Meirelles reconhece que país cresce de forma heterogênea e admite que juros são altos



O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, admitiu nesta terça-feira (30), durante audiência pública patrocinada pela Comissão de Orçamento (CMO) e comissões do Senado e da Câmara, que a recuperação da economia brasileira não está sendo feita de forma homogênea em todos os setores, salientando que essa característica é comum quando se trata de um processo de recuperação econômica, como ocorre no país. Os setores que obtiveram maior crescimento no período, conforme informou, foram os ligados ao crédito e à exportação.

Henrique Meirelles também reconheceu que as atuais taxas de juros cobradas no país "são de fato altas", mas que vêm registrando queda. Como exemplo, informou que a taxa Selic, em 1999, atingiu o patamar de 45%, e que atualmente se encontra em 17,5%. E disse que com o crescimento da economia, a expectativa é que os juros caiam. Meirelles  reconheceu ainda que desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva houve aumento do emprego e da renda.

As informações foram prestadas depois que o deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), apesar de reconhecer que há uma recuperação da economia e que os níveis de emprego vêm registrando crescimento, ter criticado o que chamou de crescimento econômico não homogêneo. A seu ver, tal discrepância traz reflexos negativos na distribuição de renda, "que vem piorando", bem como a estagnação de setores considerados importantes, como o da construção civil. Goldman também criticou a evolução das taxas de juros, atualmente na casa dos 11% ao ano. Para ele, "não há economia no mundo que resista ao crescimento com tais índices".

Durante a reunião, parlamentares da oposição não pouparam críticas ao presidente do Banco Central. Para eles, os números "cor de rosa" apresentados pelo governo não refletem a realidade das cores das ruas, "que são cinzas", a começar pelo achatamento salarial, com destaque para os que ganham menos; manutenção da elevação das taxas de juros; crescimento do spread bancário; investimentos baixos, bem como o aumento do superávit primário.

O troco

O governo deu o troco por meio do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Ele disse que o governo vem fazendo o dever de casa para retirar o país da chamada vulnerabilidade externa, tomando por base dois importantes quesitos: crescimento econômico e saldo comercial, que nos últimos 12 meses, observou, chegou na casa dos US$ 32,6 bilhões. Para o senador, essa é a saída para se obter o crescimento de forma sustentável.

Mercadante admitiu, entretanto, que no ano passado o índice de crescimento foi baixo, mas que essa opção do governo permitiu que as contas externas e públicas brasileiras se equilibrassem, registrando o que chamou de 'desendividamento' do Estado. E voltou a manifestar a certeza de que a economia tem de tudo para deslanchar, ao tomar por base os números da  indústria que crescem a taxas de 9%.

Já o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) defendeu o fortalecimento do mercado interno como forma de a economia crescer de forma saudável e equilibrada. Somente dessa maneira, notou o senador, o governo poderia melhorar a renda dos assalariados. Ele também defendeu a redução dos juros com o objetivo de estimular os investimentos na produção. Com isso, notou, a taxa de desemprego, que hoje se encontra no patamar de 10%, tenderia a diminuir. Suplicy enalteceu ainda os "efeitos positivos" na economia, principalmente no interior, dos programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família.

Ao final da reunião, o senador Leonel Pavan (PSDB-SC) perguntou a Meirelles se ele havia mudado o pensamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ou se Lula havia alterado a visão econômica do presidente do Banco Central. "A economia é a mesma do passado", observou o senador. Em resposta, Meirelles disse que "mudou o Brasil". E, a seu ver, para melhor, com o crescimento da economia e a geração de empregos.

Sobre o Banco Santos, que, recentemente, sofreu intervenção do Banco Central, Henrique Meirelles informou que somente receberá  o relatório completo das causas que levaram ao fechamento daquela instituição creditícia no final de janeiro de 2005. Mas adiantou, tomando por base relatórios preliminares, que os recursos destinados ao Fundo Constitucional do Norte (FCN) não foram aplicados no banco.

 



30/11/2004

Agência Senado


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