Mooca, uma história que pede para ser contada a todo momento



Conheça o roteiro traçado pelo escritor Fernando Bonassi, nascido no bairro

Uma Mooca trabalhadora, de classe média, povoada por italianos carcamanos, portugueses bigodudos, espanhóis ranhetas e iugoslavos malucos – uma mistura de brancos e sotaques. Assim é o roteiro traçado pelo escritor, dramaturgo e cineasta nascido na Mooca, Fernando Bonassi. “É um lugar de imigrantes, dos nossos avós. As pessoas compravam suas casas baratas na Mooca, antiga periferia do Brás, região onde trabalhavam”.

Seu itinerário mostra a trajetória do trabalho e da imigração, já que é uma das regiões da cidade que mais recebeu imigrantes no início do século passado. Eram pessoas que desembarcavam com vontade de trabalhar, porque precisavam pagar o aluguel do dia. “A coisa mais importante de um país são seus imigrantes, porque representam a força de trabalho mais forte que existe”.

Bonassi sugere um interessante passeio por sobrados, galpões, fábricas desativadas e linhas de trem abandonadas, sem deixar de lado o Clube Juventus, a Igreja do Bom Conselho, a Hospedaria dos Imigrantes, “por onde muitas pessoas viram São Paulo pela primeira vez”, e o Museu da Imigração, um dos mais importantes da cidade pela experiência demográfica que ele proporciona.

Explica que sua intenção foi a de apresentar um circuito do que ainda está preservado e guarda a história do bairro, que são as Ruas Borges de Figueiredo, Avenida Cassandoca e principalmente a Henry Ford, onde estão os restos da primeira fábrica de automóveis estabelecida no Brasil, os galpões e a linha de trem desativada. “Felizmente isso está por enquanto resguardado pela ignorância, que é o jeito como as coisas ficam no Brasil. Envelhecem e perdem o interesse”. Parte dessa preservação, segundo ele, se dá também porque no bairro a propriedade é muito bem distribuída: cada lote, cada espaço, tem um dono diferente, o que dificulta a especulação imobiliária, embora não a impeça.      

Origens soterradas – Esse é, por sinal, um sério problema que a Mooca vem enfrentando nos últimos anos, com a crescente construção de torres residenciais, aumentando exageradamente a população local. “Estão levando embora galpões industriais que estão ali há cento e tantos anos e erguendo prédios no lugar. Vai faltar água, espaço, infra-estrutura, vai faltar para onde ir”, prevê o cineasta.

A solução, segundo Bonassi, seria a ocupação dos espaços de forma a torná-los adequados à sua população, com a construção de centros culturais, criação de áreas verdes... “A fábrica da Ford, por exemplo, poderia ser tombada. Aliás, a empresa tem a obrigação moral de olhar para aquela fábrica e devolver aquele espaço para os moradores, em forma de um museu, por exemplo, que ajude a contar a história do bairro. Precisamos começar a jogar para quem destrói a possibilidade de reconstruir”.

É por esses e outros motivos que o autor acredita na efemeridade de seu roteiro. “É um circuito que ainda pode ser feito por no máximo dez anos, porque se a gente não contar logo a nossa história, ela desaparecerá”, sentencia, ao citar bairros que, como o Tatuapé, tiveram suas origens soterradas por prédios e shoppings.