JOSÉ SERRA: CASSINO NÃO TRAZ DÓLARES E AUMENTA PROBLEMAS SOCIAIS



O senador José Serra (PSDB-SP) manifestou-se hoje (dia 18), em discurso, contrário ao projeto em tramitação no Senado que legaliza os cassinos no Brasil. Para ele, é falsa a idéia de que os cassinos aumentarão os empregos no país. "Qual o turista estrangeiro deixará de jogar em Las Vegas ou em Montecarlo para vir jogar numa cidade brasileira? Os cassinos não trarão dólares e ainda aumentarão os nossos problemas sociais", sustentou.

- De onde viria a receita dos cassinos? Evidentemente, do bolso dos jogadores, principalmente da classe média para baixo. Não haveria nenhuma riqueza acrescentada de forma produtiva. As pessoas deixariam de gastar em comida, roupa, bem-estar, para deixar o dinheiro nas roletas ou nos caça-níqueis. Pode criar emprego no cassino, mas tira o emprego em outros locais - observou.

José Serra lamenta que algumas pessoas usem o argumento de quesuas regiões sairão ganhando, mesmo que o país perca, porque instalarão cassinos, enquanto outras não têm condições de atraí-los. Para o senador, trata-se de uma "doce ilusão", porque logo existirão centenas de cassinos no país, se o projeto for aprovado. Para ele, logo estados e municípios começarão uma "guerra do jogo", sempre com isenção de impostos.

Depois de afirmar que entre os interessados na oficialização dos cassinos estão "brasileiro-estadunidenses provavelmente ligados à máfia", José Serra citou estudos feitos no estado de Wisconsin (EUA) pelo economista Ricardo Gazel, ex-professor da Universidade de Nevada e hoje funcionário do banco central dos EUA, os quais mostram o lado negativo dos cassinos.

Exemplos: a dívida média dos jogadores compulsivos é de US$ 35 mil, 60% deles já pensaram em suicídio por causa do jogo, 20% tentaram se matar, cada jogador viciado custa ao estado entre US$ 10 mil e US$ 30 mil por ano com saúde e justiça.

Até mesmo em Las Vegas há problemas, conforme o senador. Lá, 8,5% dos adultos têm algum problema ligado ao jogo. Em Nevada, estado onde fica Las Vegas, estão os maiores índices de abuso e negligência com crianças dos EUA. "Atrás das dívidas dos jogadores vêm a perda de produtividade, as tentativas de desfalques e a inadimplência com o fisco." Citou que um estudo feito também no estado de Maryland estimou um prejuízo para o estado de US$ 1,5 bilhão por conta de tais conseqüências do jogo.

- Segundo o Instituto Americano de Seguros, 40% dos crimes de colarinho branco nos EUA têm origem no jogo - frisou. Ele disse ainda, baseado em documentos, que em Atlantic City metade dos restaurante fechou dois anos depois da abertura dos cassinos, porque as casas de jogo subsidiam a alimentação dos jogadores, para que eles permaneçam mais tempo no cassino. "Em Illinois, em 95, os cassinos provocaram um perda de US$ 1,9 bilhão para o comércio local, porque as pessoas torraram uma parte de seu dinheiro com jogos."

Em aparte, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), líder do Bloco Oposição, disse não concordar com a prioridade que o assunto vem merecendo no Congresso, pois foi aprovado pelos deputados e, no Senado, já passou pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Pedro Simon (PMDB-RS), que também discordou da rapidez com que o assunto é tratado, criticou "a jogatina em que se transformou nossa televisão, com o prefixo 0900."

Simon informou que está pensando em apresentar projeto para proibir sorteios pela TV, nos quais as pessoas pagam para participar, via telefone. Leomar Quintanilha (PPB-TO) acentuou que via os cassinos com simpatia até agora, imaginando que eles atrairiam dólares e criariam empregos. "Em razão dos argumentos contrários, vou estudar o assunto com maior profundidade", disse.



18/03/1998

Agência Senado


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