Para especialistas, modelo de privatização do setor elétrico deve ser revisado



A comissão mista que estuda propostas para a crise energética tomou depoimento nesta quinta-feira (dia 21) de cinco especialistas que foram unânimes ao destacar a necessidade de o governo rever o modelo de privatização do setor elétrico que adotou. Como solução para o problema, eles propuseram que as empresas estatais voltem a investir na exploração do grande potencial hidrelétrico que o país possui.

Para o professor Luiz Pinguelli Rosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em vez de estimular investimentos na construção de novas usinas geradoras de energia, o governo preocupou-se em vender as hidrelétricas existentes e acabou não atendendo ao crescimento da demanda. A mesma opinião foi compartilhada pelo professor Adilson Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP):

- Infelizmente o governo deu mais ênfase à questão do ajuste fiscal e controle da inflação que à expansão do sistema, que é fundamental para o crescimento do país - afirmou Adilson Oliveira.

O professor Maurício Tolmasquim, da UFRJ, ponderou que o modelo de privatização adotado empurrou a responsabilidade de atendimento do mercado às distribuidoras, isentando as geradoras da obrigação de suprir a demanda, contribuindo para a crise energética.

Assim como Pinguelli, o professor da UFRJ Ildo Sauer alertou para o nível dos reservatórios, que está extremamente baixo desde o final do ano passado. Segundo os técnicos, a água deve ser gerenciada nos períodos de abundância para que não falte nos períodos de escassez, o que não foi feito nos últimos anos. Adilson Oliveira lamentou que levará entre dois e três anos para que os reservatórios voltem a atingir níveis adequados.- A afirmativa de que a quantidade de chuva foi menor que o esperado não é verdadeira. Ninguém estava autorizado a esperar que as chuvas se comportassem de maneira diferente dos registros históricos. A razão da crise foi a falta de investimentos - disse Sauer.

Gás natural

Os especialistas também criticaram a prioridade dada pelo governo à utilização do gás natural importado da Bolívia na matriz energética. Segundo Pinguelli, o custo da energia produzido em termelétricas a gás é duas vezes superior à produzida em hidrelétricas. A opção pelo gás natural, na opinião de Adilson Oliveira, também inibiu o investimento estrangeiro no setor energético, já que incertezas quanto ao custo do gás importado, sujeito às variações cambiais, não deu segurança ao investidor. Ele disse que essa privatização só deu certo na Inglaterra porque a construção de termelétricas a gás possibilitaram a oferta de energia mais barata que a produzida até então em termelétricas a carvão.

Pinguelli explicou ainda que a decisão de importar gás da Bolívia foi tomada quando a política cambial equiparava o real ao dólar, mas a desvalorização cambial alterou a situação, já que a expectativa das companhias estrangeiras é obter retorno em dólar. Uma alternativa, apontada por Adilson Oliveira e pelo pesquisador Bautista Vidal, é aproveitar o gás natural da Bacia de Campos, que vem sendo desperdiçado pela Petrobras.

Já Tolmasquim apontou para a possibilidade de a energia termelétrica ser usada em complementação e não em substituição à energia hidrelétrica, a exemplo do modelo adotado na Noruega. Ao contrário da decisão do governo, os especialistas reunidos pela comissão defenderam a conclusão das hidrelétricas previstas, ampliando a utilização do potencial hidrelétrico brasileiro.

- Quem foi que mandou as estatais não investirem? Isso é mais grave do que mandar cortar a água do corpo de bombeiros. Isso é caso de hospício ou de prisão - disse Pinguelli.

21/06/2001

Agência Senado


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