Convenção do PMDB vai decidir entre FHC e Itamar
Convenção do PMDB vai decidir entre FHC e Itamar
Disputa acirrada será amanhã, em Brasília, entre os grupos de Michel Temer (SP) e Maguito Vilela (GO).
TO clima é de Fla-Flu na convenção nacional do PMDB, amanhã, aqui em Brasília. Na disputa pela presidência do partido, estão de um lado o deputado Michel Temer (SP), estrela do time do Palácio do Planalto, e o do outro o senador Maguito Vilela (GO), aliado do governador mineiro Itamar Franco – que, por sua vez, é hoje um dos principais adversários do presidente Fernando Henrique Cardoso. Quem ganhar fica, na prática, com o direito de decidir de que lado o PMDB jogará na sucessão presidencial de 2002 (FHC ou Itamar). Temer é o favorito, mas Maguito aposta numa série de manobras e articulações de última hora para virar o jogo.
Desta vez, o cenário da batalha é o Colégio Marista, na 615 Sul, que tem um ginásio com capacidade para duas mil pessoas. Só para se fazer um idéia do tamanho da encrenca, só os torcedores de Maguito (militantes recrutados em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás) serão quatro mil. Eles vão chegar em 100 ônibus. Aliado de Temer, o governador Joaquim Roriz - que controla o PMDB de Brasília - também mandará os seus militantes para encher a casa.
O ex-governador paulista Orestes Quércia, inimigo de Temer, promete reforçar a claque de Maguito com dezenas de militantes do seu MR-8. Todos esses preparativos lembram a batalha da convenção do PMDB de 1998, no Congresso, quando o partido decidiria o apoio (ou não) à reeleição de Fernando Henrique. O adversário do Planalto era o mesmo Itamar Franco, que foi vaiado e acabou deixando a legenda. Na briga entre os musculosos e ideológicos simpatizantes das duas facções, sobrou até para a porta de vidro do plenário da Câmara dos Deputados, que se espatifou.
Manobra garantiu Maguito na TV
Nos bastidores, a luta ganha novos lances a cada dia. Atual presidente do PMDB (cargo que herdou com o afastamento do senador paraense Jader Barbalho, acuado por denúncias de corrupção), Maguito tratou de arrumar um palanque eletrônico. Ele trocou o horário eleitoral gratuito do PMDB, que seria só no fim do ano, com o PL (cujo presidente, Waldemar Costa Neto, é aliado do grupo de Itamar Franco). Graças a essa manobra, Maguito passou a semana aparecendo na TV e fazendo propaganda para os convencionais do partido em todo o Brasil.
Temer, embora faça menos barulho, conta com o inestimável apoio de Fernando Henrique - o que deve lhe garantir a maioria dos 712 votos dos delegados do PMDB.
Publicamente, ele jura que não pretende transformar o partido num mero apêndice do Palácio do Planalto, e promete defender uma candidatura própria à presidência em 2002. Se Michel Temer vencer, Itamar Franco ficará enfraquecido e terá que procurar outra legenda para disputar a sucessão de FHC. (J.P.J)
Roriz apóia indicação de Temer
A convenção do PMDB colocou em campos opostos dois antigos aliados na política do Centro-Oeste - o governador de Brasília, Joaquim Roriz, e o senador goiano Maguito Vilela. Pessoalmente, Roriz continua sendo um grande amigo de Maguito. Mas preferiu apoiar Temer em consideração ao presidente Fernando Henrique Cardoso, pois o DF não pode ser administrado sem as verbas da União (que banca as áreas de educação, saúde e segurança da capital).
Roriz está comandando boa parte das articulações a favor de Temer. E abriu a sua casa particular, no Park Way, para fazer um almoço lançando a candidatura de Temer, no mês passado, com a presença de vários ministros de Fernando Henrique, como Eliseu Padilha (Transportes) e Ramez Tebet (Integração).
Além de orientar os delegados de Brasília na convenção a votarem em Temer, Roriz pediu os votos dos convencionais de Goiás, onde ele continua tendo grande influência até hoje. Para evitar dissidências, o governador abriu mão (temporariamente) até mesmo de um dos seus principais colaboradores no GDF, o secretário de Obras, Tadeu Filippelli. Ele reassumiu o mandato de deputado federal com a missão específica de votar em Temer (o suplente de Filippelli, Alberto Fraga, era aliado de Maguito). O único delegado de Brasília que deverá ficar com Maguito é o senador Valmir Amaral, atualmente brigado com Roriz.
Na política de Goiás, os adversários de Maguito desdenham a sua candidatura, insinuando que ele só quer ganhar visibilidade para concorrer ao governo do estado em 2002. Temer, ex-presidente da Câmara dos Deputados e autor de livros sobre Direito Constitucional, já era um nome conhecido nacionalmente antes dessa disputa. Trunfo maior do que a sua fama, porém, é mesmo o apoio de Fernando Henrique - cuja caneta assina as nomeações e demissões de servidores em cargos de confiança em todo o País.
Fotos pornográficas são falsas, garantem peritos
Imagens de sexo grupal com jovens empresários e políticos foram manipuladas em computador.
As fotos pornográficas que envolvem jovens empresários, políticos e suas namoradas – todos de Ribeirão Preto, interior de São Paulo – e que circularam pela Internet ainda estão dando o que falar. Muitos internautas acreditam que são verdadeiras, mas peritos contratados por empresários da cidade paulista garantem que as imagens de sexo em grupo foram manipuladas por computador.
A polícia de Ribeirão Preto, a 310 quilômetros da capital, apresentou um parecer técnico de três peritos, que sustentam que as fotos são montagens. Depois de roubar as imagens, gravadas em um laptop, o autor teria chantageado as vítimas, tentando extorquir US$ 500 mil.
Os peritos José Lopez Zarzuela, que atua no Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP); Dirceu Carlos Uccelli, da Justiça Federal; e José Barth, da Justiça Estadual, foram unânimes na análise das fotos. "De tudo que foi dado a constatar após a realização dos exames, inferem os pareceristas que as peças suspeitas apresentam-se adulteradas", diz a perícia.
O laudo, solicitado pelos advogados das vítimas, será incluído no inquérito policial aberto para apurar o caso. Os peritos atestam que as fotografias digitais apresentam divergências de luminosidade e matiz (cor) e recortes realizados em desalinho, cujos contornos deixaram de ser tratados com critérios técnicos.
Além disso, os especialistas observaram que há desproporção entre as fotos originais e os enxertos feitos por computador, com o objetivo de manipular as imagens em segundo plano.
A polícia investiga crimes de injúria (de um a seis meses de detenção), difamação (de três meses a um ano) e tentativa de extorsão (de 4 a 10 anos), além de interceptação telefônica (grampo). Dez pessoas já foram ouvidas no inquérito: João Cunha e os dois casais e cinco suspeitos – sendo que três são a empresária Maria Clarina Darini Guaritá e seus dois filhos. Ela foi intimada a depor porque seu endereço eletrônico aparece como fonte fornecedora de um site pornô californiano, que seria o "hospedeiro" das fotomontagens eróticas.
O filho da empresária, Álvaro Guaritá Júnior, confessou ser o dono do site que estaria hospedando as imagens pornôs. Ele registrou a página em nome da mãe por ser menor de idade à época – o site foi criado em maio. O rapaz negou a responsabilidade pela divulgação na Internet e disse que ficou sabendo das fotomontagens em uma sala de bate-papo virtual. Segundo o delegado do 6º Distrito Policial, José Gonçalves Neto, que investiga o caso, o laudo da perícia será encaminhado à Justiça. "Quem vai avaliar o resultado é a Justiça", disse ele.
Filho do governador de RR preso em aeroporto
Inspetores da Infraero no aeroporto de Boa Vista, em Roraima, acusaram o filho do governador Neudo Campos, o universitário Guilherme da Silva Campos, de ter sido responsável por três invasões da pista de pouso, com uma brincadeira perigosa. Ele invadiu a cabeceira da pista, no exato instante da aterrissagem de aeronaves, o que provocou arremetidas em todas elas e riscos elevados de uma tragédia.
Uma das invasões comandadas por Guilherme, acompanhado por um grupo de amigos, ocorreu na quinta-feira, à 0h30. Como das outras duas vezes, eles se deitaram na cabeceira da pista no instante em que um Boeing da Varig, com 111 passageiros, procedente de Brasília e Manaus, realizava procedimentos de aterrissagem. O piloto da aeronave teve de arremeter a poucos metros da pista.
Um dos responsáveis pela segurança interna do aeroporto, José Teixeira Lopes, disse que a terceira invasão da pista de pouso só não foi reprimida para que os jovens fossem presos em flagrante. "Chamamos a Polícia Federal e os prendemos ainda deitados na pista", contou Lopes.
Os jovens foram presos e liberados horas depois, com a intervenção de advogados.
Artigos
Brasil despedaçado
Cláudio Lysias
De dez anos para cá, apenas os esportes individuais, à exceção gloriosa do vôlei, deram alguma alegria ao torcedor brasileiro. Fomos campeões mundiais de futebol em 1994, está certo, mas aquela vitória é até hoje creditada mais ao Romário do que ao grupo de jogadores. A constatação é um bom pontapé inicial para qualquer sociologia de botequim, própria para se analisar o futebol, mas é capaz até de estar correta: o Brasil fracassou como projeto coletivo. Não sei se a culpa é do neoliberalismo ou da globalização, ou dos dois juntos, mas é cada mais evidente que o brasileiro só acredita em projetos individuais de realização e sucesso. No resto, sempre se dá mal.
Até 1994, nosso herói máximo foi Ayrton Senna. É ainda difícil definir o clima instalado no País após sua morte, em maio daquele ano. Descobriu-se, naquele momento, que Senna era mais importante do que acreditávamos. A bordo de um carro inacessível para 99,99% da população, ele era o herói natural de todo um povo, das mansões do Lago Sul às favelas cariocas. Um jornalista inglês, que estava no Brasil naquele mês já por conta das eleições presidenciais de 94, comentou que jamais poderia supor que a morte de um piloto de Fórmula Um pudesse calar tão fundo na alma de um povo que sempre foi fanático por futebol.
Depois de Senna, veio Guga. Pelo seu temperamento, o tenista se daria bem em qualquer esporte coletivo, mas seu esporte é igualmente inacessível para a grande maioria da população. Lá vamos nós, de novo, para a sociologia de botequim, mas é claro que Guga é mais importante para todos, atualmente, do que qualquer equipe de futebol.
No jogo de quarta-feira entre Brasil e Argentina, a coisa ficou ainda mais clara. Nem o técnico, o incrível Felipão, nem os jogadores, e muito menos a torcida, acreditam que um esforço conjunto, coletivo, seja capaz de levantar aquele time. A crise de auto-estima é gravíssima. Felipão manda os jogadores fazerem falta, com o argumento de que o Brasil não tem mais aquele futebol que dava espetáculo. Derrotado pela Argentina, lembra que a Holanda, que pratica um futebol interessantíssmo, está fora da Copa do Mundo. Para arrematar, afirma que corremos, sim, o risco de ficar fora da Copa, porque nosso futebol não é mais o mesmo.
O Brasil precisa aprender a jogar em conjunto, solidariamente. Dentro e fora do campo. Mas parece que perdemos esse dom divino. Na época de Pelé e Garrincha, havia o brilho individual dos dois, mas a nossa seleção não teria feito história se não fossem Nílton Santos, Didi, Gérson, Tostão e muitos outros formando o que se chama de grupo, hoje mais um amonoado de jogadores em busca de sucesso financeiro e glória individual, de preferência londe daqui. O Brasil, de certa forma, é o espelho exato daquele time que jogou covardemente em Buenos Aires.
Colunistas
Claudio Humberto
Vale o escrito?
Circularão na convenção do PMDB, em Brasília, cópias de um artigo publicado em 1998 pelo então governador Maguito Vilela (GO), hoje na "oposição", sob o título "Por que vou votar em FHC". O texto é uma babação só. "Votarei em FHC, independentemente da posição do partido" - escreveu - "porque sigo as razões do meu coração". Eu, hein?
Fazendo número
O PMDB "oposicionista", liderado por Orestes Quércia e Itamar Franco, deu uma constrangedora demonstração de fragilidade. Para compor a chapa que disputa o comando do partido amanhã, a facção inscreveu a esposa e a cunhada de Quércia e íntimos de Itamar, por falta de opções.
Fica como está
Em se tratando de Itamar Franco, tudo pode acontecer, até mesmo nada (o que é sempre mais provável), mas um dos maluquinhos de sua tropa de choque garante que o governador não deixará o PMDB, e, nova surpresa: ele é cada vez mais candidato à reeleição, em Minas.
Arapuca pefelista
O PFL armou uma arapuca para Jader Barbalho. Vai apressar o relatório Romeu Tuma, que pedirá abertura de processo contra o senador, para votá-lo antes da posse de Jurandir Fonseca, futuro presidente do Conselho de Ética. Depois tentarão ainda aprovar projeto que veda o exercício de cargo, na Mesa, a quem responde a processo. O PMDB já admite que Jader perca a presidência do Senado, mas não o mandato.
Para canadense ver
Foi aberto na Universidade de Québec, em Montreal, o primeiro centro de estudos e pesquisas sobre o Brasil no Canadá. Inaugurado na véspera do Dia da Pátria, o centro pretende ser um ponto de intercâmbio cultural, social e científico. Fica na rua Sainte-Catherine Est 405.
Pensando bem...
...derramando óleo na Baía de Guanabara no Sete de Setembro, a Petrobras mostrou que é mesmo uma grande filha da pátria.
A máfia na mira
Cláudio Nogueira, delegado da PF, revelará quarta-feira (12) à Comissão de Direitos Humanos da Câmara, em Brasília, detalhes das investigações sobre a "máfia do ouro preto", que controla o negócio dos combustíveis adulterados, responsável por 30 assassinatos, só no Rio de Janeiro. A CPI sobre o tema deve ser votada também na próxima semana.
Um recorde
O presidente Fernando Henrique foi vaiado por mais de um minuto pela maioria das 70 mil pessoas que – segundo estimativa da Polícia Militar – foram ao desfile de Sete de Setembro, em Brasília, na maior vaia do gênero da nossa história recente. O vexame só não foi maior porque milhares de simpatizantes do governador Joaquim Roriz garantiram algumas palmas.
Passaporte carimbado
O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Andrea Matarazzo, assumirá em novembro o cargo de embaixador do Brasil em Roma. O presidente Fernando Henrique ainda não decidiu quem será o seu substituto. Na verdade, não sabe nem se vai manter o cargo.
Trânsito difícil
Quando taxiava na pista do aeroporto de Brasília, às 11h40 de ontem, o Boeing do vôo 8639 da Varig, que chegava de Porto Alegre, foi obrigado a uma freada brusca para não bater num Bandeirante da FAB, que trafegava na contramão, cortando caminho para a estação de autoridades. O piloto devia estar ansioso pela bóia do meio-dia.
Mulher de valor
A líder terena Enir da Silva Bezerra participará dia 24 do programa Mulheres na Liderança Política, em Washington (EUA). Enir implantou em Campo Grande (MS) a primeira aldeia indígena urbana organizada do Brasil. Integra a ONG Rios Vivos, lutando pelos direitos indígenas em megaprojetos do governo, como o gasoduto Brasil-Bolívia.
Novas cores
Imbatível na produção de vazamento, as cores do logotipo da Petrobras (também conhecida por Petrosuja ou Petrovaza) deveriam ser, de agora em diante, verde, amarela e preta. Verde da flora destruída, amarela do ouro desperdiçado e preta do óleo derramado.
Faça o que eles dizem...
Proposta marota do inglês R. Hull, em seminário da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, em Brasília, onde só falaram os defensores dos transgênicos: liberem os organismos geneticamente modificados no Brasil e botem o governo para evitar o plantio de sementes patenteadas.
...não o que fazem
R. Hull também propôs se eximam as empresas de biotecnologia de responsabilidade sobre eventuais danos ao meio ambiente. Ele só não disse que, nos EUA, quem fiscaliza as sementes patenteadas são as próprias companhias, não os agricultores e o governo, como ele sugere.
PODER SEM PUDOR
Mr. Milk, muito prazer
O prefeito Amocim Leite, figura pitoresca da política capixaba e dono dos votos de São Mateus, esperava audiência no Palácio Anchieta e se irritou ao ver que um jovem furou a fila e foi recebido antes, pelo governador Élcio Alvarez. Protestou e ouviu da secretária: "O rapaz veio de Brasília":
– E daí? Eu vim de São Mateus num Corcel zero-quilômetro! – atacou.
Monoglota, em viagem aos EUA, onde participou em Nebraska de um congresso internacional de prefeitos, Amocim Leite fazia questão de traduzir, ele próprio, o seu nome: "Love yes milk, muito prazer".
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