Mercadante vê "grande possibilidade de frustração da Rodada de Doha"



Ao fazer um breve relato de sua participação em Conferência Interparlamentar sobre o futuro da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), evento que ocorreu em Genebra (Suíça), ao final da última semana, com a participação de outros parlamentares brasileiros e de autoridades de vários países, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) disse que saiu do evento "preocupado pela grande possibilidade de frustração" das negociações.

- Os países desenvolvidos querem ser liberais no setor de manufaturas; querem abertura, integração e globalização da economia no setor de serviços. No entanto, naqueles setores em que nós somos mais eficientes e competitivos, como é o caso da agricultura, eles são protecionistas, paternalistas, intervencionistas, abusam dos subsídios, criam reservas de mercado e impedem os países mais pobres do planeta de produzirem alimentos, gerarem empregos e crescerem - protestou.

A Rodada de Doha de liberalização do comércio mundial foi suspensa em julho deste ano. Os principais países envolvidos na negociação não conseguiram chegar a um acordo com relação a tarifas e subsídios agrícolas - tema que vem emperrando o avanço nas negociações pelo menos desde 2003, após a reunião ministerial em Cancún (México), que terminou sem acordo. As atuais negociações de liberação comercial começaram em 2001, em Doha (Qatar), e deveriam ter sido concluídas em 2004.

Mercadante lembrou que a Rodada de Doha foi agendada dez anos atrás, a partir da Rodada do Uruguai, quando se constitui a Organização Mundial do Comércio. Desde aquele momento, disse ele, havia um compromisso das nações desenvolvidas de, em dez anos, tratarem a agricultura como prioridade.

Naquela época, prosseguiu o senador, as nações em desenvolvimento reduziram substancialmente suas tarifas de importação, ao passo que as nações desenvolvidas defendiam seus mercados com barreiras não-tarifárias. O Brasil, disse Mercadante, foi um dos países que abriu de forma expressiva sua economia a partir da entrada na OMC, em 1995.

- No entanto, dez anos depois, União Européia, Estados Unidos e Japão, longe de assegurarem aquilo que estava sendo acordado, tratam de não dar prioridade à agricultura e resistem a fazer as concessões que haviam sido estabelecidas, num mundo em que os países ricos subsidiam a agricultura em US$ 1 bilhão por dia, prejudicando o esforço exportador das nações em desenvolvimento, além de colocar os preços das principais commodities agrícolas abaixo do que deveria ser o preço efetivo - disse o parlamentar.

Além disso, Mercadante alertou para o fato de que o novo Congresso norte-americano, liderado pelo Partido Democrata, deverá votar, no próximo ano, a nova Lei Agrícola dos Estados Unidos (a lei deve ser renovada a cada cinco anos). Para o senador, não está claro que tipo de postura será adotada daqui para frente pelo Congresso em relação ao poder de negociação de acordos internacionais concedido ao presidente George W. Bush, o chamado "mandato negociador", ou fast track (permite que o governo americano negocie o acordo e, posteriormente, o Congresso apenas o ratifique ou recuse, sem alterar artigos).

Mercadante, porém, se disse satisfeito com "postura racional, propositiva e multilateral" adotada pelo Brasil durante a conferência. Ele lembrou que o país lidera as nações em desenvolvimento na rodada (o G20).



04/12/2006

Agência Senado


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