Para ex-moradora, forças policiais agiram em Pinheirinho com intenção de 'massacrar'



As forças policiais que atuaram na reintegração de posse da área de Pinheirinho, em São José de Campos (SP), chegaram lá com intenção de "exterminar, escorraçar, massacrar". Foi assim que a ex-moradora da área, Maria Laura da Silva de Souza, relatou os acontecimentos enfrentados pelos habitantes da localidade no dia do cumprimento da ordem judicial. O episódio foi tema de audiência realizada pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), nesta quinta-feira (23).

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Maria Laura prestou depoimento ao lado do marido, David Washington Castor Furtado. Ao tentar proteger a esposa, ele foi atingido por um tiro e ficou hospitalizado por 17 dias. David foi alvejado por um integrante da guarda municipal, ao passar em ponto de conflito entre guardas municipais e populares. Naquele momento, eles seguiam em direção a um posto de cadastramento da Prefeitura Municipal, depois de serem impedidos de retornar à casa onde viviam para tentar recuperar recuperar bens.

- Era para mim aquela bala. Vi quando o guarda apontou na minha direção. Saí correndo e gritando. Quando olhei para trás, meu marido já estava atingido - contou Maria Laura.

David disse que os exames comprovaram que a bala que o atingiu era de metal, e não de borracha. Como resultado, disse que ainda apresenta sequelas, com comprometimento da "raiz do nervo da perna esquerda". Nesse momento, ainda está realizando exames para complementar o diagnóstico.

- Não desejo para ninguém o que vivi: primeiro, perder a casa; segundo, levar um tiro e correr o risco de ficar tetraplégico - salientou.

Antes do casal, falou Valdir Martins de Souza, conhecido como Marrom, líder comunitário de Pinheirinho. Ele afrimou que o terreno, ocupado pela comunidade em 2004, nunca cumpriu finalidade social. Disse que o falido especulador financeiro Naji Nahas teve a posse da área por 40 anos e que, em todo esse tempo, nunca pagou qualquer imposto ao poder público. Ressaltou que a ocupação garantiu moradia digna para cada beneficiado, com lotes de 250 metros quadrados, onde foram construídas casas de bom padrão, destruídas para que o terreno fosse devolvido ao especulador.

- O caso Pinheirinho mostrou como o poder do Estado é terrível, principalmente quando bate nos pobres - comentou.

No começo da audiência, o líder comunitário rebateu afirmação de que seria um "parasita". Destacou que trabalha há 37 anos, tendo começado desde a infância, no Paraná, em atividades no campo. Mais adiante, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) confirmou que havia usado o termo em relação ao depoente e pediu desculpas, após ler um texto que Valdir preparou especialmente para ele, falando de sua vida e visão política. Mas o senador ressaltou que havia "interesses políticos" no movimento de Pinheirinho. Além disso, frisou que a desocupação decorria de uma ordem judicial e que decisões da Justiça devem ser cumpridas quando se vive num Estado de Direito.



23/02/2012

Agência Senado


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