Humberto e Freire abrem diálogo entre PT e PPS



Humberto e Freire abrem diálogo entre PT e PPS A proposta do encontro partiu de Humberto Costa, que está preocupado com as especulações de que o PPS poderia caminhar para uma aliança com o Governo Jarbas Um encontro-chave para a unidade e as esquerdas de Pernambuco em 2002. O senador e presidente nacional do PPS, Roberto Freire, e o pré-candidato ao Governo estadual pelo PT, Humberto Costa, confirmaram ontem a reunião que acontece hoje à noite, em local não anunciado, que pode marcar a aproximação entre pós-comunistas e petistas. O encontro ocorrerá após ato do PPS, no Cabo de Santos Agostinho, de recepção aos novos filiados. Além do debate sobre o processo sucessório, no Estado, o encontro assinala a abertura de diálogo entre o PT e o PPS, a partir da iniciativa petista, que tenta anular a hipótese de o PPS caminhar para uma aliança com o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB). “Circulam esses boatos, que admitem o PPS vir a se articular com Jarbas, no próximo ano. Mas a entrevista de Roberto Freire (ao Jornal do Commercio, na edição de ontem) é conclusiva sobre a questão (descartou a possibilidade)”, assinalou o petista Humberto Costa. Segundo avaliação nas esquerdas, o esvaziamento do PPS, com as saídas do ex-prefeito de Caruaru, João Lyra Neto, e do deputado federal Pedro Eugênio, filiados ao PT – depois de ter perdido o senador Carlos Wilson (PTB) –, poderia empurrar os pós-comunistas para o lado de Jarbas, por se sentirem fragilizados para a disputa proporcional. “O mais importante é que significa a retomada da discussão sobre a aliança das esquerdas. A gente já tinha conversado sobre o assunto há algum tempo”, destacou o senador Roberto Freire, ainda lamentando as perdas de quadros. De acordo com Freire, o encontro serve para desviar a atenção do noticiário sobre o que chama de “esquizofrenia eleitoral”, razão para a debandada da semana passada. “Eles (não cita os nomes de João Lyra e Pedro Eugênio) deixaram a questão política de lado e só se preocuparam com a questão aritmética da sobrevivência eleitoral”, analisou Freire. Na compreensão do senador, as desfiliações recentes “têm muito de eleitoral e de oportunismo”. A proposta da reunião de hoje foi feita pelo secretário de Saúde do Recife, Humberto Costa, em conversa por telefone com Roberto Freire, na sexta-feira passada. O pré-candidato petista adiantou que vai dizer a Freire que o PT “não tem nenhum interesse em isolar o PPS do campo das esquerdas” , e que, ao contrário, o objetivo é “retomar o debate sobre a unidade em Pernambuco”. O senador revelou, por sua vez, a mesma intenção da parte dos pós-comunistas. “É a chance de uma aproximação para começarmos a discutir que procedimentos adotar, a partir de agora”, assinalou Freire. O senador, juntamente com os prefeitos do Cabo, Elias Gomes, e de Petrolina, Fernando Bezerra Coelho, recepcionam os novos filiados ao PPS, na noite de hoje, na Câmara Municipal do Cabo. Para o ato, foi convidado o presidenciável Ciro Gomes, que não confirmou a presença até o início da noite de ontem. Raul Jungmann é o último reforço do PMDB O ministro do Desenvolvimento Agrário do Governo Fernando Henrique, Raul Jungmann (ex-PPS), foi o último e o maior reforço do PMDB de Pernambuco para as eleições do próximo ano. Jungmann filiou-se ao partido no último sábado, prazo final da Justiça Eleitoral, encaminhando ao TRE, por meio de um assessor, a ficha de filiação – abonada pelo presidente estadual peemedebista, Dorany Sampaio. O ministro não pôde vir de Brasília, segundo a sua assessoria, por estar acompanhando a situação na Fazenda Buritis, em Minas Gerais, propriedade do presidente Fernando Henrique Cardoso ameaçada de invasão pelo MST. O PMDB estadual pretende realizar, nesta semana, um ato festivo para marcar a adesão do ministro. Também no último dia para a filiação partidária e troca de partidos, o deputado Eudo Magalhães (até então sem legenda) assinou a sua ficha de ingresso no PPB, legenda que tem como maior nome nacional o ex-governador de São Paulo Paulo Maluf, e que pertence à base de apoio parlamentar do governador Jarbas Vasconcelos. “Eu já tinha uma aproximação muito grande com o PPB, antes mesmo da filiação ao PFL. Já fui candiato a prefreito de Água Preta pelo PPB. Meu filho Noé Magalhães é vereador em Palmares pelo partido, e há muitas lideranças na Mata Sul, ligadas a nós, que são do PPB”, justificou o deputado, que consolidou com a filiação no sábado. Também pesou na escolha - segundo Eudo Magalhães – o fato de o PPB fazer parte da base aliada do governador Jarbas Vasconcelos na Assembléia Legislativa. “Não poderia ficar em uma legenda que não fosse da aliança do Governo”, ressaltou Eudo, que chegou a afirmar ter recebido convite de partidos da situação e até da oposição, embora não citasse qual nem quem o convidou. Fortaleceu, ainda, a opção pelo PPB o fato de assumir, de imediato, a vice-liderança da legenda na Assembléia, conforme compromisso da direção partidária. “Além disso, tenho bom relacionamento com Henrique Queiroz, Manoel Ferreira e Bruno Rodrigues (deputados na Assembléia)”, ressaltou. Na Câmara Municipal do Recife, o presidente do PSD, vereador Sílvio Costa, consegui cooptar, de última hora, o peemedebista Murilo Mendonça e Ronaldo Ribeiro (Ronaldinho, do PTN), ambos candidatos a deputado estdual no próximo ano. Itamar mantém suspense sobre filiação BELO HORIZONTE – Mesmo encerrado o prazo de filiação partidária, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, mantém em suspense o seu destino partidário, sem esclarecer se continua filiado ao PMDB ou se assinou a ficha de filiação ao PDT. Além de manter a dúvida, Itamar cobrou do PMDB mineiro reação aos ataques sofridos pela cúpula do partido. Mas os peemedebistas mineiros, liderados pelo vice-governador Newton Cardoso, decidiram não revidar. Mas há indícios de que Itamar decidiu ficar no PMDB para disputar a prévia que a sigla realizará em janeiro, quando será conhecido o candidato do partido à Presidência da República. Filiaram-se ao PMDB, no sábado, o seu escudeiro Alexandre Dupeyrat, assessor especial do governador, e o ex-líder do Governo Itamar na Assembléia, o deputado Sávio Souza Cruz (ex-PSB). As duas fichas foram abonadas por Itamar. Apesar dos indicativos, os secretários do governador e os peemedebistas mineiros não arriscam dizer se ele realmente ficou no PMDB. Ontem, segundo o secretário de Comunicação do Governo mineiro, Luiz Márcio Vianna, Itamar disse apenas que “domingo é dia de descansar, e segunda-feira é dia de trabalhar”. Nos últimos 30 dias, Itamar ameaçou deixar o partido três vezes. Mesmo derrotado na convenção nacional, há um mês, anunciou que ficaria. Agora, por divergências com a cúpula do PMDB sobre o programa de TV que divulgará a prévia, ele voltou a ameaçar deixar o partido. O PMDB mineiro, cansado das idas e vindas de Itamar, decidiu na sexta-feira colocar panos quentes nas trocas de acusações entre os escudeiros de Itamar e o PMDB governista, que naquele dia disse que ninguém agüenta mais “as chantagens do governador”, segundo o deputado federal Geddel Vieira Lima (BA). No sábado, uma nota do secretário de Governo, Henrique Hargreaves, cobrou reação do PMDB-MG. “Eu lamento e espero que o PMDB mineiro reaja contra a postura do PMDB nacional. Não é desrespeitando e desprestigiando a pessoa do governador de Minas que irão levantar o PMDB”, disse. E atacou: “Os próprios dirigentes, sem a menor cerimônia, dizem que precisam ficar acoplados ao Governo Federal até dezembro, para usufruir de verbas orçamentárias e o pior é que o presidente da República sabe disso. Trata-se de ambiente próprio de um cassino. OVÍDIO DE ÂNGELIS ENTRA NO PSDB O presidente Fernando Henrique atropelou os partidos aliados para filiar ao PSDB o presidente mundial do BankBoston, Henrique Meirelles. O banqueiro estava com um pé no PMDB, que de quebra perdeu também o ministro Ovídio de Ângelis (Desenvolvimento Urbano). O ministro acompanhou o amigo Meirelles rumo ao PSDB. “Mais do que nunca estou no ninho tucano”, declarou o ministro na manhã de ontem, em Goiânia, durante a entrevista coletiva. Ontem, demostrando surpresa com a saída de Ovídio do PMDB, o líder do partido na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), pediu a saída do ministro do cargo “já amanhã (hoje)”. “Não me consta que Ovídio tenha mudado de partido. Se isso aconteceu, ele deve deixar o Governo imediatamente”, disse Geddel. Colunistas Cena Política - Ciro Carlos Rocha Sem Terceira Via O intenso troca-troca partidário que marcou a semana passada deixa evidentes alguns velhos macetes da política nacional. O primeiro é que na hora da onça beber água, como se diz, o que vale mesmo é a sobrevivência política e, aí, o fator local. Isso ficou provado, mais do que nunca, no ingresso de João Lyra Neto e Pedro Eugênio no PT. Antes comprometidos com a campanha presidencial de Ciro Gomes (PPS), estão agora com Lula (PT) para o que der e vier. Outro ponto é a falta de vontade política para se discutir a reforma político-partidária no Congresso. Os próprios parlamentares, embora desgastados com um troca-troca de legenda, que chega a ser motivo de piada, não movem uma palha para mudar a situação. A maioria quer a manutenção de uma legislação velha, mas que a beneficia. A terceira evidência é que, em Pernambuco, não dá mesmo para uma Terceira Via nas disputas políticas. Carlos Wilson tentou isso duas vezes e terminou derrotado. O PPS, agora, terá que escolher: a via de Jarbas (com o PFL) ou a do petista Humberto Costa (com o PSB). Bate que eu gosto! Política tem dessas coisas: após passar uns tempos em baixo astral com Jarbas Vasconcelos, por conta de comentários sobre o secretariado, Inocêncio Oliveira não perde mais uma viagem do governador ao interior. É, inclusive, um dos mais ‘paparicados’ no palanque oficial. Relação parecida tem agora o vereador Liberato Costa Júnior (PMDB) com o prefeito João Paulo (PT). Isso após ter até se negado a cumprimentá-lo. Tudo em alto astral. PMDB neles O ministro Raul Jungmann (Reforma Agrária) participa hoje, na Fundaj, de seminário contra a seca, no primeiro ato de trabalho após se filiar ao PMDB para disputar mandato de deputado. Amanhã, com José Serra – o presidenciável que não decola –, lança o Bolsa-Alimentação no Cabo. Briga boa Fernando Bezerra Coelho pode até levar o PPS para o Governo Jarbas, mas terá que brigar. Suas críticas ao presidente Eduardo Carvalho foram reprovadas no partido. “Ele pensa que se muda direção do partido em gabinete? O fórum é o congresso partidário", disse Waldemar Borges. Euforia no PPS só lá fora Se sofreu esvaziamento em Pernambuco, o PPS tem pelo menos os números nacionais para argumentar. Iniciou a legislatura com três deputados federais e, hoje, contabiliza treze. Foi a legenda que mais cresceu na Câmara Federal. O inferno astral de Roberto Freire Político habilidoso, Roberto Freire vive o seu inferno astral. O interessante é que o PPS chegou a pensar em ‘importá-lo’ para Brasília, Rio ou Goiânia, onde, diziam, seria mais fácil a reeleição. Agora, a salvação ventilada são os braços de Jarbas. Outra musa Além de Shirley Oliveira, a filha de Inocêncio que vai disputar mandato federal, o PFL pode contar com outra musa. Em Petrolina, são grandes os rumores indicando que a empresária Patrícia Coelho disputará uma vaga na Assembléia. Filha de Osvaldo, ela dirige a TV Grande Rio. Haja Coelho O problema é que o PFL já tem as candidaturas à reeleição dos deputados estaduais Geraldo Coelho e Cyro Coelho (secretário de Recursos Hídricos). Sem contar que a eleição proporcional será dura no São Francisco, com vários candidatos da terra. Mas Patrícia, dizem, está disposta. O PT também está animado com os votos de Petrolina e região. Tanto que dois petistas ensaiam candidatura a deputado estadual: o padre e vereador Antônio Moreno e a vice-prefeita Isabel Cristina. Preocupação a mais para os candidatos à reeleição Ranilson Ramos (PPS) e Diniz Cavalcanti (PMDB). Mesmo convidado por Eduardo Campos, o deputado Lula Cabral não conseguiu espaço no PSB por conta de briga local (Cabo). Mas pode ‘tirar uma gréia’ com o grupo do prefeito Elias Gomes (PPS), que previu seu abraço com Maluf, por falta de espaço na esquerda do Cabo para políticos do seu perfil. Lula Cabral acabou no PDT de Brizola. Contra a vontade de alguns governistas, que gostariam de humor na propaganda do PMDB para se contrapor ao jabuti do PT, as novas inserções do partido mantêm a linha. O forte será uma pesquisa que o PMDB encomendou, na qual os pernambucanos aprovam obras do Governo, entre elas a BR-232. Rapidinhas: 1 – Há quando tempo estamos sem o ministro da Integração Nacional? 2 – O ministério é tão esvaziado assim que ninguém quer? 3 – Por que os marqueteiros governistas não contratam o prefeito Tony Gel, que descobriu o “PTdoO”? 4 – Fernando Ferro ganha ou perde com a entrada dos concorrentes João Lyra e Pedro Eugênio no PT? Editorial Educação não convencional O Recife tem uma experiência valiosa, na criação de modelos educacionais pioneiros. Basta dizer que aqui nasceu, no começo da década de 60 do século passado, o famoso Método Paulo Freire, que se propunha a alfabetizar adultos em quarenta e cinco horas de aulas. Também era chamado de Pedagogia da Libertação, porque usava como palavras-chave, para fins de educação, aquelas utilizadas no trabalho manual dos educandos, geralmente operários e camponeses. De início, usava instrumentos audiovisuais em vez das tradicionais cartilhas impressas. Interrompido pelo golpe militar de l964, terminou sendo exportado para vários países do mundo, sobretudo os de língua portuguesa situados no continente africano. Recentemente, o publicou uma matéria dando notícia de mais um método de ensino, que será adotado em assentamentos de reforma agrária distribuídos por sete municípios pernambucanos. Trata-se, ao que se diz, de um modelo copiado da experiência colombiana em unidades de ensino da zona rural. E vem ali sendo utilizado apenas nas escolas multisseriadas, ou seja, aquelas que reúnem alunos de algumas faixas etárias em variados estágios de aprendizado, numa mesma sala de aula, sob a condução de um monitor-orientador. As escolas já implantadas, em oito municípios de Pernambuco, com apoio do Banco Mundial (Bird), obtiveram bons resultados. Principalmente, quanto ao nível de evasão registrado, apenas 6%. Mesmo que se considere precipitada uma avaliação da atividade-fim, é importante que a iniciativa prossiga. São muitos os casos em que a multiplicação das classes se depara com dificuldades impostas pela Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB). Esta determina a necessidade de, no mínimo, 30 alunos para a abertura de uma nova escola de Ensino Fundamental regular. Ora, na zona rural às vezes é impossível obter-se esse número de matrículas, salvo conduzindo estudantes de um lugar para outro em veículos automotores. Assim é que, para dar um exemplo, o Engenho Moreno se viu na contingência de aderir ao sistema da escola multisseriada. E com o apoio do Incra, em convênio com o Ministério da Educação, adquiriu livros didáticos, mapas, globo, maquete do corpo humano e outros equipamentos de ensino. Houve, também, treinamento para professores. É importante que o MEC mantenha a sua Lei de Diretrizes e Base da Educação, em consonância com padrões de ensino educacionais universais. Mas, também é elogiável que participe de experiências não convencionais. Modelo semelhante ao “colombiano” já está sendo implantado até em escolas da rede estadual de ensino. No caso, para se dar agilidade à conclusão do curso médio (1º e 2º anos), por alunos fora da faixa etária típica. Também um monitor dirige o programa de todas as matérias, da Física à Literatura Brasileira, através de vídeos seqüenciados acompanhados de material de apoio didático, livros e cadernos de exercícios. O Brasil investe 7,4% do PIB em saúde e educação. Estamos acima da média mundial. Mas, a herança histórica é tão negativa, que o nosso índice de analfabetismo anda é alarmante. Em 1999, 13,8% da nossa população, ou seja, 22,8 milhões de brasileiros, ainda eram analfabetos, um indicador de atraso, apesar da nossa Constituição, de 1988, estabelecer que o ensino fundamental é obrigatório e a gratuidade é um dever do Estado. Há uma distância grande entre o desejo do constituinte e a verdade do dia-a-dia no País. As últimas iniciativas para sanar esse quadro comprometedor apresentam-se multifacetadas e, o que é mais grave, contraditórias. É necessário que as leis possam ser cumpridas, e para isso elas precisam ser adequadas a nossa realidade. O esforço empreendido, até agora, nas tentativas de soerguimento da educação no País parece frágil demais para sustentar ações relevantes no setor do ensino, apesar dos avanços conseguidos em anos recentes. Topo da página

10/08/2001


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