Itamar exonera aliados de Newton do governo
Itamar exonera aliados de Newton do governo
BELO HORIZONTE. O governador de Minas, Itamar Franco, exigiu ontem à tarde a renúncia de todo o secretariado e de demais ocupantes de cargos de confiança de seu governo. De manhã, ele afastara 13 dos principais colaboradores ligados ao vice-governador Newton Cardoso. As exonerações são mais um capítulo da disputa travada entre os dois nos bastidores pelo comando do PMDB de Minas.
Aliados até o mês passado, eles começaram a se desentender quando Cardoso afirmou não estar disposto a abrir mão de disputar o governo de Minas. Com as dificuldades de firmar sua candidatura à Presidência pelo PMDB, Itamar passou a cogitar a possibilidade de disputar a reeleição.
O líder do governo na Assembléia Legislativa, deputado Antônio Andrade (PMDB), afirma que dois dos exonerados (Maurício Guedes, diretor-geral do DER, e Caio Brandão, presidente da estatal Ruralminas) estavam trabalhando abertamente para a campanha de Cardoso.
— Muitos deputados vinham reclamando dos dois — disse Andrade.
Além de Maurício Guedes e de Caio Brandão, o diretor de Manutenção do DER, Eugênio Botinha, também exonerado, é da confiança do vice-governador.
Tanto o vice Newton Cardoso quanto o governador Itamar Franco desvinculam as exonerações das brigas travadas entre os dois.
Secretário abre mão de candidatura por Rosinha
O presidente regional do PSB, deputado federal Alexandre Cardoso, informou hoje que o presidente regional do PV, André Corrêa, secretário estadual de Meio Ambiente, abriu mão de sua pré-candidatura ao governo do estado para apoiar a candidatura da primeira-dama e secretária de Ação Social, Rosinha Matheus, à sucessão de seu marido, o governador Anthony Garotinho. Cardoso disse que teve hoje uma longa conversa com Garotinho. Ele afirma que Rosinha tem dúvidas sobre a sua possível candidatura por ser muita ligada às tarefas de casa e aos filhos.
— Mas, como houve um erro na nossa estratégia e não preparamos ninguém, Rosinha pode fazer a candidatura de Garotinho à Presidência crescer no Rio — disse o deputado.
Para Cardoso, o candidato ideal para formar a chapa com a primeira-dama é o secretário estadual de Trabalho, Jaime Cardoso, quadro histórico do PSB fluminense. O deputado disse que pretende procurar os outros partidos que integram a base do governo (PMDB e PCdoB), para tentar uma aliança. Ele pretende oferecer ao presidente da Assembléia Legislativa, Sérgio Cabral Filho, pré-candidato do PMDB ao governo do estado, a vaga de senador na aliança. O deputado acha que não há chance de Rosinha não ser a candidata do PSB:
— Não há chance de Rosinha não ser. Como vamos dizer nos outros estados que o PSB quer ter candidatura própria e aqui não termos candidato? Não temos outro nome que não o dela — concluiu.
FH reclama dos que não honraram acordos para votar mudanças na CLT
BRASÍLIA. O presidente Fernando Henrique Cardoso e o secretário-geral da Presidência da República, Arthur Virgílio Neto, deram ontem um puxão de orelhas nos ministros que não cumpriram os acordos firmados com a base parlamentar na liberação de recursos do Orçamento de 2001. O governo autorizara um gasto global de R$ 2,8 bilhões no final de 2001 para atender aos compromissos assumidos para garantir as mudanças na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e para aprovar o Orçamento deste ano.
Brant, Lima e Suassuna não cumpriram acordos
Mas alguns ministros, como o da Previdência, Roberto Brant, o dos Transportes, Alderico Jeferson Lima, e o da Integração Nacional, Ney Suassuna, não cumpriram o acerto.
— Se não houver o cumprimento dos acordos, vamos tomar providências para que seja executado o que foi acertado com os coordenadores das bancadas. Queremos que o que foi acertado seja cumprido à risca — afirmou Arthur Virgílio.
Além dos problemas políticos com aliados que foram preteridos, Virgílio sentiu-se desautorizado politicamente, já que ele foi o negociador destas liberações com as bancadas. O secretário-geral da Presidência chegou a enviar uma lista a todos os ministérios de obras e projetos decorrentes de emendas parlamentares que deveriam ter recursos liberados.
A solicitação do Palácio do Planalto não foi integralmente atendida e parte dos recursos foi usada para atender a outros pedidos. Por isso, o presidente e Virgílio cobraram explicações dos ministros, ontem, no Alvorada.
— Não é cabível que um ministério não cumpra o que representa a vontade do presidente da República — reclamou Virgílio.
O primeiro a dar esclarecimentos ao presidente, na noite de quarta-feira, foi Suassuna.
— Mostrei ao presidente que só não liberei recursos para as prefeituras que estão inadimplentes — disse o ministro a Fernando Henrique.
Nas reuniões ficou estabelecido que os erros cometidos serão corrigidos, apesar das limitações impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Pela lei, os orçamentos só podem ser empenhados até 31 de dezembro de cada ano. Sendo que os restos a pagar precisam ser liquidados até 31 de março do ano seguinte.
Fernando Henrique também pediu aos ministros que acelerem a execução do Orçamento deste ano. A pressa é decorrente da legislação eleitoral, que fixa em 30 de junho a data-limite para a assinatura de convênios com estados e municípios, e também do fato de que treze ministros devem deixar seus cargos no início de abril, pois serão candidatos.
Limites de gastos serão estabelecidos no fim do mês
O cronograma do governo prevê que no final de janeiro o Ministério do Planejamento estabelecerá os limites de gastos de cada ministério para este ano. Até o final de janeiro o governo só vai liberar recursos para custeio e transferências constitucionais. Também participaram das reuniões ocorridas ontem no Alvorada os ministros Carlos Melles, do Esporte e Turismo, e Pratini de Moraes, da Agricultura.
Também ontem, foram definidas as prioridades do Governo nas votações no Congresso. O ministro Arthur Virgílio afirmou que o governo vai retomar as discussões da reforma tributária, com a criação de uma comissão parlamentar que será presidida pelo deputado Delfim Netto (PPB-SP).
— A idéia é estimular o Congresso a apoiar uma reforma tributária que seja boa e passe pelo crivo da equipe econômica — disse o ministro.
FH adota o estilo Giuliani em visita a Goiás Velho
GOIÁS VELHO (GO). O presidente Fernando Henrique Cardoso fez ontem uma visita emocionada aos principais prédios históricos destruídos pelas chuvas em Goiás Velho. Ele ressaltou seus laços afetivos com o estado, que já teve como governador seu bisavô, Felicíssimo do Espírito Santo, no século XIX. Fernando Henrique anunciou que assinará uma medida provisória para acelerar a liberação de recursos dos ministérios da Cultura , do Desenvolvimento Nacional e do Esporte e Turismo para a cidade.
Acompanhado do ministro da Integração Nacional, Ney Suassuna, do governador de Goiás, Marconi Perillo, e do secretário nacional de Desenvolvimento Urbano, Ovídio de Angelis, o presidente visitou a casa da poetisa Cora Coralina, parcialmente danificada .
— É uma cidade que tem um patrimônio histórico, mas é mais do que isso, é uma cidade da nossa afeição. Meu bisavô foi governador de Goiás e tenho uma relação direta e pessoal com a cidade — disse o presidente.
Fernando Henrique anunciou a liberação imediata de R$ 2 milhões do Ministério da Cultura para o início das obras. Mas, de manhã, o ministro da Cultura, Francisco Weffort, que também visitou a cidade, disse que os recursos só serão liberados em fevereiro.
Lembrando o estilo do ex-prefeito de Nova York, Rudo lph Giuliani, que andava pelos escombros do World Trade Center com o boné do Corpo de Bombeiros americano, Fernando Henrique desceu do helicóptero em Goiás Velho usando um boné alaranjado da Defesa Civil. Já o ministro Ney Suassuna resolveu vestir o uniforme completo: além do boné, usou uma camisa também alaranjada da Defesa Civil.
— Peço aos brasileiros e sobretudo aos estrangeiros que continuem visitando Goiás. A cidade não acabou, houve apenas um acidente — conclamou o presidente.
Segundo a prefeitura, serão necessários cerca de R$ 9 milhões para reconstruir a cidade.
PF prende acusado de chefiar máfia dos diamantes em reserva indígena
BRASÍLIA.O fiscal da Funai Sérgio Toledo Santana está preso em Cuiabá, sob a acusação de chefiar a máfia responsável pela extração ilegal de diamantes na reserva Roosevelt, dos índios cintas-largas. Outros dois funcionários da Funai, Darcylio Ramos Moura e Claudionor Duarte, que também comandariam o garimpo ilegal, foram presos, mas acabaram sendo liberados pelo Tribunal Regional Federal da 1 Região, de Brasília. Moura era chefe da fiscalização na área da reserva. A Funai pedirá nos próximos dias a intervenção das Forças Armadas na área indígena, para tentar pôr fim ao garimpo ilegal.
Máfia teria apoio de políticos e empresários da região
Além do grupo da Funai, o esquema de extração ilegal de diamantes contaria com a participação de um servidor do Ibama. Apesar da repressão policial, dois mil garimpeiros atuam na reserva. Segundo a PF e a própria Funai, a máfia conta com a conivência de caciques corruptos, de 40 empresários, de políticos locais e até de uma multinacional de origem canadense.
— A Funai, a PF e o Ibama não têm condições de resolver o problema. É uma questão que só pode ser resolvida com a intervenção das Forças Armadas — disse um graduado funcionário da Funai.
Os detalhes da proposta de parceria com as Forças Armadas deverão ser acertados com o presidente da Funai, Glênio Alvarez. A idéia é fazer uma intervenção breve, apenas para interromper a extração desenfreada de diamantes na reserva dos cintas-largas.
Com isso, seria possível impedir a dilapidação do patrimônio dos índios e reduzir as perdas que a União tem com a sonegação fiscal e a evasão de divisas praticadas pelos grandes contrabandistas de diamantes da região. A proposta tem o apoio da PF.
— A Polícia Federal e a Polícia Militar de Rondônia não têm condições de retirar os garimpeiros da reserva. A vinda das Forças Armadas seria um auxílio — disse o superintendente da PF em Rondônia, Marcos Aurélio Moura.
A intervenção seria uma solução provisória. A Funai e a PF acreditam que, a longo prazo, o problema só poderá ser resolvido com a regulamentação do garimpo em áreas indígenas. Neste caso, a extração seria feita por empresas idôneas, que teriam de pagar royalties aos índios, se comprometer em preservar o meio ambiente e resguardar a reserva de invasões de garimpeiros e madeireiras.
A máfia começou a ser investigada há três meses. A PF também está no encalço dos fiscais José Nazareno Torres Moraes, Valdir de Jesus Gonçalves e Willen Reis Martins Silva, que tiveram suas prisões preventivas decretadas. O sétimo chefe da máfia ainda não teve a prisão preventiva decretada. Além do trabalho da Polícia Federal, o envolvimento do grupo com a exploração de diamantes na reserva foi apontado por uma comissão de sindicância da Funai.
Fiscais cobravam propina por instalação de máquinas
A partir do relatório da comissão, Glênio Alvarez determinou a abertura, no início da semana, de um processo disciplinar, para verificar o grau de envolvimento de cada um dos fiscais no esquema.
Pelas investigações da Funai e da Polícia Federal, os fiscais cobravam entre R$ 10 e R$ 18 mil por instalação de máquina de extração de diamante na reserva, que abriga uma das maiores jazidas de diamantes do país. A autorização valia para 30 dias. Eles exigiam ainda mais 30% dos valores apurados pelos garimpeiros depois da venda dos diamantes. Uma parcela destes 30% era destinada ao suborno de líderes indígenas. Os fiscais são acusados ainda de torturar os garimpeiros que se recusavam a pagar as dívidas.
Governo vai apurar rebelião em Rondônia
PORTO VELHO E BRASÍLIA. O Ministério da Justiça enviará uma equipe ao presídio de Urso Branco, em Porto Velho (RO), para apurar o que provocou a rebelião promovida por grupos rivais. O grupo vai verificar as instalações, as condições em que vivem os detentos e acompanhar as investigações sobre a morte de pelo menos 27 presidiários na rebelião que começou na terça-feira. Na quarta-feira, a Polícia Militar chegou a divulgar a morte de 45 detentos. Mas o número oficial divulgado pelo governo caiu para 27.
Farão parte da comitiva do ministério a secretária nacional de Justiça, Elisabeth Süssekind; o diretor do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Ângelo Roncalli; e o engenheiro civil Alexandre Alves Neto, do Depen. O objetivo do ministério é também criar uma comissão temporária para administrar o presídio enquanto os desdobramentos da rebelião não são contornados.
Na quarta-feira, o comandante da Polícia Militar, coronel Lino Aguiar, afirmou que o número de mortos chegava a 45. O Instituto Médico-Legal (IML) fez a necropsia de 27 corpos. Ontem informações não confirmadas davam conta que vários corpos foram jogados na cisterna do presídio. Para retirar os corpos dos 27 mortos foi usado um trator do tipo retroescavadeira, que os recolhia no interior do presídio e jogava num caminhão que os conduziu ao IML.
O diretor do presídio, Cleber Jordano, pode ser indiciado pelas mortes. A confusão teria acontecido porque ele tirou os presos jurados de morte das celas seguras e os mandou aos pavilhões onde estavam seus inimigos. Os presos que ficavam nessas celas eram considerados traidores porque delataram planos de fuga.
O arcebispo metropolitano de Porto Velho, dom Moacyr Grechi, divulgou nota ontem afirmando que a arquidiocese alertou para a situação do presídio em outra nota, de 7 de dezembro. “A questão é de vida ou morte. Se esses grupos rivais se encontrarem vai haver uma carnificina”, afirmava a nota do ano passado.
A equipe do Ministério da Justiça pedirá ao governo estadual que dispense licitações para construção de novos presídios, a fim de minimizar mais rapidamente a superlotação. Rondônia recebeu em 28 de dezembro R$ 3,3 milhões do Fundo Penitenciário Nacional.
O governo de Rondônia divulgou nota afirmando que o “sistema penitenciário do país passa por uma grande crise institucional”. Na nota, o governo estadual garante ter assegurado R$ 4,5 milhões para construir novos presídios.
Artigos
Brasil de muitas cores
Roberto Freire
No ano passado, ao participar juntamente com outros brasileiros de instigante seminário na Universidade de Berkeley, ponderei que os Estados Unidos tinham uma obrigação, de repassar para nós no Brasil sua experiência de políticas públicas de integração dos negros, em particular a política de cotas, adotada após a década de 60 e que se insere no contexto do combate ao racismo e à discriminação. Não como modelo a ser seguido necessariamente, mas enquanto conjunto de decisões, atitudes, obstáculos, sucessos e fracassos, enfim, como processo de informação.
O assunto surgiu com força no Brasil, agora. E temos de reconhecer, para além da nossa retórica: veio pelas mãos do governo que tanto criticamos, após iniciativa pioneira e corajosa do ministro Raul Jungmann, da Reforma Agrária, seguida pelo Superior Tribunal de Justiça. Agora, um certo sistema de cotas, beneficiando além dos negros as mulheres e os p ortadores de deficiência, dado mais por orientação e menos por lei ou resolução, começa a ser implantado em todo o Executivo federal, aplicando-se principalmente aos concursos, aos serviços terceirizados e aos chamados cargos de confiança.
Obviamente, o governo não pode reivindicar a paternidade da idéia. Afinal, há vários anos ela está presente nos debates travados no interior das forças democráticas e cresceu por ocasião da comemoração dos 500 anos de descobrimento do Brasil, quando a questão negra ganhou nova dimensão, inclusive com sugestões inéditas de indenização pelo trabalho escravo que vitimou tantos africanos e, depois, descendentes nacionais. Por definição, as cotas, de alguma forma, são patrimônio do ideal de solidariedade dos democratas e das esquerdas.
Causa espécie o posicionamento de alguns democratas de vários matizes contrários às cotas. Distanciando-se da própria tradição de solidariedade, e mesmo recorrendo a argumentos com aparência robusta, tais pessoas acabam de braços dados com o conservadorismo e com a visão de que apenas o desenvolvimento e o progresso podem resolver os dilemas nacionais. Em países injustos como o Brasil, com distorções sociais criadas e consolidadas ao longo de extenso período histórico, o desenvolvimento econômico apenas não basta para superar certas iniqüidades e perversidades como é a discriminação racial. Exige, para isso, também, políticas públicas afirmativas — e a discriminação positiva das cotas seria uma delas.
Basta olhar para todos os lados, para nossas universidades, Forças Armadas, instituições, empresas públicas e privadas, burocracia, enfim, a sociedade falante, pensante e mandante para ver as mazelas da escravidão ainda presentes na quase total ausência dos negros em nosso meio. Os negros moram nos piores lugares nas cidades, detêm os piores empregos, percebem os menores salários, sofrem mais doenças, têm piores índices de analfabetismo, menos tempo nas escolas, menor expectativa de vida. Se tomarmos como exemplo a mulher negra, a situação é mais dramática ainda, porque ela é atingida por um processo duplo de exclusão — ou de hierarquização descendente. De gênero e etnia.
O Estado brasileiro e suas instâncias políticas, sociais e econômicas apresentam desgraçadamente uma única cor, esmagadoramente branca. Isso não corresponde absolutamente à nossa realidade. Cabe portanto, dar à República a cor da vida, e aí, não tenho dúvida, se destaca o negro.
Muitos críticos das cotas querem colocar a questão do negro no bojo de políticas de combate à pobreza. Ora, pobreza não tem cor, atinge a todos. Assim como a violência, que também não guarda necessária nem diretamente relação com a pobreza.
Em recente documento, o grupo Axé Zumbi Vive!, do PPS de Minas Gerais, avaliava que o Brasil, último país do mundo a abolir formalmente o trabalho escravo, “não experimentou o fenômeno da segregação espacial fundada abertamente em critérios étnicos e raciais”, tal como os guetos americanos ou o apartheid sul-africano, abrigando raras manifestações abertas de ódio racial nas relações cotidianas. Apesar disso, as manifestações discriminatórias seriam visíveis a olho nu, colocando-nos longe do ideal de uma verdadeira democracia racial.
Mas o horizonte da democracia racial deve ser buscado. Talvez, sejamos o país com forte presença negra, a par de outras etnias, que reúne as melhores condições para atingir este objetivo. Entretanto, não podemos correr o risco de ficar “esperando Godot”. Precisamos agir positivamente para antecipá-la no tempo, impedindo que preconceitos se consolidem ainda mais nos decênios que virão. A adoção da política de discriminação positiva em contraposição à discriminação negativa existente em nossa sociedade é urgente. As cotas — uma das expressões daquela política — são instrumentos de intervenção pontual e passageiros no cenário de uma longa história. A sociedade brasileira deve encampá-la de forma resoluta, em nome da democracia e da verdadeira liberdade.
Somos um país de muitas cores — na bandeira, na plumagem dos pássaros, nos estandartes das escolas de samba e dos clubes de frevo, nas camisas do time do coração de cada um, na composição social, na natureza, na rua e na vida.
Que elas estejam também na República!
Colunistas
PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel
Não cola mais
O presidente Fernando Henrique poderia ter evitado essa. Dizer que a reforma tributária deve ser uma das prioridades do Congresso este ano, como disse ontem, soa mais como provocação. Nem o mais governista dos parlamentares acredita que esse governo quer a reforma. Parece mais uma tentativa de afirmar que ele, FH, quis e defendeu até o último ano, mas o Congresso não aprovou.
Se a intenção é mesmo essa, como suspeitam parlamentares de oposição e da própria base aliada, dificilmente terá sucesso. Mais uma declaração de Fernando Henrique em defesa da reforma pode até animar alguns empresários. Mas quem bem acompanhou as negociações dos últimos anos sabe que a equipe econômica do governo FH nunca quis e continua não querendo mudanças amplas no atual sistema tributário que rende bilhões e bilhões de impostos fáceis.
A reforma tributária que os economistas do governo queriam resume-se à permanência da CPMF, que nasceu como provisória, e pequenos projetos aqui e ali, como o que mexeu na tributação sobre combustível. Dizia ontem o ministro Arthur Virgílio Neto, relatando a reunião com o presidente, que o Congresso deve aproveitar uma comissão especial que será presidida pelo deputado Delfim Netto na Câmara para aprovar a reforma tributária.
Conversa. Essa comissão está sendo criada para discutir especificamente uma proposta do deputado Germano Rigotto, que propõe o fim da cobrança em cascata da Cofins e do PIS -— contribuições pagas pelas empresas em todas etapas da produção. O próprio Delfim já disse que isso é o máximo que se pode aprovar nesse ano eleitoral.
Incansável defensor da reforma nos últimos sete anos, Rigotto lembra que o Congresso já apresentou uma proposta pronta e acabada, discutida com todos os governadores, mas que o governo impediu sua aprovação:
— É brincadeira dizer que vamos aprovar reforma tributária em ano eleitoral. O governo continua na mesma: o discurso é a favor mas a ação é contra.
— É mais uma piada de Fernando Henrique. Todos sabem que essa reforma só será feita pelo próximo governo — reagiu o líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro.
FH começou o ano impossível. Defende a reforma tributária e ainda vai à TV dizer que está corrigindo a tabela do Imposto de Renda, projeto que combateu até o último minuto.O PFL de olho no Rio
Com toda cautela que o perfil polêmico do prefeito Cesar Maia exige, o PFL quer ter no Rio de Janeiro o grande palanque de Roseana Sarney nas regiões Sul e Sudeste. Mesmo sem grandes chances de vitória, o partido lançará candidato ao governo do estado — o secretário municipal Eduardo Paes — para reforçar a campanha de Roseana.
Os pefelistas sabem que mais que um palanque vale o trabalho de companheiro aguerrido. Cesar Maia tem demonstrado que entrou de cabeça nesse projeto. Mas o estilo agressivo e algumas vezes exultante do prefeito preocupa pessoas próximas de Roseana.
Em São Paulo e Minas Gerais, o PFL não tem um Cesar Maia nem terá candidatos próprios ao governo. Pior, apoiará os candidatos do PSDB do ministro José Serra — Geraldo Alckmin e provavelmente Eduardo Azeredo. O que significa que o palanque da coligação nesses estados será preferencialmente do presidenciável tucano.
— O que importa é o palanque eletrônico. Mesmo sem candidato próprio, teremos bom espaço no horário eleitoral — diz Gilberto K assabi, do PFL paulista.
É com esse tempo precioso na televisão, que tanto já favoreceu Roseana Sarney, que o PFL conta mais.PRIMEIRA autoridade do governo a colocar em dúvida a versão de que o seqüestrador Fernando Dutra Pinto morrera em conseqüência de uma intoxicação alimentar, a secretária nacional de Justiça, Elisabeth Süssekind, passou parte da madrugada de ontem em um hospital de Brasília. Foi só um susto. O diagnóstico médico: intoxicação alimentar. No final do dia, ontem, a secretária confirmava a viagem que fará hoje a Rondônia, onde quer ver de perto a situação do presídio onde mais de 20 detentos foram mortos.
Editorial
LOBBY DO BARULHO
Os limites da tolerância humana ao barulho foram firmemente estabelecidos pela ciência, e são conhecidos e universais os métodos de medição. Do ponto de vista técnico, o assunto não comporta polêmica.
Mas vereadores do Rio, buscando indisfarçáveis vantagens pessoais, forçaram uma discussão sem cabimento. E, se não houver resistência organizada da sociedade, o Rio se tornará uma cidade mais barulhenta — e menos civilizada. Um projeto de lei já foi aprovado, embora esteja em contradição com normas federais.
Está claro que os interesses desse pequeno grupo de representantes de cultos religiosos entram em choque frontal com os da comunidade. De um lado, os autores da ofensiva do barulho tentam fixar os limites de tolerância do carioca cinco decibéis acima do permitido pela lei federal em vigor, que se fundamenta em estudos da Associação Brasileira de Normas Técnicas. De outro, propõem baixar em um terço o valor das multas. Seria abrir portas e janelas para todo tipo de destempero sonoro.
É o caso de perguntar por que a bancada religiosa da Câmara dos Vereadores julga necessário obter, a bem dizer à força, uma licença especial da comunidade para agredir o sossego. Parece contraditório pregar paz e harmonia a plenos pulmões e com o auxílio de possantes aparelhos de som.
No fim, os efeitos negativos dessa atitude voltam-se contra os algozes da tranqüilidade, que se tornam vizinhos indesejáveis — não pelo que pregam, mas pela forma agressiva de invadir o espaço alheio.
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01/04/2002
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