Malan rebate críticas de economistas tucanos
Malan rebate críticas de economistas tucanos
BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Pedro Malan, respondeu duramente às críticas à atual política econômica e industrial contidas no estudo encomendado pelo presidente do PSDB, José Aníbal, aos economistas Bresser Pereira e Yoshiaki Nakano. O documento, cujo conteúdo foi publicado por Miriam Leitão na coluna Panorama Econômico, no domingo, serviria de base para um programa de governo do candidato tucano à Presidência da República. Bresser e Nakano fazem críticas à atual política econômica, sugerem uma “política industrial agressiva” e a redução das taxas de juros em 40%.
Mesmo sem ter lido o documento, o ministro da Fazenda contra-atacou. Malan argumenta que, se fosse fácil resolver o problema do déficit público, ele já teria sido solucionado não só no Brasil como em qualquer país do mundo.
— Bastava um ato voluntarista de redução dramática da taxa de juros e pareceria, à primeira vista, a um observador desavisado, que o problema teria sido resolvido com a redução dos encargos do serviço da dívida. Infelizmente, não é assim no mundo real, como os economistas experimentados sabem ou deveriam saber — disse Malan ontem em entrevista ao "Bom dia Brasil", da TV Globo.
Sobre a falta de uma "política industrial agressiva", o ministro disse que essa expressão deveria ser esclarecida.
— O Brasil tem uma política industrial. O BNDES empresta R$ 25 bilhões a um número expressivo de indústrias, inclusive para exportação. Há o Programa Plurianual de Ação, onde se contemplam todas as prioridades do investimento e do planejamento estratégico — disse.
Aníbal diz que outros economistas serão ouvidos
Para tentar minimizar o mal-estar com a equipe econômica, o presidente nacional do PSDB, José Aníbal, garantiu ontem que Malan e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, serão chamados a dar sugestões no programa econômico do candidato tucano.
Aníbal disse que encomendou estudos de economistas e acadêmicos sobre todos os assuntos de relevância. Ele afirmou que o partido tem excelentes quadros e citou Edmar Bacha, Winston Fritsch, Dionísio Carneiro e José Arthur Giannotti. Aníbal fez questão de frisar que a visão de Nakano e de Bresser não será a que prevalecerá.
— Estamos pedindo contribuições a vários quadros do PSDB. Alguns têm visão mais convergente, outros menos. Esses estudos vão auxiliar o programa do partido. O próprio Malan é uma figura central nessa formulação. Converso muito com ele e quero conversar cada vez mais. Uma pessoa como Armínio Fraga também será essencial — assegurou Aníbal.
Cúpula do PFL trabalha para evitar polarização entre Roseana e Serra
BRASÍLIA. A estratégia da cúpula do PFL e da candidatura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, é não polarizar a disputa com o ministro da Saúde, José Serra. A ordem é não aceitar provocações de serristas mais apaixonados, como o líder do PSDB, Jutahy Magalhães (BA), ou do próprio ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann, que ontem anunciou sua decisão de se candidatar às prévias do PMDB para ter um palanque de onde possa bater em Roseana. Como tem feito nos últimos meses, a governadora vai evitar responder a qualquer tipo de provocação.
Pefelista diz que o PT é o verdadeiro adversário
O ministro da Previdência, Roberto Brant (PFL), diz que Roseana não está disposta a responder às provocações que vem sofrendo:
— Nosso adversário em comum é o PT, que sempre votou contra todas as propostas do presidente Fernando Henrique Cardoso. É lógico que pretendemos vencer. E, se vencermos, precisaremos de todos para governar. A mesma coisa acontecerá se eles (tucanos) vencerem. Serra merece todos os elogios e esperamos que eles possam ver também as qualidades da nossa candidata — disse o ministro da Previdência.
Acompanhando de longe a crise do PSDB e da candidatura Serra, a governadora tenta imprimir um ritmo mais acelerado à sua campanha a partir dos próximos dias. Os estrategistas do PFL se reúnem hoje em São Paulo para estabelecer os próximos passos da campanha e decidir como serão os novos programas de rádio e TV que serão veiculados ainda em janeiro.
Além do ministro da Previdência, participam do encontro o presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (SC), o prefeito do Rio, Cesar Maia, e o publicitário Nizan Guanaes, autor dos últimos comerciais pefelistas. O partido está concluindo os novos programas de televisão. No encontro, o PFL deverá reforçar o compromisso com Nizan, que vem sendo assediado para trabalhar na campanha de José Serra.
Partido quer deixar claro que não critica Serra
Para o ministro da Previdência, o clima de hostilidade entre o PFL e o PSDB não deve durar. A estratégia do partido é mostrar que, enquanto articuladores da candidatura de Serra tentam atacar a imagem de Roseana, ela continuará trabalhando e tocando sua agenda de governadora do Maranhão e de candidata à Presidência da República.
Mas, daqui para frente, a exemplo do que vai acontecer com Serra, tudo que tiver a participação da governadora se transformará num grande evento.
Jungmann se lança já com oposição do PMDB
BRASÍLIA. Recém-filiado ao PMDB e sem apoio interno, o ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann, surpreendeu a cúpula do partido ontem ao se lançar candidato às prévias para escolha do candidato a presidente da República, marcadas para 17 de março. Assumindo o discurso do PSDB, Jungmann anunciou que será candidato para impedir um eventual apoio do PMDB à candidatura da governadora Roseana Sarney, pré-candidata do PFL. Sua decisão recebeu duras críticas no PMDB e foi ironizada pelo PFL.
— A aliança que elegeu Fernando Henrique está no fim. Temos que construir uma nova coalizão de centro-esquerda que mantenha o comando do país. Não podemos ficar subordinados às forças liberais e de direita — disse Jungmann.
O gesto do ministro surpreendeu a cúpula do PMDB, que estava ontem em São Paulo.
— Estamos surpresos. Mas é preciso que fique claro que o PMDB não vai se prestar ao papel de atacar candidaturas de outros partidos — avisou o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP).
— A candidatura de Jungmann, do ponto de vista eleitoral, é um minifúndio improdutivo — ironizou o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL).
O objetivo de Jungmann, se escolhido nas prévias, é o de abrir negociações do PMDB com PSDB, PTB, PL, PPS e PSB para unir as forças de centro-esquerda. Isso impediria uma aliança do PMDB com Roseana.
Bornhausen prefere não comentar a candidatura
O presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen, foi seco:
— Se ele ganhar as prévias, aí eu comento o assunto.
A cúpula do PMDB ficou irritada com a decisão do ministro porque diz que ele pretende usar o partido para beneficiar o PSDB e a candidatura do ministro José Serra.
Jungmann negou que haja uma armação tucana e que sua intenção seja conseguir ser vice na chapa de Serra.
O lançamento de Jungmann foi elogiado pelo secretário-geral da Presidência, Arthur Virgílio Neto:
— A candidatura é ótima e vai contribuir muito para o nível das discussões — disse.
O pré-candidato Pedro Simon (PMDB-RS) considera a candidatura de Jungmann um reforço para a realização das prévias. Mas faz ressalvas:
— Ele entra no processo de forma negativa, pois a candidatura nasceu no Planalto.
Para os aliados do governador Itamar Franco, o gesto de Jungmann não passa de mais uma interferência de Fernando Henrique no PMDB.
Congresso critica mudanças no IR
BRASÍLIA. Parlamentares aliados e de oposição crit icaram ontem a decisão do governo de incluir o aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) paga pelos prestadores de serviço na medida provisória que regulamenta a correção da tabela de descontos do Imposto de Renda da Pessoa Física.
A medida atingirá cerca de 150 mil pequenas empresas, que vão pagar a conta da correção da tabela do IR de pessoa física. Por isso, os parlamentares ameaçam derrubar o reajuste na votação da MP no Congresso.
PMDB deve apoiar retirada de correção da tabela do IR
Embora ainda não tenha tomado uma decisão formal, o PMDB deverá apoiar a retirada. O deputado Benito Gama (BA) acusou ontem o governo de estar manchando um gesto positivo saído do Congresso.
— Foi uma maldade embutir isso em pleno recesso. De tanto lidar com sonegador, a equipe econômica está usando a mesma esperteza — criticou.
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse ontem que não teme a votação. Ele lembrou que, nas conversas com os presidentes do Senado e da Câmara e com líderes dos partidos aliados, encontrou boa receptividade à idéia.
Malan acrescentou que não está preocupado com a possibilidade de a oposição recorrer ao Supremo Tribunal Federal:
— Já houve o veto e nós anunciamos ontem, com clareza, que o governo respeitará a decisão do Congresso de corrigir a tabela do imposto de renda de pessoa física em 17,5% — afirmou Malan.
Autor do primeiro projeto de correção da tabela, o senador Paulo Hartung (PSB-ES) procurou líderes de oposição e governistas para propor a exclusão do aumento. Mas apelou para que ninguém entre na Justiça, sob pena de prejudicar os contribuintes que serão beneficiados já a partir deste mês.
— A correção estará no contracheque deste mês do trabalhador. Não podemos permitir que a tabela continue congelada — disse.
Arraes coordenará a campanha de Garotinho
O PSB escolheu ontem, em reunião no Rio, os coordenadores da campanha do governador Anthony Garotinho à Presidência da República. O presidente nacional do PSB, o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, será o coordenador político, e o vice-presidente do partido, Roberto Amaral, será o coordenador de programa de governo.
O deputado federal Alexandre Cardoso (RJ) e o prefeito de São Vicente, Márcio França, assumirão juntos a coordenação de política de alianças. O publicitário Elísio Pires, que já cuidava dos programas de propaganda do PSB, responderá pela parte de pesquisa, marketing e publicidade.
O secretário-geral do PSB, Renato Casagrande, e o primeiro-secretário do partido, Carlos Siqueira, cuidarão da coordenação de agenda, e o chefe de gabinete da Casa Civil do governo fluminense, Augusto Ariston, ficará com a coordenação administrativa. O jornalista Paulo Fona ficará responsável pela assessoria de imprensa. Casagrande também acumulará a Mobilização Partidária.
Com exceção de Arraes, todos os coordenadores participaram da reunião, que contou ainda com a presença de Garotinho. A próxima reunião será no dia 29 e contará com a presença dos presidentes estaduais do partido e dos candidatos a cargos majoritários.
Na reunião de ontem, o grupo também decidiu quais serão os próximos passos para fortalecer a candidatura de Garotinho. O governador pretende viajar para Curitiba no dia 14 de janeiro e para mais três cidades que ainda serão escolhidas.
PMs se rebelam e tomam quartéis em Salvador
SALVADOR. Uma nova rebelião de policiais militares deixou a população em pânico como na greve do ano passado, quando o Exército teve que atuar em Salvador. Os PMs tomaram pelo menos três quartéis da capital e chegaram a trocar tiros com policiais do Batalhão de Choque, que tentavam invadir um dos lugares onde os grevistas estavam aquartelados. A Polícia Civil entrou em operação-tartaruga em boa parte das 22 delegacias da Grande Salvador. O comércio, um dos setores mais prejudicados pela greve do ano passado, ficou em alerta e algumas lojas fecharam as portas.
No início da manhã o pelotão de choque recebeu ordens para invadir o 8 batalhão, responsável pelo policiamento da Cidade Baixa, onde havia 150 policiais aquartelados desde a madrugada. Além de jogar bombas de efeito moral contra os colegas, a tropa disparou tiros na tentativa de retomar o controle do quartel.
O comandante-geral da PM, coronel Jorge Luiz de Souza Santos, tranqüilizou a população afirmando que o comando não permitiria o início de uma nova greve. Ele atribuiu o movimento a interesses políticos da bancada de oposição que, segundo ele, pretende desestabilizar o governo.
O presidente da Associação de Cabos e Soldados, Agnaldo Pinto, confirmou que outros cem policiais estavam aquartelados no 5 Batalhão, no Centro Administrativo, número que representa 30% do efetivo da unidade.
Na 40 Companhia Militar de Amaralina, onde havia 20 homens encapuzados, o confronto foi contornado após negociações mediadas por parlamentares oposicionistas. No fim do dia os três quartéis tomados pelos grevistas já estavam sob o domínio do batalhão de choque. Alguns policiais que resistiram foram presos e levados para a Corregedoria da Polícia Militar, onde serão julgados por insubordinação e incitação à greve, que é proibida na corporação.
O presidente do Sindicato da Polícia Civil, Crispiniano Daltro, disse que os policiais civis aderiram à paralisação ao meio-dia, juntamente com peritos e delegados. Segundo ele, as 22 delegacias da Grande Salvador estariam atendendo apenas casos de emergência. O presidente do Sindicato dos Delegados da Bahia, Ailton Lordelo, confirmou que o trabalho nas delegacias se restringiria a registrar flagrantes e expedir guias de óbito, fato negado pelo governo.
A gota d’água para a rebelião foi a prisão, na noite anterior, de cinco soldados flagrados usando o rádio de um carro da PM para fazer campanha por uma nova greve. Desde outubro os PMs ameaçam cruzar os braços por causa da expulsão do sargento Manoel Izidório de Santana Júnior e da soldado Andréa, líderes da greve de julho. Os policiais queixam-se do não cumprimento por parte do governo do estado do acordo que pôs fim à greve no ano passado.
O comandante Jorge Luiz Santos garantiu que os 26 itens da pauta foram atendidos:
— O governo não tem condições de dar o piso salarial de R$ 1.200 reivindicado, mas deu os 10% prometidos logo após a greve, e concederá 5% agora em janeiro e outros 5% em julho, como acertado.
Sucessão de crises no PSDB
OPSDB mergulhou em crise às vésperas do anúncio oficial da candidatura do ministro da Saúde, José Serra, à Presidência da República, e convocou, às pressas, uma reunião na capital para hoje. O presidente do partido, José Aníbal, desembarcou em Brasília e passou o dia em conversas tensas com os principais articuladores da candidatura de Serra, inclusive o presidente Fernando Henrique. Ele tenta achar uma saída para a divisão do partido e negocia a melhor forma de concretizar o anúncio da candidatura Serra, prevista para os próximos dias. O ministro passou o dia no gabinete, conversando por telefone com os principais aliados.
Além do ainda tímido desempenho nas pesquisas eleitorais, Serra continua enfrentando resistências dentro do partido, a começar pela ameaça da volta do governador do Ceará, Tasso Jereissati, à disputa. Em conversas com tucanos, Tasso deixou evidente ontem que não desistiu de concorrer. Apenas se recolheu, apostando no naufrágio da candidatura de Serra.
— Serra não sobrevive até abril — disse o governador ontem a líderes tucanos.
À noite, José Aníbal se reuniu com Fernando Henrique, que manifestou preocupação com a crise no partido. Segundo um assessor do Planalto, o presidente estava irritado com a ausência de Tasso na reun ião com governadores do Nordeste e pediu a Aníbal para tentar a reaproximação de Serra com o governador.
Virgílio admite problemas no PSDB
O secretário-geral da Presidência, Arthur Virgílio, admitiu que existem arestas no PSDB e disse que é essencial o entendimento entre Tasso e Serra. Segundo o ministro, Fernando Henrique está preocupado com a situação do partido.
— Não quero dourar a pílula. É hora de todos nós entrarmos nisso para fazer o casamento político desses dois líderes — disse.
Quatro integrantes do comando tucano falaram ontem com Tasso: Aníbal, o presidente da Câmara, Aécio Neves, o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, e o ministro do Planejamento, Martus Tavares, que foi escalado para ir hoje ao Ceará. No fim de semana será a vez de Aníbal desembarcar em Fortaleza para tentar acalmar Tasso.
O PSDB, segundo Arthur Virgílio, deve se esforçar e fazer até o impossível para que a candidatura de Serra cresça. O problema, segundo ele, é que a população gosta do ministro, mas não o vê como candidato.
Tasso tem insistido na idéia de apoio à candidatura da pefelista Roseana Sarney, caso Serra não demonstre fôlego até o fim de março. Apesar da notória insatisfação com a interferência de Fernando Henrique na discussão interna do PSDB, Tasso tem negado a intenção de liderar uma dissidência no PSDB em favor de Roseana. Mas não descarta a hipótese de defender, formalmente, a aliança com o PFL.
— O governador não é homem de ficar inibido de manifestar oficialmente sua opinião — disse o deputado Nelson Otoch (PSDB-CE), fiel aliado de Tasso.
A crise entre os tucanos explodiu ontem em Brasília por três razões: a ausência de Tasso e Roseana na reunião no Planalto, os resultados das últimas pesquisas eleitorais e a publicação, no “Correio Braziliense”, de uma ríspida discussão entre o governador do Ceará e o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, num jantar de fim de ano no Palácio da Alvorada. Na frente do presidente Fernando Henrique, Tasso se disse vítima de “molecagem e safadeza”:
— Você, caro Aloysio, não venha aqui posar de estadista francês! Você não! Safadeza... Molecagem... Você diz que não toma partido na disputa com o Serra, mas vive plantando notinhas nas colunas de jornal a favor dele e contra mim.
— Você me respeite! Tenho história... — reagiu o ministro.
— Sei bem qual é a sua história! Enquanto eu fazia das tripas coração para eleger esse aqui presidente (apontou para Fernando Henrique) em 1994, você rodava o Brasil de braços dados com o Quércia — continuou Tasso.
Aloysio ainda tentou esboçar reação com um “Olhe aqui!”. Mas foi interrompido por um irritado Tasso.
— Olhe, não! Canalhice foi o que fizeram. E isso não admito! Segurem agora o que vai acontecer com o PSDB — ameaçou o governador.
Ontem, Tasso admitiu ao GLOBO ter protagonizado a dura discussão. Disse que estava irritado e lamentou que seu teor tenha vindo a público:
— É muito desagradável que tenha vazado. Mas eu estava mesmo chateado — reconheceu Tasso.
Tasso disse ainda que está se dedicando ao governo do estado, como a elaboração do Orçamento, para deixar o cargo dentro de três meses para concorrer às próximas eleições, mesmo que seja para o Senado. Ele admite, porém, que não está disposto a pisar em Brasília neste momento:
— Não vou viver em Brasília. Não tem sentido!
Aloysio confirmou o teor da discussão. Em conversas, disse que não alimentará a polêmica e dá o caso por encerrado. Mas lamentou:
— Foi muito constrangedor. Na frente do presidente, na casa dele.
Com o agravamento da crise, o comando do PSDB começou a se mexer para debelá-la. Aécio tem atuado como bombeiro. Ontem, telefonou para Serra e Tasso. Hoje chega a Brasília e pedirá a Fernando Henrique que assuma o papel de conciliador.
— O momento é delicado e requer muita conversa — disse Aécio.
Para os aliados de Tasso, é o que tem faltado:
— Quando Tasso desistiu, Serra tinha que ter telefonado, agradecido, convidado para almoçar e pedido a ajuda do governador. Mas não. Nosso amigo (Serra) não quer fazer política. E seu séquito só faz botar lenha na fogueira — queixou-se um senador ligado a Tasso.
Serra já admite antecipar anúncio
Desde que chegou a Brasília, na segunda-feira, o ministro José Serra passa o dia em seu gabinete acertando com os aliados a estratégia para o anúncio de sua candidatura. José Aníbal, com quem Serra se encontraria na noite de ontem, quer que o ministro antecipe o anúncio para os próximos dias. Serra gostaria de fazê-lo somente no dia 21, mas já admite mudar a data.
Se antes as articulações em torno da candidatura do ministro eram conduzidas por um grupo restrito de aliados — Jutahy Magalhães Júnior, Luiz Paulo Vellozo Lucas, Alberto Goldman e Márcio Fortes — agora o presidente do partido passa a ter papel de destaque. Fernando Henrique está no centro das articulações.
— Essa é uma candidatura que precisa do envolvimento de todo o partido. Se não conseguirmos a unidade total, pelo menos teremos 99%. Esse 1% já está isolado — disse um tucano aliado de Serra, referindo-se ao governador do Ceará, Tasso Jereissati.
A nova estratégia dos tucanos para o anúncio da candidatura está sendo mantida em sigilo. O ministro tem evitado dar entrevistas até sobre assuntos relativos à pasta da saúde para evitar perguntas sobre a sua candidatura.
Artigos
Uma nova visão do trabalho
D. JAVIER ECHEVARRÍA
Há exatamente cem anos, nascia numa pequena cidade da Espanha o bem-aventurado Josemaría Escrivá. Um retrato fiel da fecundidade da sua passagem pela Terra é o pensamento com que começa o seu livro “Caminho”: “Que a tua vida não seja uma vida estéril. Sê útil. Deixa rasto. Ilumina com o resplendor da tua fé e do teu amor(...) E incendeia todos os caminhos da terra com o fogo de Cristo que levas no coração.”
Era um homem completamente enamorado de Cristo, e o amor não murcha nem morre. Por isso, o centenário que hoje nos dispomos a comemorar não se apresenta como uma simples memória do passado. Se cedêssemos à tentação meramente comemorativa, teríamos deitado a perder a lição de humildade do fundador do Opus Dei, que evitava os louvores e trabalhava duramente, mas sem fazer barulho.
Ao chegar ao 50 aniversário da sua ordenação sacerdotal, quando era considerado por todos um mestre de vida interior, dizia que se sentia “como uma criança que balbucia”. Também dizia às vezes que quando se recebe uma carta joga-se fora o envelope e toda a atenção se volta para a mensagem: ele tinha a convicção de ser o envelope; o importante era a mensagem, o espírito de santificação da vida cotidiana que o Senhor lhe tinha confiado.
O centenário quer ser um olhar para o futuro: não é nostalgia do passado, mas projeto, esperança, desejo sincero de progredir no amor a Deus e ao próximo.
Estamos nos umbrais de um novo século; os tempos requerem abertura de mente, prontidão para acolher desafios inéditos, e convidam-nos, como o Santo Padre escreveu na Carta Apostólica “Novo millennio ineunte”, a “lembrar com gratidão o passado, a viver com paixão o presente, a abrir-nos com confiança para o futuro”.
A mensagem entregue à Igreja por meio do fundador do Opus Dei tem um dinamismo interno tão evidente que, como sublinha o decreto com que o Papa proclamou as virtudes heróicas do bem-aventurado Josemaría Escrivá, está “destinada a perdurar de modo inalterável, por cima das vicissitudes históricas, como fonte inesgotável de luz espiritual”. Quando nos aprofundamos nos ensinamentos do bem-aventurado Josemaría Escrivá, essa luz espiritual mostra que ninguém está excluído da chamada do Senhor, e em conseqüência nos comunica a certeza de que — a imagem é dele — o céu e a terra não só se unem lá longe, sobre a linha do horizonte, mas no coração dos filhos de Deus, que se comprometem na incomparável audácia de procurar Cristo presente nas realidades terrenas.
O bem-aventurado Josemaría Escrivá pôs-se inteiramente a serviço da missão que havia recebido de Deus: tudo o que, em sua vida, se referisse à sua pessoa foi deixado de lado. Pode-se dizer que viveu exclusivamente em função da missão de dar a vida e consolidar a instituição que era necessária para a difusão daquela mensagem, para recordar aos cristãos que vivem no meio do mundo que Deus os chama em e por meio das ocupações da vida cotidiana. “Há algo de santo, de divino, escondido nas situações mais comuns, algo que a cada um de nós compete descobrir”, escreveu (Questões Atuais do Cristianismo, n. 114). E consumiu todas as suas energias a serviço desse ideal ao mesmo tempo grandioso e normalíssimo. É por isso que tantos cristãos têm podido aprender dele a descobrir, na dimensão sobrenatural da existência comum — precisamente onde outros não vêem senão cacos de garrafa — ouro puro, esmeraldas, rubis. Deste modo, a rotina, a obviedade, a monotonia cotidiana ficam transfiguradas.
A fecundidade da vida de monsenhor Escrivá é fruto da entrega total ao papel eclesial que Deus lhe confiou. É esta uma constante da lógica sobrenatural, que exige deixar a Deus todo o espaço, ser humilde. Não com a humildade de quem se encolhe, mas com aquela que leva a dar-se inteiramente, a não reter para si nem sequer um pequeno retalho de possibilidades vitais. Por isso, hoje desejaria frisar — em primeiro lugar para mim mesmo — que para desenvolver todas as potencialidades contidas na mensagem de monsenhor Escrivá temos de estar dispostos a entregar-nos como ele se entregou.
Este é um bom momento para entendermos toda a força contida numa idéia: a idéia de que o trabalho é serviço.
“Serviço — escreveu o fundador do Opus Dei — como gosto desta palavra! Servir ao meu Rei e, por Ele, a todos os que foram redimidos pelo seu sangue. Se nós, cristãos, soubéssemos servir!” (É Cristo que passa, n. 182). Servir significa dar-se a si mesmo, e é a garantia de um amor operante, que prefere os atos às palavras. A solidariedade nasce daí, e também essas virtudes domésticas de que a autêntica caridade se reveste: o sorriso, a paciência, a arte de respeitar os gostos dos outros, de saber calar, de esperar.
O pequeno e o grande encontram-se no espírito de serviço, que funde a humildade com a caridade. Na alma do cristão, não há lugar para a mediocridade, se este aprende a contemplar o exemplo eloqüente de Cristo: “Fez tudo bem feito” (Mc, 7, 37), comentavam atônitos os que o conheciam, já desde a época da infância e nos anos de trabalho em Nazaré. Participar na epopéia da Redenção, com efeito, significa conjugar a maior ambição — a procura da santidade — com o cuidado das pequenas coisas.
Mas para servir é preciso ter renunciado verdadeiramente à procura de si mesmo, da própria excelência, do êxito (“ninguém pode servir a dois senhores”, Mt, 6, 24), para procurar somente a glória de Deus.
Seguir a lógica do serviço significa, também, adquirir um sólido prestígio profissional, fundamentado não sobre a aparência, mas sobre a capacidade de adequar-se às necessidades reais do próximo. Trabalhar no serviço de Deus e dos homens significa assumir a responsabilidade de dar bom exemplo com o próprio trabalho, de fazer render em prol do bem comum os talentos recebidos.
Isto não se alcança sem o sério empenho de praticar as virtudes enquanto se trabalha, de pôr em jogo a competência profissional para uma finalidade que transcende o resultado imediato da própria atividade.
Num trabalho realizado assim, a motivação profunda — o amor de Deus — é evidente. Por isso, quem trabalha para servir tem como escopo, para além do reconhecimento de seu valor pessoal, a procura da vontade divina nas mil incidências da vida cotidiana. Em conseqüência, não perde a serenidade perante a contrariedade ou os imprevistos.
O espírito de serviço muda radicalmente a hierarquia dos valores sobre os quais a sociedade tende a construir-se (“eis a escrava do Senhor”, Lc, 1, 38). Devolve ao cristão o sentido justo da realidade, porque o faz compreender quais são os autênticos ideais (“quem quiser ser grande entre vós, seja o vosso servidor; e quem dentre vós quiser ser o primeiro, seja o servo de todos”, Mc, 10, 43-44) e as finalidades que deve perseguir acima de tudo.
O exemplo do bem-aventurado Josemaría ajuda-nos a encontrar no Evangelho a força para essa transformação do mundo a que os cristãos estamos chamados. Os santos testemunham a perene atualidade do Evangelho. Com eles, nós entendemos que “Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje, e por todos os séculos” (Heb, 13, 8).
Colunistas
PANORAMA POLÍTICO
Jogo bruto
Por mais que seus dirigentes neguem e até trabalhem no sentido contrário, o PSDB e o PFL estão mesmo em guerra a caminho das urnas de outubro. E o campo da batalha parece ser agora o PMDB. O ministro Raul Jungmann lançando-se como candidato às prévias presidenciais do PMDB, surpreendendo a cúpula do partido, é uma mostra de que as relações estão complicadíssimas.
Mais que isso. As eleições estão neurotizadas, dizia ontem um experiente político. Aos fatos. O ministro Jungmann nega que o projeto de disputar as prévias tenha saído do Palácio do Planalto, muito menos que ele poderá ser vice na chapa presidencial de José Serra. Mas deixa claro logo na primeira fala que sua idéia é fortalecer uma hegemonia de centro-esquerda contra o crescimento dos liberais de direita. Ou seja, combater a candidatura de Roseana Sarney, do PFL. Projeto que interessa muito a José Serra e não faz parte, pelo menos por enquanto, dos planos do PMDB.
Para os pefelistas, são muitas as evidências de que o ministro Jungmann lançou-se nesta aventura, que contrariou enormemente a cúpula do seu partido, o PMDB, apenas para agradar ao PSDB de José Serra. Aventura foi a expressão utilizada pelos dirigentes do PMDB ao comentar o lançamento de Jungmann.
— Aventura é o imobilismo do partido, é o partido não ter uma cara, não ter um candidato que proponha um novo rumo ao partido — reagiu Jungmann.
O plano dificilmente dará certo. Pelo que foi dito ontem pelos peemedebistas, o partido não dará a menor importância, muito menos apoio, à candidatura do ministro às prévias. Sem apoio das forças majoritárias do partido, suas chances de vencer Itamar Franco e Pedro Simon são nulas. De qualquer forma, Jungmann incorporou e pode disseminar a partir de agora o discurso contra os liberais. Discurso que os tucanos não assumiram ainda de forma tão agressiva.
Em tempo: a eleição presidencial parece estar mesmo neurotizada. Na noite de segunda-feira, quando seu plano já estava decidido, Raul Jungmann telefonou para Roseana Sarney. Falaram de assentamentos, Incra e amenidades. Uma conversa simpática. Quando viu ontem Jungmann declarando que sua candidatura é para tentar impedir o apoio do PMDB ao PFL, Roseana reagiu:
— Nossa Senhora! Ele falou comigo ontem à noite e não disse nada. Estou surpresa, gosto muito dele.
Jungmann retruca: — Não sou anti-Roseana, só defendo outro rumo.A sucessão presidencial está a toda no Palácio da Alvorada. Hoje é Aécio Neves que janta com FH. Ele pode ser a ponte entre Tasso e Serra. Se é que essa briga ainda tem jeito.Cada um por si
A perda de arrecadação com a correção das tabelas do Imposto de Renda, estimada em R$ 3,3 bilhões, é da União, dos estados e dos muni cípios. O governo federal perde R$ 1,6 bilhão e os governos estaduais e municipais perdem a outra metade. Mas ao aumentar a alíquota da contribuição sobre o lucro líquido das empresas, para compensar a perda, o governo está cuidando apenas do seu, lembra o deputado Sérgio Miranda (PCdoB-MG).
É que aquilo que é arrecadado com essa contribuição não é compartilhado com estados e municípios. Ou seja, prefeitos e governadores terão que encontrar outras formas de compensar as perdas. Mais que isso, diz o deputado, o aumento da contribuição sobre o lucro das empresas pode reduzir o que elas pagam de Imposto de Renda. E aí estados e municípios perdem de novo. Logo governadores e prefeitos baterão às portas de Malan.Sem espaço
O governo é teimoso quando se trata de proposta do PT. Projeto semelhante ao sancionado ontem pelo presidente FH — que transfere para o INSS o ônus de provar o tempo de contribuição dos trabalhadores que requerem aposentadoria — foi apresentado pelo deputado Milton Temer (PT-RJ). E sistematicamente rejeitado pelos líderes do governo. O projeto que vingou é do senador Waldeck Ornélas (PFL-BA). Mas os governistas não aceitaram nem incorporar a proposta do petista.
DO MINISTRO pefelista José Jorge sobre as últimas pesquisas de intenção de votos para presidente: "A minha preocupação é que o Lula está caindo; é nosso melhor adversário, já sabemos como derrotá-lo. Se ele cair mesmo, pode aparecer outro que não conhecemos, e aí será mais difícil". É provocação das grandes aos petistas. Já é o PFL se preparando para o prometido bombardeio do PT à candidatura de Roseana Sarney.
Editorial
Falha técnica
Desde a reforma de 1990, o Imposto de Renda deve ser recolhido em bases correntes. A idéia é de que o tributo corresponda exatamente ao valor devido. No caso das pessoas físicas, como são admitidas algumas deduções que podem modificar o valor devido do tributo, há uma declaração anual de ajuste, pela qual a Receita Federal é informada se o contribuinte recolheu imposto a mais ou a menos no exercício passado. Essa questão técnica não foi levada em conta na redação final do projeto de lei que corrigiu a tabela do Imposto de Renda das pessoas físicas em 17,5%. A correção só poderia valer mesmo para rendimentos recebidos a partir de 2002, e não de forma retroativa a 2001, pois assim haveria um forte descompasso entre a declaração de ajuste anual e os recolhimentos na fonte, com graves prejuízos para o Tesouro.
O Ministério da Fazenda achou que o texto da lei teria de ser mais explícito. Por isso, o veto do projeto de lei aprovado no Congresso tornou-se necessário, com uma edição imediata de medida provisória do presidente da República, que mantém a correção de 17,5% na tabela do IR — tal como pretendido pelos parlamentares — mas com uma redação capaz de eliminar dúvidas e evitar interpretações indesejáveis. Embora as mudanças sejam essencialmente de caráter técnico e administrativo, é claro que o veto presidencial, seguido de uma medida provisória, tem implicações políticas. Não foi por acaso que o presidente Fernando Henrique Cardoso instruiu o ministro Pedro Malan a telefonar para todos os principais articuladores da aprovação do projeto de lei no Congresso e explicar pessoalmente as razões da mudança.
Ao constatar que a derrota no Congresso seria inevitável, o governo se omitiu e não colaborou para a correta redação final do projeto de lei, dando margem para um posterior veto presidencial? Ou os parlamentares, no afã de imporem uma derrota à posição do governo, abriram mão dessa colaboração (imprescindível em questões técnicas, especialmente as de ordem tributária)?
É importante que esse episódio fique esclarecido. No regime autoritário, o Congresso foi proibido de decidir sobre questões tributárias, passando a impressão que o parlamento não tinha competência para legislar sobre o tema. Ora, exatamente essa é uma das principais funções do Congresso, pois a destinação de recursos públicos não pode estar desassociada de decisões políticas, embora haja imperativos técnicos e legais que se sobrepõem à vontade política. Para que tal episódio não se repita (ainda mais que existe a perspectiva de aprovação de uma reforma tributária no Congresso), o Poder Executivo e os parlamentares precisam se entender mais quando o assunto em debate envolver algum tipo de imposto.
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01/09/2002
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