Itamar avisa que decidiu ficar no PMDB



Itamar avisa que decidiu ficar no PMDB No Rio Grande do Sul, o ex-governador Antônio Britto e seu grupo avaliam a conveniência de trocar de partido Depois de uma série de encontros com o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), anunciou ontem, por meio de sua assessoria, que vai permanecer no partido. Dessa forma, o governador mineiro recusa o convite do PDT para ser o candidato trabalhista à Presidência da República. À tarde, Itamar falou por telefone com Brizola e com o deputado federal Vivaldo Barbosa (PDT), que participou ativamente das negociações para levar Itamar para a sigla, confirmando a recusa do convite aos pedetistas. O governador enviou ainda uma carta a Brizola expondo os motivos da recusa. Após ter decidido permanecer no PMDB, Itamar trabalha em duas frentes: vencer as prévias do partido, marcadas para janeiro, ou se lançar candidato ao Senado, em caso de derrota. Pelo menos foi essa a promessa feita ao seu vice, Newton Cardoso, que trabalha para voltar ao governo de Minas. Brizola disse lamentar a decisão. Para ele, “não há dúvida que, com isso, está colocada em perigo a possibilidade de formação de uma grande frente oposicionista que possa ser vitoriosa”. A proximidade do dia 5 de outubro, data-limite para quem quer concorrer nas eleições do próximo ano trocar de partido, fez aumentar nos últimos dias os contatos do ex-governador Antônio Britto e de parte dos deputados do PMDB gaúcho com o PPS e o PTB. Sem perspectivas desde maio, quando foi derrotado na disputa pelo comando do diretório estadual para a ala ligada ao ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, o grupo de Britto planeja migrar para uma das duas siglas e liderar um frentão contra o PT na eleição para o governo do Estado no próximo ano. Essa negociação, que incluiria o PDT, foi comunicada ao senador Pedro Simon na semana passada (ver entrevista nesta página). A formação de uma aliança com partidos de centro-esquerda no Estado contra o candidato do PT pode esbarrar no PDT. A trajetória nacionalista dos trabalhistas colide com as posições de Britto, responsável pela privatização da CEEE e da CRT em seu governo. Britto e o deputado federal Nelson Proença são hoje os mais insatisfeitos no PMDB. Os demais deputados temem que uma troca de sigla possa prejudicar suas carreiras políticas. Companheiros de partido garantem, por exemplo, que parlamentares como Germano Rigotto e João Osório não saem do PMDB. Ontem à tarde, Brizola e o presidente do PTB gaúcho, deputado Sérgio Zambiasi, se reuniram na residência do líder do PDT, no Rio, para tratar de uma aliança na eleição para governador do Rio Grande do Sul. “Não deixa de ser uma injustiça comigo” Entrevista: Pedro Simon, senador (PMDB) O senador Pedro Simon passou os últimos dias tentando aplacar a crise no PMDB gaúcho. Na quinta-feira, reuniu-se com cinco deputados estaduais na casa de Paulo Odone. No final de semana, conversou com o ex-governador Antônio Britto. Nos dois encontros, o grupo falou da possibilidade de deixar o partido. Insatisfeitos com os rumos do PMDB, o grupo defende a formação de um frentão contra o PT nas eleições de 2002, que envolveria PDT, PTB e PPS. Simon fez um apelo para que ficassem e disse que essa coligação poderia ser feita com o grupo dentro do PMDB. O senador afirmou que uma desfiliação o deixaria enfraquecido na disputa com o governador de Minas, Itamar Franco, pela candidatura do PMDB à Presidência. A seguir, os principais trechos da entrevista a Zero Hora: Zero Hora – O grupo do ex-governador Antônio Britto ameaça deixar o PMDB. O que foi tratado na conversa que o senhor manteve com Britto e com os deputados estaduais? Pedro Simon – Britto e alguns deputados, como Paulo Odone, estão preocupados com os rumos do PMDB no Rio Grande do Sul e no país. Nas conversas que nós tivemos eles falaram da possibilidade de montar uma coligação ampla para as eleições de 2002. Eu respondi que o PMDB não é contrário a essa coligação. Mas para fazer esse entendimento suprapartidário não é necessário sair do partido. ZH – Numa eventual desfiliação do grupo, como ficaria sua pré-candidatura à Presidência da República no PMDB? Simon – Se eu agora estou me lançando candidato à Presidência e dentro do meu partido sofro restrições, fico numa posição muito delicada. Chego enfraquecido na prévia (prevista para o dia 20 de janeiro). Ponderei isso a eles. Vou ter de repensar minha candidatura. Não deixa de ser uma injustiça comigo. Esse mesmo grupo me lançou candidato. A interpretação no PMDB nacional só poderá ser uma: saíram do partido porque não queriam o Simon candidato à Presidência. Perco a credibilidade aqui no Estado e em Brasília. ZH – Qual foi a reação de Britto e dos deputados diante desses argumentos? Simon – Ficaram de pensar, refleitr, analisar. Volto a repetir: um grande entendimento suprapartidário pode ser feito dentro do PMDB. Daria até mais peso. Falha técnica atrasa resultados do PT O moderado José Dirceu lidera no país Mais de 24 horas depois de encerrada a votação, o PT não havia conseguido divulgar nenhum resultado parcial das eleições para as direções nacional e estaduais do partido. No Rio Grande do Sul, o comando da legenda decidiu ontem montar uma estrutura paralela de apuração. Os primeiros números devem ser anunciados hoje. Ontem, o site do partido na Internet (www.pt.org.br) prometia disponibilizar parciais a partir das 19h. Até as 20h30min isso não havia ocorrido. Segundo o coordenador técnico do processo eleitoral do PT, Moacir Casagrande, a obstrução do processo de apuração ocorreu no provedor de e-mail do diretório nacional. – O sistema que ligava os diretórios ao provedor não suportou o volume de informações que recebia – disse Casagrande, que não esperava que, logo no início do processo, o envio de dados fosse tão rápido. O encerramento das eleições ocorreu às 17h de domingo. Mais de 2,8 mil municípios participaram da votação. O PT contou com 880 urnas eletrônicas cedidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para agilizar o pleito. Em Belo Horizonte (MG), Santos (SP) e Recife (PE), menos de 15% dos filiados compareceram às urnas. O percentual indica o quórum mínimo para validação dos votos. Outras localidades do interior de Minas Gerais e de São Paulo ficaram na mesma situação. Resultados extra-oficiais calculados pelas chapas envolvidas na disputa apontam que o deputado federal José Dirceu (SP) deverá ser reconduzido à presidência nacional pela quarta vez. Ligado aos setores moderados do partido, o parlamentar teria vitórias garantidas no Rio e em Mato Grosso do Sul. A reeleição de Dirceu favorece a candidatura do prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, ao Palácio Piratini, em 2002. No Rio Grande do Sul, o ex-prefeito da Capital Raul Pont teria sido o escolhido, com 53,6% das indicações. Outro gaúcho, o presidente estadual licenciado do PT, Júlio Quadros, conquistou a preferência da maioria dos filiados em Santa Catarina e no Espírito Santo. Para o diretório estadual, o confronto será entre David Stival, da Articulação de Esquerda, que também tem o aval do governador Olívio Dutra, e o moderado Paulo Ferreira, do PT Amplo e Democrático. Na Capital, a direção municipal ainda não anunciou a decisão em relação a 77 votos que devem ter sua regularidade examinada. A definição indicará quem enfrentará Waldir Bohn Gass, da Democracia Socialista (DS), que concorre à reeleição, no segundo turno, previsto para o dia 7 de outubro. Dezenove votos separam o segundo colocado na eleição, o ex-vereador Adroaldo Corrêa, do terceiro, o vereador Adeli Sell. Renúncia não deve evitar processo contra Jader Paraense deixa mesa da Casa O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado deve aprovar o relatório que propõe abertura de processo contra o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) independentemente do tom do pronunciamento do senador na renúncia à presidência da Casa. Ontem, senadores apostavam num placar de 10 votos a cinco ou de 11 votos a quatro pela aprovação do relatório no Conselho de Ética. A votação deve ocorrer na quinta-feira. Se não quiser enfrentar o processo de cassação, evitando a perda de direitos políticos por oito anos, Jader terá no máximo 15 dias, a partir do envio do processo à Mesa, para decidir se renuncia ou não ao mandato. Hoje, Jader se sentará na cadeira de presidente do Senado e, depois de passar o cargo ao vice, Edison Lobão (PFL-MG), irá à tribuna. No discurso, examinará o momento político do país e as circunstâncias que o levaram a se decidir pela renúncia. Jader dirá que aceitou a renúncia porque vislumbrou pelo menos dois benefícios com o gesto: o projeto de poder do PMDB, partido que, por ser majoritário, tem direito de dirigir o Senado, e o respeito à instituição. Ele planeja falar ainda sobre o processo que corre no Conselho de Ética. No último dia como presidente, Jader permaneceu ontem em sua casa, em Brasília, reunido com advogados e assessores, preparando o discurso. Ele evitou presidir a sessão da Casa. Governador assina hoje o decreto da Uergs O governador Olívio Dutra assina hoje decreto que ratifica o estatuto e nomeia a reitoria da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs). Ainda hoje, serão divulgados os cursos e os municípios em que haverá núcleos da instituição. Em seu primeiro ano de funcionamento, a universidade oferecerá cerca de 1,2 mil vagas. A Uergs terá de seis a oito cursos em 2002, informou o reitor, José Clóvis de Azevedo. Os cursos, financiados pelo Estado ou em convênio com universidades comunitárias, serão distribuídos nas áreas de Educação, Gestão Ambiental, Gestão Pública, Saúde Pública, Sistemas Agrícolas e Agroindústria e Sistemas Produtivos Industriais. – A administração será centralizada em Porto Alegre, mas a universidade terá ações em diversas cidades do Interior. Estamos negociando convênios com algumas instituições de Ensino Superior para aumentar a oferta de vagas – disse. Entre as universidades procuradas, estão Unijuí, Univates, Unisc, UPF e UCS, explicou o reitor. Azevedo afirmou que o número de núcleos da Uergs poderá superar os sete previstos inicialmente, mas nem todas as regiões serão beneficiadas no primeiro ano. Segundo o reitor, ainda não há condições para estender tanto a área de abrangência da universidade. O orçamento previsto para a Uergs em 2002 é de R$ 29,4 milhões. A seleção dos estudantes será por concurso vestibular para 40% das vagas. Metade das vagas será destinada a candidatos de baixa renda e 10% para pessoas portadoras de deficiência física. Artigos Os dias seguintes OSMAR TERRA A tragédia ocorrida nos Estados Unidos terá conseqüências para todo o mundo. O drama da longa busca dos corpos ou de algum sobrevivente e a constatação do horror tocaram no coração de toda a humanidade. Essa comoção veio acompanhada pelo medo. Se aconteceu lá pode acontecer com qualquer um, a qualquer momento, em qualquer lugar. A partir de agora não haverá mais tranqüilidade nem segurança para ninguém no planeta! No aspecto simbólico, a nação mais poderosa da Terra foi atingida no que tem de mais caro, a sua imagem de poder e de protetora de seus filhos. A única certeza, agora, é de que isso não ficará assim. Diferente da guerra do Vietnã, quando o governo americano promoveu a ida de seus jovens a um país distante, onde esperava-se que alguns morressem em defesa de um “ideal democrático”, agora o povo americano foi atacado de forma inesperada e em casa. A revanche virá em dose colossal. A simples desarticulação de algumas facções extremistas é uma resposta pequena demais para a magnitude do ataque sofrido pela nação americana. O acontecido exige uma resposta exemplar e em grande escala. Esse será o momento para tentar eliminar todas as formas de oposição armada, em todos os recantos. Inicialmente o Afeganistão será arrasado. Entregando ou não Bin Laden, ele será atacado e destruído. Qualquer país que tenha servido de abrigo a grupos terroristas sofrerá retaliações exemplares em todos os níveis. A reação também servirá para consolidar a hegemonia política e militar americana. A revanche arrastará boa parte do planeta. Todos os países do mundo terão que se posicionar e serão afetados por isso. As liberdades democráticas sofrerão diante das necessidades militares e da espionagem em grande escala, e a privacidade de cada cidadão será significativamente reduzida. As liberdades democráticas sofrerão diante das necessidades militares e da espionagem Numa economia fortemente interligada em nível planetário, o abalo da economia americana, mesmo que temporário, repercutirá por longo tempo no restante do mundo. A retração dos investimentos de risco, a instabilidade dos preços do petróleo e do dólar, entre outros fatores, criarão um efeito dominó mundial que acabará atingindo o Brasil. Por maior e mais bem-sucedido que seja o esforço do nosso governo para garantir a estabilidade da economia, seremos atingidos pelo maremoto mundial e veremos uma tendência para a queda de exportações e volta da inflação, colocando em risco o quadro de desenvolvimento sustentável que o Brasil vinha conquistando nos últimos anos. A nossa economia estabilizada resistiu, sem grandes abalos, às crises do México, da Rússia, dos Tigres Asiáticos e, mais recentemente, à da Argentina. Agora o impacto será maior e é incerto se continuaremos a resistir como antes. Ressalve-se o acerto da ação do nosso governo, que, antecipando-se às conseqüências da crise argentina, fez novo acordo com o FMI, criando um “colchão protetor” de dólares que será extremamente útil nos desdobramentos futuros dessa crise internacional. Todos os efeitos negativos desse momento no Brasil, podem e devem ser reduzidos ao máximo pela ação política do governo e lideranças. O primeiro passo foi dado pelo presidente Fernando Henrique convocando todos os líderes políticos do país, de todas as cores partidárias, para um pacto de união, visando enfrentar da melhor forma possível a crise, buscando o respaldo necessário para atravessar a tempestade. É hora de pensar com grandeza e de deixar de lado contradições e rivalidades menores, de cunho político-eleitoral, para concentrar o melhor dos nossos esforços na defesa do interesse maior da democracia, da nossa estabilidade econômica e desenvolvimento. É necessário agora evitar um mal pior para a população brasileira, que saberá avaliar no futuro quem realmente se preocupou com isso. Um outro mundo é necessário HENRIQUE FONTANA O ataque terrorista aos Estados Unidos sensibilizou a humanidade para a realidade da crise civilizatória que vivemos. As contradições da ordem econômica, social, cultural e, sobretudo, política que vive o mundo atualmente já ultrapassaram os limites do aceitável há muito tempo. O uso de ataques terroristas é um ato de barbárie que não pode ser tolerado sob nenhuma hipótese. Nada justifica atos dessa natureza. As perdas humanas inaceitáveis, sob qualquer ponto de vista, são objeto de uma dor imensurável e nos colocam no limite da condição humana, cobrando de todos nós gestos de solidariedade. O momento é de grande reflexão para toda a humanidade. Dada a magnitude do acontecimento não cabem nesse momento análises parciais e simplificadoras. A realidade precisa ser analisada por inteiro. É hora de romper com a cultura da violência e da guerra. Um outro mundo é necessário e viável. O potencial de evolução da violência latente nos quatro cantos do mundo atingiu níveis insuportáveis. Neste momento a maioria da população mundial está submetida a uma ordem econômica e social injusta, onde cresce cada vez mais a desigualdade, a exclusão social e a insegurança. Como disse Gandhi, se fizermos valer sempre o olho por olho, haveremos de morrer todos cegos A condenação incondicional deste crime e a punição exemplar dos culpados são um consenso mundial e óbvio. Não tão óbvia é a necessária discussão sobre a influência do crescente hegemonismo e belicismo norte-americano que aumenta o nível de tensão mundial. Vale lembrar que após a II Guerra Mundial a política externa dos EUA foi baseada num hegemonismo que os levou a assumir uma posição de policiais do mundo. Acabou a Guerra Fria e os EUA continuaram a intervir em praticamente todos os conflitos das nações no planeta. Essas intervenções quase sempre oprimiram os povos ao submetê-los ao poderio militar norte-americano e, a cada conflito, deixaram um rastro de ódio e desejo de vingança. Em Hiroshima e Nagasaki, Vietnã, Coréia, países da África, Oriente Médio, América Central e do Sul, foram mortos milhões de pessoas inocentes. Tão inaceitável quanto o crime bárbaro cometido contra seres humanos inocentes nos EUA, poderá ser a retaliação do governo norte-americano com atos de barbárie contra povos também inocentes. Como disse Gandhi, se fizermos valer sempre o olho por olho, haveremos de morrer todos cegos. O governo norte-americano deve fundamentar suas decisões nos valores da democracia. Estes crimes devem ser tratados pelos tribunais e os responsáveis, julgados e condenados pelos instrumentos jurídicos desenvolvidos pela civilização. Este é um momento histórico e decisivo para a humanidade. Temos de andar pelos caminhos do diálogo, da política e da tolerância para resolver os conflitos, inclusive este. Buscar outra ordem global, não armamentista, mais justa e equilibrada é a mais poderosa arma contra o terrorismo, caso contrário, a escalada vai levar a mais destruição e morte. Colunistas ANA AMÉLIA LEMOS Ansiedade e prudência Existem muitas razões para o clima de ansiedade e tensão que toma conta do mercado brasileiro. É bom lembrar que, mesmo que as autoridades brasileiras viessem insistindo que os “fundamentos” da política econômica permaneciam saudáveis, muitos especialistas, antes dos atentados em Nova York e Washington, já levantavam dúvidas sobre a capacidade do governo no controle da inflação e ajuste das contas públicas. Os acontecimentos da semana passada pressionaram a alta do dólar, assustaram com o risco de aumento dos preços internacionais de petróleo e levaram preocupação aos exportadores que concentram os negócios nos Estados Unidos. Ontem, o Federal Reserve, o banco central norte-americano, ao reduzir as taxas de juros, aliviou os mercados financeiros internacionais. A decisão tenta conter uma previsível queda no consumo interno dos Estados Unidos e evitar uma recessão econômica ainda mais profunda. O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, em entrevista ontem, em Brasília, admitia dificuldades provocadas pelo impacto dos terríveis acontecimentos da semana passada. Entre as conseqüências mais graves para a economia brasileira, estão aumento da pressão de alta para o dólar, redução dos investimentos estrangeiros e queda nas exportações. De qualquer forma, os analistas que tentam encontrar respostas para as muitas questões que se levantam sobre o futuro da economia mundial e brasileira recomendam cautela e prudência. Exportadores brasileiros acham que só dentro de duas ou três semanas será possível uma avaliação mais adequada do cenário à luz dos fatos que abalaram o mundo faz hoje uma semana. Sexta-feira, desolados, os carregadores de bagagem do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, contabilizavam os prejuízos. Com uma queda superior a 60% nos vôos para os Estados Unidos, previam dias difíceis. Isso dá apenas a idéia de que as conseqüências dos atos terroristas são muito mais amplas do que supõe. JOSÉ BARRIONUEVO – PÁGINA 10 Simon ameaça concorrer a governador O senador Pedro Simon deu a entender, na reunião com cinco deputados estaduais (Paulo Odone, Berfran Rosado, Mário Bernd, Cézar Busatto e Elmar Schneider), quinta-feira à noite, que deixaria de ser candidato a presidente para concorrer a governador se houver uma debandada no PMDB. No encontro, Simon chegou a reconhecer como sendo um equívoco não ter deixado o PMDB junto com o grupo que formou o PSDB no final da década de 80. Dez examinam saída O movimento de setores do PMDB pela construção da frente em torno da elaboração de um projeto para o Estado, acoplado a uma proposta nacional, conta com a adesão dos seguintes nomes: ex-governador Antônio Britto, senador José Fogaça, deputados federais Nelson Proença e Germano Rigotto, deputados estaduais Paulo Odone, Mário Bernd, Berfran Rosado, Cézar Busatto, Elmar Schneider e Iara Wortmann. O deputado João Osório, mais cauteloso, dá tempo ao tempo. Alternativa ao PT Se ocorrer a hipótese ainda remota de saída do PMDB na próxima semana, o grupo formaria uma frente com o PTB, o PDT e o PPS. Os peemedebistas provavelmente se distribuiriam entre estes partidos, reduzindo a três ou quatro cadeiras a representação do PMDB na Assembléia. A saída não significaria uma declaração de guerra ao PMDB, mas apenas a viabilização de um projeto alternativo ao do PT, que governa o Estado. O grupo não acredita que o projeto alternativo para o Estado possa vingar no PMDB diante das contradições e equívocos da cúpula nacional do partido. Brizola com Odone Um dos líderes da dissidência do PMDB, o deputado Paulo Odone conversa com Brizola amanhã sobre eventual ingresso de alguns deputados do partido no PDT e sobre a formação de uma frente contra o PT. Em conversa que manteve ontem com Sérgio Zambiasi no Rio, Brizola reforçou a disposição de apoiar Ciro Gomes, que também é candidato do PTB, e comentou de passagem o encontro que terá com Odone. Tem restrições a uma aliança com o PMDB e a uma candidatura de Britto a governador, mas torce pelo ingresso do grupo peemedebista para a formação de uma frente. Qualquer avanço depende da conversa com Odone. Ação Democrática cresce no PT Corrente do líder do governo, deputado Ivar Pavan, e do secretário da Administração Marco Maia, a Ação Democrática é a tendência que mais cresceu no PT na convenção de domingo no RS. Sobe de 10% dos filiados para algo em torno de 16%, aproximando-se do tamanho do PT Amplo, que perde espaço. Esta não é a opinião do comando do Amplo (grupo light), que aposta no fortalecimento de Tarso Genro quando for concluída hoje a apuração. Quem mais perdeu foi a Articulação de Esquerda, que continua mesmo assim sendo a corrente mais forte do PT gaúcho. Fortunati a um passo do PDT O vereador mais votado do RS decide seu futuro partidário na próxima semana. José Fortunati está a um passo do PDT, que fez na semana passada uma forte pressão para o ingresso do ex-petista no partido de Brizola. Ontem, Fortunati jantou com uma dezena de prefeitos do PDT, que contam com seu ingresso. Convite de Arraes – Também ontem, o PSB, durante reunião da Executiva em Belo Horizonte, decidiu convidar Fortunati. O convite será formulado por Miguel Arraes. Plenário decide impasse na Fazenda Criteriosa, a mesa diretora da Assembléia coloca em votação no plenário nos próximos dias o parecer do deputado Germano Bonow (PFL) que considera inconstitucional projeto do governo que restabelece a divisão entre fiscais e auditores na Secretaria da Fazenda. Na Comissão de Constituição e Justiça, a inconstitucionalidade foi reconhecida por oito a um. A aprovação do parecer de Bonow também em plenário esgota o assunto. Em tempo as oposições descobriram que o PT pretende, com um projeto estapafúrdio, transformar uma área estratégica do Estado em aparelho partidário. A propósito da Fazenda, ingressa nos próximos dias na Justiça ação popular responsabilizando os dirigentes financeiros do Estado por ilegalidades na gestão do caixa único. Plantas medicinais O presidente da Assembléia Legislativa, deputado Sérgio Zambiasi e o vice-governador Miguel Rossetto fizeram questão de prestigiar o evento promovido pela Comissão de Saúde da Assembléia, por uma iniciativa da deputada Jussara Cony. Dentro do Fórum pela Vida, os jardins do Solar dos Câmara receberam plantas com uso fitossanitário. Mirante • Grupo de Odone só decide em conjunto. Na bolsa de apostas dentro do próprio grupo, ontem, a permanência no PMDB era a hipótese mais provável. • Dependendo da conversa de Odone com Brizola, pode ocorrer um encontro entre o líder pedetista e Britto. • Só um projeto, com a formação de uma frente para derrotar o PT, levaria o grupo de dissidentes a deixar o PMDB. Uma hipótese ainda remota. • Brizola conversava com Zambiasi quando recebeu a carta de Itamar manifestando decisão de permanecer no PMDB. Não se surpreendeu. Continua sintonizado com o governador de Minas. • Em palestra hoje no Hotel Nacional, em Brasília, Pratini de Moraes deve ser lançado como candidato do PPB à presidência da República. O ministro da Agricultura fala sobre “O agronegócio brasileiro e suas perspectivas”. • O deputado Jair Foscarini (PMDB) foi submetido ontem a uma cirurgia no Hospital São Francisco. Foi feita uma ponte de artéria radial esquerda. O deputado já havia sido operado em 94, quando implantou pontes de safena mamárias. Segundo o médico Fernando Lucchese, o deputado deve deixar a UTI hoje. • Ronaldo Teixeira, da Rede, consolida sua liderança em São Leopoldo. Vereador mais votado do PT, levou seu candidato a presidente do diretório municipal, Angelo Dalcin, ao segundo turno, contra a poderosa Ação Democrática, na terra de Zülke e Rossetto. • Grupos à esquerda conquistam mais espaço no PT gaúcho, contrastando com a vitória de José Dirceu no primeiro turno no resto do país. No RS, Pont deve confirmar hoje maioria absoluta dos votos. • Lula concluiu que o eleitor brasileiro quer o PT light. Não no RS. • Presidenciável Ciro Gomes (PPS) prestigia hoje à noite festa no Clube Farrapos em homenagem a Sérgio Zambiasi que completa 52 anos. Em clima de campanha. • Ciro retorna ao RS no dia 1º. • Haroldo de Souza deixou o PTB. ROSANE DE OLIVEIRA Sair ou não sair Quando ameaçou sair do PMDB pela primeira vez, o ex-governador Antônio Britto avisou que qualquer decisão seria tomada no último minuto do segundo tempo. O jogo entrou no último terço da etapa final e Britto ainda não disse se vai ou se fica. Só reiterou seu distanciamento em relação à cúpula do PMDB e antecipou que não estará sozinho na decisão. Seu grupo, porém, está dividido. A situação de Britto é a mais confortável de todas. Com a vida reestruturada fora da política, tem dito que não será candidato. Se mudar de idéia, pode concorrer ao Palácio Piratini tanto pelo PMDB como por qualquer dos outros partidos por quem vem sendo cortejado. Seu nome é citado até como possível candidato a vice na chapa de Ciro Gomes. Em 1994, era o ministro mais popular de Itamar Franco, mas abriu mão da candidatura para concorrer ao Palácio Piratini, e outro ministro, o da Fazenda, se elegeu presidente. Diferente é a situação dos deputados, que precisam de bases para se eleger. Para boa parte deles, deixar o PMDB e sua estrutura consolidada no Interior será uma aventura. Terão que refazer sua rede de cabos eleitorais, que não se transferem automaticamente. Os que planejam ir para o PPS defendem a tese de que não existem partidos pequenos depois do advento das coligações, mas para prefeitos e vereadores a situação é diferente. Poucos são os que conseguem trocar de partido sem traumas. Pelo menos três peemedebistas teriam um adicional de constrangimento para sair agora: José Fogaça, Germano Rigotto e Paulo Odone. Os três concordaram com a inclusão do seu nome na chapa vencedora da eleição para o diretório nacional do PMDB. Em público, Fogaça nunca admitiu sair. No momento, está preocupado em vencer a disputa pela presidência do Senado, com o apoio incondicional do senador Pedro Simon. Odone percorreu o Estado como candidato à presidência do PMDB e tem, no mínimo, a reeleição garantida. Representante de Caxias na Câmara, Rigotto tem sua base eleitoral numa das regiões de maior vitalidade do PMDB. No PPS, teria que começar praticamente do zero. Na eleição do ano passado o PMDB chegou ao segundo turno na eleição para a prefeitura, com José Ivo Sartori, e perdeu por somente 824 votos. Aconteça o que acontecer, Sartori fica. O dilema dos indecisos se amplia diante da constatação de que sem um candidato forte ao Piratini e à Presidência da República será difícil eleger bancadas do tamanho das atuais na Assembléia e na Câmara. E esses candidatos o PMDB ainda não tem. Editorial O impacto nos mercados Antecedida por uma redução de 0,5 ponto percentual na taxa básica dos juros dos Estados Unidos, anunciada pelo Federal Reserve, e por uma gigantesca operação multilateral que congregou os bancos centrais de algumas das principais economias do planeta, a Bolsa de Valores de Nova York retomou ontem suas operações, depois do mais longo período de inatividade desde a Grande Depressão de 1929. Os serviços financeiros têm um peso de 3% na formação do Produto Interno Bruto norte-americano e Wall Street é o parâmetro internacional de negócios, razões suficientes tanto para as excepcionais cautelas prévias como para uma reabertura marcada pela pompa e circunstância. A prudência revelou-se correta. Registrou-se uma perda recorde em número de pontos, em certa medida esperada em um dia de recomeço. A retração superior a 7% no índice Dow Jones deveu-se especialmente a inquietantes perdas setoriais como as das companhias de aviação. Não impediu, contudo, altas significativas nas bolsas européias e na de São Paulo, que já haviam se antecipado às baixas. Em outras palavras, a nova arrancada da mais importante praça dos cinco continentes comprovou ter um forte significado simbólico próprio, capaz de apagar, ao menos momentaneamente, o impacto do mais brutal dos atentados terroristas de nossos tempos. Um dos apanágios da civilização é a defesa de seus valores sem agravos que degradem a condição humana A dúvida que persiste, porém, é até que ponto países das mais diversas latitudes conseguirão superar o gigantesco desafio representado pelas elevadas somas a serem despendidas na reparação dos danos humanos e econômicos e na reação à barbárie, precisamente em um estágio marcado por resistente tendência à recessão. Em um mundo globalizado, esse é um dilema que não aflige apenas as nações ricas, mas particularmente as que lutam para se desenvolver, como o Brasil. Assim como a luta contra os agentes do fanatismo promete ser longa, também a reativação dos mercados se prenuncia árdua e demorada. No que respeita ao aspecto político da questão, é oportuno reafirmar que a pior conseqüência das investidas do terror em Nova York e Washington seria uma ação de guerra dos EUA contra países pobres e inseridos numa realidade cultural totalmente diversa da predominante no mundo, como é o caso do Afeganistão. Embora seja claro o compromisso talibã com a utilização do terrorismo como arma, é preciso que a resposta norte-americana, com o apoio das potências ocidentais, seja sobretudo seletiva. Cumpre evitar que o combate sem tréguas ao braço armado dos fundamentalismos se transforme em guerra generalizada contra os povos e pessoas que professam a religião islâmica. Ao anacrônico fanatismo muçulmano, que não é em absoluto caractarística dos crentes de Maomé, mas bandeira de uma minoria, é imperativo reagir com eficiência e racionalidade, de modo a extirpar o câncer terrorista sem a prática de genocídio. Pois um dos apanágios da civilização é precisamente a defesa de seus valores, sem apelo a agravos que só rebaixam e degradam a condição humana A reafirmação do parlamento Se cumprir a promessa feita na última semana, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) deve proferir nesta semana, possivelmente hoje, o discurso de renúncia à presidência do Congresso. Ainda abrigado na condição de senador, o ocupante de um dos mais altos postos da República prepara-se assim para enfrentar o processo a ser aberto pelo Conselho de Ética do Senado. No caso do senador, encaminha-se para o desfecho uma constrangedora sucessão de denúncias que, intensificadas a partir de sua posse, enfrentarão agora a hora da verdade. Ao Congresso, abre-se a perspectiva de que venha finalmente a retomar a normalidade dos trabalhos legislativos, procurando recuperar a credibilidade e o tempo perdidos com a ênfase em questões internas, em detrimento de temas de interesse de todos os brasileiros. Sem dúvida, o país poderia ter sido poupado do constrangimento e do desgaste que envolvem hoje particularmente o Senado, num momento em que o agravamento das tensões mundiais desafia a solidez das instituições. Bastaria que, à época da definição dos novos dirigentes da Câmara e do Senado, as preocupações éticas tivessem pairado acima de interesses meramente partidários. Vítima das conseqüências de distorções deploráveis do jogo político, o Congresso teve pelo menos a oportunidade de demonstrar que situações como a atual podem ser enfrentadas dentro das regras democráticas e com amplas chances de defesa para quem quer que esteja envolvido em denúncias. Mais do que nunca, num momento difícil para o mundo, o país precisa de lideranças fortes à frente dos poderes Trata-se, portanto, de um momento histórico para uma casa que já abrigou entre seus membros nomes como Rui Barbosa e Pinheiro Machado e que tem sido tão importante na trajetória nacional. A queda de prestígio das instituições públicas – e particularmente das casas legislativas – não é boa para o país. Uma democracia só pode avançar se os poderes funcionarem adequadamente, relacionando-se entre si nos termos da Constituição e da prática internacional e, internamente, a cada um deles mostrando eficiência e confiabilidade. As acusações entre expoentes da política como Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho e, posteriormente, as provas que foram recaindo sobre ambos arrastaram a Casa Alta do parlamento brasileiro a uma de suas piores crises. O iminente afastamento do senador paraense da presidência e seu provável julgamento pela Comissão de Ética tendem a restituir ao Senado a capacidade de trabalhar e de corresponder às expectativas da sociedade que representa. Mais do que nunca, num momento difícil para o mundo, o país precisa de lideranças fortes à frente dos poderes. Trata-se de uma condição essencial para assegurar a busca de soluções menos dolorosas para desafios inesperados que tendem a se ampliar a partir de agora. Topo da página

09/18/2001


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