Lafer diz que governo só assinará acordo da Alca se ele for do interesse brasileiro
O ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, garantiu nesta quarta-feira (17) aos senadores que o governo só assinará o acordo final da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), no final de 2005, se ele "atender globalmente aos interesses dos brasileiros". Para o ministro, o Brasil perderá investimentos e mercados caso os norte-americanos fechem um acordo com os outros países da América, sem a presença brasileira.
- Além da manutenção das barreiras existentes contra nossas exportações, teríamos neste caso de concorrer nos mercados norte-americanos contra um volume crescente de produtos latino-americanos admitidos em condições preferenciais - sustentou o chanceler.
Celso Lafer participou de uma reunião conjunta das Comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), presididas pelos senadores Lúcio Alcântara (PSDB-CE) e Jefferson Péres (PDT-AM). Além do ministro, foram ouvidos o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Horácio Lafer Piva, e o presidente da Central Única dos Trabalhadores, João Felício.
O ministro repetiu que a Alca constitui uma oportunidade para abrir mercados e para assegurar as condições de concorrência para os produtos brasileiros, não apenas nos Estados Unidos e no Canadá, mas em todo o Hemisfério. "Não podemos ter medo de sentar à mesa. O que importa é termos argumentos convincentes, que nos permitam efetivamente defender o interesse nacional". Celso Lafer observou que não seria possível defender os interesses brasileiros no isolamento, não participando de negociações. Lembrou que a fase de dúvidas se o Brasil deveria ou não participar das negociações da Alca já passou e que hoje há convicção no governo de que a Alca não condenará acordos sub-regionais, como o Mercosul e o Comunidade Andina.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) questionou o ministro e o presidente da Fiesp, lembrando de que se trata de uma negociação entre a maior potência do planeta e 33 países subdesenvolvidos ou emergentes. "Não corremos risco de sair em desvantagem desta negociação?", indagou Suplicy.
Para o ministro das Relações Exteriores, o Brasil exige que os nove grupos de negociação setorial instalados andem no mesmo ritmo, impedindo que sejam fechadas negociações que interessariam mais aos EUA. Além disso, ele considera um erro subestimar a importância relativa do Brasil, que tem um poder de compra equivalente a um terço do PIB da América Latina e do Caribe.
O senador Geraldo Cândido (PT-RJ) questionou o ministro sobre o isolamento a que estaria submetido no Itamaraty o embaixador Samuel Guimarães, o qual advertiu publicamente sobre o risco que a Alca pode representar para o Brasil. O chanceler ponderou que o embaixador não poderia participar das negociações se, a princípio, ele discorda da idéia central do governo brasileiro sobre o assunto.
17/10/2001
Agência Senado
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