Marta diz que contratos do Reluz são legais e Mercadante anuncia voto em separado sobre a matéria



 A ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, disse, nesta terça-feira (21), em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), que não cometeu qualquer irregularidade ao realizar operação relativa ao Programa Nacional de Iluminação Pública Eficiente (Reluz), por meio do contrato realizado com a Eletropaulo, mesmo tendo feito um segundo aditamento sem a prévia autorização do Ministério da Fazenda e do Senado. Segundo Marta, a operação é normal, praticada por muitas prefeituras, e o segundo aditamento não necessitava de autorização, pois não modificou o projeto original.

Senadores como César Borges (PFL-BA) e Osmar Dias (PDT-PR) não concordaram com os argumentos de Marta, alegando que ela descumpriu tanto a Resolução do Senado 43/01 como o artigo 32 da Lei complementar 101/00 - a Lei de Responsabilidade Fiscal. Os senadores observaram que o próprio ministro da Fazenda, Antonio Palocci, acusou a ex-prefeita de descumprir a resolução do Senado e a LRF, em ofício enviado ao Senado no dia 27 de dezembro de 2004.

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), defendeu a ex-prefeita e o Reluz, alegando que o programa trouxe benefícios para São Paulo, sendo um deles a redução de 35% no gasto de energia. Mercadante anunciou que apresentará um voto em separado, na tentativa de aprovar na CAE um parecer alternativo ao do relator da matéria, senador Luiz Otávio (PMDB-PA), presidente da comissão. O relatório de Luiz Otávio leva em conta um estudo técnico da consultoria do Senado, que conclui nos mesmos termos do ofício de Palocci, ou seja, que a ex-prefeita descumpriu normas do Ministério da Fazenda e do Senado.

- Devemos superar essa questão e aprovar um novo parecer - pediu Mercadante.

Luiz Otávio disse que o voto em separado será encaminhado normalmentee apreciado pela comissão, bem como seu parecer, pois a CAE "é totalmente independente de política partidária".

Controvérsias

A principal controvérsia em torno do Reluz recai sobre o segundo aditivo do contrato, feito em 5 de fevereiro de 2004. Conforme o senador Osmar Dias, que se baseou no ofício de Palocci, o primeiro aditivo, feito em 4 de junho de 2003, está regular, pois, pela Resolução do Senado 19/03, são dispensadas de regularização as operações contratadas no âmbito do Reluz até a data da publicação dessa legislação, em 5 de novembro de 2003.

Já as contratações constantes do segundo aditivo estavam sujeitas à prévia autorização do Ministério da Fazenda e do Senado, conforme diz Palocci em seu ofício, observou Osmar Dias. Marta discorda, alegando que esse segundo aditivo não modificou o contrato original.

- Não fizemos uma inovação, por isso não incorremos em erro. Foi feito um espelho do contrato que já tinha sido celebrado; não mudamos o projeto original. Mesmo assim, comunicamos o aditamento ao Tesouro, porque estávamos certos de estar fazendo uma coisa correta. Outras prefeituras tiveram esse mesmo entendimento. O segundo aditivo não é um novo contrato - afirmou Marta.

Para a ex-prefeita, não há necessidade de utilizar a Medida Provisória 237, editada pelo Executivo para contornar a questão do Reluz. Em sua opinião, não será necessário utilizar esse artifício, pois a situação da prefeitura está legal.

César Borges admitiu que todos concordam com os benefícios trazidos pelo Reluz, mas, para ele, o problema discutido é outro. O senador disse que as observações de Palocci são pertinentes e que o parecer do relator, senador Luiz Otávio, não deve ser modificado. Ao elogiar os benefícios do Reluz, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que não houve má-fé por parte da ex-prefeita.

Investimentos

O Reluz prevê investimentos da ordem de RS 2,6 bilhões e foi lançado em junho de 2000, conforme Marta informou por meio de um painel apresentado aos senadores. A ex-prefeita defendeu o programa Reluz e disse que depois de 24 meses o programa passa a ser auto-sustentável nas contas do município e vai economizar as contas de energia em torno de 35%. A ex-prefeita apresentou números de toda a ordem para os senadores para provar as vantagens do programa em termos econômicos, financeiros e de benefícios para a população e para o município. O programa também tem impacto nacional grande, visto que abrange o município de São Paulo, observou.

Segundo Marta, até os índices de criminalidade diminuíram na cidade com o aumento da iluminação a partir do programa Reluz, e monumentos e praças foram valorizados com nova iluminação. A partir de uma pergunta de Suplicy, Marta disse que, com iluminação adequada, houve maior proteção para os trabalhadores que acordam cedo - pois é escuro na cidade, principalmente no inverno - e chegam tarde em casa, particularmente as mulheres. Acrescentou que a medida diminuiu o número de estupros, mas não apresentou dados.

21/03/2006

Agência Senado


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