Lula promete governo de diálogo
Lula promete governo de diálogo
Candidato do PT disse ontem que vai incentivar a produção mas quer todos os setores nas negociações
O candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu, ontem, em seu programa de rádio, no horário eleitoral gratuito, que fará um governo de diálogo. Lula disse que haverá paz, responsabilidade e democracia como "nunca se viu neste país".
"Quero fazer um governo de união nacional, sem mágoas e sem rancores", disse ainda o candidato petista, lembrando que, como sindicalista, sempre foi um negociador.
O candidato petista reiterou sua promessa de honrar todos os compromissos do país, e enfatizou que alguns de seus principais objetivos são impulsionar o crescimento econômico, aumentar as exportações e baixar as taxas de juros.
Lula disse que quer fazer "um governo de união nacional, sem mágoas e sem rancores" e que tem "muito orgulho do PT, que ajudou a criar com inesquecíveis companheiros, há 22 anos."
O candidato petista garantiu que vai retomar o crescimento econômico, baixar as taxas de juros e aumentar as exportações. Ele disse, ainda, que vai diminuir impostos para quem produz.
O candidato do PT afirmou que vai colocar todos numa mesa para negociar, criar novas leis trabalhistas, linhas de crédito e financiamentos.
Disputa acirrada na maioria dos estados
A sete dias do segundo turno das eleições para governador, os candidatos Germano Riggoto (PMDB/RS) e João Alves (PFL/SE) são os únicos a terem mais de 50% das intenções de voto. Nos outros estados, a disputa está mais acirrada.
No Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB) conta com 57% das intenções, e Tarso Genro (PT), 35%. Em Sergipe, João Alves (PFL), tem 51% contra 40% do petista José Eduardo Dutra.
Na Paraíba, as pesquisas revelam que o governador Roberto Paulino (PMDB) lidera com 49% das intenções de votos, enquanto Cássio Lima (PSDB) fica com 43%.
No Ceará, Lúcio Alcântara (PSDB) vem em primeiro lugar com 47% das opiniões, contra os 42% do candidato José Airton (PT). No Rio Grande do Norte, a vantagem é da candidata do PSB, Wilma de Faria, sobre Fernando Freire, do PPB. com 61% das preferências, contra 31%.
Nos estados do Sul, Álvaro Dias (PDT/PR) tem 44% dos votos contra os 43% de Roberto Requião (PMDB). Em Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira (PMDB) detém 47% dos votos. O governador licenciado, Esperidião Amin (PPB), aparece com 45%.
Em São Paulo, Geraldo Alkmin, do PSDB, lidera com 50% dos votos, e o petista José Genoíno tem 42%. No Mato Grosso do Sul, Marisa Serrano, do PSDB, com 47,3% das intenções de voto, supera Zeca do PT, que registra 43,8% das preferências.
Serra ataca administração dos petistas
O candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, não comentou o resultado das pesquisas que mostram inalterado o quadro eleitoral, com Lula somando 29 pontos percentuais à sua frente (61% a 32%, segundo o Datafolha). Mas seu programa eleitoral bateu forte nos governos estaduais administrados pelo PT.
O programa de Serra voltou a criticar a postura de Lula, "que se recusa a participar dos debates." O horário eleitoral de Serra apontou problemas da administração do PT no Rio Grande do Sul, questionando sobre o que será do País se o partido assumir a Presidência da República.
A tática de Serra para tentar reverter a vantagem petista apontou suas baterias contra Olívio Dutra, que teria sido impedido pelo PT de disputar a reeleição no Rio Grande do Sul. O programa de Serra lembrou que Olívio, o secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Sul e o chefe da Polícia Civil foram indiciados no Superior Tribunal de Justiça por suspeita de prevaricação.
Também foi lembrada uma investigação sobre o possível envolvimento entre o PT e jogo do bicho. Outra crítica sobre o governo gaúcho se deu sobre a promessa, "não cumprida", do PT em cuidar da segurança no Estado. Segundo informou o programa, o Rio Grande do Sul está em primeiro lugar na estatísticas de roubos e latrocínios.
As críticas continuaram com estatísticas citadas: a média de gastos na área social dos Estados governados pelo PT é de 16,13% contra 19,72% nos outros não governados pelo partido. Na saúde e saneamento, o PT investe 8,35% contra 9,96% dos outros Estados.
PT capitaliza doação de cesta básica
Coordenadores do programa de distribuição de cestas básicas do governador de Mato Grosso do Sul, José Orcírio, o Zeca do PT, têm feito reuniões com moradores pobres nos bairros de Campo Grande para pedir votos a Luiz Inácio Lula da Silva e Zeca, candidato à reeleição. O programa distribui 60 mil cestas por mês.
Houve pelo menos 14 reuniões em dois dias da semana passada. O jornal Folha de São Paulo acompanhou uma dessas reuniões na última quarta. A platéia é formada por cerca de 60 mulheres, muitas delas com crianças no colo, e quatro homens. Todos ouvem a palestra com atenção e alguns apertam na mão títulos de eleitor e carteiras de identidade.
No centro da roda, no quintal de uma casa de três cômodos na periferia de Campo Grande, a psicóloga Isabel Fernandes Alvarenga, 47, discursa: "Dia da eleição, é 13. É fácil, não é mais complicado. Aperta o botão verdinho, põe 13 de novo, aperta o verdinho. Só. Ninguém vai saber em quem vocês votaram."
A palestrante não é uma simples militante do PT. Coordena em Campo Grande o Programa de Segurança Alimentar do governo, que distribui mensalmente 60 mil cestas básicas. O grupo começou a chegar às 13h. Durante toda a manhã, pessoas passaram em casas do bairro Monte Castelo para chamar moradores "para fazer o cadastro e ter direito a uma cesta básica".
42 milhões têm dinheiro a receber
Quem comprou carro ou abasteceu entre 1986 e 1989 tem alguma quantia a receber do governo
Se você tem mais de 35 anos, deve se lembrar do antigo fundo 157, criado ainda durante a ditadura militar. Se você nasceu no início da década de 90, não chegou a conhecer os empréstimos compulsórios que o governo Sarney impôs sobre automóveis e combustíveis. Taxas que o brasileiro pagou com a promessa de receber de volta depois. Mas a maioria da população até hoje ainda não viu a cor do dinheiro. Essa lista inclui ainda o confisco do governo Fernando Collor e os expurgos do Fundo de Garantia.
Contabilizar quantas pessoas podem receber o dinheiro de volta é tarefa complicada. Apenas para se ter uma idéia, cerca de 42 milhões de brasileiros têm direito ao FGTS e ao saldo do fundo 157 (num total de quase R$ 43 bilhões). Mas esse contingente é muito maior. Atinge também todos aqueles que abasteceram o carro entre os anos de 1986 e 1988. Ou que compraram automóvel de 1986 até 1989. Boa parte da população tem alguma quantia para receber e não sabe.
O caminho das pedras para resgatar esse dinheiro é tortuoso. Receita Federal, Banco Central e BNDES empurram um para o outro a responsabilidade sobre o dinheiro arrecadado com os compulsórios. E nenhum deles sabe, ao menos, calcular quanto foi obtido ou quanto restou nos cofres do governo. "É um jogo de empurra-empurra", admite uma fonte do BNDES, que pediu para não ser identificada. Sem contar que o prazo para tentar reaver o dinheiro na Justiça já acabou.
Os dois empréstimos (que eram diferentes de impostos porque deviam ser devolvidos aos pagadores) foram instituídos em 1986, durante o governo de José Sarney. O compulsório dos veículos determinava o pagamento de uma taxa (entre 10% e 30%) sobre os veículos novos ou usados (até quatro anos) comprados a partir daquele ano. Vigorou até 1989.
Imposto surgiu para evitar inflação
O compulsório dos combustíveis, que durou até 1988, obrigava o pagamento de 28% toda vez que o motorista abastecesse o carro com ál cool ou gasolina. "De um dia para o outro, o preço final dos combustíveis aumentou cerca de 15%", conta Júlio Cezar Alves, especialista em Direito Tributário do escritório paulista De Rosa, Siqueira & Advogados Associados.
De acordo com o decreto-lei 2.288, que criou os dois compulsórios, os recursos obtidos seriam destinados a um Fundo Nacional de Desenvolvimento (FND, criado pelo mesmo decreto). Além de aumentar a arrecadação, o objetivo dos empréstimos era absorver o excesso de poder aquisitivo.
Existia o risco de a inflação (na época em 30%) aumentar porque havia muito dinheiro em circulação, ao mesmo tempo em que a quantidade de mercadorias para consumo era pequena. Essa foi a forma que o então presidente encontrou para evitar uma disparada dos preços.
Segundo a legislação, o consumidor teria direito a receber de volta os compulsórios três anos após tê-los pagos. No caso dos combustíveis, o governo exigiu, durante algum tempo, que o consumidor apresentasse os comprovantes de compra para poder fazer o resgate. Criou-se o hábito de colecionar notas fiscais dos postos de abastecimento. O economista Miguel Ribeiro de Oliveira conta que guardou os comprovantes durante oito meses, mas depois desistiu e jogou tudo fora. "Poderia ter tentado o processo judicial, mas ficaria muito caro para reembolsar um valor inexpressivo, não valeria a pena", recorda-se.
Durante mais de dois anos, a Receita Federal ficou encarregada de elaborar planilhas que determinavam quanto um carro consumia a partir do número de cilindradas. Essas tabelas também eram usadas para cobrar os consumidores. Mais tarde, o governo deixou de exigir a apresentação das notas para quem quisesse pedir o dinheiro do empréstimo de volta e passou a cobrar apenas o documento de propriedade do veículo ou o IPVA.
Ações contra compulsório
Em 1992, o Governo Federal encaminhou um projeto de lei ao Congresso sugerindo que os compulsórios fossem devolvidos em moeda (não mais em quotas do FND). Porém, esse projeto foi vetado no ano seguinte. Em 1995, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucional a cobrança dos empréstimos. A partir dessa data, quem desejasse poderia, num período de até cinco anos, tentar resgatar o que pagou. Na prática, a decisão do STF representava uma segunda chance para reaver o dinheiro, pois o prazo para recurso à Justiça havia prescrito em 1993.
Contudo, foram decisões pouco divulgadas, o que explica o pequeno número de pessoas que entraram com ação na Justiça. No Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, existem apenas 130 ações ajuizadas contra o compulsório dos combustíveis.
Desde a decisão do STF, as instituições federais procuram se esquivar da responsabilidade sobre o FND e, portanto sobre o dinheiro dos compulsórios. Em nota divulgada em 1996, a Receita Federal se eximia de qualquer responsabilidade. "Nesse caso, a competência voltaria ao BNDES, gestor do FND, não competindo à Receita Federal nenhuma providência quanto à matéria", diz um trecho da nota. Mais adiante, a nota sugere que todos os pedidos de restituição dos compulsórios fossem indeferidos por conta da decisão do Senado de suspender o artigo do decreto-lei 2.288 que especificava como seria feita a devolução dos compulsórios.
Ninguém assume dívida
Como as demais instituições, também o BNDES emitiu um parecer jurídico no qual tentava escapar da responsabilidade sobre os ompulsórios. O parecer cita que. como os empréstimos foram considerados inconstitucionais, o Banco passaria a ser um "mero aplicador" dos recursos do FND. E a responsabilidade sobre o dinheiro seria do Tesouro Nacional, especificamente Banco Central e Receita Federal. Segundo a fonte do Banco (que pediu para não ser identificada), ambos seriam responsáveis por 80% do que fora arrecadado com os compulsórios. O restante estaria aplicado no FND, sendo utilizado, atualmente, em projetos de desenvolvimento econômico, principalmente investimentos em micro, pequena e média empresas.
A assessoria do BC se limitou a dizer que esse assunto não era competência da instituição e repassou a responsabilidade para a Receita. Nem sempre o governo consegue evitar a obrigação de devolver o que o brasileiro pagou a mais. Mas procura adiar ao máximo esse pagamento. Assim foi o caso do confisco logo no início do mandato de Fernando Collor, em 1989. Os saldos de contas-correntes, poupanças e aplicações ficaram indisponíveis aos donos. A justificativa na época era de que, embora fosse uma medida extrema, o dinheiro confiscado seria usado em programas de desenvolvimento do País. A duras penas, conseguiu-se a promessa de que, 18 meses depois, os brasileiros receberiam o dinheiro do confisco de volta. Mas só que dividido em seis parcelas. E com muita burocracia a ser cumprida antes disso.
R$ 312 mihões à sua espera
Resíduos do Fundo 157, extinto em 1983, continuam à espera de resgate. CVM pode informar onde está o dinheiro
Nada menos que R$ 312 milhões estão esquecidos nos fundos de ações de vários bancos brasileiros. O dinheiro veio dos antigos Fundos Fiscais de Investimentos em Ações, chamados apenas de Fundos 157, criados em fevereiro de 1967 pelo Decreto-Lei 157, número que passou a identificar as carteiras.
Os Fundos 157 foram criados com três objetivos básicos: educar o investidor para a renda variável, capitalizar empresas privadas nacionais e criar um fluxo de recursos estável para o mercado de ações. O investidor podia aplicar em ações parte do que pagava de Imposto de Renda (IR). Mas os papéis mais líquidos ficavam de fora. Só era permitida a aplicação em ações de "segunda linha", com menor volume de negócios, justamente para tentar aumentar a liquidez dos papéis.
O sucesso dos 157 foi imediato. Mas em outubro de 1983, eles foram extintos. No mesmo ano, os recursos que estavam nestas carteiras, espalhados pelos diversos bancos, foram transformados em fundos mútuos de ações ou absorvidos pelas carteiras de renda variável já existentes nas instituições, segundo determinação do Conselho Monetário Nacional (CMN) pela Resolução 1.023.
O problema para os cotistas começou aí, pois o dinheiro dos 157 foi misturado às novas aplicações ou aos fundos que os bancos já tinham. Além disso, o prazo de resgate das cotas e o percentual que podia ser investido foi modificado várias vezes de 1967 a 1983. A carência chegava a 10 anos. Assim, muitos cotistas morreram, mudaram de endereço ou até mesmo esqueceram das aplicações. Em vários casos, os bancos faliram ou foram comprados por outras instituições e o dinheiro foi junto. Este é o caso da assessora de imprensa de um banco internacional, que prefere não se identificar. Ela aplicou nos Fundos 157 por quase três anos, do início de 1980 até o final de 1983, quando eles foram extintos.
A jornalista tinha conta no Bamerindus, que foi posteriormente comprado pelo inglês HSBC. No começo, ela recebia extratos, que depois pararam de chegar. As mudanças de moedas e de cortes de zeros no dinheiro levaram a assessora a perder a conta de quanto tinha aplicado. Só na última semana é que ela resolveu ir atrás do dinheiro. Ligou para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e disse que as explicações foram "muito satisfatórias". O mais curioso, segundo ela, é que a CVM alertou que muitos gerentes de bancos, por serem jovens, não sabem o que são Fundos 157.
Valores podem surpreender
Segundo Marcelo de Sampaio Marques, superintendente de proteção e orientação ao investidor da CVM, existem três milhões de cotistas que ainda não resgataram os R$ 300 milhões esquecidos nos bancos. Este número, porém, leva em conta todas as contas que o investidor tinha, ou seja, se uma mesma pessoa aplicava em dois Fundos 157, ela é contada duas vezes.
Segundo José Costa Gonçalves, diretor da Multistock Corretora, a maior dificuldade para encontrar os recurs os é que cada investidor aplicava pequenas quantias nos 157, em torno de US$ 60 por ano.
Para Marques, da CVM, os Fundos 157 eram uma alternativa muito interessante de aplicação, pois o investidor aplicava o que iria pagar de IR. O dinheiro, contudo, acabou indo mais para o mercado do que para as empresas. Segundo números da CVM, de 1975 a 1983, 53% dos recursos aplicados ficaram no mercado secundário e os 47% restantes para a subscrição de novas ações. "O ideal seria que fosse o contrário", diz Marques.
A CVM prefere não divulgar a quantia que cada banco tem, mas segundo levantamento feito em março de 2000, as instituições com o maior volume de recursos eram Itaú, Bradesco, Unibanco e BankBoston. Naquele ano, havia 3,76 milhões de cotistas espalhados em 30 instituições financeiras. Os quatro bancos foram procurados para esclarecimentos. Nenhum deles quis comentar o assunto.
Marques diz que várias pessoas procuram a CVM atrás do dinheiro. Muitas delas têm quantias irrisórias; outras têm valores expressivos. Segundo ele, sempre que os Fundos 157 aparecem na mídia, aumenta o número de cotistas que procuram a CVM. O melhor caminho para quem está interessado em saber o que aconteceu com os recursos aplicados é procurar a CVM no telefone 0800-241616 ou pelo endereço eletrônico
Lojas seguram preços para garantir as vendas
Grandes redes se dizem dispostas a reduzir margem de lucro para não afugentar consumidor
Para garantir as vendas neste fim de ano, grandes redes varejistas se dizem dispostas a abrir mão de parte das margens de lucro e absorver os possíveis aumentos de preços que forem negociados com fornecedores, evitando assim o repasse para o consumidor. A estratégia é compensar a redução no lucro com o aumento no volume de vendas.
A Casas Bahia, maior rede de varejo de eletroeletrônicos e móveis do País, por exemplo, anunciou que vai assumir o ônus de todos os aumentos de preços e de juros que vierem a ocorrer até a transição para o novo governo. O diretor administrativo-financeiro da empresa, Michael Klein, avalia que uma equipe de transição deverá tomar medidas capazes de controlar o câmbio e baixar os juros. Até lá, ele diz que as taxas de juros cobradas pela rede serão mantidas em até 4,5% ao mês, embora bancos já tenham sinalizado uma alta de 0,5 ponto porcentual no custo do dinheiro.
Por enquanto, a Casas Bahia tem produtos em estoque que foram comprados sem reajuste de preços. Mas os fabricantes de eletroeletrônicos, que dependem de insumos importados e de crédito ao consumidor, pressionam por aumentos de preços de 30%. Para forçar o repasse dos custos, empresas do setor estão ajustando a produção para baixo.
Na mesa de negociações, no entanto, eles estão tendo de se contentar com bem menos. O supervisor-geral da Lojas Cem, Valdemir Colleone, conta que a rede tem conseguido negociar com a indústria o fornecimento de produtos com reajustes entre 3% e 5%. Dessa forma, a Lojas Cem vem mantendo estoques para mais de 60 dias de vendas.
"Não temos intenção de fazer nenhum repasse para preços, o momento é de sacrifícios", diz Colleone. Para ele, qualquer aumento de preços nesta altura comprometeria ainda mais as vendas, que já estão fracas por causa dos efeitos negativos da alta do dólar e das restrições ao crédito. "Estamos aguardando uma definição do quadro eleitoral para tomar medidas definitivas. Se o candidato que for eleito conseguir acalmar o mercado, vamos conseguir manter os preços."
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab, alega que as empresas do setor já não têm mais como absorver os aumento de custos. "Já chegamos ao nosso limite e se não houver um ajuste mínimo nos preços vamos fechar mais um ano no vermelho." Segundo ele, o aumento de custos no setor chega a 36% neste ano.
Brinquedos estão 6% mais caros
No setor de brinquedos, a situação não é diferente. Na semana passada, os fabricantes do setor comunicaram ao varejo que os preços de seus produtos estavam em média 6% mais caros, informa o diretor comercial da rede PBKids, Carlos Eduardo Cimerman. Da mesma forma que as grandes redes de varejo de eletroeletrônicos, o diretor da PBKids diz que a empresa não tem planos de repassar o aumento de preços para o consumidor.
Segundo ele, a rede tem condições de assimilar o impacto do aumento de cinco pontos porcentuais nos custos sem prejudicar sua lucratividade. Mas para isso, conta com o aumento nas vendas no Natal, o que deverá ser possível caso a transição para o novo governo seja tranqüila.
O presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista Costa, não está tão otimista. Por causa do aumento nos juros, ele diz que as projeções de vendas da indústria para o Natal foram revistas de um crescimento de 12% para cerca de 4%.
Já a Lojas Riachuelo, que atua no setor de artigos de vestuário, aposta num aumento de 20% das vendas do último trimestre em relação a igual período do ano passado. Segundo o vice-presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, desde o início deste ano o crescimento das vendas está na casa de dois dígitos. A Riachuelo, que é controlada pela Confecções Guararapes, não teve dificuldades para negociar encomendas para o Natal sem aumentos de preços. Mas enfrenta pressão dos fornecedores de embalagens, que querem aumentos de até 40%.
Segundo Rocha, o desempenho da rede melhorou bastante este ano porque o índice de inadimplência voltou ao patamar histórico de 3,5% das vendas, depois de ter chegado a 4,5% no ano passado. Hoje, cerca de 80% do faturamento da rede é obtido com o uso de cartão de crédito próprio.
Exija desconto ao quitar dívida
Na hora de quitar antecipadamente aquele empréstimo ou financiamento, um impasse: o banco ou financeira não quer dar nenhum desconto ou oferece um desconto muito inferior ao que você calcula ter direito. Você tem direito ao desconto, mas é importante saber de quanto.
Quem fez um financiamento de R$ 20 mil com juros de 20% ao ano (1,53% ao mês) para pagamento em 24 meses terá prestações de R$ 1.002,07 por mês. Se decidir quitar antecipadamente a dívida, não deve simplesmente pegar o juro mensal de 1,53% e multiplicar pelos meses restantes. Isso porque os juros não incidem igualmente sobre todas as parcelas. O que se faz é aplicar uma fórmula que permite que as parcelas sejam iguais, embora sobre cada uma delas o peso dos juros seja diferente.
Artigos
Motivos para desconfiar
José Luiz oliveira
Se é verdade que se conhece o morador pelo cuidado e zelo que dispensa à casa, não será nenhum exagero afirmar que nossos políticos estão com nota zero em todos os conceitos. Passados 15 dias do primeiro turno, ainda há propaganda de candidatos a deputado federal e distrital espetadas nas grimpas dos postes. Tiveram colaboradores, pagos ou não, para elevar cartazes e banners às alturas, mas não se preocuparam com a elevada tarefa de limpar a cidade após o pleito.
Alguém poderá dizer (e os políticos certamente dirão) que este é um assunto menor, já que o próprio TRE assumiu a operação de retirada do lixo eleitoral, juntamente com os órgãos oficiais de limpeza pública. Mas este não é um assunto banal. Até porque a lei eleitoral determina que o candidato tem de retirar a propaganda no prazo de 30 dias. Mas como a lei não prevê multa nem qualquer outro tipo de punição, nenhum candidato a cumpre. Sem meios eficazes de pressão, restou à Justiça colocar a mão na massa. E como utiliza mão-de-obra, veículos e combustível do governo, é o contribuinte, em última análise, que financia tudo isso. Os políticos sujam e os eleitores pagam para limpar. Muito bonito...
O que mais causa repulsa nesse processo é a constatação de que a lei não serve p ara nada. Não passa de mero enfeite no jogo eleitoral que, pelo menos aqui no Distrito Federal, tem sido de caneladas e inumeráveis gols contra, tantos os problemas com a votação e a apuração.
Que belo exemplo nos dão estes futuros legisladores! Que legado extraordinário deixarão aos adolescentes que estão despertando para a política! Ignoram a lei, logo eles, porque ela não prevê punição. Temos, pois, eleitores e futuros eleitores, carradas de motivos para desconfiar que uma vez no parlamento, estes senhores vão legislar em causa própria. O que não é nenhuma novidade, diga-se.
Houve um pleito, e não muito distante, em que candidatos de todo o País receberam pesadas multas por propaganda irregular. Ninguém pagou. A primeira coisa que fizeram depois da posse foi aprovar uma lei de anistia. Assim é fácil. Fazem a farra, passam uma borracha em cima e fica por isso mesmo.
Enquanto perdurar esta postura execrável, serão em vão todas as tentativas para colocar o País no eixo ético, serão inúteis todos os esforços para restaurar a solidariedade e o respeito pelos bens públicos. Enquanto o exemplo não vier de cima, não teremos o direito de sonhar com um País melhor, socialmente justo e sem a dor de tanta violência. Enquanto nossos políticos torcerem o rosto para as leis, nossos motoristas não vão respeitar os limites de velocidade, os pedestres não vão atravessar na faixa e o trânsito vai continuar matando milhares todos os anos.
Colunistas
CLÁUDIO HUMBERTO
Governo privilegia a arapongagem
Em 2002, o governo Fernando Henrique liberou apenas 27,8% dos R$ 338,6 milhões do Fundo Nacional de Segurança Pública, que foi criado para financiar programas de aquisição de viaturas e armas e para treinar policiais. Sem investimentos, o combate ao crime ficou mais difícil. A única área que teve a quase totalidade dos recursos foi a dos arapongas: as "Operações de Caráter Sigiloso" recebem 95,9% das verbas previstas.
Aos bancos, tudo
Até 11 de outubro, o Brasil pagou aos bancos R$ 44,1 bilhões só a título de "Juros e Encargos da Dívida", segundo extrato da Execução Orçamentária em poder da coluna, e aplicou apenas R$ 1,7 bilhão em investimentos. E Pedro Malan ainda se irrita quando criticam o aumento da taxa de juros...
Está provado
Se promessas pagassem dívidas, nenhum candidato ficaria quebrado depois de uma campanha eleitoral.
Hábito antigo
Duda Mendonça acostumou mal os seus clientes do PT. Quando reuniu a cúpula do partido – Lula incluído – para apresentar a campanha prestes a estrear na TV, o marqueteiro abriu garrafas do champanhe francês Cristal. Dependendo do tipo, cada uma pode custar até R$ 1,5 mil.
Desconstruindo Nélson Rodrigues
Com o adversário marcando 65% nas pesquisas, só Serra não vê o óbvio lululante.
Saúde na lona
O ministro Barjas Negri já não sabe o que fazer: depois da saída de Platão Fischer Puhler, o Departamento de Programas Estratégicos do Ministério da Saúde – que era um dos mais organizados – paralisou. O órgão está a zero: não tem dinheiro para cumprir programas de prevenção e combate a doenças. O futuro governo vai encontrar o ministério desabastecido.
De papo com Bill
A amigos, Fernando Henrique sempre se refere com orgulho às freqüentes conversas telefônicas com o ex-presidente americano Bill Clinton, por quem nutre grande admiração. Já pelo atual, George (hic!) Bush, o presidente brasileiro não tem o menor respeito. Acha-o truculento e despreparado.
Pensando bem...
...a menos de uma semana da eleição, a vitória de Lula parece caso "enserrado".
Contra servidores
O site servidor.gov.br, dedicado ao funcionalismo, não dá boas notícias sobre os servidores federais, é feio e ignora as mensagens que recebe. Pudera: é administrado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que há oito anos nega reajuste aos trabalhadores do governo.
Cravo e ferradura
O prefeito de Presidente Prudente (SP) Agripino de Oliveira Filho, que há meses ameaçou receber à bala uma caminhada do MST liderada por José Rainha, agora apóia Lula para presidente e José Genoíno ao governo paulista. Seu filho, deputado Paulo Lima (PMDB), está com Serra e Alckmin.
Mudanças históricas
Já se foi o tempo em que o poder na América Latina vinha dos quartéis. Agora vem é dos cartéis mesmo.
Deformando geral
No último Enem, provão do Ensino Médio, produziram-se pérolas que fariam Regina Duarte ter medo da Educação dos anos FhC. O tema da redação era: "A TV forma, informa ou deforma?" Uma das respostas: "A TV deforma a coluna, os músculos e o organismo em geral". E a cabeça, faltou dizer.
Ao trabalho
Seja quem for o presidente eleito, os atuais membros do Congresso Nacional serão convocados para trabalhar entre 6 de janeiro e 14 de fevereiro, véspera da posse dos novos deputados e senadores.
Sem pai, nem mãe
Lideranças do Judiciário estão órfãs com as derrotas de Bernardo Cabral (AM) e Ibrahim Abi-Ackel (MG). Há anos os dois eram os principais interlocutores dos magistrados no Congresso, no projeto de reforma do Judiciário. Eles agora se aproximam do deputado eleito Sigmaringa Seixas (PT-DF), advogado muito ligado ao ministro Sepúlveda Pertence, do STF.
Mistério iraquiano
Só agora se sabe por que Saddam Hussein não aceitou debate com ele mesmo, na campanha para o governo iraquiano. Ele não gostou do espelho.
Impasse perigoso
O secretário estadual de Saúde do Rio, Leôncio Feitosa, terá que explicar na Justiça a quebra do acordo para dar o Interferon Peguilado a doentes de hepatite C. O fornecedor cumpriu sua parte na negociação intermediada pelo Grupo Otimismo, mas a secretaria não pagou a dívida, e agora 280 pacientes terão que arcar com R$ 3.200 mensais.
Com medo de ficar doente
Os policiais civis do Rio nunca trabalharam tanto como no governo Benedita da Silva. Mas acham que Bené exagerou: desde setembro, quem falta ao plantão por doença, com atestado e tudo, tem que trabalhar no dia seguinte. Nem que seja de maca. Parece punição, reclamam.
Poder sem pudor
A voz dos sapos
Na campanha presidencial de 1945, o deputado Último de Carvalho fazia campanha para o general Eurico Gaspar Dutra, que enfrentava o pretenso favoritismo do brigadeiro Eduardo Gomes. No interior de Minas, ele enfrentava dificuldades para convencer até um dos seus cabos eleitorais, que o convidou a ir à janela de sua casa e ouvir algo.
- Só ouço o coaxar dos sapos! - disse, impaciente.
- Até as rãs, só sabem dizer "brigadeiro, brigadeiro".
Deu Dutra.
Editorial
A RESPONSABILIDADE DE LULA
A equipe que prepara o programa econômico do Partido dos Trabalhadores deu ao mercado financeiro um sopro de otimismo ao anunciar as propostas de Luiz Inácio Lula da Silva para o mercado de ações na última quinta-feira. A simples definição de metas para uma área específica fez o dólar cair, a bolsa subir e o risco Brasil recuar.
É sinal de que os pedidos do governo e de grande parte da banca internacional para que Lula não demore a anunciar sua equipe econômica têm fundamento. Queira ou não, Lula construiu sua carreira política com um discurso de ruptura. Declarou-se várias vezes a favor da moratória e apresentou propostas refratárias ao mercado financeiro internacional. É normal, portanto, que bancos e investidores estrangeiros estejam ressabiados.
De positivo, Lula pode depreender que tem o poder de acalmar as expectativas de quem pretende aplicar dinheiro no País. E o mais importante: teve a medida da sua responsabilidade, que vai se multiplicar caso as projeções dos institutos de pesquisa se confirmem no próximo domingo.
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10/21/2002
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