Mercado de orgânicos esbarra na falta de técnicos qualificados e na desinformação, avaliam especialistas



A falta de técnicos qualificados para a orientação aos agricultores e a pouca informação dos consumidores sobre as vantagens dos alimentos orgânicos dificultam a ampliação do mercado desses produtos no país. A afirmação é de especialistas que participaram da audiência pública promovida nesta quarta-feira (26) pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA).

De acordo com Rogério Dias, diretor do Departamento de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, os cursos superiores e técnicos ligados às Ciências Agrárias não oferecem disciplinas voltadas à agricultura orgânica e agroecológica. Além de mudanças na formação dos profissionais que atuam no campo, o diretor também defendeu a reestruturação do serviço estatal de extensão rural, como forma de assegurar a assistência técnica necessária à conversão à agricultura orgânica.

- Faltam técnicos preparados para levar orientações adequadas aos agricultores - disse, ao responder a questionamento do senador Gilberto Goellner (DEM-MT) sobre dificuldades enfrentadas pelo setor que poderiam ser apoiadas pelo Congresso.

Rogério Dias também apontou a necessidade de campanhas educativas para ampliar a visão dos consumidores sobre as vantagens dos alimentos orgânicos. Para ele, é preciso aliar a educação do consumidor à dinamização da produção, a fim de romper o estigma de que os produtos orgânicos são caros e, por isso, só acessíveis a uma elite. O diretor do Ministério da Agricultura sugeriu ainda a aprovação de medidas ampliando a participação da produção orgânica nas compras governamentais, como na merenda escolar.

No mesmo sentido, Joe Carlo Viana Valle, produtor de orgânicos do Distrito Federal, considerou equivocada a visão de que a produção orgânica só pode ser feita em pequena escala, voltada a nichos de mercado. Ele apresentou a experiência da Fazenda Malunga, de sua propriedade, que produz alimentos orgânicos há 15 anos e hoje emprega 170 pessoas.

O produtor pediu aos senadores que apóiem a elaboração de leis que regulamentem a produção de insumos para a agricultura orgânica.

- A definição de regras claras para a venda de insumos vai incentivar a adesão de mais agricultores à produção orgânica - frisou Joe Valle, ao também defender medidas que permitam o uso da Internet no meio rural, visando ampliar as fontes de informação dos agricultores.

Pesquisa

Renato Linhares, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Agrobiologia, lembrou que a pesquisa pública voltada à produção orgânica no Brasil começou depois de investigações promovidas pela sociedade civil. Mesmo assim, ele apontou avanços obtidos pela Embrapa, como a geração de conhecimento nas diferentes cadeias produtivas, seja de grãos, frutas, hortaliças ou produção animal.

O representante da Embrapa também defendeu o fortalecimento da extensão rural estatal e a formação adequada de técnicos para orientar os agricultores interessados em fazer a transição para a agroecologia. Renato Linhares disse que é importante sensibilizar a população sobre as vantagens do consumo de alimentos orgânicos.

Também presente ao debate, Maria Beatriz Costa, representando a organização não-governamental Planeta Orgânico, afirmou que o esclarecimento da população foi condição essencial para que a Alemanha se tornasse líder no mercado mundial de orgânicos. Para ela, a pressão dos consumidores por alimentos saudáveis tem provocado mudanças até mesmo em grandes marcas, que já buscam ofertar produtos adequados às novas exigências dos consumidores.

De acordo com Maria Beatriz Costa, os grupos organizados do setor têm negociado a inclusão de produtos orgânicos na dieta que será oferecida aos atletas que participarão da Copa do Mundo de Futebol de 2014.

A preocupação dos produtores agroecológicos com a saúde de seres humanos foi destacada por José Alexandre Ribeiro, representante da organização não- governamental BrasilBio. Também Fernando Augusto Souza, coordenador do Centro de Pesquisa Mokiti Okada, destacou que o setor busca combinar a viabilidade econômica da produção agrícola com a saúde dos consumidores e a proteção do ambiente.

Já Fábio Ramos, diretor da Agrossuisse, destacou o crescimento no número de hotéis que oferecem produtos orgânicos em seus cardápios. Ele apontou a evolução na diversificação dos segmentos de mercado de produtos orgânicos, fruto de mudanças no comportamento do consumidor.

Oportunidade

Na coordenação do debate, o senador Neuto de Conto (PMDB-SC), presidente da CRA, disse que o país deveria aproveitar o potencial turístico brasileiro para ampliar a oferta de alimentos orgânicos nos hotéis. A medida, segundo ele, serviria para ampliar as oportunidades de mercado para a produção orgânica e mostrar aos turistas, especialmente aos estrangeiros, a contribuição da agricultura brasileira para a oferta de alimentos saudáveis.

Já o senador Gilberto Goellner defendeu uma melhor fiscalização de produtos da agricultura convencional, especialmente de frutas e verduras. Ele sugeriu que o governo intensifique o controle sobre a comercialização nos grandes centros.

- Hoje, não temos uma fiscalização à altura. Estamos deixando o povo brasileiro consumir produtos inadequados - opinou.

O senador defendeu apoio logístico à agricultura familiar e aos assentados da reforma agrária, visando ampliar a produção orgânica do país.



26/11/2008

Agência Senado


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