José Alencar despede-se do Senado



Em seu discurso de despedida do Senado Federal, o vice-presidente eleito José Alencar (PL-MG) disse que estava emocionado e já com saudade da Casa de onde não gostaria de sair nunca.

- Aprendi que aqui não se faz nunca a política pequena e subalterna - afirmou.

Alencar lembrou das dificuldades que enfrentou ao longo da vida, especialmente quando começou a trabalhar e seu salário não cobria as despesas de hospedagem e alimentação. A solução, explicou, foi fazer um acordo com a dona da pensão para dormir no corredor e, com isso, poder economizar um pouco e até obter superávit no final do mês.

Alencar disse que no convívio com os demais senadores conheceu a síntese de um Brasil -fascinante na diversidade de sua cultura, de sua economia, de seu tecido social, de sua geografia física e humana e de sua peculiar unidade lingüística-. Ele acrescentou ter assistido a -notáveis manifestações de sabedoria, de tolerância, de acatamento, de civilizadas e respeitosas discordâncias e de nivelamento de conceitos quando estavam em jogo os interesses superiores do Brasil-.

Durante a campanha eleitoral, quando percorreu todo o país ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva, o senador disse ter visto que o Brasil real é o mesmo projetado na figura dos senadores, representantes dos estados. Ele disse que, conhecendo o Brasil e ouvindo os brasileiros, reforçou sua convicção de que estava certo ao defender a aliança vitoriosa nas eleições para a Presidência da República.

- Entendia que, se o alvo comum é combater a fome, a miséria, o desemprego, a desigualdade de renda, o analfabetismo e a baixa escolaridade, as diferenças ideológicas e partidárias deveriam ficar para trás, perder-se no caminho, porque a meta está à frente. Foi nesse cenário que enxerguei a figura admirável de Luiz Inácio Lula da Silva e com ele me identifiquei - assinalou.

O senador ressaltou que a missão do novo governo não será fácil, porque a dívida é grande e os custos de capital são os maiores do planeta. Ele ainda disse que nunca se viu na história brasileira uma maior transferência de renda oriunda da produção e do trabalho para o sistema financeiro. -E isso é grave. Nosso orçamento é deficitário-, afirmou.

Alencar recebeu 28 apartes ao seu pronunciamento. Dentre eles, o presidente do Senado, Ramez Tebet, que lembrou ter sido o primeiro aparteante do primeiro pronunciamento feito por Alencar. Tebet destacou a simplicidade, a humildade e a capacidade administrativa do novo vice-presidente.

- Não conheço ninguém que fizesse alguma restrição à figura do homem público chamado José Alencar. O futuro presidente da República estará muito bem acompanhado - disse Tebet.

O senador Artur da Távola (PSDB-RJ) disse que Alencar representava os liberais que participaram da aliança feita pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e tão criticada por aqueles que agora estão igualmente aliados aos liberais. Ele ainda alertou Alencar: -viver em aliança não é fácil, porque não é feita entre iguais, mas em torno de um projeto comum-. O senador Tião Viana (PT-AC) disse que as responsabilidades tornam-se comuns entre os que deixam o governo e os que assumem, porque todos querem o bem do país.

- É pela qualidade da luz que melhor se distingue o efeito da sombra. Se Lula for a luz e Vossa Excelência a sombra, podemos afastar as dificuldades que virão por aí - disse o senador Bernardo Cabral (PFL-AM), acrescentando que Alencar -pode não ser um modelo, mas com certeza é um exemplo-.

Para o senador Carlos Patrocínio (PTB-TO), Alencar revive a saga dos político mineiros ao sentir que Lula precisaria dele para modificar o Brasil. Ele acrescentou que e a união vitoriosa entre PL e PT representa a aliança entre o capital e o trabalho sem antagonismos.



11/12/2002

Agência Senado


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