MP envia recurso contra Eudo ao STF
MP envia recurso contra Eudo ao STF
Ministério Público quer invalidar decisão do Tribunal de Justiça que devolveu o mandato ao deputado
Mesmo tendo ficado por mais um ano de posse dos relatórios das CPIs do Narcotráfico (federal e estadual), cujos trabalhos embasaram a cassação do deputado estadual Eudo Magalhães (PPB), o Ministério Público de Pernambuco não conseguiu encaminhar à Justiça ação alguma contra o parlamentar. A alegação foi a superficialidade dos indícios de envolvimento de Eudo com pistolagem e narcotráfico - supostos indícios que levaram à Assembléia Legislativa a cassar o deputado.
No entanto, agora, depois de Eudo ter reassumido o mandato - através de mandado de segurança concedido pelo TJ - o MPPE resolve "voltar" ao caso. Segundo informações do próprio parlamentar, o Procurador Geral do Estado, Romero Andrade, enviou um recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal (STF) com o intuito de invalidar a decisão do TJ. A assessoria de imprensa do MPPE confirmou que o recurso foi encaminhado ao STF. Adiantou também que Romero Andrade está viajando e que não iria falar sobre o assunto.
O MPPE foi mais ágil que a própria AL, que também vai entrar com um recurso semelhante no STF. A procuradoria da Casa estava aguardando a publicação do acórdão (texto da decisão) do julgamento do TJ para realizar o procedimento. O acórdão foi publicado no dia 17. Mas no dia seguinte, o advogado de Eudo, Mário Gil Rodrigues, entrou com um pedido na Diretoria Cível do TJ e retirou o processo, que foi devolvido no dia 23. "Precisava consultar os autos para conhecer uma petição feita pela procuradoria da AL", explicou o advogado.
Segundo o procurador da AL, Sílvio Pessoa Júnior, a retirada dos autos impediu que estes fossem consultados e que o recurso fosse formulado. "Tivemos de enviar um pedido ao desembargador Freitas Medeiros (relator do acórdão) para que ele viabilize a volta dos autos e estabeleça novo prazo para que possamos recorrer", informou. A AL teria 30 dias para encaminhar o recurso ao STF, contando a partir do dia 18.
Eleição sem terceira via e polarizada
Disputa estadual repete tradição histórica de luta entre dois palanques com chance de vitória. Mas, pela primeira vez desde 1982, partidos da oposição vão às urnas sem candidato natural
A disputa eleitoral de 2002 em Pernambuco será diferente de todas as outras ocorridas após a retomada das eleições diretas para governador (em 1982), mas uma tendência histórica deve repetir-se: a polarização entre duas candidaturas. Do lado governista todos os indicativos são de que o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) tentará a reeleição. No bloco oposicionista, apesar da indefinição sobre os nomes, e mesmo considerando a hipótese de lançamento de mais de um candidato a governador, é quase consensual a avaliação de que somente um terá chances reais de ir a um eventual segundo turno.
O que torna o pleito de 2002 diferente dos anteriores é que, pela primeira vez desde 1982, as esquerdas não têm o chamado "candidato natural" ao Governo. Outro fator de diferenciação é o vínculo direto de líderes políticos do Estado com os palanques da sucessão presidencial. "A eleição presidencial vai influenciar diretamente, e muito, a eleição estadual em Pernambuco", afirma a coordenadora de pós-graduação em História da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Socorro Ferraz. "É por isso que a eleição no Estado não pode ser analisada isoladamente", completa.
ESQUERDA x DIREITA - A fragmentação que deve ocorrer com os palanques presidenciais, no entanto, não deve se verificar na disputa pelo Governo estadual e Senado. "Historicamente, Pernambuco é um Estado com uma política muito radicalizada, e isso acaba dificultando o surgimento de uma terceira via", diz o deputado federal Eduardo Campos (PSB), neto do ex-governador Miguel Arraes.
A professora Socorro Ferraz identifica os primórdios da bipolarização política pernambucana na Confederação do Equador, revolta de caráter republicano e separatista ocorrida em 1824. Nesse período as forças políticas locais dividiram-se em posições antagônicas, uma mais conservadora e outra mais liberal. "E nunca mais se conciliaram", afirma a professora.
A divisão foi radicalizando-se ao longo dos anos, evoluindo posteriormente para um embate esquerda x direita. Nas disputas políticas contemporâneas em Pernambuco, considera a professora Socorro Ferraz, há sempre uma força mais voltada para a questão social e outra de perfil mais liberal.
Aliado às questões políticas que favorecem a tendência atual da bipolarização, há um outro fator de ordem prática, e que - mais do que nos pleitos anteriores - terá grande influência na disputa de 2002: a necessidade de estrutura para sustentar uma campanha estadual, ou seja: dinheiro, palanques municipais, candidatos locais, campanha feita no dia-a-dia e não apenas durante alguns dias da semana.
ESTRUTURA - "Na oposição, só o PSB tem uma estrutura capaz de tocar a campanha do sertão ao litoral", afirma um integrante histórico da esquerda, que preferia que o quadro fosse diferente. No PT, que deseja encabeçar a chapa oposicionista, também há esse entendimento. Embora fortalecido pela candidatura de Luis Inácio Lula da Silva à Presidência da República e pela conquista da Prefeitura do Recife, o partido ainda é frágil no Interior. Sobram o PDT, PPS e PTB- todos também desprovidos da "estrutura" para, com chances de vitória, montar um palanque estadual.
PMDB vive dilema entre ser ou não Governo
O que o destino reserva para o PMDB em 2002? O governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) já tem a resposta: "Vai ser caco de partido para todo lado". Demonstrando estar habituado com as crises pré-eleitorais do PMDB - em 89, 94 e 98 a legenda viveu o mesmo drama de ser ou não governo - Jarbas reconheceu mais uma vez, sexta-feira, as dificuldades de barrar a candidatura do governador Itamar Franco (PMDB/MG) ao Palácio do Planalto.
Ele também admitiu não alimentar grandes expectativas de que a viagem de última hora à Madri e Paris feita pelos três presidentes dos maiores partidos governistas, inclusive o do PMDB, Michel Temer, com o presidente Fernando Henrique Cardoso, vá mudar muito o rumo dos acontecimentos. "A minha impressão é de que as prévias do PMDB se realizam mesmo no dia 20 de janeiro", declarou o governador, mesmo considerando as articulações de Temer para adiá-las. Itamar é considerado imbatível nessa disputa interna.
"O presidente (Temer) disse que pode adiar essa reunião. Depende dos encaminhamentos. Ele viajou, eu não acompanhei mais", disse Jarbas, sem mostrar muita esperança. "É possível que lá para quarta ou quinta-feira a gente tenha novidade, mas por enquanto não. Vamos aguardar", complementou. Jarbas chegou a propor recentemente a ampliação das prévias do PMDB para outros partidos da base aliada, especialmente o PSDB e o PFL. Mas logo depois admitiu a inviabilidade da proposta.
Questionado se estaria entregando os pontos em relação à Itamar, Jarbas enfatizou: "Eu não tenho pontos para entregar. Não sou concorrente de Itamar, nunca disse que era candidato a presidente da República nem que ia colocar meu nome nas prévias". O governador pernambucano é considerado o maior adversário de Itamar Franco dentro do PMDB. Foi um dos principais responsáveis pelo naufrágio da candidatura dele a presidente do PMDB e pela vitória do deputado federal Michel Temer (SP).
Maior adversário do governador mineiro dentro do PMDB, Jarbas fez um prognóstico sombrio para ele:"Dr. Ulisses teve 5% dos votos. Quércia, 4%. Itamar deve ficar na faixa de 2% ou 3%. É o que eu presumo". No plano nacional, historicamente o PMDB fica próximo ao governo e no último ano ameaça romper. O resultado são candidatos cristianizados, com dissidências, como o ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia em 94, ou sem dissidências, como o ex-deputado federal Ulisses Guimarães, em 89.
Em 98, a grande maioria do PMDB apoiou Fernando Henrique, mas oficialmente o partido não coligou com ninguém e dividiu o seu tempo na TV proporcionalmente. Em todos os casos, cada facção peemedebista tratou de cuidar de seus próprios interesses nos seus estados.
Orçamento da PCR contém falhas
Um deslize cometido pela Prefeitura do Recife durante a elaboração do projeto do Orçamento Anual do Município serviu de subsídio para a contestação do documento pela bancada do PFL na Câmara do Recife. A PCR enviou à Casa o projeto com quatro páginas em branco, onde, segundo o índice, deveriam constar os quadros demonstrativos da consolidação geral do orçamento para 2002. Além dessa falha, os pefelistas também apontam erros nas tabelas onde estão discriminadas os valores dos investimentos e, ainda, reclamam da ausência da receita das empresas indiretas da Prefeitura.
Quanto as diferenças constatadas nas tabelas de investimentos, os pefelistas citam o ofício de apresentação do documento assinado pelo prefeito do Recife, João Paulo (PT). Segundo eles, enquanto o petista informa que "a presente proposta estima que serão realizados investimentos no município, da ordem de R$ 164.421.238,00", na página 58 do projeto, o valor estimado é de R$ 153.321.238,00. "As falhas são gritantes e não vamos ficar calados", advertiu Heráclito.
O secretário de Assuntos Jurídicos da PCR, Maurício Rands, acredita que o problema aconteceu por simples falha de impressão. "É o que chamamos de erro material. E isso é tão normal que o próprio Código Civil prevê a possibilidade do juiz corrigir eventuais erros de sentença", explicou. Segundo ele, se o erro foi de impressão o problema será resolvido com a substituição das páginas. "Agora se a falha é de informação, o prefeito poderá mandar uma emenda corrigindo os dados".
Onze governadores sonham com o Senado
BRASÍLIA - A candidatura ao Senado é o caminho preferido pelos governadores que estão deixando o cargo em 2002 e não poderão disputar a reeleição. Apesar da crise ética na Casa, que culminou com a renúncia de Antonio Carlos Magalhães, José Roberto Arruda e Jader Barbalho, 11 governadores querem mudar-se para Brasília.
Outros três podem pleitear uma vaga no Senado se não conseguirem viabilizar seus nomes à Presidência - Roseana Sarney (PFL-MA), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Itamar Franco (PMDB-MG). Os governadores que disputarão o Senado terão de deixar o cargo seis meses antes da eleição. Isso pode fazer três governadores que são rompidos com seus vices desistirem de disputar a eleição.
O piauiense Mão Santa (PMDB) tem como vice Osmar Júnior, do PCdoB. O governador teme deixar a máquina por seis meses nas mãos de Osmar, que poderia viabilizar sua candidatura ao Governo e ceder seu palanque a Lula. No Pará, o vice Hildegardo Nunes filiou-se ao PTB, candidatou-se ao Governo e passou a apoiar Ciro Gomes à Presidência, o que gerou seu rompimento com Almir Gabriel (PSDB).
Almir lançou seu secretário do Planejamento, Simão Jatene, à sua sucessão. O catarinense Espiridião Amin (PPB), que ainda pode tentar mais um mandato, deve preferir o Senado e apoiar sua mulher, Angela, para sua sucessão. A candidatura de Angela, contestada pelos rivais pelo parentesco com o governador, já foi autorizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Outros dez governadores devem tentar permanecer no cargo por mais quatro anos. Dois deles podem mudar de planos para tentar vôos mais altos: Geraldo Alckmin (PSDB-SP) tem o nome lembrado para uma improvável candidatura presidencial e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) pode ser o vice em uma eventual chapa encabeçada por José Serra.
Rumo distinto de todos tomou Amazonino Mendes (PFL-AM). Dizendo-se desiludido com a política, promete dedicar-se a seu escritório de direito ambiental após o final do mandato.
PTN abriga os expurgados da política
Sigla de Celso Pitta até o mês passado, o partido agora tem como filiado Luiz Estevão e José Ignácio
BRASÍLIA - Com apenas um deputado seu próprio presidente, José de Abreu (SP) e direito a 39 segundos de propaganda na TV durante as eleições, o Partido Trabalhista Nacional (PTN) se transformou no abrigo dos expurgados da política. Sigla de Celso Pitta até o mês passado, o PTN é a nova morada do governador do Espírito Santo, José Ignácio Ferreira, acusado de corrupção, e do ex-senador Luiz Estevão, que teve o mandato cassado por desvio de recursos do TRT de São Paulo. Também acolheu o ex-deputado Talvane Albuquerque acusado de mandar matar a deputada Cecy Cunha (AL) pouco antes do processo de cassação. Para Abreu, todos foram injustiçados. Tanto que ele é incapaz de votar pela cassação de mandato de um companheiro. Nem mesmo o do violento Hildebrando Paschoal (AC).
Não somos juízes de ninguém" diz ele, que também é alvo de pedidos de autorização para que seja processado pelo Supremo Tribunal Federal. Dona de uma rádio fechada pelo regime militar, a família Abreu recebeu uma indenização milionária da União após a abertura. Em 1990, quando Dorival de Abreu, irmão do deputado e fundador do PTN era secretário de Administração de Jânio Quadros, os Abreu receberam da Prefeitura de São Paulo um terreno para a instalação de uma rádio, a Atual, dedicada ao público nordestino.
Apesar de nascido em São Paulo, o deputado fundou, no mesmo terreno, o Centro de Tradições Nordestinas. No mesmo terreno funcionam ainda um estacionamento pago e um mercado de alimentos típicos. A fonte de água é clandestina. Ainda assim, Abreu cobra dos condôminos uma taxa de serviço. À véspera do Carnaval, o espaço foi interditado pelo Corpo de Bombeiros.
DEVOLUÇÃO - A prefeita Marta Suplicy (PT) já determinou a devolução do terreno. Em Osasco, outra rádio da família, a Iguatemi, passa pelo mesmo problema. Na década de 90, a prefeitura cedeu um terreno para a fixação de duas torres da rádio. Em troca, a cidade ganharia uma creche. A promessa nunca foi cumprida.
Em São Paulo, o irmão Paulo de Abreu dono de uma rede de TV e de onze rádios já foi acusado de pular muros para tirar fios de outras emissoras. Um sobrinho do deputado, Marco Aurélio Abreu, foi preso a caminho da posse na Secretaria Municipal de Administração, em 1999. Convidado por Pitta, ele foi preso por causa do processo de falência de sua empresa.
Nos cálculos do presidente regional do PTN, Milton Cintra, o ex-senador Luiz Estevão levou seis mil novos filiados para o partido no Distrito Federal. A meta de Estevão, segundo Cintra, é eleger cinco distritais e um deputado federal. Reconquistando na Justiça seus direitos políticos, o empresário concorrerá ao Governo do Distrito Federal.
"Minha pretensão é, se recuperar meus direitos políticos, concorrer ao Governo. Até lá, não importa a que partido estou filiado" diz Estevão. Cintra diz contar com a máquina montada pelo empresário para vencer no Estado. "Em cima da máquina que ele possui, temos uma base sólida para as eleições. O primeiro é o PT. Depois, o PMDB. Em terceiro, está o PTN", festeja ele.
Fundado na década de 40 e fechado depois do golpe de 1964, o PTN já participou da História. Foi filiado a ele que Jânio Quadros se elegeu presidente da República. O partido foi reaberto em 1995, por Dorival Abreu, deputado federal na década de 1966.
Artigos
Crença versus não-crença
Clóvis Cavalcanti
Um dos mais percucientes textos que li sobre a situação decorrente dos atentados de 11 de setembro, nos Estados Unidos, foi de um rabino, Michael Lerner, na re vista Time de 1º de outubro. Intitulado “Em Defesa da Paz”, o artigo - começando por desejar sucesso ao presidente George W. Bush na captura e julgamento dos terroristas -, assinala que seria ingênuo supor que se pode ficar livre do terrorismo sem confrontar as realidades mais profundas que o produzem. Essas realidades nada têm a ver com a presunçosa declaração de Bush perante o Congresso americano de que se estava iniciando ali uma guerra do bem contra o mal. Nada têm a ver, igualmente, com o juízo, também maniqueísta, expresso por Osama bin Laden (em Portugal, chamam-no, mais perto da prosódia, de Ussama ben Laden) na TV Al-Jazira, do Qatar, de que os eventos de 11 de setembro e a reação americana “dividiram os mundo em dois campos: o campo da crença e o da descrença”. Na visão, que me parece sensata, do religioso que é Lerner, “existe uma incapacidade global crescente de se reconhecer o espírito de Deus no outro”. Vivemos numa sociedade, segundo sua percepção, em que se busca a condição de primeiro em tudo, em que a situação financeira é a medida do sucesso, em que se vê o outro, primariamente, como instrumento de realização de nossos objetivos e satisfações. Uma globalização que se condiciona pela conquista única de eficiência econômica e de vantagens competitivas no desempenho das sociedades seria exemplo disso.
Dentro de uma perspectiva de busca da justiça e da paz, Lerner, um judeu, saliente-se, argumenta que, se a meta, numa luta duradoura contra o terror, é a completa marginalização dos terroristas, o que se teria de fazer é impedir sua habilidade de recrutar gente para as tarefas mortíferas que lhe são atribuídas. Imaginem, diz ele, se bin Laden e outros de seu estofo tivessem que arregimentar colaboradores contra os EUA num mundo em que estes usassem seus recursos para eliminar a pobreza e a desigualdade; em que os Estados Unidos liderassem o planeta no marco de ações generosas de cuidados com os que sofrem, de responsabilidade ecológica, de tratamento respeitoso das minorias e de recompensa às pessoas e corporações por sua responsabilidade social; e em que se promovesse uma reestruturação das economias valorizando-se práticas institucionais que associassem a maximização do lucro à maximização do amor e das iniciativas benemerentes (uma emenda de Responsabilidade Social à Constituição ianque). Algo desse tipo, aliás, registra Lerner, pôde ser testemunhado nas ações de bombeiros, policiais e voluntários que deram o melhor de si na ajuda aos sobreviventes do World Trade Center, prova de que uma alma generosa existe no povo estadunidense.
Lamentavelmente, não é isso o que se embute seja nas ações bélicas atuais dos EUA, seja no comportamento dos que comandam o país, o que sugere que não se está adotando ali estratégia apropriada para combater o terrorismo. De fato, em editorial intitulado “The Roots of Hate” (As raízes do ódio), a sóbria e muito pró-EUA revista The Economist (de 22 de setembro), apesar de reconhecer que não faz sentido dizer que o país atraiu para si os atentados, comenta que o argumento de que, em política, os Estados Unidos são “arrogantes e até hipócritas”, merece atenção. Instâncias dessa atitude seriam, por exemplo, a rejeição pelos EUA, ao sabor único de seus interesses, da proibição de testes nucleares; de uma corte internacional de justiça (o Tribunal Penal Internacional, a que os americanos não admitem submeter seus possíveis criminosos); de uma convenção sobre as terríveis minas terrestres; do pagamento de suas quotas atrasadas às Nações Unidas (nas últimas semanas, resolveram pagá-las); da Convenção sobre Armas Biológicas (cuja necessidade o caso do antraz, ironicamente, está trazendo à baila); do Protocolo de Kyoto (que The Economist acha que é para ser rejeitado mesmo) etc. A isso se acrescentariam ainda certas atitudes dos Estados Unidos, que têm gerado ódio em toda parte. A deposição de Salvador Allende, no Chile, coincidentemente em um 11 de setembro (de 1973), sob patrocínio ianque, com toda a seqüela de terror que trouxe debaixo do guante do ditador Augusto Pinochet, é uma dessas situações, como também a de apoio a ditaduras em países árabes ou a governos despóticos como, no Irã, o do xá Reza Pahlavi, imposto no rasto da derrubada anglo-americana do governo nacionalista laico de Muhammad Mossadegh em 1953. Não se pode esquecer também o apoio unilateral dado a Israel contra os palestinos, causa de tanto mal-estar e fonte de muito ódio no mundo islâmico. Segundo The Economist, os Estados Unidos “poderiam, algumas vezes, ter feito mais para refrear os israelenses”.
Roberto DaMatta, em artigo no Diário de Notícias de Lisboa, de 8 do corrente, fala da “humilhação de ser pobre num mundo globalizado” e dos riscos de a reação americana “ser moralmente tão desastrada e mais cruel do que o ataque inicial”. Na mesma linha, a afirmação da feminista argelina Wassyla Tamzali no I Encontro Euro-Magrebino (Madri, 6-7.10) acerca da “imensa humilhação” que os árabes sofreram com a colonização ocidental, permite ver quão lúcida é a argumentação do rabino Michael Lerner. De fato, o combate ao terror seria muito mais eficaz num Mundo construído sobre a generosidade, a solidariedade e os valores espirituais de cristãos, muçulmanos e judeus.
Colunistas
DIARIO Político
Um interesse antecipado
A maioria dos eleitores não está interessada nos debates sobre sucessão presidencial, conforme revelou pesquisa do Vox Populi divulgada na semana passada, indicando que 75% das pessoas consultadas não deram a mínima para o assunto. Mas os marqueteiros políticos de todo País já estão ligadíssimos no tema. A partir da estréia de Duda Mendonça como guru eletrônico de Luís Inácio Lula da Silva (PT) e do crescimento de Roseana Sarney (PFL-MA) nas pesquisas, com a campanha criada por Nizan Guanaes, surgiu uma grande expectativa no mercado com nomes consagrados da publicidade como Mauro Salles, Nelson Biondi e tantos outros, aguardando ansiosamente a definição dos candidatos. As cifras de uma campanha presidencial são o atrativo desse jogo onde vence quem consegue vender melhor seu candidato diante das telas da TV, no horário destinado à propaganda eleitoral gratuita. Que de gratuito só tem mesmo o espaço na televisão porque somas astronômicas marcam a produção dos programas. Entre os marqueteiros, calcula-se que somente com esse item da campanha, onde estão incluídas as pesquisas, serão gastos cerca de R$ 20 milhões numa eleição nacional como a de presidente da República. Mas, o custo total da propaganda para atingir 110 milhões de eleitores pode chegar a R$ 2 bilhões, segundo cálculos dos especialistas. Quantia suficiente para justificar a movimentação dos marqueteiros e o interesse antecipado deles pela eleição do ano que vem .
Além de Marco Maciel, José Jorge e Mendonça Filho também gravaram para as inserções do PFL na TV. O vice-governador, ao contrário do vice-presidente e do ministro, vai aparecer falando
Censo
Começa quinta-feira o recadastramento dos servidores da PCR. O censo é para todos os funcionários mas inicia com os da administração direta e deve terminar na primeira quinzena de janeiro. Quem não se recadastrar, terá o salário bloqueado.
Campanha 1
Inocêncio Oliveira (PFL-PE) andou comentando que ia dizer a Marco Maciel que está na hora de André de Paula deixar a presidência estadual do PFL. Porque como o secretário de Desenvolvimento Rural é candidato à reeleição, segundo o deputado, cuida mais das bases eleitorais que do partido.
Campanha 2
Ele também prometeu sugerir a Maciel que colocasse José Jorge como presidente do PFL porque o ministro das Minas e Energia tem mandato de senador e não é candidato. Por isso, Inocêncio acha que ele não teria problemas para comandar o partido e coordenar a eleição de 2002.
Perfil
Romário Dias (PFL) faz o lançamento dos primeiros volumes do Perfil Parlamentar Século XX, quarta-feira, às 18h, na Assembléia. Além de Jarbas Vasconcelos e Marco Maciel, estarão na festa os ex-governadores Cid Sampaio, Joaquim Francisco, Miguel Arraes, Roberto Magalhães e Carlos Wilson.
Surpresa 1
Apesar de se relacionar muito bem com Jarbas Vasconcelos, alguns pefelistas contam que Mendonça Filho está pronto para disputar uma vaga na Câmara federal. Para não ser surpreendido se o governador escolher outro nome para vice, caso dispute a reeleição em 2002.
Surpresa 2
O comentário é que o vice-governador está apenas se prevenindo. Porque até hoje não conseguiu esquecer uma declaração de Jarbas Vasconcelos dizendo que não sabia se Mendonça Filho seria novamente o vice da sua chapa, se ele decidisse disputar um segundo mandato.
Senha
Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Roseana Sarney (PFL-MA) firmaram um pacto aparentemente inocente: não concorrerão um contra o outro à Presidência da República. Há quem diga que é a senha para uma aliança PSDB/PFL em 2002.
Trombada
Pedro Mendes, que divergiu da direção do PSB quanto à entrada do vereador Clóvis Corrêa no partido, deve dar outra trombada com os caciques socialistas. É que o vereador olindense já avisou ao pessoal do PT que votará em Lula, mesmo se Anthony Garotinho for o candidato do PSB a presidente.
Tempo
Severino Cavalcanti (PPB-PE) se reúne com o embaixador de Cuba no Brasil, na próxima semana, para tentar resolver o caso da menina Anabel que não consegue autorização de Fidel Castro para se juntar aos pais que vivem em Catende. O tempo, decididamente, é um grande remédio.
Editorial
Turismo
A falência da maior operadora de turismo do Brasil, a Soletur, era inevitável aos olhos de quem acompanhava as suas dificuldades financeiras. Nos últimos anos, os prejuízos acumulados chegaram a R$ 30 milhões. A desvalorização do real em janeiro de 1999 e os recentes ataques terroristas em Nova Iorque e Washington, explicam os proprietários da empresa, tornaram a situação insustentável. Mais de 60% de seu faturamento procediam da venda de excursões turísticas ao Exterior, 40% aos Estados Unidos e Canadá.
Eram previsíveis os desfalques financeiros não apenas nos negócios da Soletur, mas de todos os provedores turísticos especializados em pacotes internacionais a partir da escalada do dólar. O setor, contudo, sofreu golpe em extensão mundial após as tragédias de Wall Street e do Pentágono. A síndrome do medo paralisou no solo mais de 60% das migrações turísticas transportadas por via aérea nos Estados Unidos. A crise alcançou tal ponto que o presidente George W. Bush destinou US$ 15 bilhões às empresas aéreas para livrá-las da falência. A situação não é muito diferente na Europa.
O colapso da Soletur oferece oportunidade para abordagem da questão turística no Brasil. São crônicos os prejuízos da balança comercial referentes ao setor. Em 2000, chegaram a nada menos de US$ 2,084 bilhões. E, graças à contenção de viajantes rumo ao estrangeiro em razão das elevadas cotações do dólar, este ano serão menores. Ainda assim, ficarão em torno US$ 1,4 bilhão.
É regra experimentada e aprovada há décadas nos mercados mais receptivos à incursão de estrangeiros, França e Espanha à frente, que o desenvolvimento do turismo interno é fundamental. Constitui a base sobre a qual se vão erguer as infra-estruturas econômicas e as estruturas profissionais aptas a seduzir e recepcionar os visitantes oriundos do Exterior.
São tímidas, escassas, as políticas de estímulo para induzir compreensão adequada do problema e levá-la a produzir efeitos no mundo real. Turismo é atividade de massa. Sua grande clientela é a classe média. Os ricos são minoria. Não podem movimentar todos os espaços de uma indústria, a chamada indústria sem chaminés, que se expressa por abrangência superior a qualquer outra. No Brasil, contudo, são raras as iniciativas fundadas em princípios de seletividade para atender às diversas faixas de renda das correntes turísticas.
Mas, se há preparo insuficiente do setor no âmbito interno para criar condições ao turismo externo, o que se vê são raquíticas propagandas no Exterior quase sempre realizadas de modo espasmódico. Explica-se, assim, por que no Brasil só 4,4% da mão-de-obra operam nas atividades ligadas ao turismo. Nos Estados Unidos, o percentual vai ao triplo, 12,6%. Na França, 13,4%. A falência da Soletur não terá sido de todo trágica se, pelo menos, servir de reflexão para uma tomada de consciência sobre o futuro da indústria turística no Brasil.
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10/28/2001
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