhavam, à procura de malas contendo dinheiro que supostamente seria utilizado na campanha do candidato a prefeito de Barreirinhas, Albérico de França Ferreira Filho, do PMDB.

A denúncia teria partido do adversário de Albérico, o candidato petista Milton Dias Rocha Filho. Segundo o senador pelo Piauí, capangas armados contratados para atuar na segurança do candidato do PT acompanharam toda a operação. Heráclito foi a Barreirinhas, junto com cinco convidados, para fazer turismo. Ele disse que quando a aeronave que o conduziu pousou no campo de pouso de Barreirinhas encontrou-se com vários políticos locais, entre eles Albérico Filho.

- Surpreendi-me ao encontrá-lo ali e perguntei o porquê de sua presença em Barreirinhas. Ele me contou que era candidato a prefeito pelo PMDB. Conversamos um pouco, desejei-lhe boa sorte e fui com meus amigos fazer o passeio - relatou Heráclito.

Segundo o senador, dois automóveis Land Rover da empresa turística contratada por ele, a Tropical Adventure, estavam aguardando no aeroporto. De lá eles foram para o ancoradouro, para embarcar em lanchas e iniciar o passeio. Enquanto alguns dos seus amigos trocavam de roupa, contou, houve a abordagem do juiz e do promotor.

Heráclito lembrou que o juiz, logo ao chegar, disse: "Quero saber onde estão as quatro malas que o senhor trouxe com dinheiro para a campanha do candidato do PMDB". Depois de negar e de registrar que sequer atuava politicamente no Maranhão e que também não era partidário do candidato citado, o senador disse que indagou do juiz se havia alguma denúncia por escrito, o que foi negado. A denúncia teria sido verbal.

As malas do senador e dos seus convidados foram revistadas. O único objeto estranho encontrado foi uma arma, cujo dono, um major da Polícia Militar piauiense, logo se identificou. Heráclito registrou que vários homens portando sacolas e alguns com armas expostas ostensivamente se posicionaram a uma distância de 20 metros em volta dele e seus amigos.

- Pensei a princípio que eram membros da Polícia Federal ou da Polícia Militar do Maranhão dando cobertura ao juiz e ao promotor. Para minha surpresa, fui informado depois que eram homens de confiança do candidato do PT à prefeitura. Não sei se estavam ali para dar proteção aos membros do Judiciário ou para intimidar um senador da República - afirmou Heráclito.

Apartes

Por meio de apartes, 13 senadores demonstraram inconformismo com o episódio e expressaram sua solidariedade a Heráclito Fortes. O senador Edison Lobão (PFL-MA) informou que o corregedor regional eleitoral, o desembargador Jorge Rachid, comunicou que o juiz foi notificado para prestar esclarecimentos sobre o caso. O senador Romeu Tuma (PFL-SP), corregedor do Senado, garantiu que fará uma apuração detalhada do caso.

O senador Ney Suassuna (PMDB-PB) denunciou que um carro de som de sua propriedade, que estava sendo utilizado em campanhas na Paraíba, recebeu vários tiros. O senador Tião Viana (PT-AC) declarou que foi vítima de injúria e difamação no Acre, praticados com a conivência do juiz eleitoral. Ele também disse não acreditar que integrantes do PT tenham participação nos atos intimidatórios contra Heráclito.

Na véspera da eleição de 2002, recordou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), o comitê do seu candidato quase teria sido invadido por um promotor de Justiça acompanhado por dois deputados federais e vários integrantes do PT, diante da denúncia de que haveria dinheiro escondido para ser utilizado na campanha. Já o senador Maguito Vilela (PMDB-GO) relatou que em Goiás um vereador do seu partido foi assassinado e um candidato a prefeito, também do PMDB, levou quatro tiros dias antes da eleição.

O presidente José Sarney garantiu que medidas enérgicas serão tomadas para evitar que fato semelhante se repita. Também manifestaram sua solidariedade a Heráclito os senadores Demostenes Torres (PFL-GO), Sérgio Guerra (PSDB-PE), Lúcia Vânia (PSDB-GO), Efraim Morais (PFL-PB), Ramez Tebet (PMDB-MS), Patrícia Saboya (PPS-CE) e Almeida Lima (PDT-SE).



05/10/2004

Agência Senado


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