O delicado momento de Armínio








O delicado momento de Armínio
Analistas consideram que a nova Selic deveria ter ultrapassado a taxa a futuro da BM&F. O Banco Central deu ontem o mais importante passo para forçar a queda da taxa de câmbio, entre todas as medidas adotadas desde sexta-feira.

Elevar os juros básicos de curto prazo, a taxa Selic, é a solução mais apropriada para frear os movimentos especulativos que tiram proveito desta fase de insegurança política, de um lado, e de retração da liquidez internacional, de outro. Quando a taxa Selic sobe, o dinheiro fica mais caro para os bancos. Se funcionar, tem o efeito de frear o ritmo da velocidade-renda da moeda, puxando para baixo a demanda por ativos de risco como dólar, imóveis e até bens de consumo durável.

A questão que se coloca para todos, inclusive para o próprio presidente do Banco Central, Armínio Fraga Neto, é saber se o Copom subiu ontem a Selic em grau suficiente para desestimular a demanda por ativos de risco. Pela reação do mercado, parece que não.

A expectativa de que a Selic subisse para 28% ao ano foi frustrada com a decisão do Copom de elevar a taxa de 18% para 21% ao ano.

Em uma situação atípica como a atual, é difícil calcular cientificamente qual o nível ideal da taxa de juros. Um bom parâmetro é a taxa de juros do mercado futuro.

"Quando olhamos para o comportamento do Banco Central em crises passadas, vemos que, na emergência, a taxa de curto prazo subiu acima do nível negociado no mercado futuro, para prazo de três meses", indica o economista e ex-diretor do BC, Carlos Thadeu de Freitas Gomes. Se esse referencial é correto, a taxa Selic deveria ter sido aumentada para pelo menos 24% ao ano, acima da taxa de 23,28% negociada ontem para janeiro no futuro da BM&F.

Há uma lógica para isso. Em situação de choque, o juro de curto prazo deve ser alto o suficiente para quebrar as expectativas ruins e sinalizar um processo gradual de baixa. Quando dá certo, o mercado acaba caminhando na direção sinalizada pelo Banco Central, antecipando a redução dos juros no mercado futuro.

O movimento contrário é perigoso. Subir a Selic gradualmente é a pior alternativa. Significa que o BC não tem controle sobre o mercado. O grande teste para Armínio parece não ter ainda chegado ao fim.

O câmbio fechou ontem em R$ 3,84, nível que se mantém alto e perigoso para a inflação.


Grandes são contra políticas industriais
Reação a proposta brasileira na OMC. Uma proposta chave do Brasil para adotar medidas de política industrial, que levou meses para ser aprovada em Brasília, quase foi arquivada ao entrar em debate ontem na Organização Mundial de Comércio (OMC). O Brasil propôs, com a Índia, mudança no Acordo sobre Medidas de Investimentos Relacionadas ao Comércio (Trims, sua em inglês).

A intenção é poder conceder incentivos a companhias estrangeiras, desde que elas se obriguem a usar conteúdo local mínimo em seus produtos e exportem parte do que produzirem.

A demanda foi rechaçada pelos grandes: Estados Unidos, União Européia, Japão e Canadá. Mas também pelo México, que conseguiu autorização para estender seu regime automotivo até 2003. E pela Coréia do Sul, que abusou das mesmas medidas no passado para montar seu parque automotivo. Para esses países, o Acordo de Trims é suficientemente flexível para atender demandas de política industrial dos países em desenvolvimento. A proposta continuou na pauta graças a hábil e feliz manobra da diplomacia brasileira.


A automação da GM brasileira
No Sul, um carro a cada 2 minutos. No momento em que completa 77 anos de Brasil, a subsidiária da General Motors aumenta a aposta na automação para alcançar uma série de objetivos - a diminuição do tempo de desenvolvimento de um novo modelo de 48 para 24 meses, o aumento da produção e das vendas de veículos para outros países.

Da chegada das primeiras estações de CAD (desenho auxiliado por computador) ao sistema de compras eletrônicas (com 800 fornecedores cadastrados), a filial brasileira reduziu seus custos e conquistou a segunda posição na corporação, atrás apenas da Alemanha. A fábrica de Gravataí (RS), uma das mais produtivas do mundo, com 90% de automação, tem 112 robôs em uso e pode montar um carro a cada dois minutos. Em São Caetano do Sul (SP), um robô chamado Jack é especialista em conforto.


Cotação do café sobe 8,9% em Nova York
O clima quente e seco nas principais regiões produtoras no Brasil provocou alta de 8,9% nos preços do café, ontem, na Coffee, Sugar and Cocoa Exchange (CSCE), de Nova York. Nos últimos doze meses, o grão acumulou alta de 41%.

Os contratos para março fecharam a 65,55 centavos de dólar por libra-peso, aumento de 5,55 centavos sobre sexta-feira. Segundo Claudimir Zafalon, da LaSalle Corretora, há expectativa de quebra de produção na nova safra de café, com colheita em 2003.

O Brasil produziu este ano o volume recorde de 44,7 milhões de sacas de 60 quilos, 50% acima da anterior. A expectativa agora é de que a safra encolha até 35%.

A recuperação do preço também reflete a quebra da produção da Colômbia e do Vietnã, em conseqüência da forte redução das cotações entre 2001 e 2002.


Bush acusa Al-Qaeda pelo ataque em Báli
O ministro de Defesa da Indonésia, Matori Djalil Abdul, e o presidente norte-americano, George W. Bush, acusaram, ontem, a organização terrorista Al-Qaeda, de Osama bin Laden, de estar por trás do atentado de sábado à noite, em Báli, que matou mais de 180 pessoas e deixou outras 300 feridas. Nenhum grupo terrorista assumiu o atentado.

Cerca de 17 países têm vítimas no atentado, considerado o mais grave depois dos acontecimentos de 11 de setembro de 2001, em Nova York e Washington.

O Vaticano, a Austrália e a União Européia condenaram o ataque. O governo brasileiro, por meio de nota do Itamaraty, repudiou o ato terrorista, e está ajudando na busca a brasileiros desaparecidos em Báli.


Valisère quer exportar mais
Gisele Bündchen ajuda a vender. O grupo Rosset, fabricantes de tecidos e roupas íntimas e de banho, pretende ampliar suas exportações dos atuais 10% para 25% da produção até 2005. Dono de marcas como Valisère, Valfrance, Cia. Marítima e Água Doce, o grupo investe na modernização das fábricas e na divulgação de suas grifes, com a contratação de modelos como Gisele Bündchen, contratada pela Marítima.

Os produtos da Rosset já chegam hoje aos Estados Unidos, Portugal, Espanha, Itália e México, entre outros países.

Para aumentar a competitividade, a Rosset comprou, em maio, a concorrente Doutex. Com isso, sua capacidade de produção mensal de tecidos passou de 1,1 milhão para 1,6 milhão de toneladas.


Colunistas

Teoria da crise auto-alimentada
Maria Clara R.M. do Prado

O senso comum indica que uma expectativa ruim é capaz de induzir a que o ruim aconteça. Em economia, essa relação tão direta de causa e efeito é levada extremamente a sério, ainda que tudo se passe no campo subjetivo das impressões. É tão mais verdadeiro quanto mais fértil o campo dos fatos concretos a apontar para uma possível catástrofe.

Fatos concretos há e não de pequena monta. Não é preciso relembrar aqui a extraordinária trajetória de expansão da dívida pública mobiliária interna - que, aliás, já crescia antes mesmo do dólar ter disparado no mercado - e nem o risco que vulnerabilidade externa impõe sobre as contas do balanço de pagamentos do país.

Vale a pena uma releitura, nesta segunda semana de outubro de 2002, do texto do economista John Williamson, do Institute for International Economics (IIE), publicado em agosto d este ano.

O britânico Williamson correu o mundo: foi professor de economia da PUC do Rio no final dos anos 70, antes de passar pelo MIT, pela Universidade de Nova York, por Princeton, pelo FMI e de ter sido economista-chefe para o Sul da Ásia, de 1996 a 1999.

A ele atribui-se a tarefa de ter reunido em um só documento a lista de políticas que salvariam os países da América Latina do atraso, no final dos anos 80, conhecido como "Consenso de Washington".

Pois bem, preocupado com a deterioração do Brasil em meados do ano, às vésperas do acerto do novo acordo do país com o FMI, Williamson escreveu seu mais famoso recente artigo: "Is Brasil Next?" ("É o Brasil o Próximo?"/ver abaixo onde consultá-lo). Fez muito sucesso quando saiu.

Com a proximidade da realização do primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras, e a forte indicação de que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva venceria já no dia 06, as preocupações com o futuro do Brasil esfriaram um pouco.

Isso refletiu-se no comportamento do próprio mercado. Gradualmente, a taxa de câmbio foi caindo na primeira semana de outubro. Fechou na sexta-feira, dia 04, com o dólar sendo cotado a R$ 3,62.

Mas, de repente, tudo mudou. A constatação de que haveria segundo turno das eleições foi motivo para o mercado ferver de novo.

Ontem, dia 10, o dólar fechou a R$ 3,99. Em apenas quatro dias úteis, a taxa de câmbio subiu 10,22%, movida pelo único fato de que Lula, não tendo vencido no primeiro turno como o próprio mercado previa na semana anterior, poderá vencer no segundo turno. Um comportamento que escapa à lógica dos homens e até da política mas que, dizem, faz sentido na lógica do mercado.

Nesta "nova" conjuntura, o texto de Williamson voltou a circular entre economistas, analistas e operadores.
Ganhou importância não pelo que diz - já que o texto não mudou - mas pelas conclusões. Os números da economia brasileira deterioraram-se de lá para cá com a vertiginosa alta do dólar. No dia 8 de agosto, a taxa de câmbio estava em R$ 2,92. O risco Brasil estava em 1.759 pontos-base e havia, às vésperas daquele acerto com o FMI, a expectativa de que os bancos internacionais renovassem suas linhas de crédito com as empresas brasileiras.

Com a deterioração desses referenciais, a tese de Williamson ganha importância pela idéia do equilíbrio múltiplo. Baseia-se justamente na tese da teoria auto-alimentada. Ou seja, tudo piora quando as expectativas pioram.

No caso, quando o dólar sobe, a razão dívida pública com o PIB se agrava e isso amplia o medo dos credores com um "default". Já ninguém trabalha hoje com a curva traçada pelo diretor de assuntos econômicos do Banco Central, Ilan Goldfajn, que em julho, no texto "Há razões para duvidar que a dívida pública é sustentável?", previa um nível pouco acima de 58% do PIB para a dívida líquida do setor público em fins de 2002.

Aquela razão caminha aceleradamente para ficar acima de 60% do PIB em dezembro. As implicações desta deterioração são sérias e preocupam muita gente.

"Temo que a radicalização nesta última etapa do processo eleitoral acabe empurrando a economia para o pior cenário", comenta o economista da USP, Otaviano Canuto, um dos que voltou a ler o texto de Williamson. Ele acha que se o dólar continuar subindo, a primeira grande implicação disso surja já em novembro, quando a equipe econômica do novo presidente eleito terá de sentar-se formalmente para um conversa com o FMI, conforme previsto no cronograma negociado pelo atual governo.

A primeira questão a ser colocada na mesa será o tamanho do esforço fiscal para 2003. Com a razão da dívida líquida para com o PIB crescendo é de se supor que o FMI passe a exigir um resultado de superávit primário maior do que 3,75% do PIB. Encaixar isso no programa do futuro presidente, seja ele José Serra ou Lula, é complicado, já que ambos projetam substancial expansão do PIB para o ano que vem.

Mais complicado ainda será lidar com o problema da vulnerabilidade externa.

São questões que estão na cabeça de todos, mas que poderiam ser melhor administradas se as declarações públicas fossem mais positivas, buscando desarmar a teoria da crise auto-alimentada.


Editorial

UM "TRADE-OFF" INEVITÁVEL

Desde o fim da semana passada, as autoridades monetárias resolveram agir decisivamente para conter a alta do dólar por meio de medidas destinadas a reduzir a liquidez do sistema financeiro. Dentro da mesma linha, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou ontem a taxa básica de juros de 18% para 21%, sem viés. O BC parece disposto a vencer a impressão de imobilismo que vinha transmitindo, mas não se pode deixar de indagar por que tomou essas medidas antes, quando a cotação do dólar, depois de superar R$ 3,50, indicava uma nítida tendência de alta.

Seja por que motivo for, o BC não reuniu ânimo, semanas atrás, para combater frontalmente a depreciação acentuada do câmbio, que, como agora reconhece, resultou em uma piora nas expectativas de inflação. Diríamos mesmo que a imagem externa do Brasil foi afetada pela volatilidade do câmbio. Uma coisa é termos um sistema de câmbio flutuante, em que as cotações do dólar em relação ao real variam dentro de determinada faixa, outra muito diferente é a extrema instabilidade do câmbio, provocada por manipulações especulativas.

O BC, na realidade, evitou fazer um "trade-off", ou seja, escolher entre alternativas conflitantes, o que já se tornara praticamente inevitável há mais de um mês. Com as medidas destinadas a enxugar o mercado financeiro, retirando-lhe disponibilidades que poderiam ser utilizadas para a especulação cambial, a autoridade monetária reduziu a já escassa oferta de crédito para as empresas e aumentou o custo do dinheiro. São remédios amargos, sim, mas preferíveis à disparada do dólar e um crescimento ameaçador da inflação.

Na sexta-feira da semana passada o BC determinou fortes restrições à capacidade dos bancos em operar com o dólar, o que fez a moeda americana recuar para R$ 3,82. O fator de ponderação, que já havia sido elevado para 0,75, passou para 1,00, o que significa que, para cada US$ 100 de exposição cambial, um banco precisava apresentar US$ 100 de capital, em vez de US$ 75. O BC resolveu também rebaixar o índice máximo de exposição cambial dos bancos em relação a seu patrimônio. Esse índice, que era de 60% do patrimônio, baixou para 30%. Paralelamente, o BC elevou a proporção dos depósitos compulsórios sobre os depósitos à vista para 53%; os depósitos a prazo para 23%; e os saldos em caderneta de poupança para 30%.

Com isso, a alavancagem dos bancos se reduziu, o que, certamente, tinha de se refletir sobre os juros, que já apresentavam alta sexta-feira no mercado futuro. Mas, como se viu na manhã de ontem, o efeito das medidas tomadas foi de curtíssima duração. O dólar ontem pela manhã subiu 2,36% e chegou a R$ 3,91. Isso pode ter sido o motivo da reunião extraordinária do Copom, que elevou os juros para o patamar de junho de 1999.

Naturalmente, isso não foi do agrado de empresários da indústria e do comércio, que nutriam a expectativa de que, passado o segundo turno das eleições presidenciais, em 27 de outubro, o Copom pudesse baixar os juros. Evidentemente, o BC não elevou a taxa Selic em razão de excessivas pressões de consumo, que não existem, estando a economia relativamente estagnada. O objetivo claro foi reduzir ainda mais a liquidez para conter a demanda por dólares por um mercado muito ansioso, especialmente em relação à rolagem, nesta semana, de US$ 3,1 bilhões de títulos públicos, corrigidos pela taxa de câmbio.

O BC tinha, portanto, de fazer o "trade-off", considerando o custo extraordinário que essa rolagem significaria p ara o Tesouro Nacional, se não se procurasse reprimir o movimento altista do câmbio. Mas, principalmente, a escolha pela medicação heróica foi determinada pelos seus efeitos sobre a inflação. Apesar dos efeitos do dólar sobre produtos de consumo básico, como o trigo, e sobre os combustíveis, cujo reajuste a custo vem sendo protelado, o "overshooting" do dólar poderia ter o efeito altamente pernicioso de sinalizar a volta da inflação descontrolada.

A alta do dólar por certo contribuiu para o excelente saldo comercial que o Brasil pode obter este ano, estimado agora em US$ 9,5 bilhões a US$ 10 bilhões. Não só a exportação foi impulsionada, mas o câmbio elevadíssimo favoreceu uma substituição de importações em várias áreas. São os próprios exportadores, porém, que afirmam que, se a taxa do dólar estivesse na faixa de R$ 2,60 a R$ 2,80, já seria suficientemente remuneradora.

O BC, portanto, agiu como se espera que um governo aja. Esperamos que o ímpeto especulativo arrefeça e que o BC não precise utilizar outros instrumentos de seu arsenal.


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10/15/2002


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