IPT investe em método de análise de árvores nos centros urbanos



Aplicação do trabalho garante obtenção de dados fundamentais para ocorrência de arborização segura nas cidades

Árvores que caem, enroscam em fios da rede elétrica e arrebentam calçadas levam a uma idéia de incômodo que nada tem a ver com o importante papel que elas desempenham na manutenção da qualidade de vida nos centros urbanos. Elas melhoram a qualidade do ar, oferecem sombra, amenizam as altas temperaturas, produzem alimentos aos animais, funcionam como barreira acústica e melhoram as condições do solo, só para citar alguns de seus benefícios.

Um método de diagnóstico e análise de árvores desenvolvido no Centro de Tecnologia de Recursos Florestais (CT-Floresta) do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) possibilita a prevenção de problemas desse tipo. Sua aplicação garante a obtenção de dados fundamentais para o manejo e o planejamento da população arbórea urbana. “Antes, não havia critérios bem estabelecidos para essa avaliação”, explica a engenheira agrônoma Raquel Amaral, autora do trabalho de mestrado que deu origem ao método, patenteado no ano passado. Segundo ela, o procedimento vem sendo estudado no instituto, há cerca de oito anos, por equipe multidisciplinar.

O trabalho começa na ação em campo, que inclui a análise visual da árvore, na qual pode ser identificada a presença de cupim ou fungos, e a prospecção do tronco, para verificar se há área oca nele e mensurar sua extensão. Para isso, é usada uma broca bem fina, de 0,9 mm, que, embora seja invasiva, não causa dano à árvore. O grau de consistência do tronco é proporcional à resistência apresentada na perfuração.

Saúde da árvore – A informação é apresentada em forma de gráfico num pequeno monitor portátil, que funciona conectado à broca. A baixa no gráfico representa a queda de resistência mecânica da madeira, motivada pela ocorrência de área oca ou apodrecida. A altura da árvore e a extensão e o volume da copa também são medidos, assim como são levantados dados sobre o terreno permeável que a cerca e as construções do entorno, a ação dos ventos, entre outros critérios que podem determinar o risco.

O processo é concluído com o lançamento das informações num software, também desenvolvido no IPT, que consiste num modelo matemático de probabilidades. Nele, as informações são cruzadas para determinar a “saúde” da árvore. Nesse período foi criado outro programa, para a gestão da arborização (SGAU). Adaptado em Portable Dispositive Assistent – PDA, um pequeno computador portátil agiliza a coleta e inserção das informações nos

trabalhos de campo, agrupando mais de 60 itens.

De acordo com Raquel, o principal problema apresentado nas espécies plantadas na capital é o apodrecimento do tronco, causado por fungos. A conclusão tem origem num trabalho realizado pelo IPT para a prefeitura paulista, chamado de Projeto Árvore Saudável. Foi a primeira aplicação da metodologia em larga escala, o que resultou no diagnóstico de 7.050 árvores de oito bolsões da cidade, classificadas em classes de risco: mínimo (para árvores com pequeno risco de queda nos próximos cinco anos), moderado (para aquelas que o apresentassem entre dois e cinco) e máximo (para as que representassem risco em menos de dois anos). Do total, 18% foram enquadradas como risco de alerta (o máximo), por estar com a estrutura comprometida seriamente.

“Na verdade, quando entregamos esse resultado, recomendamos aos engenheiros da prefeitura que fizessem uma vistoria posterior para validar a informação”, conta Raquel. “Isso porque são eles que têm acesso às informações do processo de urbanização. Ou seja, podem determinar se essas árvores têm condições de ser manejadas ainda ou se devem ser suprimidas, por estarem comprometidas de forma irreversível”, diz.

O lenho exposto por um “ferimento” ou manejo inadequado é o que predispõe uma árvore à infestação por fungos, segundo Raquel. Já o ataque de cupins, outra causa comum do apodrecimento da população arbórea paulistana, é uma praga existente na cidade desde a década de 1940, de difícil controle. Há cerca de 2,8 mil espécies de cupim identificadas, das quais 300 ocorrem no Brasil. E mesmo sendo 10% delas apenas as causadoras de problemas, conseguem fazer um estrago enorme.

Diferencial – O conhecimento adquirido pelo IPT está sendo transferido para outras regiões do País. Em setembro último, a equipe do CT-Floresta foi a Brasília ministrar cursos sobre a metodologia para técnicos responsáveis pela gestão das árvores do Distrito Federal. Eles oferecem treinamento para os interessados. O softftware desenvolvido especialmente para São Paulo também será adaptado pelo instituto para ser usado na capital federal. “Esse é um diferencial do nosso trabalho, o repasse de tecnologia”, afirma Raquel.

Equipe em ação

As biólogas Cintia Tagliatelli e Silvia Toledo chegam com o equipamento para examinar a espécie acrocarpus, plantada em frente ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), na Cidade Universitária. Enquanto a pesquisadora Raquel explica o funcionamento da broca, elas demonstram a diferença da resistência encontrada na parte do tronco saudável e na que está oca, provavelmente pela ação de cupins. “Em casa de ferreiro, o espeto é de pau”, brinca a agrônoma, evocando o dito popular pelo fato de encontrar uma árvore doente bem em frente ao seu posto de trabalho. E logo alerta: “Precisamos cuidar dela”.

Basta a Cintia cavar um pouco a terra de um toco de tronco ao lado, para encontrar o bichinho. “Aqui está”, mostra, com um Coptotermes gestroi na mão. Trata-se do cupim subterrâneo, espécie de hábitos agressivos que ataca árvores e objetos de madeira, inclusive as que ficam em contato direto com a alvenaria. Por isso, um dos objetivos da equipe do CT-Floresta no desenvolvimento desse trabalho é focar o controle dos cupins subterrâneos com métodos biológicos. Também se debruçarão no estudo de outros métodos para a prospecção do tronco, que não sejam invasivos, e na criação de um para a análise do sistema radicular de árvores vivas.

De acordo com a engenheira, como o asfalto impede o acesso à raiz, fica impossível saber qual o real estado destas. “No trabalho da prefeitura, por exemplo, tentamos o radar, mas não deu certo. Acabamos usando a forma conservadora, de análise das raízes de árvores que caíram, com base no padrão definido para cada espécie, para chegar a uma conclusão”, explica Raquel. “Mas o modelo se mostrou assertivo, já que conseguimos validar posteriormente a informação”, completa.

Simone de Marco, da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)



10/24/2008


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