JEFFERSON QUESTIONA ASPECTO ÉTICO DO PAGAMENTO DA CONVOCAÇÃO EXTRAORDINÁRIA



O senador Jefferson Péres (PSDB-AM) formulou em plenário nesta sexta-feira (dia 6) a seguinte questão: o pagamento da convocação extraordinária aos parlamentares, em um momento em que suas decisões ratificam a imposição de sacrifícios a boa parcela da população, é justificável do ponto de vista ético? O discurso motivou o vice-presidente do Senado, Geraldo Melo (PSDB-RN), a deixar momentaneamente a presidência da sessão para fazer um aparte à manifestação do colega.Jefferson iniciou seu pronunciamento comunicando a decisão de um juiz do Rio de Janeiro de suspender liminarmente o pagamento da ajuda de custo devida aos parlamentares em caso de convocação extraordinária do Congresso Nacional pelo presidente da República. O senador comentou que o ato, como é natural, desagradou vários parlamentares por ser questionável em diversos aspectos jurídicos.Porém, é o aspecto ético o que mais preocupa o senador pelo Amazonas. Trata-se, segundo ele, de uma questão delicada, que incomoda e não costuma ser discutida em público.- Em um momento em que se discute o ajuste fiscal, uma política de austeridade e de sacrifício para todos, eu me pergunto se é eticamente defensável que o Congresso pague duas ajudas de custo em uma convocação extraordinária - disse Jefferson.O senador afirmou que a razão da ajuda de custo seria o pagamento em dobro, por referir-se a trabalho em um mês de férias. O decreto legislativo que instituiu esse direito, contudo, menciona gastos de viagem e instalação - justificação que, para Jefferson, é indefensável. Ele indagou, então, por que o pagamento de duas ajudas de custo, já que uma só seria suficiente. Para o senador, não se trata do impacto financeiro, que seria pequeno, mas de uma questão ética. - Se o sacrifício tem que ser de todos, que nós façamos algum - defendeu.Nesse momento, o vice-presidente do Senado deixou a presidência da sessão e pediu um aparte. Melo aplaudiu a preocupação ética de Jefferson e manifestou sua opinião de que o Congresso Nacional deve empreender um gesto de solidariedade com o país em uma ocasião em que se exige de todos uma atitude de despojamento. Mas questionou a competência de um juiz local para conceder liminar suspendendo o pagamento da ajuda de custo.- Será que a forma de expressarmos essa solidariedade seria deixarmos de aplicar a regra ou seria mudar a regra? - indagou Melo.O vice-presidente do Senado disse até concordar com o impulso do juiz, mas afirmou que, como senador da República, tem o dever de se preocupar com as instituições.- Se a regra do jogo for arranhada em virtude de fato de determinado momento, então estaremos dizendo que não há regra do jogo - concluiu.Melo lembrou que, no país, há leis que se cumprem e outras que não se cumprem. Citou a proibição de velocidade nas estradas superior a 80 quilômetros por hora, que foi respeitada durante os seis primeiros meses de vigência e depois, segundo ele, caiu em desuso.- A obediência às leis no país é tão frágil que temo que se diga que elas não devem ser obedecidas - disse.Jefferson agradeceu o aparte e lembrou de outra decisão judicial polêmica, tomada por magistrado gaúcho, que proibiu o fumo em todos os vôos brasileiros, independentemente de sua duração. Perguntou se um juiz local poderia tomar uma decisão que acaba por afetar milhões de pessoas.O senador repetiu que a situação é "difícil, delicada, incômoda e constrangedora", já que os congressistas podem acabar por aprovar medidas duras e, tirando proveito disso, receber "três salários em um mês". Jefferson afirmou já existir a suspeita de que falte quorum caso a convocação seja de iniciativa das mesas da Câmara e do Senado, o que não acarreta pagamento da ajuda de custo. Mas avisou que ele estará lá, com ou sem o pagamento.

06/11/1998

Agência Senado


Artigos Relacionados


CCJ aprova PEC que acaba com pagamento em caso de convocação extraordinária do Congresso

Serys anuncia proposta contra pagamento de convocação extraordinária

JEFFERSON CRITICA PAGAMENTO DE DUAS AJUDAS DE CUSTO NA CONVOCAÇÃO

Jefferson Praia destaca legado ético de Jefferson Péres

Jefferson: honrar Covas é ter Congresso ético

Virgílio destaca legado ético deixado por Jefferson Péres