Lula amplia o apoio de empresários no Recife









Lula amplia o apoio de empresários no Recife
Um grupo de 54 simpatizantes assinou de imediato o livro de adesão ao Comitê Nacional de Empresários Pró-Lula, antes do comício do presidenciável petista no Pátio da Igreja do Carmo

Favorito nas pesquisas de intenção de votos, o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, continua a quebrar resistências importantes ao seu nome, reforçando a campanha em setores cuja presença no palanque petista, em eleições passadas, seria inconcebível. A visita do presidenciável ao Recife, anteontem, deu início às costuras para o engajamento de um bloco de empresários simpáticos à candidatura.

O grupo – bastante heterogêneo – reúne desde publicitários e produtores culturais até industriais e usineiros. Estes últimos, arquiinimigos do PT em campanhas passadas.

Na noite da terça-feira, pouco antes do comício no centro do Recife, Lula se reuniu rapidamente com cerca de cem empresários no hotel Atlante Plaza, em Boa Viagem.

Destes, 54 assinaram de imediato o livro de adesão ao Comitê Nacional de Empresários Pró-Lula. Outros preferiram analisar melhor o assunto.

Ontem pela manhã, no mesmo hotel, um grupo menor de representantes do setor participou de um café da manhã com o coordenador nacional da Cives – Associação Brasileira de Empresários Pela Cidadania – o empresário paulista José Carlos de Almeida, e definiu a implantação de um núcleo regional da entidade em Pernambuco.

EXPANSÃO – A Cives – uma organização não-governamental criada em 1995, após a segunda derrota do presidenciável petista – está estruturada em vários Estados, principalmente do Sul e Sudeste, incluindo o eixo São Paulo/Rio de Janeiro/Brasília, e em fase de implantação em pelo menos seis outros.

O objetivo, segundo o coordenador, é desmitificar o projeto petista e costurar uma aproximação de Lula e demais lideranças do PT com setores empresariais resistentes à candidatura. “Tem sido um trabalho difícil, mas nos últimos anos, as coisas mudaram.

Lula tem, hoje, um poder de convencimento que não tinha até 1998”, afirma Almeida. As adesões, segundo ele, podem ser feitas até via Internet, pelo site www.cives.com.br.


Serra escala aliados para atacar Lula, que parece não se abalar
BRASÍLIA – Os estrategistas da campanha presidencial do candidato da Grande Aliança, José Serra (PSDB/PMDB), estão escalando um exército de tucanos e políticos aliados em cada Estado para entrar na linha de frente dos ataques mais pesados ao candidato da Coligação Lula Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT/PL/PCdoB/PCB/PMN). A idéia é preservar Serra da pancadaria da campanha, reservando-lhe o papel mais nobre do debate de propostas do programa de Governo.

Ontem, Lula disse que a estratégia de sua campanha continua intacta, mesmo diante do iminente bombardeio dos adversários. “Não participo da campanha de nenhum adversário, não estou preocupado com críticas e não quero fazer críticas”, disse Lula, que esteve no Paraná, onde gravou cenas para o guia eleitoral. “Temos que ficar tranqüilos e manter a fase ‘Lula Paz e Amor’, que é o que está dando certo.”


Ciro ataca Serra ao negar boatos sobre renúncia
Presidenciável do PPS garante que não vai renunciar à candidatura e volta a atacar tucano

SÃO PAULO – O candidato à Presidência da República pela Frente Trabalhista (PPS/PTB/PDT), Ciro Gomes, disse ontem, em entrevista coletiva, que os boatos que correram ontem pelo mercado financeiro sobre sua renúncia são “mais uma jogada rasteira” de seu principal adversário, o candidato governista José Serra (PSDB/PMDB).

“Todo dia, nós temos que administrar uma dessas inverdades, uma dessas rasteiras, que fazem parte desse modo de atuar do candidato José Serra.”

Ciro disse que não esperava essa rasteira e que a campanha tucana “não tem limites”.

“É o império do vale tudo. Eu espero que o povo brasileiro vá anotando, porque se um homem desses, candidato, age assim, imagine esse homem com o poder na mão?”, indagou. Ciro enfatizou o fato de ter recebido notícias de que “muita gente ganhou e muita gente perdeu dinheiro especulando hoje (ontem) com o boato”.

O candidato do PPS também desqualificou as pesquisas brasileiras de intenção de voto.

“São bilhões de reais que estão circulando por debaixo dos panos para tentar induzir votos.”

Ontem, em reunião da cúpula da campanha de Ciro, em São Paulo, e depois no Rio, representantes do PTB, teriam cobrado um reforço na equipe de marketing de Ciro. De acordo com fontes ligadas ao PTB, um dos nomes sugeridos seria o do marqueteiro Chico Santarita. Integrantes do PFL também têm cobrado sistematicamente mudanças no programa do horário eleitoral. Ciro, entretanto, afirmou que tudo não passa de boatos.

PAULINHO – A queda de Ciro nas últimas pesquisas de intenção de voto já iniciou um movimento de ruptura na coligação da Frente Trabalhista, formada pelo PPS, PTB e PDT. Apesar de não trabalhar com a hipótese de apoiar a candidatura do PT, o candidato a vice-presidente da Frente Trabalhista, o presidente licenciado da Força Sindical Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PTB), admitiu que seus assessores estão mantendo conversas com representantes da campanha de Lula.

“É natural que isso aconteça. Existem vários sindicalistas na campanha do PT que são antigos amigos nossos. Não é porque somos adversários nas urnas que deixamos de ser amigos”, disse. Exemplo dessa amizade é o assessor de imprensa licenciado da Força, Luiz Fernando Emediato, com o coordenador de finanças e planejamento da campanha de Lula, Delúbio Soares.

Apesar de negar seu envolvimento na campanha de Ciro, Emediato acompanha o candidato em eventos públicos, como o último debate da TV Record, e é chamado, dentro do comitê de Paulinho, de coordenador de comunicação da campanha da Frente Trabalhista. Assessores ligados a Paulinho informaram que existe na Força Sindical uma corrente disposta a apoiar Lula, já no primeiro turno das eleições.


Itamar aproveita festa e põe Lula e Aécio no seu palanque
BELO HORIZONTE – O espólio político de Juscelino Kubitschek, o político mineiro mais reverenciado dos últimos 50 anos tanto pela esquerda como pela direita, é a oportunidade que o governador Itamar Franco (Minas) buscava para colocar no mesmo palco os candidatos que ele apóia nestas eleições: o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o candidato ao Governo estadual pelo PSDB, Aécio Neves.

Nas homenagens ao centenário de nascimento de JK, que ocorrerão hoje na cidade histórica de Diamantina, terra natal do ex-presidente e porta de entrada para o vale mais pobre de Minas, o Jequitinhonha, estarão sobre o palanque de JK, ciceroneados por Itamar, o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o candidato ao Governo estadual pelo PSDB, Aécio Neves.

O pretexto para esse encontro é a distribuição da medalha que leva o nome do ex-presidente, criada por lei estadual em 1995. O Conselho da Medalha é presidido pelo presidente da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, Antônio Júlio (PMDB), afinado politicamente com Itamar.

Longe de Diamantina, mas também em terras mineiras, estará o presidenciável Ciro Gomes (PPS) prestando sua homenagem ao ex-presidente. Em Araxá, no Triângulo Mineiro, a campanha de Ciro anuncia um showmício à noite com homenagem a JK.

Também o presidenciável Anthony Garotinho (PSB) deverá estar fazendo campanha hoje em Minas. Garotinho, que se apresenta nos seus programas eleitorais na frente de imagens de JK e do ex-presidente Getúlio Vargas, vai percorrer a região metropolitana da capital.


Dólar fecha com baixa, em dia de poucos negócios
SÃO PAULO – A cotação do dólar comercial caiu ontem 0,98%, a R$ 3,103 para a compra e a R$ 3,106 para a venda. A queda da moeda norte-americana só não foi maior porque a divulgação, ontem, do Livro Bege, feito pelo Federal Reserve (Fed, banco central do EUA) e que mostra o desempenho econômico das 12 principais regiões do país, mostrou que a recuperação da maior economia do mundo continua lenta.

O volume de negócios foi considerado razoável, porém abaixo do normal e, com o bom comportamento dos mercados externos, o risco-país brasileiro, no final do pregão de ontem, recuava 0,2%, aos 1.706 pontos.

O dólar abriu em alta, mas reverteu a tendência e começou a cair no meio da manhã, compensando o risco de um novo atentado nos EUA que fora embutido nas cotações anteontem mas não se concretizou.

“O mercado estava achando que ia acontecer alguma coisa, algum outro ataque no aniversário do atentado, e já havia colocado isso no preço”, afirmou Marco Antonio de Azevedo, gerente de câmbio do banco Brascan.

A queda também compensou a pressão exercida anteontem por bancos que detinham títulos cambiais que venciam ontem e tiveram seus preços ajustados pela Ptax (taxa média do dia calculada pelo Banco Central).

O BC vendeu ontem US$ 20 milhões em um leilão de linha externa, modalidade na qual a autoridade monetária vende moeda para depois recomprá-la. A operação de ontem rolou parcialmente um vencimento de US$ 50 milhões relativo a um leilão anterior cujo prazo acaba sexta-feira.

A Bovespa fechou em alta de 2,22%, aos 10.182 pontos e volume financeiro baixo, de apenas R$ 357,350 milhões, o segundo menor do mês, e bem abaixo da média diária do mês passado (R$ 633 milhões).


Artigos

As eleições e a responsabilidade social das empresas
Oded Grajew

Nas eleições de 2002, deve ultrapassar R$ 1 bilhão a soma dos gastos declarados pelos candidatos a cargos majoritários (presidente, governador e senador). Somente os quatro principais candidatos à presidência estimam gastar R$ 146 milhões, segundo informaram ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Diante desses altos valores, os candidatos manifestam a dificuldade de se obter recursos para financiamento das campanhas. Aliado à crise econômica, o medo de escândalos seria a maior razão para a diminuição das doações. A inexistência de financiamento público das campanhas faz com que contribuições em grandes somas de dinheiro vivo, sem nenhuma documentação contábil, possam parecer inevitáveis para os candidatos. Entretanto, quando vêm a público, trazem danos políticos capazes de destruir qualquer candidatura, e expressam o repúdio da opinião pública ao abuso de poder econômico no processo eleitoral. São vários os exemplos recentes, no mundo todo, de denúncias de relações promíscuas envolvendo governantes, grandes empresas e “caixas de campanha”.

Mas são inúmeras as formas de participação empresarial socialmente responsável nas eleições - cabe a cada empreendedor decidir como fazer. As empresas podem se transformar em escolas de cidadania, e desenvolver ações de esclarecimento junto aos funcionários, comunidade e fornecedores. Podem, por exemplo, realizar reuniões para discussão dos programas de governo dos candidatos e convidá-los a debater suas plataformas políticas, bem como distribuir materiais esclarecedores sobre os candidatos que incentivem o comportamento ético frente às eleições, explicar o uso de urna eletrônica e estimular o voto consciente.

Para oferecer subsídios e contribuir com essa questão, o Instituto Ethos lançou, em parceira com a Fiesp/Ciesp e o patrocínio do Yázigi Internexus, a publicação A Responsabilidade Social da Empresas no Processo Eleitoral, edição 2002, onde constam sete princípios básicos para a reflexão das empresas que procuram adotar práticas socialmente responsáveis na sua atuação política.

Vale lembrar que a responsabilidade social é uma cultura que deve estar incorporada na gestão das empresas, permeando todas as suas atividades. Inclusive, quando ela decide contribuir, legalmente e com transparência, para o fortalecimento da democracia em nosso País. Essas e outras abordagens estão disponibilizadas no site www.ethos.org.br


Colunistas

Pinga Fogo - Inaldo Sampaio

Lavagem cerebral
Sempre se disse aqui nesta coluna que a eleição para o governo de Pernambuco não teria graça e que a verdadeira disputa que seria travada no âmbito estadual envolveria o Senado: Carlos Wilson ou Sérgio Guerra? Carlos Wilson, segundo a última pesquisa JC/Exatta, perdeu alguns pontinhos em relação à útima do Ibope, mas ainda assim permanece no páreo como candidato favorito. Sua aparição em Caruaru e no Recife, ao lado de Lula, que lidera com folga as intenções de voto em Pernambuco, rendeu-lhe ótimos dividendos eleitorais, mesmo não tendo falado em nenhum dos dois comícios.

Pela mesma pesquisa JC/Exatta, o senador está confortavelmente bem situado no Recife e área metropolitana, onde estão os “votos de opinião”. Daí a sua confiança absoluta na perspectiva da reeleição, malgrado a campanha massiva, tipo lavagem cerebral, que o lado contrário desenvolve no sentido de vincular Marco Maciel e Sérgio Guerra à imagem do governador, que é positiva em todo o Estado.

Para o senador, a campanha está entrando na sua reta final exatamente como previa: com Lula em ascensão em todo o país. Ele também se diz convencido de que o eleitor de Lula não sairá de casa no próximo dia 6 para votar em Marco Maciel e Sérgio Guerra.

Duelo de gigantes
O líder Carlos Lapa ficou surpreso com a ameaça do capitão PM José Pires, seu adversário no município de Carpina, de que iria “surrá-lo” em praça pública até a data da eleição. E o brindou com essas palavras: “Trata-se de um psicopata, desordeiro, marginal, frouxo, safado, picareta, cínico e inescrupuloso. Ele não me desmoralizaria nunca porque se fizer isso morrerá. Já foi preso 18 vezes e é o retrato fiel da segurança que esse governo (de Jarbas) oferece à sociedade”.

Antes do antes
Parece que o prefeito Fernando Rodovalho (Jaboatão) já deflagrou a sua própria sucessão. Um dos seus secretários, pastor Ednázio Silva, promoveu recentemente dois grandes shows naquela cidade, com cantores evangélicos, e exaltou exageradamente a figura de Paulo Varejão, que é o secretário de finanças do município.

“Com o meu, não”
Roberto Magalhães (PSDB) está sendo apoiado em Garanhuns pelo ex-prefeito Ivo Amaral (PFL). Em entrevista a um jornal de lá ( “Correio Sete Colinas”) ele disse que se dependesse do seu voto “Lula não seria o presidente”. Acha que José Serra e Ciro Gomes são “mais preparados” do que o candidato do PT para ocupar o Planalto.

Partidos da base do governo elegeriam 18
Raul Jungman, que concorre a uma vaga na Câmara Federal pelo PMDB e promoverá uma festa, hoje, no seu comitê, ouviu de Jarbas Vasconcelos que os partidos da aliança (incluindo o PPS) elegerão 18 federais. A conferir.

Discípulos de Gláuber em áreas distintas
Os “glauberianos” de Pernambuco (discípulos de Gláuber Rocha) estão divididos nessas eleições. O “guerrilheiro cultural” Jomard Muniz de Brito apóia Raul Henry (PMDB) e Amin Stepple fechou com Arraes (PSB).

Filho enjeitado
Brizola não perdoa o apoio de Arraes à Anthony Garotinho. Em entrevista ao “Globo”, disse: “Vejo com tristeza e pesar (o apoio do ex-governador de PE ao ex-governador do RJ). Não entendo como o Arraes caiu nessa. Falta de aviso é que não vem”. Brizola só esqueceu de dizer que Garotinho é cria sua.

Por convicção
Para Sílvio Pessoa, pro curador-geral do Estado, a postura do ator Paulo Autran no programa “Roda Viva” da TV Cultura deveria servir de exemplo para muitos brasileiros.

O ator disse que devido à idade (80 anos) está desobrigado de votar. Mas dará o seu voto a José Serra por considerá-lo “o melhor candidato”.

Arraes, com os seus 85 anos bem vividos, não era a pessoa mais idosa no jantar que houve em sua homenagem anteontem à noite no “Spettus”. Estava lá com o seu inseparável cigarrinho na boca D. Sinhara Arraes, de 93 anos, que não perde evento do PSB. Ela é mãe do candidato ao Senado João Arraes.

A secretária Terezinha Nunes (imprensa) afirma, contestando nota desta coluna, que Paulo Rubem (PT) não está sendo processado por Jarbas (em razão de críticas feitas à BR-232) e sim pelo Ministério Público. Mas o deputado ratifica que o processo foi iniciado a partir de uma representação do governador e vai exibir a cópia no guia eleitoral.

Durante as sessões do TRE, há sempre alguém da cúpula governista lá: Humberto Vieira de Melo (justiça), Dorany Sampaio (governo), etc. Mas o que mais chama atenção dos “setoristas” são as constantes vezes que o advogado Harlan Gadelha Filho deixa o plenário para atender ligações de Terezinha Nunes.

O ex-deputado Vital Novaes (PSL) renunciou à candidatura à Assembléia Legislativa e
passou a apoiar Oliveira Júnior (PSD). Já em Camaragibe, por não rezar pela cartilha política do prefeito Paulo Santana (PT) a vice Nadegi Queiroz foi retaliada. A Clínica da qual é diretora foi descredenciada para fazer cirurgia e ultrassonografia.


Editorial

FILARIOSE E DENGUE?

Há registros na história da medicina brasileira que informam terem os colonos brancos trazido da Europa doenças como a varíola e o sarampo, tão comuns até nossos dias, no País. E que alguns negros (escravos) aqui desembarcaram da África com febre amarela e filariose. Portanto, é um pouco questionável que essa última doença só tenha sido registrada no Recife em 1952. O que talvez não houvesse antes era a realização de campanhas públicas para erradicar o mal.

No meio das preocupações que atingem a área da saúde, em nossos dias, surgiu no Recife uma nova campanha de combate à filariose, que atinge 48 bairros da Capital.

Ela foi anunciada pelo prefeito João Paulo, no último dia 28 de agosto, e tem como base técnico-científica uma pesquisa realizada nos anos de 1999 e 2000 pela administração municipal anterior, de Roberto Magalhães. Pelos dados disponíveis, sabe-se que cerca de 28 mil pessoas são portadoras de filariose no Recife, representando algo em torno de 1,3% da população.

O programa antifilariose agora apresentado pela Prefeitura vai concentrar as suas ações em quatro pontos principais. O primeiro: intensificação dos trabalhos de diagnose, que só pode ser feito à noite, através de coleta de sangue periférico. Os demais são a educação sanitário-ambiental, a eliminação tópica dos prováveis focos do mosquito transmissor (culex quinquefasciatus) e a assistência direta e permanente aos vitimados.

Ao falar de um plano novo de combate aos mosquitos, somos tentados a fazer um paralelo com outros anunciados também há pouco tempo, mas aparentemente esquecidos em seguida, na órbita do Governo Federal. No último dia 24 de julho, para lembrar um desses casos, foi lançado, com grande estardalhaço, o Programa Nacional de Controle da Dengue, orçado em mais de R$ 1 bilhão e envolvendo um efetivo de dez mil novos agentes de controle de endemias. O Governo tinha motivos de sobra para isso, pois só no primeiro semestre deste ano foram computados, em todo o território nacional, cerca de 673.059 casos de dengue, com um saldo de 90 mortes.

Entretanto, a proximidade de eleições gerais, e mais as ameaças ao sistema cambial brasileiro jogaram para manchetes interiores e sem chamadas de primeira página o noticiário sobre o avanço vertiginoso da doença.

De acordo com o plano federal, as administrações estaduais teriam, a partir do lançamento do Programa, 60 dias para a contratação dos agentes e início das ações, sob pena de serem responsabilizadas diante do Tribunal de Contas da União pelo mal emprego dos recursos que seriam transferidos.

No caso do combate em nível municipal contra a filariose, doença também conhecida popularmente como elefantíase, não se fez menção à necessidade de grandes investimentos em saneamento básico, talvez pelo desejo de aproveitar os recursos federais para o outro plano. E, como se sabe, a filariose é uma doença endêmica em várias regiões tropicais, geralmente as mais pobres do planeta e carentes de saneamento. O mal se amplia através da proliferação de agentes transmissores que vivem nos mesmos focos dos mosquitos de outras enfermidades, como malária e cólera.

Entre os locais onde a proporção dos infectados pela filariose é maior, no Recife, somente um não é considerado de baixa renda, o bairro de Apipucos. Entrevistada pela reportagem deste jornal, a dona de casa Helena Silva, 67 anos, forneceu as palavras exatas para o encerramento deste texto: “Enquanto não se resolver o problema do esgoto, coleta de lixo e abastecimento de água, a muriçoca vai continuar
contaminando todo mundo. É preciso, em primeiro lugar, melhorar esses serviços para depois pensar nos programas de combate à doença”. Um único reparo a fazer: as duas coisas têm de caminhar juntas.


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09/12/2002


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