Kátia Abreu repudia suspensão de fiscalizações de trabalho escravo
A senadora Kátia Abreu (DEM-TO) repudiou a decisão da secretária de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ruth Vilela, de suspender a fiscalização do trabalho escravo em todo o país. A decisão da secretária, conforme noticiado pela imprensa, foi decorrente da visita de uma comissão externa do Senado Federal à empresa Pará Pastoral e Agrícola S. A. (Pagrisa), em Ulianópolis (PA), autuada por fiscais do Ministério do Trabalho em junho último, por empregar 1.064 trabalhadores em condições análogas às de escravos.
De acordo com as notícias publicadas, a secretária justificou sua decisão por terem os senadores desqualificado a inspeção que constatou a existência de trabalho escravo, o que gerou insegurança nas ações desenvolvidas pelo Ministério. Kátia Abreu estranhou a atitude da secretária do Ministério.
- Se sou uma administradora pública, se recebo denúncias, tenho de ter a humildade de querer verificar, ser a primeira a verificar os abusos e corrigir as distorções. Queremos continuar com nosso trabalho. Pedimos à Ruth Vilela que respeite o Senado Federal. Fizemos uma primeira visita e com certeza não será a última - afirmou Kátia Abreu da tribuna, nesta terça-feira (25), em pronunciamento pela liderança dos Democratas.
A comissão externa, criada por requerimento do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), não constatou as irregularidades averiguadas em junho pelos fiscais do trabalho. Segundo Kátia Abreu, foram encontradas apenas "mínimas irregularidades trabalhistas". A senadora informou que, antes dos senadores, representantes de diversas entidades estiveram na empresa e também não viram indícios de trabalho escravo. Citou, entre outras, a comissão suprapartidária da Assembléia Legislativa do Pará e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará.
Kátia Abreu disse terem sido convidados, para participarem da comissão externa, os senadores Paulo Paim (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa; o senador Sibá Machado (PT-AC), que foi ele próprio um pequeno agricultor familiar; o senador José Nery (PSOL-PA), presidente da Subcomissão Temporária de Combate ao Trabalho Escravo, vinculada à Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa; e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Por motivos de agenda, informou, nenhum deles pôde ir. Além dela e de Flexa Ribeiro, integraram a comissão o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), como presidente, e os senadores Cícero Lucena (PSDB-PB) e Romeu Tuma (DEM-SP). Acompanharam a visita jornalistas e taquígrafos do Senado.
- Fomos de boa fé para corrigirmos os erros praticados pelas instituições. Se, no Senado Federal, temos senadores que praticaram falta de decoro e de ética, não significa que temos de fechar o Senado, como também se, no Ministério do Trabalho, temos falhas de alguns fiscais, não significa que temos de fechar o ministério - afirmou a parlamentar.
A senadora criticou a expressão "condições degradantes de trabalho", constante da nova redação do artigo 149 do Código Penal (Decreto-Lei 2.848/40), dada pela Lei 10.803/03. Para ela, mais importante é o texto do parágrafo único do referido artigo, que pune quem "cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho", e quem "mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho".
- O que é trabalho degradante? Qual é esse conceito? Onde está escrito isso? Precisamos escrever e conceituar essa expressão tão ampla. O que pode ser degradante para o trabalhador do Nordeste pode não ser para um trabalhador do Sul - afirmou a parlamentar.
Kátia Abreu afirmou que o Brasil tem uma das legislações trabalhistas mais rigorosas do mundo, exemplificando que a Instrução Normativa 31, do Ministério do Trabalho, foi recomendada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), mas apenas nove de seus 183 países-membros a ratificaram.
Ela lamentou que a decisão de fiscais do trabalho seja "transitada em julgado administrativamente", uma vez que os empregadores rurais são "condenados sem direito a defesa, como se tivessem praticado trabalho escravo". Informou que a Pagrisa está proibida de vender álcool em decorrência da autuação.
Em aparte, o senador Jarbas Vasconcelos lamentou a nota divulgada pelo senador José Nery - presente em Plenário - contra a comissão. Chamou a nota de "leviana e irresponsável". Lamentou também a decisão de Ruth Vilela, "como se o Senado tivesse se anunciado contra a fiscalização". Kátia Abreu disse estar entristecida pelo fato de o senador Nery ter optado por não ir à empresa, mas ter acreditado na explicação escrita por um fiscal que ele não conhece.
Em outro aparte, o senador Flexa Ribeiro afirmou que não se pode "permitir que uma vontade própria, ideológica, possa suspender em todo o Brasil este trabalho que vem libertando muitos trabalhadores", referindo-se à decisão de Ruth Vilela. Ele também lamentou a ausência de José Nery na visita e a nota posteriormente por ele divulgada. O senador Mário Couto (PSDB-PA), por sua vez, justificou sua ausência na visita por motivo de saúde e disse que, assim como ele, José Nery não tem condições de falar nada, por não ter ido à empresa.
Ao se defender, José Nery afirmou que 11 das 13 fiscalizações feitas na Pagrisa nos últimos oito anos constataram irregularidades. Na última foram averiguados alojamentos inadequados e jornada exaustiva de trabalho, entre outras faltas. Acrescentou que a denúncia formulada pelo Ministério Público foi aceita pela Justiça Federal em Castanhal (PA). Disse ainda que, com a recusa, pelos outros senadores, de serem acompanhados por representantes de outras entidades, reavaliou a visita a Pagrisa, que "poderia significar desqualificação da visita realizada pelo grupo móvel, meses antes, quando as condições provavelmente seriam outras".
Kátia Abreu informou ainda que irá processar o jornalista Leonardo Sakamoto, do site Repórter Brasil, que a acusou de ser "uma das maiores opositoras do combate ao trabalho escravo contemporâneo" e de, quando deputada federal, ter defendido produtores rurais flagrados na utilização de trabalho escravo e ter atuado contra a aprovação de leis que contribuiriam com a erradicação dessa prática.
25/09/2007
Agência Senado
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