Meirelles admite que há falta de crédito externo no país



O Brasil está sendo afetado pela crise financeira internacional especialmente com relação à falta de crédito externo, reconheceu nesta quinta-feira (18) o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, durante audiência pública realizada pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Ele informou, entretanto, que o governo vem adotando medidas "rápidas e enérgicas" para que os spreads bancários, elevados pela crise de liquidez, bem como a oferta de crédito retornem ao patamar normal, a fim de que as empresas e os consumidores não sejam afetados de forma vigorosa.

Apesar da crise, Henrique Meirelles garantiu aos senadores que o país vai crescer no próximo ano "acima da média mundial". Ele observou que a avaliação é do próprio Banco Central. Mas não quis adiantar o percentual, informando que o BC irá divulgar a taxa de crescimento na próxima segunda-feira (22), bem como outros dados econômicos.

Juros altos

Todos os senadores presentes à reunião queixaram-se das altas taxas de juros praticadas no país e da cobrança de elevados spreads bancários (diferença entre o custo de captação de dinheiro por um banco e a taxa de juros por ele cobrada dos tomadores de empréstimos) que foram agravados com a chegada da crise no país.

O presidente da CAE, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), estranhou que o Comitê de Política Monetária (Copom) tenha mantido, na sua última reunião do ano, a taxa Selic em 13,75%. Na opinião do senador, havia espaço para que a taxa fosse reduzida em 0,25%. Com isso, observou, se daria o que chamou de maior convergência à política econômica brasileira, a fim de que o combate à recessão e a desaceleração econômica fossem combatidos de forma mais robusta. Ele observou que a maioria dos bancos centrais do mundo reduziram as suas respectivas taxas de juros

- Manter a taxa de juros em 13,75% não se coaduna com o agravamento da crise mundial que assola todo o planeta, cujos efeitos negativos já começam a atingir a economia brasileira. Empresas estão dando férias coletivas e as demissões já começaram - lembrou Mercadante.

Em resposta, Henrique Meirelles disse que o Banco Central vem agindo de forma "preventiva" no intuito de manter o "crescimento sustentável", e que as razões de manter a taxa Selic no patamar de 13,75% "estão explicitadas na ata do Copom". Reconheceu, entretanto, que a taxa básica de juros no Brasil "é uma das mais altas do mundo", mas destacou que, ao longo dos últimos anos, ela vem diminuindo de maneira acentuada. O presidente do BC recordou que na era Fernando Henrique Cardoso a taxa Selic bateu na casa dos 27%.

Meirelles voltou a afirmar que a crise global é séria e profunda. Como exemplo, informou que as bolsas de valores de todo o mundo, até agora, perderam US$ 31 trilhões. No caso brasileiro, observou Meirelles, o país entrou na crise crescendo economicamente e com dinheiro em caixa em dólar - cerca de US$ 200 bilhões - o que, notou, facilitou o combate aos efeitos da turbulência.

Queixas

Os senadores Antonio Carlos Júnior (DEM-BA) e Renato Casagrande (PSB-ES) pediram a imediata redução do spread bancário. Para Casagrande, o spread altíssimo, que também, notou, é praticado por bancos oficiais - como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil - inibem os investimentos e o próprio desenvolvimento nacional. O senador Adelmir Santana (DEM-DF) também pediu que o BC adote "taxas mais civilizadas" de juros e de spread.

O senador Raimundo Colombo (DEM-SC) fez coro com relação à redução das taxas de juros e do spread, consideradas por ele como "exageradas". Mas o senador, que é da oposição,elogiou o trabalho de Meirelles à frente do BC.

- Com a economia sob o seu comando, sinto-me seguro - resumiu Raimundo Colombo.



18/12/2008

Agência Senado


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