Jarbas aceita a vice, mas pede tempo









Jarbas aceita a vice, mas pede tempo
Governador quer reorganizar palanque estadual antes de iniciar campanha com Serra

BRASÍLIA - José Serra (PSDB) para presidente e Jarbas Vasconcelos (PMDB) para vice. O PSDB e o PMDB fecharam hoje, informalmente, a primeira chapa completa na disputa sucessória. O senador Serra e o governador de Pernambuco cancelaram o encontro que teriam em Brasília para tratar de eleição, mas Jarbas confirmou, em telefonema ao candidato tucano no início da tarde de ontem, que aceita ser seu vice.

O encontro foi descartado por duas razões: era preciso evitar a fotografia para não atropelar o "ritual" da montagem da aliança, sobretudo quando parceria ostensiva poderia irritar o PFL, acrescentando novas dificuldades à já difícil aprovação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) no Senado.

Diante desta avaliação, os presidentes do PSDB, deputado José Aníbal (SP), e do PMDB, deputado Michel Temer (SP), deram início ao ritual. Apresentado o convite de Aníbal ao PMDB, houve até brinde entre os dois presidentes, que encenaram o "tim-tim" com dois copos de água. A palavra chave da proposta dos tucanos ao PMDB é a " parceria" no governo. "Os dois partidos têm convergência e identidade e queremos ganhar as eleições porque é bom para o Brasil", disse José Aníbal à cúpula do PMDB, reunida na presidência do partido para receber o convite formal.

No discurso, o tucano frisou que PMDB e PSDB farão uma "coligação plena de parceria", tendo Serra como candidato. "O PSDB amadureceu esta decisão que nos dá muita satisfação porque o PMDB tem tido uma postura de parceiro e colaborador com um projeto que está em curso", acrescentou. Como manda o ritual, em que a escolha do vice compete exclusivamente ao partido aliado, Aníbal recusou-se a se manifestar sobre o assunto, evitando até comentários sobre o perfil de Jarbas. Deixou claro, também, que o PSDB não tem um projeto de governo fechado e está aberto a propostas do PMDB.

Sobre a participação de outros partidos na aliança, limitou-se a dizer que qualquer outro movimento será feito em convergência com o PMDB. "Vamos, é claro, buscar forças políticas que possam nos ajudar." Nos bastidores, tucanos e peemedebistas apostam que a candidatura do PFL não vai longe. Dizem que a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, acabará desistindo de concorrer à Presidência, abrindo espaço para a composição com setores do PFL.

Convite formalizado, Michel Temer levará a proposta aos governadores e dirigentes regionais do PMDB. A resposta oficial só será dada no dia 2 de abril, em reunião da executiva nacional do partido em Brasília. Mas a aliança para valer só será sacramentada em junho, quando ocorrerão as convenções nacionais e os registros das chapas.

Para evitar problemas com a ala rebelde, líderes do PSDB, incluindo aí o próprio Serra, estão procurando cada um dos líderes dissidentes. Foi assim que Serra telefonou para Itamar na sexta-feira, e José Aníbal procurou uma aproximação com o ex-governador paulista Orestes Quércia. Com o PMDB na vice, os tucanos mudam o eixo da aliança, construindo a coligação de centro-esquerda que sempre sonharam.


Mendonça é o nome natural a governador
Vice assumirá lugar de Jarbas no Palácio e na chapa majoritária da aliança local

Com a saída do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), o candidato natural da aliança passa a ser o atual vice, José Mendonça Filho do PFL - ele assume o Governo e, no cargo, disputa a reeleição. Este é o entendimento do próprio Jarbas, que chegou ontem à noite de Brasília e hoje passa o dia em contatos com os aliados. A idéia é que - dependendo do que permita a legislação - a chapa seja invertida, com o PMDB passando a ocupar a vice. O nome mais cotado é o do atual secretário estadual da Educação, Raul Henry, pessoa de confiança de Jarbas. As duas vagas ao Senado continuariam a ser ocupadas pelo PFL (Marco Maciel) e PSDB. Ontem o PPB e o PSDB ensaiaram resistência ao acordo, mas é pouco provável que ela se mantenha a ponto de atrapalhar a formação da nova chapa.

Segundo apurou o DIARIO, Mendonça Filho (que é filho do deputado federal José Mendonça, líder de um grupo político com raízes no Agreste do Estado) não vai realizar mudanças no secretariado ao assumir - a não ser aquelas provenientes da saída dossecretários que irão disputar as eleições e precisam, por lei, deixar o cargo até 6 de abril próximo. Os seus substitutos deverão ser escolhidos dentro dos mesmos critérios que nortearam a escolha dos atuais.

Ou seja: a "cara" do governo permaneceria sendo a de Jarbas e a administração de Mendoncinha (como o vice é tratado no meio político) seria feita em sintonia com ele. O objetivo do PFL - pelo menos na teoria, e nas condições atuais - é não criar nenhum problema para a candidatura de Jarbas à vice-presidência. Do lado do PFL, o vice-presidente Marco Maciel será um dos principais suportes de que esta sintonia esteja sempre afinada.

A insatisfação que existe hoje no PFL em relação a José Serra - a quem muitos no partido acusam de estar por trás dos ataques que praticamente sepultaram a candidatura pefelista de Roseana Sarney - não deve ser obstáculo, em Pernambuco, para que o partido se engaje em sua candidatura. A presença de Jarbas na chapa presidencial é o fato novo que resolve o problema.

FORMAÇÃO - A ida de Jarbas para a sucessão presidencial pegou toda a aliança estadual de surpresa. Os planos de Mendoncinha sempre foram de entrar na disputa majoritária, mas nem ele nem o PFL esperavam que isso fosse acontecer agora. Ex-secretário da Agricultura e ex-deputado federal (foi o autor do projeto da reeleição, que permitiu que Fernando Henrique disputasse um novo mandato), ele acompanhou no governo Jarbas Vasconcelos praticamente todas as áreas da administração. "Ele está pronto para governar", disse ao DIARIO uma das principais lideranças da aliança.


Prefeito diz que não há mais favoritos
João Paulo acredita que disputa estadual foi zerada e garante não ser candidato

O prefeito João Paulo (PT) descartou ontem qualquer possibilidade de vir a disputar o Governo do Estado e reafirmou que o candidato do partido é Humberto Costa. No meio político pernambucano havia a expectativa de que, no caso de Jarbas Vasconcelos (PMDB) não disputar a reeleição, João Paulo poderia ser o candidato capaz de unir as esquerdas. "Essa especulação é influência ainda do resultado da última eleição, mas não tem fundamento", disse.

Ele concorda, porém, que a saída de Jarbas da sucessão estadual altera todo o cenário eleitoral. "Agora, não há mais favorito", afirmou, acrescentando que diante da mudança a oposição "se obriga" a repensar a situação. Segundo o prefeito, neste novo quadro as questões locais terão "sua autonomia muito reduzida" e as decisões serão "balizadas pela situação nacional".

João Paulo acredita que o PFL deve recompor-se com o PSDB ainda no primeiro turno e que, no caso de Pernambuco, a aliança governista continuará forte mesmo sem um candidato "com o peso político" de Jarbas. Para ele, o fato de o novo candidato ser do PFL, PMDB ou PSDB não fará diferença. "Ele será a expressão dessa composição, não podemos subestimá-la", argumentou.

Independente da tática que os partidos oposicionistas venham a adotar, o prefeito recomendou que eles devem evitar recorrer "à despolitização e à baixaria" que, em sua opinião, devem nortear as eleições nacional e locais. Observa que foi por meio "da politização" que as oposições ganharam a eleição no Recife, em 2000.

ZEROU - A opinião do prefeito e das oposições em geral é que, com a retirada de Jarbas da disputa local, o quadro "fica ze rado". Ontem, as primeiras análises dos partidos de esquerda eram no sentido de que, agora, a tese de mais de um palanque para enfrentar a aliança governista fica muito enfraquecida. "Defendo a candidatura única, porque nenhum outro candidato tem a dimensão eleitoral de Jarbas", disse o presidente da Câmara de Vereadores do Recife, Dilson Peixoto.

Com a experiência de quem participou das articulações e realização de uma série de campanhas (como a de Tancredo Neves à Presidência, em 1984), o ex-deputado federal e ex-ministro (Justiça) Fernando Lyra seguiu no mesmo tom. "Se o governo, que é o governo, com toda a força que tem, vai entrar unido, por que a oposição vai ficar dividida?", questionou.

Entendem todos, também, que as chances de vitória, agora, tornaram-se maiores. Há quem pense, ainda, como os deputados Ranilson Ramos (PPS) e José Queiroz (PDT), que a aliança governista poderá entrar em crise. "Fernando Henrique e Jarbas estão escanteando o PFL", disse Queiroz.


Inocêncio acusado de manter "escravos"
Funcionários de fazenda no Maranhão prestam queixa

SÃO PAULO - O deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE) deverá pagar o FGTS aos trabalhadores de sua fazenda Caraíbas, no interior do Maranhão, e construir alojamentos adequados para que ela tenha sua situação regularizada. As exigências foram anunciadas ontem por fiscais do Ministério do Trabalho. Anteontem, a fiscalização do Ministério do Trabalho encontrou no local cerca de 50 trabalhadores sem carteira de trabalho assinada, recebendo menos de um salário mínimo e sendo obrigados a pagar por ferramentas e equipamentos de segurança - situação considerada "análoga à escravidão".

O ministro do Trabalho, Francisco Dornelles, que é filiado ao PPB, divulgou ontem nota afirmando que a fiscalização "não encontrou elementos que caracterizassem a existência de trabalho escravo, quais sejam: a coação moral ou física, o cerceamento da liberdade de ir e vir e, principalmente, a presença de pessoas armadas no ambiente de trabalho". Não são apenas essas, no entanto, as características da exploração semelhante ao trabalho escravo.

O próprio Ministério do Trabalho sempre considerou a submissão do trabalhador a dívidas, o aliciamento e a ausência de carteira de trabalho assinada - como na situação relatada pelos empregados da fazenda Caraíbas - indicadores de trabalho "análogo à escravidão". A dívida trabalhista que será cobrada do deputado ainda não teria sido calculada, mas um representante de Inocêncio foi notificado ontem das exigências do ministério.

A ação foi realizada pelo grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho, setor com coordenação em Brasília dedicado principalmente ao combate do chamado trabalho "análogo à escravidão". A Polícia Federal acompanha todas as diligências do grupo móvel. A denúncia foi feita por 25 ex-trabalhadores da fazenda que disseram ter recebido, em média, R$ 20,00 após trabalhar na Caraíbas de 21 de janeiro a 8 de março.

Segundo relato dos empregados da fazenda de Inocêncio, os "gatos" - intermediadores da mão-de-obra - cobravam R$ 12,00 pelas botas para o serviço e R$ 6,00 pela foice. Parte dos peões disse que não abandonava o emprego porque tinha dívidas com os "gatos", que também eram responsáveis por recrutar os trabalhadores.

O deputado disse que não mantinha nenhuma relação com os empregados sem carteira assinada. Segundo Inocêncio, eles teriam sido contratados diretamente pelos "gatos", que seriam os responsáveis por efetuar os pagamentos. Inocêncio Oliveira se disse satisfeito com a nota do ministro Francisco Dornelles. Ele contou ter recebido um telefonema do ministro ontem pela manhã informando que divulgaria a nota. Dornelles, segundo Inocêncio, negou que houvesse "alguma coisa contra" o líder. "Espero que o Ministério do Trabalho, que desmentiu a informação, aprofunde as investigações e chegue à verdade", disse Inocêncio.


Sarney compara FHC a Alberto Fujimori
Senador peemedebista pede presença de observadores internacionais nas próximas eleições

BRASÍLIA - Em discurso de uma hora e catorze minutos na tribuna do Senado, o senador José Sarney (PMDB-AP) atacou ontem o presidente Fernando Henrique e o senador tucano José Serra, pré-candidato ao Palácio do Planalto. Ele comparou o Governo de FHC ao de Alberto Fujimori, no Peru, pôs sob suspeita as eleições brasileiras e pediu a presença de observadores internacionais durante o pleito. Mas não explicou a origem do R$ 1,34 milhão encontrado na empresa de sua filha, a governadora Roseana Sarney (Maranhão), pré-candidata do PFL à sucessão presidencial.

"O senhor Jorge Murad recebeu doação de pré-campanha, por ela assume toda e qualquer responsabilidade e por ela responde. Que a Justiça apure sua legalidade e tome suas decisões", afirmou Sarney, dentro da linha adotada pela família, de pôr nas mãos do genro as explicações a respeito do dinheiro. Sarney afirmou que não é novidade que as campanhas políticas são feitas de doações.

Numa referência direta a FHC, ele lembrou que o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) contou que em 1994 viu o ex-senador Andrade Vieira (PR) entregar R$ 5 milhões - hoje R$ 10 milhões, atualizados por ele - para a campanha do atual presidente.

Sarney fez uma revelação que circulava nos meios políticos, mas não tinha origem. Disse que, numa conversa com o ministro para Assuntos Institucionais, general Alberto Cardoso, contou que agentes do ex-SNI tinham sido contratados pelo deputado Márcio Fortes (RJ), secretário-geral do PSDB, para uma devassa na vida de Roseana. Esses agentes, segundo Sarney, foram incumbidos de acompanhar as viagens de Roseana, gravar suas conversas, fotografar. "O general Cardoso disse-me que isso podia ser possível e que ia investigar".

Para Sarney, o Ministério da Saúde, na gestão de José Serra, transformou-se num centro de espionagem que dissemina o medo. "O que vejo no Brasil hoje é o medo de dossiês, das escutas, da espionagem". "O Brasil de hoje", disse Sarney, "está muito parecido com o que foi testemunhado durante o Governo de Alberto Fujimori, no Peru". Irônico, o senador e ex-presidente disse que a função do Ministério da Saúde é cuidar da saúde do País. "Mas dedicou-se também à inteligência e à espionagem."

Sarney atacou também o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira. Disse que a Polícia Federal, em última instância, é submetida a ele. E que, numa conversa com FHC, cobrou explicações para a ação da PF na empresa de Roseana. O presidente, segundo Sarney, respondeu que o ministro não sabia de nada. E teria dito: "Não. E se ele soubesse e não me avisasse, eu o demitiria hoje". Portanto, disse o senador, a operação da PF teve como único objetivo destruir a candidatura de Roseana Sarney. À noite, disse Sarney, o ministro se gabava na televisão de que dera as ordens.

Nem a família Sarney nem o PFL perdoam o ministro da Justiça. O senador Sarney chegou a insinuar que Aloysio Nunes Ferreira é desequilibrado. Afirmou que ele tem demonstrado em sua vida atos de "extrema violência". Segundo Sarney, o ministro teve a intenção de espancar e matar o governador do Ceará, Tasso Jereissati.


Itamaraty fica mais acessível aos negros
BRASÍLIA - O Governo Federal lança hoje um programa para estimular o ingresso de minorias na carreira diplomática. Serão criadas vinte bolsas de estudo por ano para a preparação de estudantes negros ao concurso do Instituto Rio Branco, que forma diplomatas. O programa será lançado hoje pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e faz parte das "ações afirmativas" do Palácio do Planalto. Antes, o Governo havia reservado vagas para negros no Ministério do Desenvolvimento Agrário.

De acordo com o Itamaraty, a intenção do Governo é promover uma maior igualdade d e oportunidades no acesso à carreira de diplomata. O programa será lançado hoje devido ao Dia Mundial contra a Discriminação Racial. Com a medida, o Itamaraty pretende se tornar cada vez mais representativo dos vários segmentos que compõem a sociedade e ampliar a diversidade étnica na diplomacia brasileira.

Com a bolsa, o Itamaraty quer ampliar a base de recrutamento do concurso e assegurar que bons candidatos não sejam impedidos de uma preparação adequada ao concurso por falta de condições financeiras.

COMPETITIVIDADE - Por ser um concurso altamente competitivo, com uma média de mais de cem candidatos para cada vaga, os candidatos que freqüentaram as melhores escolas e tiveram professores especializados têm maiores possibilidades de passar, segundo o Itamaraty.

Um diagnóstico da situação da comunidade negra pode ser obtido pela análise dos resultados do exame de pré-seleção à carreira de diplomata realizado este ano, na primeira das várias etapas do concurso. De um total de 422 candidatos inscritos, que se autodefiniram como negros ou pardos, apenas doze passaram neste primeiro teste. As bolsas pretendem, assim, contribuir para ampliar a entrada destes candidatos.


Artigos

Escritor, escritores
Tereza Halliday

O III Congresso Brasileiro de Escritores em Pernambuco acontecerá no Recife Palace Hotel, de 25 a 28 de março. Sob o tema A Literatura na Mídia, haverá discussões sobre jornalismo e crítica literária, problemas do escritor, a sobrevivência da poesia.

A União Brasileira dos Escritores, Seção de Pernambuco, esmerou-se em reunir bons conferencistas e debatedores para esse encontro. Seria desejável enxugar as falas protocolares nas aberturas das sessões, evitando a apropriação indébita do tempo dos convidados, que são as verdadeiras estrelas do programa e o motivo de a platéia estar ali.

Os de fora do métier não aquilatam o esforço inerente à labuta do escritor. A inspiração entra apenas como pitada de sal, gota de mel, salpico de canela no caldeirão das vivências e do árduo trabalho artesanal do texto. Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, aponta três pré-requisitos para escrever bem: saber pensar (o que exige leitura, bagagem cultural), estarfamiliarizado com o idioma (em vocabulário, ortografia, sintaxe) e saber como organizar o texto. Isto é trabalho de toda uma vida.

Ficcionista ou não, o escritor é um tradutor de realidades - importante papel no palco do Mundo, onde a palavra boa e bela sempre cabe. Mas, novato ou veterano, o escritor sério e sábio não se considera ungido pelos deuses somente porque nasceu com jeito para escrever ou desenvolveu admiravelmente este talento. Aliás, todo aspirante a escritor deveria ler e reler o Eclesíastes.

Crendices povoam o imaginário popular sobre escritores: são mais interessantes e dignos de respeito do que um matemático, um mecânico ou um comerciante; têm pacto com as musas; são, por tabela, melhores seres humanos que os demais. Os que assim fantasiam, jamais percebem a transpiração se sobrepondo à inspiração no dia-a-dia de quem escreve. Também esquecem que ser um bom caráter não vem necessariamente acoplado ao título ou habilidades de escritor, nem de ocupação alguma.

O termo escritor nem sempreé bem compreendido pelo público. É escritor somente quem publica livros ou também quem possui originais engavetados? O designativo escritor é uma identidade expressa como a marca do ser? Ou adendo charmoso para colocar no cartão de visitas, na esperança de inspirar respeito e admiração? Escritor é profissão? Mas são raros os que podem viver unicamente deste mister. Escritor é vocação? Para cumpri-la, muitos precisam ter fonte de renda garantida, não proveniente do escrever, como foi o caso de Guimarães Rosa, Osman Lins, João Cabral e tantos outros. Dizem que o verdadeiro vocacionado escreve por compulsão. Comenta-se que poetas e ficcionistas em prosa produzem textos por terapia, para exorcizar seus demônios e compartilhar suas pirações. Enfim, o que é que tem de tão difícil ou tão bom em ser escritor? Perguntas de leigos que especialistas reunidos em congresso podem responder.


Colunistas

DIÁRIO POLÍTICO

Detonador faz outra vítima
O governo FHC não é brinquedo não. E quem ainda acredita que pode fazer oposição ao Palácio do Planalto sem blindar seu telhado de vidro, que se cuide. Pois poderá ser a próxima vítima do sistema de detonação política montado em Brasília, que acaba de atingir o líder o PFL, Inocêncio Oliveira, com as denúncias de trabalho escravo na fazenda Caraíbas, de sua propriedade, no Maranhão. Como das outras vezes que o detonador foi acionado, a Polícia Federal teve um papel importante na descoberta de 50 trabalhadores do deputado que o acusam de coisas terríveis, desumanas. Na denúncia, protocolada na Delegacia do Trabalho do Piauí, eles dizem que Inocêncio não assina carteiras de trabalho e que recebem menos que o salário mínimo. Além disso, contam que são obrigados a pagar R$ 12,00 pelas botas que calçam e R$ 6,00 pela foice que usam dos 8 mil hectares do parlamentar, com 2.800 cabeças de gado. Também dizem que vivem em barracos e a água que bebem é armazenada em vasilhames não apropriados. O ministro do Trabalho,Francisco Dornelles, distribuiu nota, ontem, dizendo que não foram encontrados elementos que caracterizam trabalho escravo na fazenda do parlamentar. E que a fiscalização terá continuidade "respeitando o princípio de sigilo da ação fiscal e garantindo sempre o amplo direito de defesa". Mas como tudo isso já foi parar nos jornais, Inocêncio Oliveira terá que explicar muito bem essa história. De preferência sem tantas versões, como outros detonados, que terminaram completamente desacreditados.

Dizem que Marco Maciel e Jarbas Vasconcelos estão montando a seguinte chapa para disputar o Governo do Estado: Mendonça FIlho na cabeça, Raul Henry na vice, Maciel e Sérgio Guerra candidatos a senador. Os tucanos não querem saber dessa composição

Comunista Os 80 anos de fundação do PCdoB serão comemorados, hoje, na Câmara do Cabo de Santo Agostinho em sessão especial, às 17h. O prefeito do município, Elias Gomes (PPS), e o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PCdoB), estão entre os convidados da festa.

Trem No PFL, corre uma piada sobre a possibilidade de Jarbas Vasconcelos aceitar ser o vice de José Serra (PSDB-SP). Os pefelistas dizem que o governador tomou outro trem, deixando o do PFL sem maquinista. E vai se afastando prometendo arranjar um jeito dele não descarrilhar. Taí, uma imagem interessante.

Chapa Pedro Eurico, do PSDB , diz que a chapa José Serra (PSDB -SP) presidente e Jarbas Vasconcelos vice é nitidamente de centro-esquerda," o que permite uma clarificação do quadro ideológico". Tem razão, deputado, principalmente depois que o PFL foi descartado da aliança.

Mídia Ciro Gomes (PPS-PE) descobriu como aparecer na mídia, para compensar o pouco tempo de propaganda eleitoral do PPS: aceitando os convites dos programas das TVs. Já foi ao Roda Viva, da TV Cultura, no É Show, de Adriane Galisteu, da Record, e semana que vem vai ao Superpop, de Luciana Gimenez, da Redetv.

Pesquisa O marqueteiro Antônio Lavareda, que é consultor do Governo do Maranhão, nega a existência de uma pesquisa do Ibope onde a pré-candidata do PFL a presidente, Roseana Sarney, teria caído em 15% nas intenções de votos.

Resistência 1 No corredor da cozinha do Palácio do Campo das Princesas andam dizendo que, se Mendonça Filho assumir o Governo, caso Jarbas Vasconcelos aceite ser vice de José Serra (PSDB-SP), José Arlindo Soares e Lúcia Pontes não ficam.

Resistência 2 Porque o secretário de Planejamento e a chefe de gabinete do governador seriam os dois jarbistas mais resistentes a trabal har sob o comando de um pefelista, ainda mais sendo ele do grupo Mendonça.

Tese Ranilson Ramos, do PPS, não gosta de ouvir falar da possibilidade de o pré-candidato a presidente do seu partido, Ciro Gomes, se entender com o PFL: "Prefiro acreditar que ele não vai abandonar sua tese de que o Brasil só mudaria com o PFL na oposição".


Editorial

OBSESSÃO NORTE-AMERICANA

Ficar acima da lei parece ser a tônica do governo Bush nos assuntos de interesse dos Estados Unidos. Acordos só são respeitados se não contrariarem objetivos norte-americanos. A mais recente investida atinge funcionários de organismos internacionais. É o caso do secretário-geral da Organização para Proibição de Armas Químicas (Opaq). O embaixador brasileiro José Maria Bustami se tornou incômodo a Washington por atuar com isenção no exercício do cargo para o qual foi eleito por quatro anos e reeleito por igual período.

Bustani desgostou a Casa Branca por levar o trabalho a sério. Ou, como se comenta nos corredores da ONU em Genebra, por ter conduzido o mandato ao pé da letra. Em outras palavras: Bustami estendeu a lei para todos. Determinou que a inspeção da produção de armas químicas não se limitasse aos países considerados perigosos, mas atingisse as fábricas nos Estados Unidos. Além disso, ele se opõe ao plano americano de atacar o Iraque caso se comprove que Bagdá vem produzindo armas químicas.

GeorgeW. Bush precisa de guerra para manter a popularidade conquistada com a resposta aos ataques terroristas de 11 de setembro. O empenho da diplomacia americana para conseguir uma trégua entre judeus e palestinos tem outro objetivo além de acabar com a carnificina entre os dois povos. É a busca do aval de países árabes para bombardear Bagdá e, com isso, acabar com Sadam Hussein. A posição da Opaq pode constituir empecilho aos planos bélicos da Casa Branca.

Em nota divulgada na segunda-feira, o Itamaraty manifestou total apoio ao diplomata brasileiro. Lembrou que ele foi eleito por unanimidade para o cargo e seu mandato vai até 2005. Caso seja apresentada moção contrária à gestão de Bustani, "o Brasil votará contra por considerar que ele tem-se conduzido com sentido de responsabilidade e com acerto, merecendo a plena solidariedade do Brasil e dos demais países-membros", diz o texto.

As pressões para arredar de cena funcionários incômodos tende a tornar-se praxe. Além do dirigente da Opaq, a alta comissária deDireitos Humanos da ONU, Mary Robinson, afirmou que não disputará a reeleição. Motivo: oposição do governo americano às suas iniciativas, sobretudo as que se opõem aos propósitos de Washington.

A obsessão dos Estados Unidos de manter em atividade sua colossal máquina de guerra compromete o equilíbrio político das organizações internacionais. A ofensiva contra funcionários preocupa a comunidade das nações. Pelo andar da carruagem, todo o sistema internacional corre risco se as decisões tiverem de estar de acordo com os interesses americanos.


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03/21/2002


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