OSMAR DIAS: 469 MIL EMPREGOS FECHADOS DURANTE O PLANO REAL



"O desemprego é uma preocupação mundial que não está recebendo a devida atenção do nosso governo." Essa é a conclusão a que chegou o senador Osmar Dias (PSDB-PR), ao analisar em plenário estatístiticas do IBGEmostrando que foram fechados 469.263 empregos no Brasil de julho de 1994 a setembro do ano passado, período de implantação do Plano Real.

Osmar Dias lembrou que a população brasileira nesse período cresceu cerca de 2% ao ano, o que exigiria 1,2 milhão de novos empregos por ano só para atender aos novos contingentes de mão-de-obra que chegam ao mercado. "Ao invés de se criarem esses novos empregos, houve o corte de quase 470 mil vagas de trabalho", observou.

- Se fizermos uma análise um pouco mais profunda dos números do IBGE, chegaremos à conclusão de que algo errado está sendo feito pelo governo na condução da política econômica - assinalou.

O senador paranaense contestou as afirmações de que tem havido transferência de empregos do setor industrial para o setor de serviços. "Não podemos nos iludir com esse discurso. Os dados revelam que também houve uma redução de 27 mil empregos na área de serviços." Na indústria, a queda foi de 367 mil empregos e no setor agropecuário52mil vagas de trabalho foram eliminadas durante o Plano Real, conforme os dados apresentados por Osmar Dias. A construção civil perdeu no período 54 mil empregos e só no comércio houve aumento, chegando a 103 mil novas vagas.

- Alguns se conformam em dizer que estamos enfrentando o desemprego tecnológico, provocado pela automatização das atividades. Isso é verdade em parte. Não podemos ignorar outros fatores, como o comércio com países que subsidiam sua produção e exportação - continuou.

Como exemplo, Osmar Dias citou a cultura do algodão, que perdeu 400 mil empregos apenas em quatro anos. O setor, conforme o senador, está enfrentando o algodão importado, produzido com mão-de-obra mais barata e vendido com subsídios. Outro produto agrícola que está desestruturando o setor rural brasileiro é o trigo importado, que já abastece 80% do consumo nacional, disse.

O senador leu trechos de reportagem publicada pelo jornalFolha de Londrina deste domingo, sob o título "Montadoras vão cortar 30 mil empregos em 3 anos". Conforme a reportagem, dos 106 mil empregos oferecidos atualmente pelo setor automobilístico, 30 mil serão fechados em três anos. Os novos investimentos das montadoras de automóveis, estimados em US$ 21 bilhões, devem criar apenas de 10 a 12 mil empregos.

Os incentivos concedidos por governos estaduais para atração de novas montadoras, na opinão de Osmar Dias, são equivocados, porque "geram muito mais faturamento político do que se o investimento fosse feito em pequenas propriedades rurais ou pequenas indústrias".

O senador leu para o plenárioalerta feito pelos pesquisadores da indústria automobilística Glauco Arbix e Mauro Zilbovicius, autores e organizadores do livro De JK a FHC - A reinvenção dos carros. No livro, eles concluem que as novas montadoras se instalariam de qualquer forma no Brasil, por uma questão de estratégia de mercado. Assim, de acordo com Osmar Dias, os incentivos fiscais dados nos dois últimos anos pelos governos estaduais, inclusive do Paraná, foram "um presente" para tais indústrias.

12/01/1998

Agência Senado


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