Paim pede leis mais duras contra o racismo



Em menos de 15 dias três deputados federais fizeram declarações que foram recebidas como racistas, preconceituosas, de ataque aos negros e, em dois casos, aos que têm orientação sexual minoritária. Situações como essas, acredita o senador Paulo Paim (PT-RS), podem demonstrar a necessidade de endurecer ainda mais a legislação que pune o crime de racismo, nos moldes das leis norte-americanas.

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- Se parlamentares falam dessa forma, e querendo ou não estão aqui como representantes do povo, estão induzindo a população a terem esse tipo de política preconceituosa, de racismo, de tentar excluir os que pensam diferente ou têm uma cor diferente - disse o senador.

A primeira declaração que causou desconforto foi feita no dia 22 de março, quando o deputado Júlio Campos (DEM-MT) se referiu ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa como "moreno escuro" durante uma reunião da bancada do partido.

Na última segunda-feira, durante o programa da TV Bandeirantes CQC, o deputado Jair Bolsonaro (PP-R) causou comoção com a resposta que deu a cantora Preta Gil, que perguntou : "Se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?". Bolsonaro respondeu: "Não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Não corro esse risco, e meus filhos foram muito bem educados. E não vivem em ambiente como, lamentavelmente, é o teu".

Na última quinta-feira (31), o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), que é pastor, publicou em sua conta no Twitter que "os africanos são descendentes de um 'ancestral amaldiçoado por Noé' e que sobre a África repousam maldições como o paganismo, misérias, doenças e a fome". Ao longo das postagens, o deputado diz que a maldição sobre a África supostamente provém do "1º ato de homossexualismo da história". Para a imprensa, o deputado se defendeu dizendo que não se trata de racismo e sim "de uma questão teológica".

Segundo Paulo Paim, nos Estados Unidos a lei que pune a discriminação é "muito mais dura" do que no Brasil e alguém que atinge o outro de forma preconceituosa pela origem, sexo, cor da pele ou outras formas de discriminação é punido de imediato, com prisão, perda do emprego e perda, inclusive, do direito de alugar prédios do governo.No Brasil, racismo é crime inafiançável, nos moldes da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989.

Questionado se os deputados podem vir a ser cassados por racismo, Paim lembrou que primeiro é preciso estabelecer um processo com amplo direito à defesa. Mas, caso a situação se perpetue, os deputados "terão que ser punidos com a rigidez da lei".

Homofobia

Sobre a defesa escolhida por um dos deputados, Jair Bolsonaro - de que não teria entendido a pergunta feita por Preta Gil e que a resposta que deu na verdade não se referia a negros, e sim a homossexuais - Paim considera que a gravidade é a mesma.

- Nós não aceitamos que ninguém seja discriminado por motivo nenhum, porque é branco, porque é negro, porque tem orientação sexual diferente, pela sua religião, etnia, origem. A gravidade é a mesma e a lei tem que ser severa em todos os casos - afirmou.

O senador acredita que a realidade revelada pelas agressões de cunho homofóbico realizadas pelos deputados podem ajudar e dar mais rapidez na tramitação do projeto de lei da Câmara 122/06, que inclui na lei que pune o racismo outras formas de discriminação, inclusive a homofobia. O projeto aguarda votação na Comissão de Direitos Humanos, presidida por Paim. O senador informou que a relatora, senadora Marta Suplicy (PT-SP), está fazendo alguns ajustes em seu relatório para que a matéria possa ir a votação.

- Espero que a gente tome as providências cabíveis em todos os casos.

Educação

Além de leis rígidas, Paim ressalta que a educação tem um papel importante no combate ao racismo. O senador considera fundamental mostra nas salas de aula "a ignorância que é o racismo e o preconceito". Paim também ressalta a importância de que nas escolas se ensine "a verdadeira história do povo brasileiro" e o papel de negros e índios na formação do País.

- Ali, na sala de aula, é que você combate o racismo - disse.

O senador também defendeu a aprovação do projeto de lei de autoria dele e da ex-senadora Serys Slhessarenko que transforma em feriado nacional o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro.

- A data deve se tornar feriado para que seja um dia de reflexão. Para que as pessoas parem para pensar no que está acontecendo - afirmou Paim.

O dia 20 de novembro já é feriado em 225 cidades de 11 estados, inclusive três capitais (São Paulo, Rio de Janeiro e Cuiabá). O dia 20 de novembro foi escolhido por ter sido a data da morte de Zumbi dos Palmares (1655-1695), considerado um herói da resistência antiescravagista no período colonial. A matéria aguarda votação na Câmara dos Deputados.

01/04/2011

Agência Senado


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