Ministérios poderão gastar mais R$ 1,535 bi neste ano









Ministérios poderão gastar mais R$ 1,535 bi neste ano
Medida procura evitar que obras e projetos estratégicos sejam paralisados

O governo liberou ontem mais R$ 1,535 bilhão para os ministérios gastarem até o final do ano. A medida -adotada a menos de um mês das eleições- evitará a paralisação de obras e projetos estratégicos cujos recursos acabariam ainda neste mês.

Ministérios muito atingidos pelos cortes promovidos pela área econômica ao longo do ano também tiveram parte das perdas recompostas com a liberação.

O Ministério da Defesa, por exemplo, foi beneficiado com o maior volume de recursos para gastos: R$ 310 milhões.

Em julho, o governo já havia liberado R$ 302 milhões para a Defesa depois de o Exército anunciar a dispensa de 44 mil recrutas devido à falta de recursos.

Na ocasião, o presidente Fernando Henrique Cardoso precisou intervir, determinando a liberação de recursos para o ministério. Outras pastas também foram atendidas à época com o aumento de limite de gastos, que totalizou R$ 1,2 bilhão. "Isso [liberação anunciada ontem] é para dar oxigênio à máquina que estava superemperrada", afirmou o secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Simão Cirineu.

Os ministérios da Fazenda (R$ 199 milhões) e do Planejamento (R$ 106 milhões) e a Presidência da República (R$ 105 milhões) também foram contemplados com os maiores montantes. Para os programas estratégicos do "Avança Brasil", foram liberados R$ 420 milhões para pagamentos.

De acordo com o secretário-executivo, a maior parte dos programas estratégicos que receberão mais recursos é ligada à pasta dos Transportes.

"São obras espalhadas pelo Brasil inteiro, como construção de rodovias e projetos de irrigação, que só tinham recursos até setembro", completou Cirineu.

Ao liberar recursos para o Executivo, a área econômica também anunciou que os demais Poderes poderão gastar mais. O aumento de gastos autorizado ontem pelo Executivo foi de R$ 44 milhões.

Desde o início do ano, o governo já havia recomendado ao Legislativo, ao Judiciário e ao Ministério Público Federal que cortassem R$ 92,3 milhões.

Ministérios que tradicionalmente são atendidos com liberação de recursos, como Saúde e Integração Nacional, não foram autorizados a aumentar seus gastos no anúncio de ontem. Os limites foram mantidos.
"O que fizemos agora foi recompor os cortes que afetaram muito algumas áreas. Um exemplo é o corte na Defesa, que tinha sido muito forte", comentou o secretário-executivo.

O governo também liberou R$ 10 milhões para o governo do Distrito Federal, comandado por Joaquim Roriz (PMDB), candidato à reeleição que apóia o presidenciável tucano, José Serra. Constitucionalmente, a União é obrigada a repassar recursos para custeio da saúde, da educação e da segurança pública do DF.

Cortes
Em fevereiro passado, o governo realizou o primeiro corte na Lei Orçamentária aprovada pelo Congresso. Os recursos para investimento e custeio da máquina administrativa foram reduzidos em R$ 10,7 bilhões.

Já em maio, com a demora na aprovação da emenda que prorroga a CPMF (imposto do cheque), a equipe econômica decidiu bloquear R$ 5,3 bilhões nos recursos disponíveis para gastos.

Mesmo com a aprovação da CPMF, a maior parte do bloqueio foi transformada em corte efetivo em julho. A deterioração do cenário econômico -que gera queda de arrecadação- e o aumento de despesas de pessoal e da Previdência fizeram com que a redução de gastos fosse de R$ 4 bilhões.


No rádio, Serra já liga rebelião a Garotinho
PSB deve pedir hoje à Justiça Eleitoral direito de resposta e suspensão do programa tucano, que considerou ofensivo

O presidenciável José Serra (PSDB) aproveitou a rebelião que acabou ontem no presídio Bangu 1, no Rio de Janeiro, para criticar no rádio Anthony Garotinho (PSB), ex-governador do Estado.

"O Garotinho critica todo mundo, mas você gostaria de ver adotada no seu Estado a política de controle dos presídios de segurança máxima que ele implantou no Rio quando era governador? Não responda já. Primeiro veja o que está acontecendo em Bangu 1. Garotinho: bom de crítica, ruim de governo", afirmou um locutor.
A opção por não usar o episódio contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT), considerando que a governadora do Rio, Benedita da Silva, é petista, se deve à avaliação da direção da campanha tucana de que Garotinho ainda é uma ameaça.

O candidato passou a ser uma das preocupações de Serra, que está em segundo lugar, desde a divulgação das últimas pesquisas, que apontaram seu crescimento.

No Datafolha desta semana, Garotinho passou de 10% para 14%, empatando tecnicamente em terceiro lugar com Ciro Gomes (PPS), que caiu para 15%.

Desde quarta, um dia após a divulgação da pesquisa, os tucanos estão usando os comerciais do rádio para criticar Garotinho.

Pedido de resposta
O PSB deve entrar hoje com representação no Tribunal Superior Eleitoral contra o PSDB pedindo direito de resposta e suspensão das propagandas, consideradas ofensivas a Garotinho.

Em campanha ontem em Belo Horizonte, Garotinho disse que, com a resposta, "dará ao Serra o que é de Serra". "Ele nada pode falar de mim: no governo de que participou em oito anos só teve desprezo pela fome, pelos desempregados. Não vou me preocupar com candidato que, enquanto ministro, perdeu para mosquito."
Assim como Lula e Ciro Gomes (PPS), Garotinho foi para Minas para aproveitar politicamente a comemoração do centenário do nascimento do presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976).

Logo ao chegar no aeroporto de Belo Horizonte disse: "Vim para render homenagens ao povo que mereceu ter um dos melhores presidentes do país, junto de Getúlio [Vargas]. Só que JK foi o único a desafiar o Fundo Monetário Internacional para introduzir o Brasil na era da industrialização."

E criticou o presidente Fernando Henrique Cardoso. "Vejam só o que ele mandou para Minas no Orçamento desse ano para o Congresso votar. É vergonhoso ele deixar esse povo à mingua só por causa da briguinha dele com o governador Itamar Franco [sem partido]", afirmou.

Garotinho fez um périplo durante o dia por cidades da região metropolitana de Belo Horizonte, como Ribeirão das Neves, Contagem e Justinópolis. Fez carreatas e corpo-a-corpo. Em Belo Horizonte, distribuiu santinhos no mercado municipal.

A coordenação de campanha de Garotinho deverá fazer o candidato visitar mais vezes o Estado, além de São Paulo. Estão animados com o resultado da última pesquisa Datafolha que, no Sudeste, aponta empate técnico no segundo lugar de Serra (19%) com Garotinho (18%).

Hoje o candidato continua em Belo Horizonte e depois vai para Maceió (AL). Na capital mineira deve visitar a Rádio Favela, a convite do criador dela, Misael Avelino dos Santos. A história da rádio comunitária é contada no filme, em cartaz, "Uma Onda no Ar".


Petrobras rebate Lula e afirma que estrangeiros devem vencer licitação
As plataformas marítimas de produção de petróleo P-51 e P-52, cuja construção no Brasil foi transformada em bandeira de campanha pelo candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, não devem ser feitas no país. A Petrobras, que contratará as obras, estimadas em cerca de US$ 1 bilhão, avalia que não há no Brasil estaleiros com porte para receber as encomendas.

Segundo o diretor da área de Serviços da estatal, Irani Varella, responsável pela compra dos equipamentos, o edital de licitação definirá critérios mínimos para um estaleiro se credenciar a fazer as plataformas. Um dos critérios será a capacidade de processamento de aço (transformação de placas em produtos).

Segu ndo Varella, o estaleiro Verolme -em Angra dos Reis (RJ), onde Lula gravou seu primeiro programa eleitoral-, o maior do país, tem capacidade para elaborar 1.500 toneladas de aço por mês, enquanto a construção das plataformas exigirá a capacidade mínima de 5.000 toneladas/mês.

A Petrobras não diz que as obras não serão feitas no país, até porque a licitação não escolherá o estaleiro construtor, mas a empresa que gerenciará a obra.

Varella até admite que no prazo de seis a sete meses necessário à definição da concorrência, estaleiros e até canteiros de obras no Brasil poderão se adequar às exigências, com investimentos "da ordem de dezenas de milhões de dólares". Mas ele lança dúvida sobre se será economicamente viável um estaleiro suspender trabalhos em andamento para investir em mudanças estruturais com o objetivo de fazer as plataformas.
Varella afirma que a Petrobras não abrirá mão de selecionar o estaleiro com base no tripé "custo, prazo e qualidade". O máximo que admite é dar preferência ao Brasil em caso de empate.

A estatal quer as duas plataformas produzindo petróleo na bacia de Campos (RJ) no segundo semestre de 2005.

Para o engenheiro Segen Estefen, do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio), "a Petrobras está com uma visão de Pilatos, do tipo lavar as mãos". "Não é um comportamento condizente com a história da Petrobras. Ela sempre se dispôs a trabalhar com a capacitação nacional para resolver os problemas."


Ciro cai para terceiro em ranking de melhor na TV
Levantamento feito por telefone mostra candidato do PPS empatado com Garotinho

O candidato Ciro Gomes (PPS) continua com tendência de queda em ranking que mede a opinião de eleitores sobre qual presidenciável está se saindo melhor na TV e já está empatado na terceira colocação com Anthony Garotinho (PSB) -que apresenta tendência de alta.

O ranking é elaborado a partir de uma das perguntas feitas pelo Datafolha em seu rastreamento eleitoral -a série de pesquisas realizadas três vezes por semana, desde o início do horário eleitoral gratuito, com eleitores que têm telefone fixo em casa.

A pergunta ("qual candidato está se saindo melhor?") é feita a todos os entrevistados, captando inclusive a opinião dos que "ouviram falar" sobre o desempenho dos candidatos na TV.

No início, Ciro, com 17%, dividia a segunda colocação com José Serra (PSDB), que tinha 14%.
Mas Serra subiu e agora é considerado o melhor por 20%.

O candidato do PPS foi a 19%, mas iniciou queda constante. Agora seu programa é considerado o melhor por apenas 8% dos entrevistados. No caso de Garotinho, no início, seu programa era considerado o melhor por 3%. Está agora com 6%.

Como a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, há empate técnico entre Ciro e Garotinho.

O líder do ranking continua sendo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cujo programa é considerado o melhor por 33% dos entrevistados.

A queda de Ciro no ranking coincide com o aumento de seus ataques a Serra nos programas do horário eleitoral.


Lula e Serra trocam farpas sobre promessas de empregos
Embora repetindo que não vai criticar os seus oponentes, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, não resistiu e revidou ontem, em Diamantina (MG), as críticas que o presidenciável tucano, José Serra, faz a ele acerca do debate sobre geração de empregos, lançando, inclusive, um desafio público para que o petista mostre como vai criar 10 milhões de postos de trabalho.

Questionado sobre as críticas de Serra, que promete 8 milhões de empregos, Lula disse que não tem tido tempo de assistir ao horário eleitoral. "Quando um candidato começa a ler programa do outro para fazer crítica é porque ele não tem programa. E eu faço questão que ele leia o meu programa, não só esse do emprego".

O petista negou que tenha prometido criar 10 milhões de empregos. "No programa está escrito que o Brasil precisa criar no mínimo 10 milhões de empregos. E eu disse que nós vamos transformar essa questão em uma verdadeira obsessão". Segundo Lula, "eles [Serra e o governo FHC" deveriam olhar para o que fizeram nos últimos oito anos". "Eu vou tentar recuperar em quatro anos os postos de trabalho que eles fecharam em oito anos, não sei se é possível", afirmou.

Já Serra disse ontem que jamais se voltará "contra o Lula", mas cobrou do petista um debate, "que ele tem evitado", sobre a proposta do PT de criação de empregos e confirmou que pretende discutir as administrações do PT.

"Eu debato idéias, propostas. Jamais vou me voltar contra o Lula. O que eu quero é discutir com ele as propostas de governo, como nós vamos enfrentar a questão do emprego, sem nenhum elemento de natureza pessoal."

De acordo com Serra, Lula tem evitado o debate. "Inclusive no debate da TV Record procurou discutir por meio do Garotinho [PSB". Não diretamente." Só por meio do debate, insistiu Serra, Lula poderá dizer o que tem de errado em sua proposta para criar 8 milhões de empregos, e ele o que tem de errado na proposta do PT.
Serra esteve ontem em Brasília para participar da comemoração dos cem anos de nascimento de Juscelino Kubitschek e para uma conversa com o ministro Geraldo Quintão (Defesa). Mais tarde, esteve no Palácio do Planalto.

O desafio a Lula e a visita a Quintão fazem parte da estratégia de Serra de tentar consolidar sua candidatura no segundo lugar nas pesquisas de opinião.

Lula também participou de comemorações do centenário de JK, onde o governador de Minas, Itamar Franco (sem partido), colocou ao seu lado os dois candidatos que ele apóia: o petista para presidente e Aécio Neves (PSDB) para o governo do Estado.


Ciro se desculpa no horário eleitoral
Em queda nas pesquisas, Ciro Gomes (PPS) usou ontem todos os quatro minutos a que tem direito no rádio e na TV, à noite, para se desculpar por ter dito, há duas semanas, que o papel de sua mulher, a atriz Patrícia Pillar, na campanha era dormir com ele.

Essa foi a primeira vez que o candidato usou, no horário eleitoral, a palavra desculpas para o episódio. "[Foi] Uma brincadeira, que posso até pedir desculpas, se é uma brincadeira de mau gosto, mas é uma brincadeira tirada do contexto [por José Serra]", disse, afirmando tratar-se de "mais um ataque do candidato dos poderosos" contra ele, para "tentar confundir as mulheres".

"O que está em jogo não sou eu. Eu posso ser até um sacrificado a mais pelos poderosos. Não é isso que eu vou permitir", disse ele.

Pesquisas encomendadas pela coligação de Ciro teriam indicado que a frase do candidato sobre sua mulher produziu um efeito devastador entre eleitores do sexo feminino. O depoimento faz parte da estratégia para tentar recuperar o prejuízo.

Ciro afirmou que a "brincadeira" era uma "fórmula" para "driblar situações muito duras" que o casal está vivendo, "ora de saúde" (Patrícia está se recuperando de um câncer), "ora do desafio de enfrentar poderosos brasileiros em condição desigual".

Para rebater as críticas, que a propaganda de Serra abandonou há pelo menos uma semana, Ciro elogiou as mulheres brasileiras e citou ainda sua ex-mulher, Patrícia Gomes (candidata ao Senado pelo CE). "Fomos capazes, com a ajuda de minha ex-mulher, de abrir uma nova creche a cada três dias [...] Em homenagem à minha mãe, à minha ex-mulher, à minha atual mulher, à minha filha."


PFL e PSDB põem deputados contra Genoino
Coligação quer evitar exposição de governador; petista classifica ataques de rivais como "desespero" e culpa Alckmin

A veiculação de inserções no horário eleitoral gratuito de rádio com críticas à atuação parlamentar de José Genoino detonou ontem uma "guerra" entre o candidato do PT e a coligação liderada pelo tucano Geraldo Alckmin, que inclui PSDB, PFL e PSD.

O anúncio, assinado pelos deputados estaduais do PSDB e do PFL, diz que, em 20 anos como deputado federal, Genoino só conseguiu aprovar um projeto na Câmara do Deputados, e finaliza com a pergunta: "Um deputado que precisa de 20 anos para aprovar um único projeto vai dar conta de governar São Paulo?".

O ataque foi desferido dois dias após a subida de Genoino na pesquisa Datafolha: terceiro colocado, ele foi de 10% a 17% e se aproximou de Alckmin, que tem 25% -Paulo Maluf (PPB) lidera com 35%. Até então, Alckmin polarizava o bate-boca com Maluf.

O marqueteiro da campanha tucana, Luiz González, disse que foram os petistas quem iniciaram a batalha, ao veicular, desde a última sexta-feira, inserções de TV sobre irregularidades na construção do Rodoanel, uma das obras prioritárias da gestão Alckmin.

A escolha de transferir aos deputados o ônus dos ataques segue uma lógica simples: Alckmin não quer bater diretamente em Genoino para não inviabilizar o apoio do petista num eventual segundo turno contra Maluf.
"Não queremos machucar o PT", declarou o deputado estadual Edson Aparecido, presidente do PSDB em São Paulo.

Ainda assim, as críticas a Genoino continuarão nos próximos dias, com anúncios questionando o voto contra do petista em projetos como o Fundef e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Genoino classificou a ação como "desespero" da candidatura tucana. "O Geraldo [Alckmin] sabe que o PT está encostando nele e está desesperado, adotando essa visão medíocre", disse o petista.

Para Genoino, a estratégia será inútil. "Tomara que eles me critiquem por isso, pois, se tem uma coisa de que me orgulho, é de minha biografia parlamentar."

Deputado federal em cinco mandatos seguidos, desde 82, o petista foi avaliado em 2001 como "muito atuante" pelo caderno "Olho no Congresso", da Folha.

O projeto citado como o único a ser aprovado por Genoino regulamenta os direitos autorais no país.
Alckmin chamou de "bobagem" a irritação do rival. "Campanha é isso. Não tem que ficar choramingando", disse o tucano.


Maluf e Alckmin obtêm direito de resposta
A troca de acusações entre aliados do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) no horário eleitoral gratuito resultou em duas concessões de direito de resposta anteontem no TRE.
Alckmin obteve um minuto de direito de resposta no programa da coligação "Resolve São Paulo" (PL-PPB-PSDC-PTN). O motivo foi a apresentação de notícia de jornal sobre denúncia de fraude na licitação Anhangüera-Bandeirantes em propaganda de rádio de candidatos a deputado federal.

Na outra sentença, Maluf conseguiu um minuto no programa de TV da coligação "São Paulo em boas mãos" (PSDB-PFL-PSD), devido à veiculação de vídeo, na propaganda dos candidatos a deputado federal, em que o ex-prefeito aparece ao lado do então presidente Fernando Collor.

Em palestra ontem, Maluf utilizou a rebelião em Bangu I para atacar Alckmin. "O vice é eleito para ser vice. Quando assume, acontece isso [o motim], disse".


Artigos

O fracasso mais redondo
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Quando Fernandinho Beira-Mar foi preso na Colômbia, em abril do ano passado, o presidente Fernando Henrique Cardoso estava em Québec (Canadá) participando da Cúpula das Américas.
Mais precisamente, dava entrevista sobre os resultados da Cúpula quando foi interrompido por Andrés Pastrana, então presidente da Colômbia, exatamente para anunciar a prisão de Beira-Mar.

Já me pareceu absurdo, naquele momento, o fato de dois presidentes se rebaixarem ao papel de chefe de polícia, tratando como assunto de Estado o que deveria ser apenas um evento policial.

Agora, um ano e meio depois, mais absurdo ainda parece o festejo que ambos fizeram a propósito da prisão. FHC chegou a dizer que a prisão de Beira-Mar permitiria desmontar ligações do narcotráfico.

O que se vê, ao contrário, é que a prisão só forneceu facilidades ao traficante, que não tem custos para comer e dormir, mas mantém inalteradas as suas fontes de renda -para não falar de seus métodos.

É mais um retrato, se necessário fosse, do mais rotundo fracasso do governo FHC, que colocou segurança em um dos dedos da mão espalmada para simbolizar suas prioridades e só entregou insegurança em grau paroxístico (ele e os governadores de Estados como São Paulo e Rio, nos quais a violência escapou do controle, o que inclui Anthony Garotinho).

Chega a ser patética a incapacidade do governo de agir nessa área. Limita-se a anunciar planos após planos que jamais se materializam.

Na Espanha, país em que a violência é comparativamente muito baixa, o governo soltou ontem um pacote que prevê aumentar os quadros policiais, até 2004, em 20 mil pessoas, julgamentos rápidos em 15 dias, criação de 53 varas criminais adicionais, com a correlata contratação de 80 juizes e 70 promotores.
O único momento em que FHC parece ter razão é ao dizer, agora, que governar o Brasil é difícil. Difícil demais.


Colunistas

PAINEL

Munição para rivais
O procurador da República Luiz Francisco prepara ação judicial contra o ex-sócio de José Serra (PSDB) Gregorio Preciado e o ex-caixa de campanha do tucano, Ricardo Sérgio de Oliveira. Motivo: renegociação de dívida no Banco do Brasil que teria beneficiado Preciado.

A conferir
Na época em que a Folha revelou o empréstimo, em maio, Serra disse que nada tinha a ver com a operação no BB. Preciado afirmou que a dívida de suas empresas com o banco foi negociada segundo normas bancárias vigentes. Luiz Francisco deve fazer a denúncia hoje.

Campanha em crise
Pressionado por aliados a tirar o cunhado Einhart da Paz do comando do marketing da campanha presidencial, Ciro chamou o publicitário para uma conversa. Disse a ele que contratasse quem quisesse para auxiliá-lo.

Você decide
Einhart disse que, dos marqueteiros disponíveis no mercado, não aceita trabalhar com nenhum. Ciro, se quisesse, que o substituísse, o que não deve ocorrer. Ontem, o cunhado do presidenciável sondou jornalistas para assessorá-lo.

Longo alcance
Para se desculpar às mulheres pela declaração sobre o papel de Patrícia Pillar na campanha, Ciro disse ontem, no rádio: "Você, mulher, olhe no meu olho".

Vale tudo
Ronaldo Lessa espalha em AL que Collor, seu adversário na disputa pelo governo, teria, numa discussão, quebrado os dentes de Genivaldo Agra, prefeito de Carneiros (AL), antes de um comício em Canapi. O governador alagoano diz ter oferecido proteção policial ao prefeito.

Versões conflitantes
Colloridos negam que houve a agressão. Agra não apareceu na Prefeitura de Carneiros ontem. Um sobrinho diz que o prefeito viajou e não levou o celular.

Amigo do peito
Lula telefonou para o candidato do PT ao governo do Maranhão, Raimundo Monteiro, e ordenou que ele parasse de atacar em seu horário eleitoral o grupo de José Sarney (PMDB). O ex-presidente é aliado do petista na sucessão de FHC.

Paz e amor
A bronca de Lula em Monteiro deu certo. O programa de TV do PT-MA, que na quarta à tarde atacou o ex-presidente Sarney (PMDB), foi substituído na versão noturna por outro que apenas mostrou o programa de governo do candidato petista.

Chute na canela
O comitê de Serra guardou todas as imagens da rebelião em Bangu 1 para usar contra Lula assim que ele atacar a política de segurança de FHC. Para os tucanos, esse é o material que faltava para rebater as acusações do petista contra o governo federal.

Chumbo trocado
Serra agora considera estar "armado" c ontra Lula. Quando o PT citar casos de corrupção no governo federal, a resposta será Santo André. Quando as denúncias forem contra os "desmandos" em Brasília, os governos petistas do RS e do MS e a Prefeitura de SP serão lembrados.

Apropriação eleitoral
Francisco Escórcio, suplente de senador, imprimiu na gráfica do Senado um livro com uma carta elogiosa de Marco Aurélio de Mello, presidente do STF, dizendo que ela foi endereçada a ele. Detalhe: o texto do ministro havia sido enviado a outro Francisco, o deputado federal Chiquinho Feitosa (PSDB-CE).

Medidas éticas
Marco Aurélio reclamou com Ramez Tebet, presidente do Senado, e pediu providências "cabíveis" contra Francisco Escórcio, candidato a deputado no Maranhão. Na carta, o ministro, no exercício da Presidência da República, convidava Feitosa para a sanção do projeto da TV Justiça, de autoria do deputado.

TIROTEIO

De Carlos Lupi, vice-presidente do PDT e candidato ao Senado pelo RJ, sobre o discurso da campanha presidencial tucana:
- José Serra é um caso para o Procon. Onde já se viu um candidato se apresentar como mudança sendo a própria encarnação da continuidade? Serra é o FHC com olheiras.

CONTRAPONTO

Corpo presente
O senador Lúcio Alcântara, candidato do PSDB ao governo do Ceará, tem usado na campanha um sistema de telemarketing que faz discagens aleatórias. Ao atender o telefone, o eleitor passa a ouvir uma mensagem gravada de Lúcio, que se identifica e pede voto.
Na gravação, o candidato é todo formal e pede licença para "entrar" na casa do eleitor antes de apresentar suas propostas e pedir o apoio.
Na semana passada, Lúcio participou de uma caminhada na cidade de Jardim, no sul do Estado. No meio da passeata, ouviu duas senhoras humildes conversando:
- Matilde, sabe quem me ligou ontem? O senador Lúcio!
Ante a incredulidade da amiga, a eleitora prosseguiu:
- Ele é tão educado, até pediu licença para entrar na minha casa. É lógico que ele pode entrar, na hora que quiser...


Editorial

SAÍDA MULTILATERAL

Teve tom imperial o discurso de George W. Bush na Assembléia Geral da ONU ontem. O presidente norte-americano praticamente exigiu que as Nações Unidas tomem uma atitude contra o Iraque. Bush dificilmente poderia ser mais claro: "Os propósitos dos EUA não devem ser postos em dúvida. As resoluções do Conselho de Segurança serão implementadas (...) ou a ação será inevitável. E o regime que perdeu a legitimidade perderá também o poder".

Muitas das acusações que os EUA fazem contra o Iraque procedem. Há evidências de que Bagdá mantém programas de desenvolvimento de armas nucleares e biológicas. É certo que possui arsenais químicos, armamento que, aliás, já utilizou contra o Irã e contra sua própria população curda nos anos 80, quando recebia armas e apoio logístico dos EUA. É também um fato que Saddam Hussein persegue implacavelmente seus opositores. E, como Bush bem salientou, o Iraque vem, desde 1991, através de todo tipo de falsas promessas e artifícios, ludibriando a ONU e seus inspetores de armas.

Mesmo considerando esse nada abonador histórico iraquiano, é um erro engajar-se em uma nova guerra contra o Iraque sem esgotar todas as possibilidades de encontrar uma solução negociada. Como observou o presidente francês, Jacques Chirac, todos desejamos ver Saddam Hussein deposto, mas a política externa deve ser feita "com alguns princípios e um pouco de ordem".

Por "alguns princípios" deve-se entender que a ONU não pode emprestar sua autoridade para a promoção de golpes de Estado. Uma organização multilateral como as Nações Unidas não pode ser instrumentalizada por países poderosos como os EUA para revestir de legalidade interesses nem sempre confessáveis.

É legítimo e proveitoso que a comunidade internacional, por meio do Conselho de Segurança, faça Saddam Hussein cumprir o que ficou determinado após a rendição do Iraque na Guerra do Golfo. A ONU deve lançar um ultimato para que Bagdá aceite a volta dos inspetores de armas de destruição em massa. Se Saddam Hussein, mais uma vez, furtar-se a esse compromisso, então, e só então, as Nações Unidas devem chancelar o recurso à força.

Saddam Hussein é um tirano sanguinário, mas está longe de ser o único dirigente nessa categoria. Se é lícito derrubá-lo, como quer Bush, o mesmo tratamento deveria ser estendido a vários outros líderes, cujos regimes preenchem os mesmos requisitos. É algo que os EUA não parecem muito ansiosos por fazer.


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09/13/2002


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