José Nery protesta contra decisão da AGU sobre atos de tortura durante a ditadura



O senador José Nery (PSOL-PA) disse, nesta terça-feira (4), considerar "aviltante" a posição da Advocacia-Geral da União (AGU) de "defender pessoas como o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Ustra", que responde por abusos que teria cometido quando comandou o Doi-Codi (órgão da ditadura), durante o regime militar.

Ao julgar processo que responsabiliza os militares reformados Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir Santos Maciel por morte, tortura e desaparecimento de 64 pessoas durante a ditadura, a AGU afirmou, em parecer, que atos de tortura praticados na ditadura foram perdoados pela anistia.

- As denúncias contra este cidadão [Ustra], conhecido à época como Major Tibiriçá, são inúmeras. Acusado de torturar pessoalmente os presos políticos com requintes de crueldade, o coronel é responsabilizado pela tortura de mais de 502 pessoas e pela morte de, no mínimo, outras 64 - assinalou.

Nery disse que o Brasil está sendo convocado pela Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA), a responder se a Lei de Anistia, aprovada em 1979, é extensiva aos que cometeram o crime de tortura. A comissão questiona o entendimento dado pela AGU sobre o perdão a torturadores.

Manifestando "profundo pesar" pela postura da AGU, o senador citou a Lei de Tortura, de 1997, que considera inafiançável e insuscetível de graça ou anistia esse tipo de crime. Ele também citou a Constituição brasileira que, em seu artigo 5º, inciso XLIII, estabelece que a lei considere crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia a prática da tortura.

Na avaliação de Nery, comparar atos praticados por grupos armados que lutaram contra a ditadura com a ação de uma instituição militar durante um regime de exceção - a exemplo do que fez o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, que, ao rebater críticas da ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à decisão da AGU, lembrou que terrorismo também é crime inafiançável - "é uma tese que não encontra fundamento na realidade". Para ele, não há amparo legal nem moral para o parecer da AGU.



04/11/2008

Agência Senado


Artigos Relacionados


José Nery protesta contra decisão do Tribunal de Justiça do Pará

José Nery protesta contra decisão de tribunal que inocentou juíza no Pará

Flexa Ribeiro protesta contra declaração de José Nery sobre comissão externa que apura trabalho escravo

Flexa Ribeiro protesta contra declaração de José Nery sobre comissão externa que apura trabalho escravo

José Nery protesta contra violência policial no Pará

José Nery protesta contra tratamento da imprensa à candidatura do PSOL