MARINA SE DIZ INCONFORMADA COM DESFECHO DO GRAMPO TELEFÔNICO



Ao analisar nesta segunda-feira (dia 30) as conseqüências do grampo telefônico que resultou no afastamento das autoridades responsáveis pela privatização do sistema Telebrás, a senadora Marina Silva (PT-AC) se disse inconformada com o tratamento dado à questão. "Por isso, advogo a criação de uma CPI, para não deixar a população numa situação de impotência diante de tudo disso", pregou a parlamentar.Referindo-se ao artigo assinado pelo ministro Luiz Carlos Bresser Pereira e publicado na edição do último dia 21 da Folha de S. Paulo, a senadora se disse assustada com a forma como ele trata o conteúdo das fitas. Aludindo ao personagem Riobaldo, de Guimarães Rosa, e sob o título "Viver é muito perigoso", o ministro diz em seu texto que, nos dias que correm, "ser político e defender o interesse público é ainda mais perigoso". Marina considerou significativo o ministro pegar o personagem Riobaldo, que foi enganado por Diadorim, e comentou que isso não aconteceu por mera coincidência. "No Brasil, é prática recorrente as pessoas se concentrarem em alguns "ismos" para não entrar no mérito das questões", disse ela, exemplificando que termos como "purismo" e "esquerdismo" têm servido para desqualificar a ação coerente de muitas pessoas. No seu artigo, Bresser Pereira diz que as autoridades que conduziam a privatização e que agora foram afastadas do governo aprenderam que "fazer política com P maiúsculo é muito perigoso". Marina Silva disse que certamente não se caracteriza como "política com P maiúsculo" o comportamento revelado na transcrição das conversas grampeadas de Mendonça de Barros (ex-ministro das Comunicações) e André Lara Resende (ex-presidente do BNDES).Defendendo a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar o caso, ela argumentou que o Senado já enfrentou quatro episódios que poderiam ter sido elucidados com uma CPI. Referia-se às denúncias relacionadas com a quebra do Banco Econômico, o contrato do Sivam, a compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição e a gravação das conversas relacionadas com o leilão do sistema Telebrás. - Em todos esses episódios, ouvi que a CPI prejudicaria as reformas - afirmou a senadora, para constatar que o cidadão comum, no mínimo, deve estar vivendo uma sensação de impotência diante de graves irregularidades. Marina Silva sustenta que "o grampo não inventou nem distorceu as palavras do ministro", daí por que, em sua opinião, o conteúdo das fitas deve ser inteiramente apurado.Ela também argumentou que, se o Executivo e o Legislativo negligenciam a seriedade desse episódio, não se pode esperar que a Justiça aja com a isenção esperada pela sociedade. "Não podemos pôr o Judiciário o tempo todo para cumprir prerrogativas que são nossas. Por que só o Judiciário agiria com isenção?", questionou a parlamentar, para sustentar que há dois fatos à espera de investigação - o conteúdo das fitas e o autor do grampo.Segundo Marina, o conteúdo das conversas telefônicas gravadas durante a privatização das teles não pode ser minimizado. E um dos seus argumentos é o seguinte: "Se o ministro Bresser Pereira acha que fazer política com "P" maiúsculo é fazer tudo o que Mendonça de Barros fez, então os empresários podem arbitrar que empreender com "e" maiúsculo é colocar um grampo para espionar o governo".

30/11/1998

Agência Senado


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