Lula aprova acordo com FMI, mas culpa governo pela crise









Lula aprova acordo com FMI, mas culpa governo pela crise
Presidenciável está disposto a se manifestar a favor do pacote

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, considerou positiva a renovação do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e está disposto a manifestar-se positivamente sobre ele.

Em conversas com integrantes de seu comando de campanha ontem à tarde, Lula deixou claro que está fora de questão sua oposição frontal ao pacote.

O que o petista fará, para evitar passar um cheque em branco ao governo, é criticar indiretamente a situação que levou o Brasil a recorrer ao novo acordo.

O presidenciável pretende cobrar medidas complementares emergenciais ao pacote que incentivem as exportações e mudanças no modelo econômico para incentivar a produção.

Lula deve fazer ataques à dependência do Brasil ao financiamento externo, dizendo que é fruto da falta de ação do governo. Apesar do elogio ao pacote, o candidato vai insistir que o FMI não pode ser eternamente um "salva-vidas" para o Brasil.

Lula ficou satisfeito principalmente porque acha que o novo acordo garante uma transição tranqüila e dá fôlego ao novo governo, pelo menos em seu início.

O candidato petista também se dispõe a conversar pessoalmente com o presidente Fernando Henrique Cardoso se for chamado pelo governo.

Segundo a Folha apurou, o PT aprovou o formato do novo pacote, que prevê a liberação de US$ 30 bilhões, 80% dos quais no próximo mandato. Por não terem sido exigidos maior aperto na economia com a manutenção da meta de superávit primário em 3,75% do PIB- e elevação na taxa de juros, foram removidos os obstáculos potenciais para que o PT aprovasse o pacote.

O acordo de 15 meses permite ainda a redução do piso mínimo das reservas internacionais do Brasil dos atuais US$ 15 bilhões para US$ 5 bilhões, dando maior poder de fogo ao país para segurar o valor do câmbio.
Lula quer deixar claro ao eleitorado que acreditava na necessidade emergencial do novo pacote, porque falar o contrário passaria a imagem de falta de responsabilidade em um momento de crise aguda do Brasil.
Mas ele não pretende dividir com o governo o ônus neste momento, até porque teme que um apoio entusiasmado ao FMI soe como algo falso e eleitoreiro.

Por isso, o endosso de Lula virá acompanhado das ressalvas. Além da crítica ao modelo econômico, o petista pedirá a aprovação de um minipacote fiscal que desonere as exportações e acabe com o efeito cascata de alguns impostos, como PIS, Cofins e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido.

Trauma de 98
Lula, que já esperava para hoje o anúncio do novo pacote, passou o dia gravando cenas de seu programa eleitoral, em seu comitê, na Vila Mariana. No início da tarde, conversou com o presidente do PT, José Dirceu, que acabara de ser informado por FHC, por uma ligação recebida de Brasília.

Lula terminou as gravações e em seguida passou a conversar com seu círculo próximo de assessores sobre o acordo. Ele expressou alívio pelo fato de ter sido afastado, pelo menos preliminarmente, o risco de um cenário eleitoral em meio a turbulência exacerbada. O PT acha que poderia colar o discurso da "mudança com segurança", que beneficiaria o governo.

O receio era de um cenário semelhante ao de 1998, em que, na avaliação do PT, a crise na Rússia acabou beneficiando a reeleição de FHC.

Mas o partido reconhece também que, se disputar o primeiro turno sob pressão dos mercados era tido como um ingrediente que favorecia a candidatura Ciro Gomes (PPS), o acordo renovado pode dar fôlego ao presidenciável José Serra (PSDB).

Daí a necessidade de passar a imagem de comedimento, que não tumultue o mercado nem beneficie a candidatura governista.

Lula repetirá ainda seu discurso de que a responsabilidade de conter a crise econômica é do governo. Esse discurso evitará satanizar o FMI, mas reforçará que a instituição não pode exigir medidas em que o novo governo fique de mãos atadas.

O presidenciável não se manifestou publicamente sobre o assunto ontem.

Lula só tem agenda pública no sábado, mas é provável que se manifeste hoje sobre o acordo, de acordo com sua assessoria de imprensa.


Equipe de Ciro vê "alívio", mas ataca modelo
Economistas dizem, sobre acordo com FMI, que assegurar condições de governabilidade ao sucessor é obrigação de FHC

Mauro Benevides Filho, assessor econômico do presidenciável Ciro Gomes (PPS), classificou de "alívio" o fato de o acordo entre o governo brasileiro e o FMI não abordar a questão das taxas de juros. Mesmo assim, para o assessor, o governo erra ao manter o atual modelo econômico, visto por ele como equivocado.
Ciro, por sua vez, ao ser perguntado sobre o acordo, disse uma única frase aos jornalistas: "Não vou comentar nada sobre nada".

Para Benevides, que foi secretário do Planejamento do Ceará na gestão Ciro, "é um primeiro alívio não falarem da taxa de juros, mas a dívida pública e o desemprego vão continuar crescendo porque não foram definidas condições econômicas novas". Como "condições novas", o economista entende que o atual governo poderia, desde já, implantar a reforma tributária e diminuir a vulnerabilidade externa com uma política industrial que estimule a exportação e a substituição de importações.

Para ele, o acordo, apesar de representar uma relativa tranqüilidade ao mercado, não diminui a responsabilidade do candidato José Serra (PSDB), que tem o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso, dos problemas do atual governo. "Porque o atual modelo econômico continua errado", afirmou ele.
"Quando uma pessoa está doente, com febre, você dá o remédio, mas não mata a doença. O acordo do governo brasileiro com o FMI é isso, é uma questão simplesmente conjuntural. Num curto prazo, essa notícia pode diminuir a tensão do mercado, mas não vai aliviar a cobrança em relação ao candidato do governo."
Segundo Benevides Filho, no entanto, é positivo o fato de a nova negociação do Brasil com o FMI não comprometer as possíveis alterações econômicas que o futuro presidente queira fazer.

"Acho que essas mudanças poderiam começar agora, não é preciso esperar um novo governo. Mas, é lógico, esse acordo não impede o próximo governante de processar as transformações de que o Brasil tanto precisa", disse.

"Entendo que essa negociação possa aliviar, mesmo que a curto prazo, a escassez de moeda estrangeira, mas a medida é meramente conjuntural. Os fundamentos da economia brasileira continuarão inexistindo. A austeridade fiscal não existe, o governo de Fernando Henrique gastou demais ao longo dos anos e teve de aumentar sua arrecadação por meio do aumento dos impostos."

Para o economista Maurício Dias David, também da equipe de Ciro, o acordo com o FMI pode ser positivo se gerar condições para que seja feita uma "passagem de governo tranqüila e regulada".

Segundo ele, é preciso examinar os termos do acordo para saber se não tem possíveis amarras ao projeto econômico do novo governo. David disse que sua preocupação não é com o tamanho do superávit primário, mas com outras cláusulas que possam existir no acordo e que criem obstáculos a que uma nova política econômica seja posta em prática. "Nós não queremos fraudar os eleitores."

David disse que, no entendimento da equipe de Ciro, o acordo com o FMI "é problema do governo atual". Segundo ele, "é obrigação de Fernando Henrique fazer uma passagem que assegure condições de governabilidade ao novo chefe do Executivo". Para ele, um acordo, diante do aumento da vulnerabilidade do país, era inevitável. "Vulnerabilidade não se resolve de imediato."


Serra diz que acordo com o F MI é "positivo"
O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, elogiou ontem o acordo entre o FMI (Fundo Monetário internacional) e o Brasil, anunciado pelo Fundo no fim da tarde.

"Acho positivo. Defendi a extensão do acordo, primeiro porque não traz sacrifício nenhum para a economia, segundo porque reduz as turbulências econômicas", disse o tucano.

Em sua página na internet, Serra publicou à noite uma curta nota com declaração sobre o assunto. Diz o texto: "O acordo é bastante positivo, pois não implica sacrifício adicional à economia. Por exemplo, a meta do superávit primário foi mantida. Além disso, o acordo aumenta a segurança em relação ao futuro. Aos recursos do FMI que já são utilizados se somarão os novos, em volume apreciável. Esse esquema deve facilitar muito a transição de governo".

Desde o início das conversas do governo brasileiro com o FMI, no fim de julho, Serra tem se colocado a favor do acordo. Em 26 de julho, após encontro com o ministro Pedro Malan (Fazenda), o tucano disse que o acordo "é uma medida correta porque não implica nenhum sacrifício adicional para o Brasil".


Polarização Serra-Ciro é "falsa", diz Lula
Eles são "frutos da mesma árvore", afirma candidato; petista ironiza gesto de Ciro de beijar mão de ACM

O candidato petista à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou ontem a troca de farpas entre Ciro Gomes (PPS) e José Serra (PSDB) dos últimos dias, dizendo que está sendo criada uma "falsa polarização".

Lula prometeu se manter distante das acusações eleitorais, mas acabou se contradizendo logo em seguida, ao criticar Ciro por sua proposta de aumento do salário mínimo e pela forma como fez aliança com o ex-senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), com direito a beija-mão em frente às câmeras.

"Estão inventando uma polarização inexistente. O fato de você fazer uma campanha acusatória não significa polarização", declarou Lula, em entrevista coletiva após participar de programa na Rádio Bandeirantes ontem de manhã em São Paulo.

Seguindo a estratégia de campanha desenhada por sua assessoria, o petista tem procurado se preservar, fazendo apenas críticas pontuais a seus adversários e insistindo em tratar principalmente de seu programa de governo.

O problema que começa a incomodar os petistas, segundo a Folha apurou, é que a estratégia de "jogar pelo empate" -administrando a vantagem nas pesquisas- pode retirar de Lula o foco principal da mídia. Sem aparecer, o petista poderia ter mais dificuldade em subir nas pesquisas e assegurar com tranquilidade a passagem para o segundo turno.

Ontem, o desconforto do candidato com o assunto ficou bem claro. "Eles Ciro e Serra" estão tentando ocupar espaço, porque todos querem saber quem vai para o segundo turno. O Brasil ganharia mais se os candidatos estivessem preocupados em mostrar seus programas", declarou.

O petista afirmou que seus dois adversários são "frutos de uma mesma árvore", outro argumento pelo qual tentou desqualificar a "polarização".

"Acontece que o Ciro se desgarrou da árvore". Então, o governo quer provar, por "a mais b", que o Ciro está errado", declarou.

Sobre a aliança de Ciro com ACM, Lula atacou não tanto o pacto em si, mas a maneira como foi feito. "Dar a mão, pode dar. O que não pode é Ciro" beijar a mão do ex-senador". Esse é o problema", declarou à Bandeirantes.

Ironizando o gesto de Ciro, Lula afirmou que só beijou duas mãos em sua vida: a da mulher, Marisa, e a do papa João Paulo 2º.

Ele revelou inclusive que poderia ter levado foto do candidato ao debate entre os presidenciáveis, no domingo, cedida por jornais do Nordeste, mas desistiu. "Não é hora de brigar com o Ciro."

Lula, no entanto, alfinetou a proposta do presidenciável de elevar o salário mínimo para US$ 100. "Eu, como não sou candidato a presidente dos EUA, pretendo continuar falando que vou dobrar o poder aquisitivo do salário mínimo."

Leão petista
O petista criticou a maneira como é usado o Fundo de Amparo ao Trabalhador para cursos de requalificação profissional, dizendo que criam "subordinação" do movimento sindical ao governo. Ele negou que fosse uma crítica indireta ao vice de Ciro, Paulo Pereira da Silva, que chegou a ser acusado de irregularidades na gestão de verbas do FAT.

Antes de saber da renovação do acordo do FMI (Fundo Monetário Internacional) com o Brasil, Lula voltou a dizer que não aceitaria a exigência de aumento da meta de superávit primário, hoje em 3,75% do PIB. Uma meta maior significaria maior aperto na economia, obrigando a novo corte de gastos. O acordo anunciado na tarde de ontem mantém a meta em 3,75%.

Para ele, superávits maiores seriam possíveis, desde que baseados na elevação da arrecadação, o que ele voltou a prometer em seu governo. "Muitos dos que sonegaram nos últimos anos vão temer sonegar no começo do novo governo. O "leão" [como é conhecida a Receita Federal] do Lula vai ser mais feroz", afirmou.


Garotinho usa doações de Rosinha
A campanha do presidenciável do PSB, Anthony Garotinho, está sendo financiada com recursos arrecadados pela sua mulher, Rosinha Matheus, que disputa o governo do Estado do Rio de Janeiro pelo partido.
A informação é confirmada pelo deputado federal Alexandre Cardoso (PSB-RJ), coordenador financeiro das duas campanhas. Segundo ele, os recursos doados são destinados ao partido, que pode redistribuí-los entre os seus candidatos.

"É lógico que uma pessoa, quando coloca dinheiro, quer ajudar muito mais a Rosinha, mas ela está dando dinheiro ao partido. É dinheiro que vai para as duas campanhas", disse Cardoso.

Em primeiro lugar nas pesquisas, Rosinha tem sido bastante procurada por doadores, ao contrário de Garotinho, apontado em quarto lugar nas pesquisas de preferência dos eleitores.

Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), não há crime na operação, já que os dois candidatos são do mesmo partido. É permitida a doação entre candidatos, comitês financeiros e partidos da mesma coligação.
A campanha eleitoral de Garotinho passa por grave crise financeira. Ele já dispensou quatro auxiliares, que não aceitaram redução salarial. Entre eles, seu marqueteiro, Elysio Pires. A Folha apurou que o candidato já tem dívidas que chegam a R$ 2 milhões. Os gastos são, principalmente, com a produção de programas de televisão, fretamento de jato e material de campanha.

Há um débito de R$ 10,3 mil com o compositor Tavito, produtor do jingle "Fé no Brasil", da campanha do candidato do PSB. O fotógrafo Rogério Faissal também não recebeu tudo o que lhe devem pelo seu trabalho. Há também a possibilidade das restrições orçamentárias impedirem Garotinho de cumprir a agenda de comícios para o mês de agosto.

A maior despesa é com a produção de programas para a televisão. A campanha de Garotinho está bancando os programas regionais de 13 candidatos a governador, além dos 19 programas de Garotinho. Com pouca chances de vitória, a maior parte dos candidatos a governador cederá o espaço regional para o candidato presidencial, que conta com apenas 2 minutos e 13 segundos na TV para a sua propaganda. A estimativa é que o PSB gaste até R$ 2 milhões nos programas eleitorais.

A crise tem obrigado Garotinho a ficar quase imóvel no Estado do Rio de Janeiro. Passado pouco mais de um mês do início da campanha eleitoral de Garotinho, ele só foi duas vezes a Brasília, duas ao Rio Grande do Sul e três outras ao Estado de São Paulo.

A atual fase de restrições orçamentárias contrasta com a pré-campanha, quando o presidenciável do PSB percorreu várias vezes o país a bordo de um jato fretado. As despesas com avião não são divulgadas por Cardoso. Ele nega que haja uma dívida acumulada de R$ 2 milhões.

"Eu diria que o PSB deve em torno de R$ 200 mil, mas estamos saldando tudo aos poucos." Ele disse que os débitos existentes com Faissal e Tavito foram contraídos no período de pré-campanha do candidato, quando, segundo ele, uma empresa foi contratada para cuidar das finanças da campanha de Garotinho. "Já pagamos 95% das despesas com essa empresa e ela deveria ter pago a essas pessoas", afirmou o coordenador financeiro. Cardoso não quis revelar o nome da empresa que foi contrata. Disse, em seguida, que não se tratava de uma empresa propriamente dita, mas um "consórcio" e por fim um "grupo de pessoas".


Brasil cresceu pouco, diz programa de Serra
Sem citar FHC, tucano critica lento crescimento da economia nos últimos anos em documento lançado ontem

O presidenciável do PSDB, José Serra, apresentou ontem o seu programa de governo, cuja principal crítica é o lento crescimento da economia nos últimos anos.

Sem citar o nome do presidente Fernando Henrique Cardoso, no documento, entitulado "Trabalho e Progresso para Todos", está escrito: "A principal dificuldade do Brasil nesse período foi que o crescimento econômico não se acelerou tanto quanto seria necessário para multiplicar as oportunidades de trabalho e os recursos investidos nas políticas sociais".

Em 84 páginas, o programa tucano foca três elementos: trabalho, segurança e serviços sociais de boa qualidade.

O documento propõe o combate ao desemprego, que é mencionado como "doença", basicamente pelo crescimento da economia e por medidas paralelas, como a ampliação de programas de qualificação profissional. Propõe a criação de 8 milhões de empregos.

O texto afirma que o crescimento da economia brasileira de 4,5% em média, entre 2003 e 2006, poderia ser alcançado com a queda na taxa de juros para algo em torno de 6% a 7% em meados da década. Para este ano, a previsão é que o crescimento do PIB atinja, no máximo, 2%. O programa de governo do PT prevê um aumento de 5% do PIB.

Para os juros caírem, o programa de José Serra propõe o que chama de "ponta do barbante para fazer a economia crescer", que seria a substituição de importações e o aumento de exportações.

Neste ponto, o programa, apesar de descrever medidas que poderiam incrementar o comércio exterior brasileiro, como a desoneração das exportações, é vago ao não estipular a meta de exportação para os próximos anos.

Segundo Serra, a meta "é aquela capaz de reduzir o déficit em conta corrente para 2% do PIB ao longo dos próximos quatro anos".

O governo atual também empenhou-se no aumento das exportações, que não foram suficientes, porém, para diminuir a vulnerabilidade externa e causar uma queda nos juros.

O programa também propõe investimentos em infra-estrutura, como a restauração de toda a malha federal, cujos valores, de acordo com Serra, viriam do aumento da arrecadação. Ele prometeu reformar 18 mil quilômetros de estradas federais em três anos, ao custo de US$ 900 milhões. Para a manutenção, o custo estimado é de US$ 160 milhões por ano.

O candidato afirmou que "em matéria de política social, o governo FHC fez muito, mas há mais a fazer do que já foi feito". Para avançar nesse sentido, Serra disse que pretende criar uma equipe social, "com a mesma força e prestígio da equipe econômica".

O programa apresentado ontem não está completo, como admitiu o candidato. "É um resumo, um sumário das diretrizes."

Ele disse que, "nas próximas semanas", serão apresentados o Plano de Desenvolvimento Regional para o Nordeste e Norte, além de políticas detalhadas para as mulheres e crianças.

De acordo com o texto, as principais mudanças em um eventual governo Serra serão: 1) segurança; 2) crescimento; 3) reforma política; 4) atuação diplomática pelo desenvolvimento; e 5) ênfase em um plano social.


Sem citar nome, FHC refuta e acusa Ciro
Presidente diz que dinheiro das privatizações foi usado para administrar dívida; Serra não respondeu no debate

O presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou uma solenidade da Escola Superior de Guerra ontem no Palácio do Planalto para responder indiretamente às afirmações do candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes (PPS), no debate do último domingo na TV Bandeirantes.

"Os dados não mentem. Algumas pessoas mentem usando dados", afirmou FHC, sem citar o nome de Ciro, mas reforçando a pecha de mentiroso que a campanha tucana quer "colar" no candidato da Frente Trabalhista.
FHC afirmou que o salário mínimo não se mede em dólar, porque a cesta básica não é comprada em dólar, e respondeu à pergunta deixada no ar pelo candidato José Serra a respeito do destino das verbas das privatizações.

"Quando as pessoas falam sobre a dívida, dizem coisas disparatadas. Ou porque não viram na internet, ou porque estão mal informadas, ou porque querem distorcer mesmo", disse FHC, depois de afirmar que a dívida interna cresceu de R$ 60,7 bilhões, em julho de 1994, para R$ 633,3 bilhões, em abril de 2002.

Segundo ele, o crescimento se deve ao fato de o governo ter assumido dívidas não reconhecidas os chamados "esqueletos"- e renegociado dívidas de Estados e municípios. Juntos, os dois itens representam R$ 418,6 bilhões da dívida, segundo a tabela de FHC.

Ele afirmou, usando um telão, que os recursos obtidos com as privatizações de empresas estatais -R$ 67 bilhões- e os R$ 103,2 bilhões do superávit primário (receita menos despesas, exceto os gastos com juros) foram usados para administrar a dívida.

Durante o debate de domingo, José Serra deixou-a sem resposta, o que desagradou ao Planalto.
"Os dados são feios, mas são a cara dos desmandos que ocorreram no nosso país", afirmou, isentado seu governo da responsabilidade por parte da dívida.

Salário e emprego
Durante o debate, Serra acusou Ciro de mentir sobre o valor do salário mínimo em dólares durante sua gestão na Fazenda. Ciro havia dito que o salário pago na época (94) era de US$ 100.

"A referência para o salário mínimo não é o dólar, porque a cesta básica não é composta por produtos em dólar, mas por produtos em reais", disse, acrescentando que o salário mínimo cresceu 27% desde o início da década de 90.

FHC admitiu que o desemprego é a "questão mais dramática" atualmente. Ele considera que os empregos criados em seus dois mandatos (1,8 milhão) foram um fraco desempenho.


Ciro discute com estudante em Brasília
Candidato se diz contrário a cotas para negros em universidades e impede estudante de falar

O presidenciável Ciro Gomes (PPS) perdeu a paciência ontem durante debate na UnB (Universidade de Brasília), no momento em que se discutia a política de cotas para alunos negros em universidades.
Ciro disse não estar convencido de que a política de cotas é a solução para ampliar o acesso de negros às universidades. "A universidade tem caráter meritocrático. Entra nela quem tem mérito. Não me convenci [da política de cotas], mas estou aberto para discutir", afirmou o presidenciável.

O estudante de artes cênicas Rafael dos Santos, 27, tentou questionar a posição de Ciro, mas o presidenciável não permitiu que ele falasse ao microfone. O público (cerca de 500 pessoas, entre alunos, professores da UnB e integrantes do PPS de Brasília) pedia que o estudante se manifestasse no microfone. "Não dá o microfone para ele", gritou Ciro.

"Ninguém falou no microfone. Só porque ele é um negro lindo vai falar no microfone? Isso é demagogia, isso é o que discrimina o negro. Só porque é negro, fica com peninha e dá o microfone?", completou o candidato do PPS, afirmando que conversaria com o estudante no final do debate.

O estudante saiu do auditório e não falou com o candidato. "Não tem que debater com Ciro Gomes, ele é direita disfarçada", afi rmou Santos, que usava adesivo do PT. Nenhuma das pessoas que fez perguntas por escrito teve direito de contestar as respostas do presidenciável motivo pelo qual Ciro não deu a palavra a Santos.

Ciro foi o primeiro presidenciável a participar do fórum "Brasil em Questão - A Universidade e a Eleição Presidencial". Ao chegar ao auditório na UnB, ele foi tanto vaiado como aplaudido por estudantes. Ciro foi vaiado novamente ao defender um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), sem detalhar suas bases, para evitar a volta da inflação.

"Com atitudes de João valentão, de "abaixo FMI" e "fora FHC", teremos de volta a inflação", disse.
Durante o debate, o candidato disse que está sendo comparado ao ex-presidente Fernando Collor porque fere "interesses do sistema financeiro".

Adversários do candidato, especialmente os tucanos, têm apontado semelhanças entre Ciro e Collor.
"Eu era o garoto prodígio da política, agora tentam me fazer um novo Collor porque estou claramente ferindo os interesses do setor financeiro brasileiro, que sempre ganhou tudo", disse Ciro.

Ele defendeu a autonomia das universidades, o fim do vestibular (que seria substituído por uma avaliação durante o segundo grau) e o tratamento diferenciado para usuários de drogas, mas se disse contra mudanças na legislação para evitar "contemporização com o narcotráfico".

Ciro atribuiu ao "candidato oficial" (numa referência ao tucano José Serra) informações de que ele iria acabar com as contas CC-5 (usadas para enviar dinheiro para o exterior). Disse ainda que, se for eleito, não privatizará os bancos oficiais.

No final da tarde, depois de se reunir com autoridades da França e do Chile, Ciro fez caminhada na área central de Brasília e participou de comício com candidatos do PPS do Distrito Federal.

A reportagem da Folha pediu à assessoria de Ciro que o candidato respondesse sobre as contradições do candidato em declarações recentes. A assessoria recomendou que a Folha procurasse as respostas na página do candidato na internet.


Justiça mantém aliança entre PPS e Collor em AL
A coligação entre o PPS do presidenciável Ciro Gomes e o grupo de partidos que sustentam a candidatura do ex-presidente Fernando Collor de Mello (PRTB) ao governo de Alagoas foi mantida ontem pelo Tribunal Regional Eleitoral do Estado.

Em decisão assinada pelo juiz Fernando Tourinho de Omena Souza, o TRE-AL frusta a tentativa do PPS nacional de anular a união com Collor tomada por sua seção alagoana. Isso representa uma derrota para a Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT), que procura insistentemente se desvencilhar de comparações entre o ex-presidente e Ciro Gomes.

O PPS alagoano aprovou a coligação com a chapa de Collor sob o argumento de que sozinho não elegeria nenhum deputado.

Na decisão, o juiz argumenta que a decisão não fere nenhuma resolução do partido.

"Acredito que, pelas condições do indeferimento, não há mais motivo para fazer prosperar isso o processo sofrer recursos". É uma coisa que, juridicamente, não tem mais nenhum futuro", disse o presidente do PPS-AL, Anivaldo de Miranda Pinto.

O presidente do PPS, senador Roberto Freire, anunciou ontem que recorrerá da decisão ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O prazo para recurso é de três dias.

Freire estava ao lado de Ciro, em Brasília, quando foi informado sobre a decisão do TRE-AL. Disse que o candidato reagiu com tranqüilidade. Freire já tem preparado o argumento que vai usar no TSE: "Vamos dizer que a direção nacional do partido não quer essa aliança por definição política referendada por todos os diretórios".


PTB ameaça pedir CPI das privatizações
O PTB pretende colher assinaturas para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar a destinação dos empréstimos externos recebidos pelo Brasil e do dinheiro obtido com as privatizações.

A CPI, que não tem chances de ser instalada, seria uma forma de os aliados de Ciro Gomes protestarem contra a divulgação de documentos que responsabilizariam o presidente licenciado da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PTB), candidato a vice de Ciro, por supostas irregularidades no uso de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador.

Segundo alguns integrantes da Frente Trabalhista, a documentação foi vazada pelo ministro Pedro Parente (Casa Civil) com o objetivo de prejudicar Ciro.

Parente teria requisitado a documentação à Controladoria Geral da União e depois repassado a integrantes do primeiro escalão da campanha de José Serra. Anteontem, o Ministério do Trabalho divulgou nota isentando a Força Sindical de irregularidades na aplicação de recursos do FAT.

No Rio Grande do Sul, Ciro está superando um dos principais entraves de sua aliança: o PTB e o PDT gaúchos estão próximos de aderir à candidatura de Antônio Britto (PPS) ao governo. No início da campanha, a resistência do presidente do PDT, Leonel Brizola, a Britto quase rachou a aliança.


Artigos

Já quebrou
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - O Brasil quebra hoje, amanhã ou nunca? Essa discussão seria engraçada se não escamoteasse um fato simples: o Brasil já quebrou.

Um país que está entre as 12 maiores economias do mundo, mas é apenas o 73º em desenvolvimento humano, já quebrou.

Um país em que foi recortado, pela violência, o direito constitucional de ir e de vir já quebrou.

Um país em que o crime organizado toma casas, umas após as outras, dos legítimos proprietários, aos quais, em vez de justiça, resta a fuga, já quebrou.

Um país em que a média de escolaridade de pessoas acima de 15 anos é de 4,9 anos, contra 8,8 anos de uma Argentina, esta, sim, reconhecida como quebrada, já quebrou.

Já quebrou um país em que a concentração de renda só não é superior à de países reduzidos a molambos, como Suazilândia, República Centro-Africana e Serra Leoa.

Por que tão pouca gente diz a verdade e reconhece que o país já quebrou? Simples: fomos todos condicionados pela ditadura do pensamento único, implantada no planeta nos últimos dez ou 12 anos, a raciocinar só em termos contábeis.

O que importa é o superávit fiscal, a balança comercial, o balanço de pagamentos. Que são importantes, não se duvida. Mas serão mais importantes do que as pessoas?

Aí, vai-se ao Fundo (Monetário Internacional) e todo o mundo passa a dizer que é a salvação da lavoura, evitará que o país quebre. Tá bom. O FMI está anunciando que o acordo com o governo prevê um pacote de US$ 30 bilhões.

Ótimo. Mas será devolvida uma só das casas tomadas pelo narcotráfico? Uma única criança mirrada e esfarrapada será retirada dos cruzamentos onde esmola?

Se a resposta é não para essas perguntas e para tantas outras correlatas que é possível fazer, então o Brasil quebrou, por mais que o Tesouro da República possa ser salvo.


Colunistas

PAINEL

SOS internacional
Se o acordo com o FMI acalmar a economia, Serra grudará em FHC, dizendo que ele enfrentou três crises e manteve o país no eixo. Caso a situação continue ruim, terá uma alternativa: desgarrar-se de FHC. Mas ele próprio admite que o Plano B teria pouca eficácia.

O último que apague a luz
O PFL paulista deu um ultimato ao PSDB: se não cumprir "os compromissos de campanha", a maioria do diretório passará a apoiar Ciro para presidente e Maluf para governador.

Telefone sem fio
O PFL-SP reclama que não recebeu material de campanha prometido pelos tucanos. Segundo dirigente do diretório do partido, Romeu Tuma tentou sem sucesso por cinco vezes falar com Serra. A resposta foi sempre igual: "Ele liga já, já".

Língua queimada
Comentário de Ciro na Folha de 4 de outubro de 90: "Na área econômica, Collor em vários aspectos está fazendo o que é certo. No campo político, porém, está se aliando ao que existe de pior. Ao apoiar ACM, Maluf e outros políticos tradicionais, pode estar cavando a sua cova".

Sugestão de pacto
Na reportagem, então candidato ao governo do Ceará, Ciro defendeu que o PSDB ajudasse o governo Collor a "caminhar cada vez mais numa direção melhor". Ao comentar a derrota de Covas na eleição daquele ano, sentenciou: "Covas entrou pelo cano porque é contra Collor".

Cara à tapa
Geraldo Alckmin (PSDB) vai, enfim, aparecer em outdoors ao lado de Serra em São Paulo. Os painéis devem ser exibidos já a partir desta semana.

Estratégia de marketing
A última mudança de Serra no programa de governo lançado ontem foi na parte econômica. Em vez da proposta detalhada, publicou o discurso que fez em março no CE, onde defendeu o tripé das "responsabilidades cambial, monetária e fiscal".

Salto alto
Aécio Neves (PSDB) era o único candidato a governador de Minas Gerais a não ter confirmado, até ontem, sua presença no debate da TV Bandeirantes de domingo em BH.

Carnaval paulistano
Marta (SP) continuará enforcando as sextas para pedir voto a Lula. A prefeita fechou com o PT agenda de amanhã na Baixada Santista, onde irá, por exemplo, a uma escola de samba.

Fim de semana prolongado
Marta esteve na sexta passada na BA. No dia 16, uma sexta, deverá ir a MG. No dia 23, ao RS.

Ego feminino
Lula não sabe o que fazer para melhorar seu desempenho no eleitorado feminino (onde cai dos 40% entre os homens para 27%). Além de elogiar todas as apresentadoras de TV, promoverá um encontro com mulheres no dia 17 de agosto e organizará, em setembro, o "dia lilás".

Gol contra
O Fluminense, time do coração de Pedro Malan (Fazenda), está há três meses com salários atrasados. O ministro disse, anteontem, que "o Brasil dará certo como o Fluminense".

Terror econômico
Para atacar a política de empregos de Alckmin, Maluf, em entrevista na semana passada, disse que a Tilibra estava "saindo" de Bauru. A empresa, há 73 anos na cidade, publicou nota dizendo que é tudo mentira.

Guerra de slogan
Malufistas rebateram o slogan de Alckmin "São Paulo de cara limpa". Acrescentaram a expressão "e de cabeça vazia".

Excesso de passageiros
O Ministério da Justiça assinará convênio com as empresas aéreas e o Procon que prevê indenização aos passageiros e multa em caso de overbooking.

TIROTEIO

De Mercadante (PT), sobre José Aníbal (PSDB) ter dito que ele faz terrorismo econômico:
- É o único que achava que não haveria acordo com o FMI antes da eleição. A crise é grave, o país precisa de apoio internacional e de um governo que enfrente a crise que provocou.

CONTRAPONTO

Teatro financeiro
O candidato petista ao governo de São Paulo, José Genoino, visitou ontem a Bolsa de Valores de São Paulo. Repetiu o que presidenciável do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, havia feito na última segunda-feira.
Depois de ser recebido com um café da manhã pela diretoria da Bolsa, Genoino quis dar uma volta pelo salão do "pregão", onde os operadores circulam comprando e vendendo ações.

Logo que entrou no salão, o candidato petista apertou o passo, misturou-se aos operadores, entrou no empurra-empurra e fingiu trabalhar na Bolsa.

- Compra! Vende! - gritava o candidato.

Dez minutos depois, bastante suado, Genoino resolveu ir embora. Na saída, foi cutucado por um dos diretores da Bolsa, que disse empolgado ao seu ouvido:
-- Foi formidável! O senhor precisa dar algumas aulas para o José Serra.


Editorial

EM BOA HORA

Finalmente foi anunciado o acordo do governo brasileiro com o FMI, permitindo um financiamento adicional de US$ 30 bilhões, com desembolso em dois momentos. O programa, negociado no período de uma semana, confirma a mudança na postura da administração do presidente George W. Bush e das instituições multilaterais no financiamento dos países emergentes que enfrentam restrições temporárias de recursos em moeda forte.

O pacote chegou em boa hora. A restrição de crédito externo já estava atingindo grandes empresas privadas. A Eletropaulo Metropolitana, que distribui energia elétrica na cidade de São Paulo e em outros 23 municípios, não conseguiu rolar seus compromissos externos que vencem no fim do mês. Ela teve de apresentar uma proposta de reestruturação de títulos em eurobônus. Outras empresas, com elevado endividamento em dólar, poderiam seguir a mesma trajetória dada a aversão ao risco dos investidores estrangeiros.

O acordo com o Fundo garante mais US$ 6 bilhões ainda neste ano e reduz o piso das reservas, o que dá ao Banco Central o poder de gastar mais US$ 10 bilhões para garantir a liquidez no mercado de câmbio. O piso para o ajuste fiscal (3,75% do PIB) se mantém o mesmo até 2005.

O alvo do anúncio, tanto pelo seu "timing" como por suas cláusulas, é um só: estimular a retomada das linhas de crédito privadas ao Brasil. O acordo "dará certo" se, e somente se, for alterada a expectativa dos investidores internacionais sobre a economia brasileira. Não será um bom sinal, nesse sentido, se o Banco Central tiver de voltar a intervir pesadamente no mercado à vista do dólar- se o nível das reservas se aproximar do limite de US$ 5 bilhões.

O acordo com o Fundo embora custoso para o nível de atividade, a renda e o emprego- pode ser uma ferramenta eficaz de transição. Para isso, precisa haver uma combinação entre um ambiente externo menos desfavorável (o que não depende apenas das expectativas em relação ao Brasil, mas também da trajetória da economia norte-americana) e uma condução macroeconômica atenta das autoridades brasileiras. Registre-se que a transição brasileira só se completará quando o país se mostrar capaz de produzir saldos comerciais volumosos e crescentes.

Ainda há riscos. Mas as perspectivas para o Brasil indubitavelmente melhoraram com o socorro do FMI.


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08/08/2002


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