Problemas de Serra começam em Minas










Problemas de Serra começam em Minas
Vice-governador eleito em Minas Gerais, Clésio Andrade vota contra apoio do PFL ao candidato do PSDB à Presidência e apóia Lula. Tucanos reclamam de Aécio Neves e de dificuldades com diretórios estaduais do PMDB

Os obstáculos às alianças do candidato José Serra (PSDB) no segundo turno começam no segundo maior colégio eleitoral do país, o estado de Minas Gerais. Eles podem ser resumidos num nome: Aécio Neves, governador eleito no primeiro turno com 57% dos votos válidos. O tucano mineiro ainda demonstra ambigüidade em relação à disputa pela Presidência da República entre Serra e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ontem essa situação ficou ainda mais clara depois que o vice de Aécio, Clésio de Andrade (PFL), disse ser contra o apoio do seu partido à candidatura do tucano no segundo turno.

Presidente do diretório do PFL em Minas, Andrade participou ontem da reunião da executiva nacional pefelista que aprovou, por 14 votos a 4, uma resolução do partido que recomenda o apoio a Serra. O vice de Aécio foi um dos quatro votos contrários. ‘‘Não dá para votar em Serra’’, disse. ‘‘Já tinha dito isso ao Aécio quando formamos a aliança’’.

No primeiro turno, o PFL mineiro estava todinho com Ciro Gomes (PPS). O próprio Aécio chegou a se encontrar, num evento público, com Paulo Pereira da Silva (PTB), o Paulinho, então candidato a vice na chapa de Ciro. Agora os pefelistas de Minas dividiram-se. Apesar de parte deles ter aderido a Serra, o principal líder do PFL em Minas continua seu opositor público.

Aécio Neves faz vistas grossas e não deve pressioná-lo a mudar de opinião. ‘‘O meu vice é presidente de um outro partido, que está dividido no estado’’, disse o novo governador mineiro. ‘‘Mas posso garantir que boa parte do PFL mineiro estará conosco’’, completou, referindo-se aos deputados pefelistas Robert Brant e Carlos Melles, que visitaram o palanque de Ciro Gomes no primeiro turno.

Os inatacáveis
A falta de empenho de Aécio em favor de Serra tem irritado a cúpula do PSDB. Os serristas prometem fazer marcação cerrada sobre os tucanos mineiros. Por isso, já definiu que uma das primeiras viagens de Serra será a Minas Gerais. No primeiro turno, o candidato tucano não conseguiu se aproveitar do bom desempenho de Aécio nas urnas. Enquanto o novo governador obteve 57% dos votos válidos, em Minas Serra conquistou 22% contra 53% de Lula. Aécio nega qualquer tipo de aproximação com o petista, mas ontem não deixou de elogiá-lo indiretamente. ‘‘Do ponto de vista ético e moral, os dois candidatos do segundo turno são inatacáveis’’, disse.

Fora do PSDB, Serra também tem problemas para consolidar alianças. Principalmente no PMDB, partido com quem está coligado oficialmente desde o primeiro turno. Ontem, o tucano reuniu-se com a cúpula peemedebista no apartamento do presidente nacional da legenda, deputado Michel Temer. Foi avaliado que a aliança enfrenta resistências em pelo menos oito estados. Entre eles, São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente o primeiro e o terceiro maiores colégios eleitorais do país.

Temer promete reverter a situação, mas já começou descartando o Paraná. Ontem mesmo, o PT conseguiu fechar um acordo com o senador Roberto Requião, candidato ao governo paranaense pelo PMDB. Ele disputa o segundo turno com Álvaro Dias (PDT). Por conta disso, Serra convocou o senador Osmar Dias (PDT-PR), irmão de Álvaro, para uma conversa. Porém, o apoio dos Dias ao tucano depende do aval do presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, que recomendou voto em Lula. Outro problema para Serra é garantir o apoio do senador paulista Romeu Tuma (PFL). O senador fez chegar a Lula a informação de que está magoado com a postura do presidente do PSDB, José Aníbal, seu concorrente na disputa ao Senado por São Paulo. Reeleito no domingo, Tuma ameaça apoiar o candidato do PT.


PSB e Garotinho fecham com o PT
Depois do apoio “incondicional” de Ciro e do PPS na terça-feira, candidato petista receberá hoje, sem nenhuma pré-condição, a adesão do partido comandado por Miguel Arraes. Paulinho, da Força Sindical, também entrará na campanha

Na madrugada de domingo para segunda-feira, definido que haveria segundo turno nas eleições presidenciais, o comando da campanha do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, reuniu-se para estudar os próximos passos. E definiu que a primeira tarefa tinha de ser a de obter o mais rápido possível os apoios dos outros dois candidatos de oposição derrotados: Ciro Gomes, do PPS, e Anthony Garotinho, do PSB. Se essas adesões demorassem, poderiam gerar problemas para Lula na arrancada do segundo turno. Hoje, três dias depois, os petistas podem respirar aliviados. Na terça-feira, Ciro Gomes prometeu ‘‘apoio incondicional e entusiástico’’ dele e de seu partido. Hoje pela manhã, o PSB de Garotinho reunirá sua Executiva para também fechar questão em favor da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva.

De acordo com o presidente do PSB, Miguel Arraes, deputado eleito por Pernambuco, a posição da Executiva impedirá que integrantes do partido declarem apoio a Serra. Assim, ficarão neutralizadas adesões ao candidato tucano como a ensaiada pelo governador eleito do Espírito Santo, Paulo Hartung. ‘‘Acredito que haverá unanimidade no apoio a Lula’’, disse Miguel Arraes, depois de reunir-se ontem com o presidente do PT, José Dirceu, na sede do PSB em Brasília.

Arraes desautorizou as pré-condições que tinham sido feitas na segunda-feira por Garotinho. O candidato do PSB queria que o PT revisse suas adesões no campo mais conservador da política, casos do senador José Sarney (PMDB-AP), e do senador eleito Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). ‘‘Isso não está em discussão’’, disse Arraes. ‘‘Não posso ter restrições desse tipo porque eu mesmo já ganhei eleição em Pernambuco com o apoio dos coronéis do sertão’’.

Como disse na segunda-feira que seguiria a posição de seu partido, Garotinho não teve alternativa senão anunciar também sua adesão a Lula. Retirou as restrições quanto às alianças de direita feitas pelo PT, mas continuou impondo condições. Quer que Lula, quando for ao Rio, organize dois palanques diferentes: um para ele e sua mulher, Rosinha Matheus, governadora eleita, e outro para a governadora Benedita da Silva e o PT. José Dirceu aceita a imposição. ‘‘Não tem nem mágoa nem ressentimento. Rosinha ganhou a eleição no Rio. Respeitamos o resultado’’, respondeu o presidente do PT.

Mas o PSB também quis marcar seu ponto de vista antes de oficializar o apoio. Constará de um documento com cinco pontos. Pede uma discussão sobre a revisão do acordo com o Fundo Monetário Internacional, o salário mínimo de R$ 280, o fortalecimento das Forças Armadas, a rejeição à Área de Livre Comércio das Américas e a proibição de que a Base de Alcântara seja cedida aos Estados Unidos para manobras militares. Dirceu não chegou a se comprometer com esses pontos. O que não é problema, diz Arraes: ‘‘Não são condições. Só queremos deixar claro nosso ponto de vista’’.

Além de Garotinho, Lula contabilizou outros apoios importantes antes. No campo do adversário, conseguiu a adesão do vice-governador eleito de Minas Gerais, Clésio Andrade, do PFL (leia na página 7). E neutralizou o movimento tentado pelo ministro do Trabalho, Francisco Dornelles, para conseguir que Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, aderisse a Serra. Paulinho, que foi o candidato a vice de Ciro, informou que ficará com Lula. E também a Força Sindical. No caso de São Paulo, porém, será um palanque dividido. No estado, a central sindical apoiará a reeleição do governador Geraldo Alckmin, do PSDB.


Sarney vai criar frente anti-Serra
Ex-presidente procurará peemedebistas descontentes com a aliança do seu partido com o PSDB para integrar a campanha de Lula. O senador culpa o candidato tucano pelo fracasso da pré-candidatura de Roseana à Presidência

São Paulo — O ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP) e a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PFL) declararam ontem, em São Paulo, apoio irrestrito à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Sarney disse que irá formar uma frente peemedebista anti-José Serra (PSDB), adversário do petista no segundo turno.

As declarações foram feitas horas antes de a ex-governadora ser internada no hospital Sírio Libanês. Roseana passaria por uma cirurgia ontem para a retirada de nódulo no seio direito.

Sarney afirmou que só não participou ativamente da campanha de Lula no primeiro turno por estar envolvido na candidatura da filha, eleita senadora pelo Maranhão, e também pela saúde dela. ‘‘O meu apoio tem um valor significativo. Sendo ex-presidente da República, sou um homem sempre pautado pela prudência e pelo equilíbrio e acho que estou na idade de fazer o melhor pelo meu país. E o melhor, nesse instante, é o Lula vencer as eleições.’’

Para que isso ocorra, Sarney disse que procurará peemedebistas descontentes com a aliança que a sigla firmou com o PSDB de José Serra. ‘‘Vou reunir todos os companheiros do PMDB que tenham o mesmo posicionamento que eu, para que possamos expressar nossa opinião e assim, com isso, ajudar na vitória de Lula’’, declarou o senador.

Roseana, que ainda no primeiro turno declarou seu apoio a Lula, confirmou que manterá o seu voto. A família Sarney credita aos tucanos a responsabilidade pelo fiasco da candidatura presidencial de Roseana, que se retirou da disputa nacional após uma apreensão de dinheiro na sede de sua empresa no Maranhão, realizada pela Polícia Federal.

O ex-presidente aproveitou para ironizar o candidato derrotado à Presidência Anthony Garotinho (PSB), que condicionou seu apoio a Lula ao afastamento do petista e do ex-presidente. ‘‘Eu vejo [a declaração de Garotinho] com uma certa surpresa. O ex-governador Garotinho me procurou no mês de maio, se não me engano no dia 21 de maio, na minha casa, para pedir o meu apoio’’, disse.


Crise vai ao debate no segundo turno
Na era FHC, tornamo-nos parceiros confiáveis da economia mundial, passando a absorver volume de poupança externa inimaginável até o Plano Real. Graças à abertura da economia, pudemos domar o secular problema inflacionário brasileiro, aumentar a produtividade de nosso parque industrial e, finalmente, tendo a sorte de mudar o regime cambial sem trazer de volta a inflação endêmica, vamos fechar 2002 com balança comercial de US$ 10 bilhões sem precisar entrar em recessão profunda.

O drama é que o esforço de maior integração com o resto do mundo tem vantagens e seu lado difícil. O lado difícil é que isso envolve maior vulnerabilidade externa. Não no sentido comumente utilizado, mas pelo compromisso que cria com a aderência ao modelo econômico básico de mercado, aceito internacionalmente como válido.

Nesse contexto, só falhamos numa coisa, infelizmente crucial: não fomos capazes de controlar a expansão da dívida pública, nem conter a gastança herdada da Constituição de 1988. Ou seja, o governo logrou ostentar excedentes fiscais muito significativos, mas insuficientes. Deu início ao processo de reformas, mas quase sempre deixou a despesa pública não financeira subir além da conta. O ajuste se deu basicamente do lado da receita, pressionando o setor privado.

No esquema de mercado, déficits externos elevados são aceitáveis, mas desde que o setor público seja sólido financeiramente. Caso contrário, os mercados se tornam cruéis. Piora a percepção de risco do país, sobem as taxas de risco e as taxas de juros de mercado e, por último, as taxas de câmbio, principalmente pela fuga (ou não ingresso) de capitais. Daí decorrem maiores pressões inflacionárias, e pressões também sobre a dívida pública, pela assunção de parte do risco cambial pelo governo. Sem falar de que a economia cresce pouco.

As eleições de 2002 adicionaram novo componente de risco: o temor de que o país, dado o passado do PT e de Lula, fuja ainda mais da rota de equilíbrio. Por conta disso e pela piora do cenário externo, as taxas de risco do país chegaram, na semana passada, a 24% ao ano acima da remuneração básica dos títulos do governo americano. Era a taxa que a Argentina ostentava um pouco antes de declarar moratória. O novo discurso do candidato ainda não conseguiu convencer os analistas de que a sua recente transformação é para valer.

A realização do segundo turno traz mais tempo para discutir os problemas, as hipóteses de solução e a real disposição de cada candidato de enfrentá-los com coragem, consistência, determinação e espírito público. Até agora, as discussões estiveram sem foco. A sociedade quer mudar, mas, obviamente, não aceitará perder as importantes conquistas da era FHC.


Dólar próximo de novo recorde
Cotação da moeda americana sobe 3,89% e fecha o dia em R$ 3,87. Avaliação dos investidores estrangeiros sobre a probabilidade de o Brasil continuar pagando suas dívidas em dia piora e risco-país aumenta

São Paulo — O Brasil teve um péssimo dia ontem no mercado, com aumento da cotação do dólar, queda no valor das ações da Bolsa de Valores de São Paulo e deterioração do risco-país. A queda das Bolsas nos Estados Unidos (leia abaixo), o aumento da inflação (leia ao lado) e a avaliação de analistas de mercado de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá ganhar as eleições contribuíram para o nervosismo dos investidores. Depois do apoio incondicional de Ciro Gomes, Anthony Garotinho, candidato do PSB, disse que fará campanha para o líder petista. ‘‘Aos poucos, aumenta a percepção no mercado de que Lula está construindo uma base política que poderá lhe garantir a vitória no segundo turno’’, comentou Ricardo Amorim, diretor para América Latina da consultoria Ideaglobal em Nova York.

A forte procura por dólares levou a moeda americana a fechar cotada em R$ 3,875, com alta de 3,89% ontem. Essa é a segunda maior cotação do plano Real. O recorde, de R$ 3,876, é do dia 27 de setembro. A grande demanda foi provocada especialmente por bancos que não deverão rolar parte dos US$ 3,6 bilhões em títulos cambiais do governo que vencerão no dia 17. Nesse ambiente, a Bolsa de Valores de São Paulo fechou em queda de 1,49%, com um baixo volume de negócios, que movimentou R$ 373 milhões.

Nos últimos dias, os bancos vêm comprando dólares para proteger seus recursos, pois acreditam que é a melhor aplicação em meio às incertezas das eleições para presidente da República. Como a oferta da moeda americana é pequena, a cotação subiu e bateu em R$ 3,90 durante o dia. O Banco Central (BC) vendeu entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões à vista, mas a quantia não foi suficiente para baixar a cotação de forma significativa. No mês, o câmbio subiu 26% e acumula no ano uma extraordinária alta de 67,3%.

Lucros menores
‘‘Além do mercado seguir pressionado com a rolagem de títulos cambiais do dia 17, os investidores internacionais estão ficando mais avessos a riscos, por causa de alguns fatores, como perspectivas de lucros menores de empresas ao final deste trimestre’’, comentou Rodrigo Boulos, chefe da mesa de operações do banco Santos.

O temor generalizado de bancos e fundos de pensão de aplicar recursos em ativos com taxa de retorno mais instável fez com que aumentasse a venda de papéis da dívida externa brasileira. O C-bond, o título mais negociado no exterior, fechou a US$ 0,48, uma desvalorização de 6,27%. A queda do C-bon d elevou em 4,05%, o risco-país, que terminou o dia em 2.233 pontos. A taxa representa quanto um investidor recebe de juros ao comprar tal título, acima do que é pago por um papel de prazo equivalente emitido pelo governo dos Estados Unidos. No caso, esses juros subiram de 20,8% para 22,33%. A taxa é tão elevada porque os investidores acreditam que o próximo governo poderá ter sérios problemas para pagar a dívida interna, que está em R$ 890 bilhões.

O diretor-executivo de Tesouraria do Banco Fator, Sérgio Machado, disse que a preocupação dos investidores estrangeiros com o cenário político brasileiro contribuiu de maneira decisiva para o tombo dos títulos. Além da perspectiva de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá ganhar as eleições, o fato de que o futuro Congresso ficará ainda mais fragmentado, devendo tornar complicada a vida do próximo presidente, também causa mal-estar no mercado externo, afirmou.

A entrevista coletiva do presidente do BC, Arminio Fraga, a jornalistas, ontem, não reduziu o nervosismo (leia mais na página 6). Fraga começou a falar depois do encerramento dos negócios no mercado à vista, mas o dólar continuou em alta no mercado eletrônico, indicando uma abertura, hoje, na casa de R$ 3,91. Ele disse que o piso líquido das reservas cambiais brasileiras é de US$ 18 bilhões. Como há poucos dias ele prometeu deixar o país com US$ 14 bilhões, restariam US$ 4 bilhões para intervenções. Um valor que não assusta os investidores. Além dessa, Fraga não apresentou qualquer outra arma que o Banco Central possa usar para combater a alta do dólar.


Horário político volta na segunda
Candidatos a governador e a presidente da República terão o mesmo tempo: dez minutos cada. Equipe de Duda Mendonça, marqueteiro de Lula que trabalhou na última campanha de Roriz, agora ajudará Geraldo Magela

Os candidatos ao Governo do Distrito Federal e à Presidência da República terão, a partir da próxima segunda-feira, tempos iguais para tentar convencer os eleitores no segundo turno. O Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE/DF) fez reunião, na manhã de ontem, com as coligações que disputarão o segundo turno, a Associação das Emissoras de Comunicação do DF (AVEC/DF) e representantes das emissoras de rádio e televisão para definir as regras da propaganda eleitoral gratuita até a votação no dia 27.

As inserções no rádio e na televisão começam a ser veiculadas no próximo sábado. Cada uma terá, em média, 30 segundos e será transmitida ao longo da programação. Na segunda-feira, os primeiros programas eleitorais do segundo turno já estarão no ar. A novidade é que, a partir de agora, a propaganda eleitoral também será feita aos domingos e feriados. A programação será transmitida até o dia 25 — a sexta-feira que antecede o segundo turno.

Ficou acertado que a propaganda será dividida em dois blocos, com 40 minutos cada um, apresentados pela manhã e pela noite. Os candidatos a presidente serão os primeiros a aparecer, seguidos pelos candidatos a governador. Cada um terá dez minutos para apresentar suas propostas.

No fim da tarde de ontem, a cúpula do TRE-DF voltou a se reunir para definir detalhes da programação, como os horários de veiculação dos programas e as regras de direito de resposta. O pedido de novas regras foi feito pelas emissoras de televisão.

Em sorteio feito ontem pelo TRE, Joaquim Roriz será o primeiro a aparecer no horário eleitoral. O sistema obedece o regime de revezamento. Assim, na terça-feira, o programa de Geraldo Magela (PT) virá antes.


Imagem da campanha
De volta à Câmara dos Deputados, ontem, Aécio Neves, eleito governador de Minas Gerais no primeiro turno, ainda não desceu do palanque. Ele garante que vai ‘‘trabalhar muito’’ para ajudar a candidatura de José Serra em seu estado, onde Lula obteve 53% dos votos válidos no último domingo.


Artigos

A derrota do TER
Ana Dubeux

O vencedor do segundo turno no Distrito Federal só será conhecido no dia 27 de outubro, mas já se sabe o nome do maior derrotado na primeira fase das eleições: o Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Os quase 1,5 milhão de eleitores que saíram de casa para votar reprovaram a forma como o tribunal desempenhou seu papel no domingo passado.

A desorganização, a ineficiência e o despreparo do pessoal encarregado pela votação transformaram o primeiro turno no DF numa esculhambação eleitoral. Poucos cidadãos conseguiram exercer o direito ao voto com tranqüilidade e dignidade. Muitos foram submetidos a torturantes esperas em filas jamais vistas nas eleições locais. A maioria dos moradores passou por uma via-crúcis até conseguir digitar (ou escrever) o nome de seus candidatos favoritos.

Só isso seria suficiente para transformar a eleição da cidade na mais demorada e, pior, mais desorganizada do país. Muitos cidadãos passaram até quatro horas nas filas. A última urna foi lacrada já na madrugada da segunda-feira. Só ontem o brasiliense ficou conhecendo oficialmente os eleitos.

O mais grave é que a história não vai parar por aí. Depois do fiasco do domingo, o TRE deixa no ar a sensação de que, apesar de mais simples, o segundo turno pode reprisar o fracasso do primeiro. O tribunal anuncia que nada poderá fazer para evitar mais bagunça. Já está dito que não será possível redistribuir os eleitores nas seções, não haverá tempo disponível para revisar as urnas (mais de 10% apresentaram defeito), não investirá em campanhas de conscientização para evitar mais problemas.

Caso não haja mudança de postura do TRE, o eleitor se aborrecerá em dose dupla. O tribunal tenta responsabilizar a urna eletrônica e os analfabetos digitais. Joga a verdade para debaixo do tapete. Afinal, a desorganização foi tamanha que até quem só precisava justificar o voto viu-se obrigado a passar mais de quatro horas em filas. Tudo isso expõe a fragilidade de um sistema eleitoral que atua de costas para a sociedade. Impotente diante do caos. A Justiça Eleitoral pouco ou nada pode fazer para impedir a desordem.

A cidade está cansada do descaso das autoridades. É inadmissível que, em quatro anos de planejamento, o TRE não tenha conseguido organizar uma eleição. É hora de agir com firmeza e seriedade, o que implica, caso não se saiba, ceder no acessório para ganhar no principal. É hora de se dar o respeito.


Editorial

RACHADURA INTERNA

A Câmara e o Senado dos Estados Unidos devem votar hoje a resolução que dará a George W. Bush poderes para atacar o Iraque. Na Câmara, o projeto foi aprovado por acordo de liderança. O plenário só ratificará a decisão. No Senado, o quadro apresenta-se mais complicado. Os parlamentares, divididos, resistem a autorizar Bush a usar a força militar contra Saddam Hussein e eventualmente removê-lo do poder.

Os debates deixam à mostra a divisão dos senadores. Mesmo entre os representantes republicanos, do partido de Bush, falta unanimidade. Mas o presidente tem pressa. Em novembro haverá eleições para o Congresso. Ele espera que a movimentação bélica lhe aumente a popularidade e, assim, consiga maioria nas duas casas legislativas.

Documento importante, porém, veio de encontro a suas pretensões. A Agência Central de Inteligência (CIA), órgão de informação externa dos Estados Unidos, entregou ao Congresso relatório em que aparece, pela primeira vez, contradição a respeito do assunto no seio do governo.

O texto se opõe à tese do ataque preventivo. Afirma que o Iraque só atacará em resposta a uma agressão. Embora confirme que, nos últimos dez anos, houve relações de alto nível entre Bagdá e a organização Al Qaeda, liderada pelo saudita Osama Bin Laden, diz que Saddam Hussein só ajudará os militantes islâmicos com armas de destruição maciça se for sua última chance de vingança.

A CIA confirma argumentos que os adversários da guerra vêm repetindo com insistência. Saddam fará qualquer coisa para sobreviver. Mas não partirá dele nenhuma investida ou iniciativa que possa enfurecer os Estados Unidos.

O documento da CIA aparece em bom momento para os pacifistas. Dá munição aos parlamentares que discutem a resolução que poderá transformar o sr. Bush em senhor da guerra. A oposição de parcela do partido democrata se sentiu animada com o relatório e talvez consiga transferir qualquer decisão para a próxima semana.

O adiamento contraria Bush. O presidente anseia por uma resolução rápida para mostrar aos membros do Conselho de Segurança da ONU que os americanos estão unidos na questão do Iraque. Ao que tudo indica, o povo é menos belicoso do que o próprio Bush.


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10/10/2002


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