PASSE SUPERFATURADO PODE SER INDÍCIO DE LAVAGEM DE DINHEIRO



A venda de jogadores de futebol com preços superfaturados e as grandes somas destinadas a patrocínios de clubes ou eventos esportivos podem ser casos de lavagem de dinheiro. A afirmação é da presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), procuradora Adrienne Giannetti Senna, que prestou depoimento nesta quinta-feira à CPI do Futebol do Senado.

Adrienne Senna admitiu, entretanto, que desde que o Coaf foi criado, em 1998, o órgão nunca recebeu qualquer denúncia ou informação oficial sobre lavagem de dinheiro contra jogadores, empresários ou dirigentes de clubes de futebol. O conselho, segundo informou, funciona como uma espécie de órgão de inteligência federal para detectar, principalmente, crimes deste tipo.

Mas para a presidente do Coaf, com o desenrolar dos trabalhos das duas CPIs em funcionamento no Congresso Nacional, o órgão que preside poderá passar a receber denúncias. A procuradora concordou com o relator da CPI, senador Geraldo Althoff (PFL-SC), que acha possível lavar dinheiro através da compra e venda de jogadores.

Segundo Althoff, o negócio funcionaria da seguinte maneira: enquanto o passe de um jogador é fixado, oficialmente, junto à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em R$ 35 milhões, o atleta é vendido por apenas R$5 milhões. "A diferença, ou seja, R$30 milhões, para onde vai? Será que esse dinheiro é lavado?", indagou o relator da CPI.

Geraldo Althoff entende que o Coaf é de fundamental importância para que a caixa-preta do futebol brasileiro seja aberta. Por isso, anunciou que vai pedir ao Banco Central que repasse ao órgão todas as informações já acumuladas pela CPI. As informações também incluem as atividades dos bingos. Em troca, o senador pediu à procuradora Adrienne Senna que auxilie a CPI com informações e dados colhidos no exterior, principalmente sobre as vendas milionárias de jogadores brasileiros.

SOB SUSPEITA

Adrienne Senna informou que o Coaf trabalha em conjunto com outras 53 unidades de inteligência similares, espalhadas por vários países. Acrescentou, entretanto, que todas as informações ficam sob sigilo até a conclusão do processo. Mas adiantou que, atualmente, o órgão investiga mais de perto 11 pessoas que movimentam grandes quantias. Há fortes indícios, segundo a procuradora, de que estejam praticando crime de lavagem de dinheiro. No total, o Coaf tem em mãos 1.248 operações suspeitas.

O presidente da CPI, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), quis saber se das 11 pessoas investigadas pelo Coaf existia alguma ligada ao futebol. A procuradora informou que as investigações ainda não tinham sido concluídas. Mas revelou que elas estão envolvidas com bingos e movimentam grande quantidade de dinheiro.

O senador Maguito Vilela (PMDB-GO) cobrou das autoridades brasileiras maior controle sobre os bingos. Segundo ele, há mais de mil bingos funcionando no país, a maioria de forma irregular. Adrienne Senna concordou e informou que o Coaf só tem registro de 125.O presidente da CPI, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), cobrou do governo mais combate à lavagem do dinheiro. Segundo ele, ainda é tímida a repressão ao crime organizado no Brasil..

23/11/2000

Agência Senado


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