Nikkeis nas universidades públicas: lição de talento e dedicação
Comemorações do centenário destacam a presença dos descendentes de japoneses na academia
Cem anos depois da chegada ao país dos primeiros imigrantes japoneses, a educação brasileira e, em especial, o ensino e a pesquisa universitários têm procurado fazer eco às manifestações que a efeméride despertou em praticamente todos os campos da vida nacional em que os nikkeis - os descendentes de japoneses que vivem fora do Japão - se envolveram com sucesso.
As universidades, principalmente as instituições públicas de maior prestígio, não são exceção à regra ao louvarem o mérito desses seus integrantes. Elas contam com dezenas de sobrenomes nipônicos no quadro de seus mestres mais ilustres, entre os pioneiros que fizeram destas instituições centros de conhecimento e inovação, e têm sido fonte dos mais interessantes eventos comemorativos do centenário da imigração, com a publicação de dezenas de livros e a realização de exposições de arte, simpósios, mostras de cinema e outras manifestações que focalizam a importante contribuição dos imigrantes para o desenvolvimento brasileiro.
Um dos componentes do grupo de bem-sucedidos professores de descendência japonesa da Universidade de São Paulo é Sedi Hirano, 69 anos (aposenta-se em outubro próximo). É professor titular do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Foi pró-reitor de Cultura e Extensão (de 2005 a 2007) da universidade e diretor da FFLCH (de 2002 a 2005). Em tom modesto e casual, ele registra que foi na década de 1930 que os primeiros descendentes de japoneses chegaram às universidades, época em que essas instituições ganharam impulso, começando a se espalhar por algumas regiões do Brasil.
Hoje, por exemplo, os nikkeis representam de 15 a 18% dos estudantes da USP, incluídos os nascidos de casamentos com não-descendentes. E 8% do corpo docente.
No universo das três universidades públicas (USP, UNICAMP e UNESP) o quadro de professores está assim distribuído numericamente: 324 na USP (39 professores titulares), 143 na UNESP (7 titulares) e 65 na UNICAMP (10 titulares).
Ao lado de figuras públicas muito conhecidas, como o ex-ministro de Minas e Energia e ex-presidente da Petrobrás, Shigeaki Ueki, ou de parlamentares como Diogo Nomura, Antonio Morimoto e Paulo Kobayashi, o Prof. Sedi aponta alguns dos acadêmicos de destaque no âmbito da Universidade de São Paulo. Lembra que o primeiro descendente de japoneses a chegar a professor titular, na Faculdade de Saúde Pública, foi Eduardo Yasuda; Kokei Uehara, da Escola Politécnica, foi o responsável pela criação do Laboratório de Hidráulica e atualmente é membro da Comissão de Cooperação Internacional da USP; Miyaki Isao é diretor da Faculdade de Odontologia; e o instituidor do Juizado de Pequenas Causas na estrutura judiciária estadual é o jurista Kazuo Watanabe. Tanto quanto este, na Faculdade de Direito da USP o nome do Prof. Masato Ninomiya também se destaca; Shigheo Watanabe foi o segundo descendente de japoneses a chegar a professor titular -- no caso, no departamento de Física; na área de biociências, não se deve esquecer do conceituado biólogo II-Sei Watanabe; e, na medicina, são lembrados Yasuhiro Okay, vice-presidente da Fundação Faculdade de Medicina, e Maria Aparecida Yasuda; na área de Humanas apresenta-se Shozo Motoyama, professor do Departamento de História e membro da Academia Paulista de História; e novamente o prof. Sedi, na área das ciências sociais. Além dos cargos importantes que já ocupou, dos livros editados em diversos países e de ter, até o momento, formado mais de 50 mestres e doutores em Sociologia, ele preside a Comissão do Centenário da Imigração Japonesa na USP.
Na Unesp (Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho") alguns dos nomes sempre destacados são:
Milton Terumitsu Sogabe, 55 anos, é professor assistente do Instituto de Artes. Ele desenvolve trabalhos na área de novos meios e se dedica principalmente a instalações multimídia interativas, com utilização de novas tecnologias na arte.
O Prof. Sogabe fez Licenciatura Plena Em Educação Artística - Artes Plásticas, na Fundação Armando Álvares Penteado - FAAP (1978), e mestrado (1990) e doutorado (1996) em Comunicação e Semiótica, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Foi professor na Faap (São Paulo) e nas Faculdades Integradas Tereza D'Ávila (Santo André). Também foi coordenador de curso de graduação, pós-graduação, vice-diretor, diretor pro tempore, presidente de comissões de unidade na Unesp e membro de comissões da Capes e do Inep.
Elisa Tomoe Moriya Schlünzen - Graduada em Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1985), fez mestrado em Engenharia Elétrica na Unicamp (1994) e doutorado em Educação na PUC-SP (2000). É professora assistente na Unesp com experiência especial em tecnologia educacional, principalmente nos temas ligados à formação de professores, informática na educação, educação especial, construcionismo e tecnologias de informação e comunicação.
Eunice Oba é graduada em Medicina Veterinária pela Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (1974), fez mestrado em Medicina Veterinária na Universidade Federal de Minas Gerais (1979) e doutorado em Medicina Veterinária na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia/Unesp (1985). Atualmente é professora titular da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, consultora da Faculdade de Medicina Veterinária - Unesp/ Botucatu e do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo. Tem experiência especial em Fisiopatologia da Reprodução Animal e em avaliação institucional, sobretudo nos temas: sêmen, búfalas, bovinos, ovinos, cortisol, progesterona, estradiol, testosterona e biotecnologia.
A Profª Tereza Higashi Yamabe , aposentada como assistente doutor na Unesp, campus de Presidente Prudente, tem mestrado e doutorado em Geofísica pela Universidade de São Paulo, é professora licenciada em Física e professora efetiva, concursada em Geofísica. No campo de Geociências, sua experiência mais notável diz respeito a Sismicidade Induzida Por Poços Tubulares Profundos, atuando principalmente nas sub-áreas e temas da Geofísica ligados à geotermia, sismicidade induzida, poços tubulares profundos, abalos sísmicos e água subterrânea. A Profª Tereza Yamabe é orientadora na produção de Objetos de Aprendizagem (SEB/SEED/MEC) e avaliadora de cursos de graduação (MEC).
E estes são alguns dos destaques dentre os docentes nikkeis da Unicamp:
Fred Yukio Fujiwara , do Instituto de Química, é graduado pela University of Alberta (1964) , doutorado em Ph D na mesma universidade (1973) e pós-doutorado pela University of Waterloo (1975), também no Canadá . Atualmente é Professor Associado da Universidade Estadual de Campinas e revisor de periódico da Química Nova e do Journal of the Brazilian Chemical Society (0103-5053). Seus estudos na área de Química dão ênfase à Físico-Química.
O biólogo Hiroshi Aoyama possui graduação em Química pela Universidade de São Paulo (1969) e fez pós-graduação em Bioquímica no Departamento de Bioquímica, Instituto de Química da USP (2000-2004). É doutor em Ciências, na área de Bioquímica, pela Universidade de São Paulo (1974). Ingressou na Universidade Estadual de Campinas em dezembro de 1975, sendo Professor Livre-Docente em 1985 e Professor Adjunto em 1991. Atualmente é Professor Titular da Unicamp. Realizou um estágio de pós-doutoramento no Institut de Biochimie Cellulaire et Neurochimie (CNRS), em Bordeaux, França (1982-1984) e um estágio sabático no Institut de Biologie Structurale et Microbiologie, Bioénergétique et Ingénierie des Protéines, CNRS, Marseille, França (2005-2006). Tem experiência na área de Bioquímica, com ênfase em enzimologia, atuando principalmente nos temas: purificação, caracterização e regulação de fosfatases ácidas e proteína tirosina fosfatase.
Nas Ciências Médicas, um dos nomes lembrados é o do Prof. Ademar Yamanaka, graduado em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (1982). Ele fez mestrado em Medicina na Chiba University (1986) e doutorado em Clinica Médica na Universidade Estadual de Campinas (1992). Atualmente, é professor assistente doutor da UNICAMP. Tem valiosa experiência na área de Gastroenterologia, atuando principalmente nos temas ligados à ultrassonografia, carcinoma hepatocelular, hemorragia digestiva alta e hepatite crônica.
A Profª Silvia Aparecida Mikami Gonçalves Pina é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1983), tendo feito mestrado (1991) e doutorado (1998) em Planejamento e Engenharia Urbana - gestão habitacional - na USP. É docente da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, no Departamento de Arquitetura e Construção, onde atua nos cursos de Arquitetura, Urbanismo e Engenharia Civil. Foi coordenadora de graduação de Arquitetura e Urbanismo de 2002 a 2004, curso de cuja implantação participou desde 1996. Foi coordenadora do Trabalho Final de Graduação (TFG) do curso de Arquitetura e Urbanismo, de 2006 a 2007. Atualmente é representante da área de concentração Arquitetura e Construção junto à Comissão de Pós-Graduação da FEC/Unicamp. Nas atividades de ensino atua em Projeto e Teoria de Arquitetura. Na pesquisa, dedica-se à Teoria e Metodologia do Projeto e da Cidade, especialmente nas áreas de habitação social e coletiva, ao ensino de arquitetura, processo de projeto de arquitetura, projeto inclusivo e desenho universal, planejamento de bairros e habitações sustentáveis e avaliação pós-ocupação. Também pesquisa processo de projeto e aprendizado eletrônico (TIDIA), sendo a executora associada do projeto DATAHABIS - FINEP. Orienta atualmente 4 doutorandos, 3 mestrandos e 4 participantes de programa de iniciação científica do CNPq. É membro do grupo de pesquisa Metodologia de projeto em Arquitetura.
Sebastião Aguiar, Secretaria de Ensino Superior
C.C.
07/10/2008
Artigos Relacionados
CE discute criação de universidades públicas
Chile: Universidades públicas são pagas
Universidades públicas participam do Estatuto da Cidade
Ex-alunos das Etecs se destacam em universidades públicas
CCJ aprova cotas em universidades públicas federais
Universidades públicas podem ter desconto de 50% na conta de luz