MALAN DIZ QUE CRISE É SÉRIA E ACORDO COM FMI NECESSÁRIO
A crise econômica é mais profunda do que se imaginava e o país ainda conviverá com ela por um tempo, mas o Brasil vai sobreviver a essa turbulência, afirmou nesta terça-feira (dia 8) o ministro da Fazenda, Pedro Malan, durante exposição sobre o acordo do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e outras instituições financeiras, feita para os senadores da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).- Nossa crise é mais profunda do que parece à primeira vista. Os mercados financeiros estão fechados, mas a estabilidade econômica na América Latina depende do Brasil, já que o país é responsável por 40% do Produto Interno Bruto do continente. Portanto, é de interesse de todos que o Brasil sobreviva a essa turbulência, como estou seguro de que o fará - disse.Malan explicou que o protocolo de acordos do país com o FMI, o Banco de Compensações Internacionais (BIS), o Banco do Japão e o FED (o banco central norte-americano) - para obtenção de uma linha de crédito de até US$ 41,5 bilhões - foi uma necessidade, depois que o contexto internacional se tornou mais adverso, principalmente após a moratória da Rússia, em agosto deste ano. O ministro disse que a maior parte dos termos desse protocolo já fora anunciada pelo governo e pelo próprio presidente Fernando Henrique Cardoso, quando informou, na campanha eleitoral, em setembro, que o país precisaria fazer um ajuste fiscal rigoroso e reduzir seus gastos.- Esse acordo não deveria causar surpresa a ninguém. O que está no documento é o que estamos nos comprometendo a fazer. Foi com base nesse programa de ajuste fiscal, já anunciado à sociedade, que apresentamos nosso pedido de apoio à comunidade financeira internacional - observou.Para o ministro, a economia brasileira ainda é vulnerável às crises devido ao desequilíbrio "crônico" na parte fiscal. Os governos, acrescentou, vivem além de seus meios, e existe ainda o que chamou de "rigidez estrutural", ou seja, normas de gastos previstos na Constituição que comprometem os orçamentos da União, dos estados e dos municípios. Essas normas estariam sendo flexibilizadas com as reformas constitucionais, segundo o ministro.A atitude mais adequada para enfrentar a crise econômica, segundo Malan, foi o acerto desse acordo com o mercado financeiro internacional. Segundo ele, outras alternativas "teriam custos muito maiores do que essa".Para a política cambial, o compromisso acertado no memorando é um gradual alargamento das minibandas, atualmente fixadas em US$ 1,2 e US$ 1,22 (teto e piso da variação do dólar com relação ao real), informou o ministro, anunciando que em breve será feita a sexta mudança dessas bandas.As demais metas estabelecidas estão previstas até 1999. Todo o restante das metas após esse período são apenas indicativas, sujeitas à revisão e à negociação do país com o FMI, explicou. Malan frisou que o acerto com o FMI só não foi feito antes porque tanto o governo brasileiro quanto o próprio fundo não achavam necessário.- Não havia nenhum fundamentalismo religioso de nossa parte. Agora achamos que era de nosso interesse. Nossa posição é pragmática, mas sem síndromes de coitadinho, sem complexo de inferioridade - disse.Ao final de sua exposição, Malan disse que o Brasil, apesar da crise internacional, recebeu este ano US$ 23 bilhões de investimentos diretos, ficando apenas atrás dos Estados Unidos, China e França. "Seremos capazes de enfrentar turbulências, ter uma economia mais fortalecida e ser um país mais respeitável no mercado internacional", afirmou.
08/12/1998
Agência Senado
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