O enfrentamento às drogas exige atuação do Estado e da sociedade, afirmam participantes de audiência pública



O Estado não tem condições de resolver sozinho o problema do crack no país. A participação da família e de comunidades terapêuticas é fundamental para a prevenção, tratamento e reinserção social dos dependentes. Essa é a avaliação de participantes da audiência pública que discutiu o assunto nesta terça-feira (23) na Subcomissão Temporária de Políticas Sociais sobre Dependentes Químicos de Álcool, Crack e outras Drogas (Cadesp).

Luiz Vicente da Cunha Pires, prefeito de Cachoeirinha (RS), primeira cidade a instituir uma comunidade terapêutica pública, informou que são gastos cerca de mil reais por mês para manter cada pessoa, um terço do valor para manter um presidiário, que, em sua opinião, dificilmente será recuperado e pode até se aprimorar no crime.

O programa de recuperação de dependentes de drogas de Cachoeirinha, explicou o prefeito, envolve medidas de repressão, recuperação, prevenção e socialização.

Em sua avaliação, a prevenção é o aspecto mais importante no enfrentamento ao crack. Luiz Pires disse ser necessário detectar os fatores que levam os jovens a experimentar drogas e, a parti das informações, estabelecer políticas.

Entre as ações preventivas, ele sugeriu a inibição de propaganda de bebidas alcoólicas, que, em sua opinião, inicia os jovens no consumo de drogas. Investimento em esporte, escola em tempo integral, legalização de comunidades terapêuticas e aplicação de penas alternativas para os crimes decorrentes do uso de drogas também estão entre as ações adotadas pela prefeitura.

Também o secretário de Defesa Social do Município de Vila Velha (ES), Ledir da Silva Porto, ressaltou a importância das comunidades terapêuticas e informou que o município tem convênio com várias instituições. Em sua opinião, o Estado deve oferecer a estrutura, porém, é necessária a atuação de pessoas solidárias e "com coração" para enfrentar o problema das drogas.

- Sem as comunidades terapêuticas, é impossível o governo fazer alguma coisa - afirmou Ledir Porto, ao afirmar que o Brasil não está preparado para enfrentar o problema do crack.

As ações adotadas em Vila Velha, informou o secretário, incluem o combate ao tráfico de drogas pelo Ministério Público, Justiça e Polícia Federal; eliminação de espaços usados para consumo de crack - as chamadas "cracolândias" - e acolhimento em instituição para tratamento do dependente. Ele disse que a prefeitura instalou câmeras para monitorar as ruas e flagrar os usuários e traficantes.

Arte

O deputado estadual do Rio Grande do Sul, Mano Changres, utiliza a música e outras expressões artísticas para enfrentar o crack no estado. Ele defendeu investimento em educação para tornar a escola um local atrativo, tanto para os estudantes como para a comunidade.

Ele também enfatizou a importância de a família assumir a educação dos filhos e não delegar essa tarefa apenas para a escola. Assim, ressaltou, são formados multiplicadores, com capacitação para falar a linguagem dos jovens sobre os malefícios da droga.

Ao falar sobre a possibilidade de recuperação de dependentes de drogas, também a senadora Ana Amélia (PP-RS) destacou que a sociedade precisa assumir compromissos. Para ela, o Estado não pode atuar sozinho.

- Os primeiros mestres são o pai e a mãe. Não adianta querer transferir para a escola uma responsabilidade que é da família - disse a senadora.

O deputado Mano Changes informou que o crack vem se espalhando pelo país desde a década de 80 e, atualmente, está presente em 70% dos municípios brasileiros. Ele explicou que a droga é um subproduto da cocaína e tem atuação 180 vezes mais rápida que esta droga. No entanto, destacou, o efeito dura poucos minutos e, em seguida, a pessoa atinge uma depressão profunda. Explicou ainda que em 80% dos casos, o crack vicia na primeira vez de uso.

O senador Eduardo Amorim (PSC-SE), sugeriu que a subcomissão, que funciona no âmbito da Comissão de Assuntos Sociais (CAS), apresente proposta com o objetivo de diminuir a burocracia para liberação de recursos do Sistema único de Saúde (SUS) para as comunidades terapêuticas.

- Não se pode ficar preso a burocracia excessiva, quando estamos perdendo uma batalha - disse.



23/08/2011

Agência Senado


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