Para Cristovam, pacote pró-consumo é solução de curto prazo para crise e não abre novos rumos para o país
Ao comentar o pacote pró-consumo de R$ 8,5 bilhões anunciado pelo governo, envolvendo redução do Imposto de Renda para as faixas de contribuintes com renda mais baixa e isenção de tributos para carros novos da linha popular, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que as medidas podem ser necessárias para os problemas de curto prazo da economia, mas representam uma "saída suicida" para o país a médio e longo prazo.
O tema foi abordado pelo senador nesta sexta-feira (12), em Plenário, um dia após o governo anunciar o pacote, com o objetivo de controlar os efeitos da crise internacional sobre a economia brasileira. Mais uma vez, conforme o senador, o governo está fazendo um sacrifício fiscal para "aliviar" a classe média, para que as pessoas voltem a comprar bens que podem ser considerados de luxo.
- Um país com a pobreza brasileira, que tem 40 milhões vivendo de Bolsa-Família, não se dá ao direito de chamar carro de produto popular. Não existe carro popular. Existe sapato popular, existe meia popular e vou até chegar ao extremo de dizer que existe comida popular - disse.
Para o senador, o pacote não representa ato de "maldade", apenas segue uma lógica econômica que nem pode ser criticada neste momento. Segundo ele, sem esse sacrifício fiscal, há risco de uma queda maior do consumo e do emprego, e isso levaria em pouco tempo a uma queda maior da arrecadação. Salientou, no entanto, que as soluções também obedecem a um padrão da sociedade brasileira, "organizada para servir ao topo da pirâmide social". Ou seja: os estímulos fiscais vão mais uma vez atender prioritariamente aos segmentos mais bem situados na pirâmide social.
- Daqui a dois, cinco, dez anos, outra vez virá crise, outra vez vamos precisar de medidas como essas, de tapar buracos, porque não é a primeira vez que se faz redução de Imposto de Renda para vender mais carros e redução de impostos sobre o automóvel.
Na avaliação do senador, o presidente da República, que chamou 35 empresários para debater a crise antes de anunciar o pacote, precisa também pensar em medidas transformadoras, "usar a bússola para mudar de rumo".
Cristovam disse que vai continuar insistindo - mesmo sob o risco de ser chamado de o senador de "uma nota só" - em defender a educação como a única solução capaz de tirar o país do atraso e levá-lo a novo patamar civilizatório. No entanto, afirmou que há no país uma resistência em se trabalhar com "bússola", e que a preferência é pelo "jeitinho", como classifica os pacotes pró-consumo que sempre voltam à cena.
Essa preferência, observou, está registrada no noticiário desta sexta-feira, em que as manchete destacaram o novo pacote e registraram, com destaque muito menor, que as metas fixadas para a área de educação em 2007 não foram atingidas. O balanço divulgado pelo Movimento pela Educação revela que 85,7% dos estudantes chegam ao fim do ensino fundamental sabendo menos do que deveriam.
Em aparte, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) manifestou apoio a Cristovam, declarando sua admiração pelo esforço que dedica à causa da educação.
12/12/2008
Agência Senado
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