PDT e PTB pretendem formar partido único
BRASÍLIA - O PTB e o PDT formalizaram uma aliança, que sustenta a candidatura presidencial do ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes (PPS), para testar afinidades e criar, em 2003, um único partido reunindo os trabalhistas. O novo agrupamento político poderá se chamar Partido da Frente Trabalhista - mesmo nome da coligação eleitoral - e deverá ser comandado pelo presidente nacional do PDT, Leonel Brizola. Mas há os que defendem a extinção do PDT e o ingresso dos integrantes no PTB.
Ao contrário do PSDB e do PMDB - que iniciam agora o debate sobre a refusão das duas siglas -, as articulações entre PDT e PTB caminham a passos largos. Se a união entre as duas legendas for concretizada, materializará um velho sonho de Brizola, que perdeu o PTB para a ex-deputada federal Ivete Vargas, filha do ex-presidente Getúlio Vargas, em 1980.
Segundo o vice-presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, a aliança nacional e as coligações nos estados com o PTB será um teste para a nova sigla. "A fusão vai ocorrer de qualquer maneira e, provavelmente, no próximo ano. É claro que, se o Ciro for eleito presidente, será mais fácil garantirmos a união", declarou.
Tanto o PTB quanto o PDT preparam-se para a vigência da cláusula de barreira em 2006, dispositivo legal que provocará um reagrupamento partidário. Por esta regra, as siglas terão de ser mais fortes, tendo que chegar a 5% dos votos válidos na disputa para a Câmara para garantir a sobrevivência política, com todos os direitos das agremiações, como tempo na televisão e recursos do fundo partidário.
Para facilitar a fusão, o líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ), prometeu que Brizola comandará o novo partido. Em junho, em meio à convenção da coligação PPS-PDT-PTB para lançar a candidatura de Ciro Gomes, pedetistas e petebistas se reuniram para discutir a fusão. Mas deixaram a definição para o primeiro semestre de 2003.
Há muito tempo que Brizola batalha para reconquistar o PTB. A disputa entre ele e Ivete pelo PTB foi parar nos tribunais. A derrota, de Brizola foi confirmada pelo TSE. Fundado por Getúlio Vargas em 1945, o PTB é, para Brizola, uma legenda preciosa pela história de luta em prol dos direitos dos trabalhadores e por ter sido perseguido pela ditadura militar. Em 1964, a sigla foi extinta e alguns dos membros, entre eles, o Brizola, foram expulsos do País.
Outros migraram para o velho MDB. Ainda no exílio, Brizola uniu-se a Ivete para recriar o PTB. Em 1979, com a anistia política, o atual presidente pedetista voltou ao Brasil, mas, por divergências políticas com Ivete - ela defendia a participação no Governo do presidente João Baptista Figueiredo - os dois se distanciaram. Em 1980, Brizola fundou o PDT.
Líderes da aliança buscam Inocêncio
Jarbas procura deputado, mas diz não fazer esforço para evitar que ele deixe a vida pública
O governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) finalmente falou com o líder do PFL na Câmara dos Deputados, Inocêncio Oliveira, num gesto cujo objetivo é fazer ele retroceder na sua terceira ameaça de abandonar a vida pública. Além de Jarbas, o vice-presidente Marco Maciel (PFL) conversou com o deputado por horas, na madrugada de ontem. O resultado é que Inocêncio adiou a divulgação da carta-renúncia que apresentaria ontem. Hoje o deputado anuncia uma posição conclusiva, até porque trata-se do último dia para registro de candidaturas.
Devido ao histórico de Inocêncio, a maioria dos correligionários aposta que ele vai retroceder de novo. De qualquer maneira, muitos deputados - do governo e da oposição - passaram o dia tentando saber notícias dele e fazendo figa para o líder pefelista sair do páreo de olho no seu patrimônio eleitoral. Por isso a eventual saída dele significa um vácuo enorme na chapa federal do PFL. Inocêncio obteve mais de 162 mil votos na última sucessão estadual.
Jarbas revelou ter falado com Inocêncio no começo da tarde. Ressalvou, porém, não ter o costume de interferir em decisões já tomadas. E deu a entender que o deixou à vontade para fazer o que quiser. "Falei com ele (Inocêncio) agora há pouco. Ele está em Manaus. Ele disse que está pensando nas coisas, ia se reunir com Antônio Mariano e José Marcos (deputados estaduais do seu grupo no PFL que também ameaçam sair da vida pública), mas não me adiantou nada", afirmou.
O governador enfatizou que "quando uma pessoa vem com uma decisão para mim eu respeito muito. Quando um secretário quer ir embora, eu não peço para ele ficar. Nunca fiz isso na Prefeitura do Recife ou no Governo do Estado". Ele disse ser "incogitável e inaceitável" que, em troca da volta, Inocêncio "ganhe" a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) supostamente reservada para o grupo Mendonça, cuja candidata é a atual líder do Governo na Assembléia Legislativa, Teresa Duere (PFL).
O candidato de Inocêncio é Antônio Mariano. "Eu nunca fiz, não faço e não farei política nesses termos de toma lá, dá cá, de espaço num órgão que não é meu, não pertence ao Estado, um órgão independente", salientou o governador. Ele assegurou que o governo não apóia nenhuma candidatura. "Até agora ninguém nunca me procurou para isso", disse. Jarbas reiterou que vai concentrar sua campanha no guia eleitoral da TV e do rádio, que só começa no dia 20 de agosto. Lembrou que, em 1998, mesmo enfrentando o ex-governador Miguel Arraes (PSB), fez apenas 40 comícios em 40 cidades. O governador também destacou que "só lá para agosto" escolherá o coordenador da sua campanha.
Candidatos deixam inscrição para último dia
Termina às 19h de hoje o prazo de inscrição para os candidatos que pretendem disputar um cargo eletivo nas eleições de outubro. Apesar do final do período estipulado pela legislação eleitoral, até ontem, nenhum partido havia protocolado o registro dos seus candidatos proporcionais e majoritários junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE). A previsão da Secretaria Judiciária do TRE é de que hoje ocorra um grande movimentação no setor de protocolo. "Por esse motivo funcionários nossos deverão ajudar a receber a documentação", afirmou Sibele Figueiredo, da Secretaria Judiciária.
Segundo Sibele, os candidatos que não forem inscritos pelos seus partidos poderão fazer o registro no TRE até às 19h do próximo domingo (dia 7). Para isso - explicou ela - será necessária a apresentação da ata da convenção da legenda, onde deverá constar a indicação do candidato. "Caso o partido, por algum motivo, deixe de protocolar a documentação de um dos seus candidatos, ele mesmo poderá tomar essa providência individualmente", afirmou.
registro - Para fazer o registro dos candidatos, os partidos precisam apresentar cópia da ata da convenção (que será conferida com a original pela Secretaria Judiciária), um documento com autorização para receber por fax ou endereço eletrônico intimações, notificações e comunicados da Justiça Eleitoral e, ainda, provar a filiação partidária através de certidão expedida pela Justiça Eleitoral.
declaração - Aos candidatos é exigido declaração de bens de forma atualizada, cópia do título ou de certidão emitida pelo cartório eleitoral. É exigido também a certidão de quitação eleitoral emitida pela Justiça Eleitoral, Federal e Estadual, fotografia (recente) em preto e branco e comprovante de escolaridade. Quem não tiver o documento será submetido a uma prova de avaliação, que será aplicada pela própria Justiça Eleitoral.
De acordo com Paula Cristina, do setor de Controle Interno do TRE, os candidatos devem adotar três medidas para iniciar a campanha. A primeira é o registro eleitoral.
Em seguida, obteros recebidos eleitorais que são confeccionados pela direção de cada partido e distribuídos com as represent ações de cada Estado. O documento tem um número específico para cada candidato. "A medida é necessária para que eles possam arrecadar e gastar recursos e fazer sua prestação de contas junto ao TRE", ressaltou. O terceiro passo é a abertura de uma conta bancária para movimentar o dinheiro da campanha. A partir deste sábado, o Tribunal Regional Eleitoral passará a funcionar durante os finais de semanas.
Denúncia abala candidatura de Humberto
Operários com uniforme da Prefeitura do Recife são flagrados reformando comitê do petista
Mais uma denúncia que põe em dúvida o uso da máquina da Prefeitura do Recife (PCR) em favor do PT abala a candidatura do vereador Humberto Costa ao Governo do Estado. A polêmica envolve prestadores de serviços que faziam a reforma do comitê de Humberto Costa, na rua Visconde de Albuquerque, na Madalena. Cerca de 12 funcionários da Guerra Construções LTDA - que também possui contrato com a PCR - usavam uniformes vermelhos, com a logomarca da Prefeitura, e foram flagrados trabalhando na obra do comitê, na quarta-feira.
Ontem, o presidente regional do PT, Paulo Santana, concedeu uma coletiva, garantindo que o partido fez um contrato privado com a Guerra no valor de R$ 10 mil para a recuperação do prédio e que a utilização do fardamento dos funcionários da construtora "é de total responsabilidade da empresa". No dia seguinte à denúncia, o PT fechou as portas do prédio. Santana desculpou-se, alegando que quis "evitar que curiosos atrapalhassem os trabalhos".
Numa nota oficial divulgada ao final da tarde, o PTrepudiou a acusação, feita através de uma reportagem da Folha de Pernambuco. O Diretório petista garantiu que contratou a empresa para executar serviços de pintura, colocação de portas e esquadrias no imóvel, pagando antecipadamente R$ 2 mil no dia 2 de julho. E classificou como "inverídicas" as declarações dadas por um dos responsáveis pela obra - Ivo Dias - ao jornal, afirmando que o presidente da Emlurb, Francisco Lira, acompanhava o andamento da obra. Para comprovar que o PT não usou a máquina administrativa em campanha, Paulo Santana apresentou a cópia do contrato de prestação de serviços e remeteu à redação do DIARIO a nota fiscal do serviço e o recibo dos R$ 2 mil pagos até agora.
O contrato é datado de 27 de junho e foi firmado entre Paulo Santana e o sócio-gerente da Guerra Construtora, Tiodisto Neto. O documento, no entanto, não possui registro em cartório e não tem assinatura das testemunhas. A Guerra Construções assumiu o ônus do "erro", através de uma nota lida pelo próprio Paulo Santana na coletiva. O texto admite que os trabalhadores usavam os uniformes da PCR por uma "falha da supervisão" da empresa, que "não impediu o uso de uniformes que haviam sido aproveitados de semanas anteriores em que eles prestaram serviços em outras obras contratadas pela empresa com outro cliente, a PCR". "Um equívoco", reconheceu Tiodisto Neto, em nota repassada à Imprensa, num papel sem o timbre da construtora.
Paulo Santana fez questão de frisar que Humberto não tem responsabilidade sobre o comitê até o dia 6, data em que começa a campanha de rua. Quem presta contas do prédio é ele e o PT. Ele disse não acreditar no desgaste da imagem de Humberto em razão da denúncia porque a imagem do PT é sólida.
Captação de poupança bate recorde com fuga de fundos
Investimento líquido é o maior desde a criação da caderneta, em 1966
BRASÍLIA - A fuga dos investidores das aplicações em fundos de investimento no mês de junho, após a adoção da chamada marcação a mercado (tipo de contabilização que leva em conta a variação diária de ativos de uma aplicação, que rendeu prejuízos ao fundos), rendeu à caderneta de poupança a maior captação líquida mensal da história, desde que a poupança foi criada em 1966.
Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, a caderneta de poupança registrou em junho uma captação líquida de R$ 6,092 bilhões, contra os R$ 499 milhões captados em maio. Com isso, o saldo total das aplicações em poupança no País atingiu, no mês passado R$ 125,683 bilhões, contra o saldo de R$ 119,626 bilhões de maio.
A captação líquida do período foi resultado de depósitos de R$ 42,805 bilhões, menos retiradas de R$ 37,512 bilhões, mais os rendimentos creditados no período de R$ 799,233 milhões. A razão para essa corrida às aplicações de poupança pode ser o volume expressivo de saques que ocorreu nos fundos de investimentos no mesmo período.
Com a antecipação do prazo para a marcação a mercado exigida dos fundos, de setembro para 31 de maio, muitos investidores tiveram perdas em suas cotas e optaram por sacar seus recursos, nesse momento de maior volatilidade, e recorreram à tradicional caderneta de poupança.
REMESSA - Em contrapartida, as remessas de dólares para o Exterior chegaram a US$ 4,2 bilhões no mês passado, maior volume desde janeiro de 1999, quando ocorreu a maxidesvalorização do real. O valor se refere a pagamentos da dívida externa e remessas de lucros e dividendos, entre outros. Não inclui operações realizadas entre bancos.
O número também não inclui as operações de comércio exterior, que, nos últimos meses, têm registrado saldo positivo. No mês passado, o câmbio contratado pelos exportadores, que não reflete necessariamente os produtos embarcados, somou US$ 6,1 bilhões. O câmbio contratado pelos importadores ficou em US$ 2,8 bilhões.
Os números mostram que as empresas estão com dificuldades em renovar seus empréstimos externos, sendo forçadas a quitar suas obrigações. Com isso, as remessas de dólares ao Exterior crescem.
Em contrapartida, o resultado também reflete o efeito que o câmbio flutuante tem sobre as contas externas em momentos de nervosismo. Em janeiro de 1999, quando o país estava mudando seu regime de câmbio, o saldo cambial das operações de comércio exterior ficou positivo em US$ 198 milhões - contra US$ 3,3 bilhões no mês passado.
Já nas operações financeiras - pagamentos da dívida externa e remessas de lucros e dividendos, entre outros -, o resultado de janeiro de 1999 foi negativo em US$ 6,69 bilhões, parecido com os US$ 4,2 bilhões registrados em junho deste ano.
Ou seja, em momentos de crise no mercado financeiro, a alta da moeda dos EUA faz os exportadores trazerem mais dólares ao País, o que compensa uma eventual saída de capital. Entre julho e dezembro, os vencimentos de dívida externa do Governo e das empresas devem somar US$ 14,72 bilhões. O volume previsto não é grande quando comparadocom anos anteriores. O problema é a dificuldade que o País tem enfrentado para renovar suas dívidas. No ano passado, os vencimentos da dívida externa somaram US$ 35 bilhões - valor 25% superior ao previsto para este ano.
Custo de vida sobe 126% no Real
Em oito anos, o setor de serviços registrou elevação de 242,1%, segundo Dieese
SÃO PAULO - O ICV (Índice de Custo de Vida) calculado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) indica uma inflação de 126% nos oito anos de existência do real (entre julho de 1994 e junho de 2002). No mês de junho passado, o indicador apontou inflação de 0,60% no município de São Paulo, percentual que surpreendeu, segundo o instituto. Em maio, os preços haviam avançado apenas 0,10%.
De acordo com o Dieese, a inflação de 126% acumulada nestes oito anos teve componentes distintas que a determinaram. Por exemplo, o segmento de produtos registrou alta de preços média de 70,6% no período, enquanto o setor de serviços registrou elevação de 242,1%.
Em razão do peso diferente que cada segmento exerce sobre o orçamento familiar pesquisado, os produtos contribuíram com 47,8 pontos percentuais para a inflação acumulada em oito anos, enquanto que os serviços parti ciparam com 78,2 pontos.
Os preços de mercado (produtos de consumo, por exemplo) subiram 91,5% desde julho de 1994, enquanto que os administrados (serviços públicos, como energia e combustíveis, por exemplo) saltaram 238,1% e os de segmentos oligopolizados, 215,1%.
Segundo o Dieese, a tendência segmentada de alta de preços indica um comportamento "bastante recessivo" para os produtos e serviços que dependem das forças da oferta e procura da economia, enquanto que os setores cujos preços são determinados por outros fatores apresentaram reajustes mais acentuados.
Em relação às variações de preços do mês passado, os grupos que mais pressionam foram saúde (alta de 2,44%), habitação (0,57%) e alimentação (0,54%). Por outro lado, o grupo transportes teve deflação de 0,37%.
RENDA MENOR - Para o Dieese, os aumentos ocorridos em junho foram mais sentidos pelas famílias de renda menor (R$ 377,49), que representam um terço da população de São Paulo, segundo a metodologia utilizada, com elevação de 0,65% no custo de vida.
Nos últimos doze meses terminados em julho de 2002, o ICV acumula alta de 8,53%. No primeiro semestredeste ano, a inflação somou 2,89%.
Artigos
Direitos humanos e combate à tortura
Marco Maciel
Há exatamente quinze anos entrou em vigor a Convenção contra a Tortura e Outras Formas Cruéis, Desumanas ou Degradantes de Tratamento ou Punição, adotada pela Assembléia-Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1984. Como se sabe, a tortura é um crime hediondo que afronta a consciência da Humanidade e os valores dos direitos humanos, da democracia e do estado de direito. Ao infligir graves sofrimentos físicos e psicológicos às vítimas, a tortura viola a integridade do espírito humano, o reduto interior da consciência e da personalidade, negando a suas vítimas a individualidade e dignidade inerentes à condição de ser humano.
O combate à tortura constitui um dos principais objetivos dos movimentos de direitos humanos. As declarações e os tratados internacionais atribuem caráter especial à proibição da tortura, a qual não pode ser derrogada em qualquer circunstância. A tortura é também categorizada como crime contra a Humanidade, punível em âmbito internacional esujeita à cláusula da jurisdição universal.
O Brasil compartilha do repúdio à tortura e aderiu aos principais instrumentos internacionais que visam a combater tal prática. Ao assinar a Convenção da ONU de 1984, o então presidente José Sarney sublinhou a importância política dessa adesão para um Brasil recém-redemocratizado.
No plano interno, no entanto, a tipificação do crime de tortura só seria alcançada em 1997, com a aprovação da lei 9455/97. Não obstante, passados vários anos da ratificação da Convenção e da tipificação do crime, a tortura continua a ocorrer de forma sistemática e recorrente no País, em estabelecimentos policiais, prisionais e de atendimento a adolescentes em conflito com a lei.
Essa constatação não é só do Governo federal, mas é também do Comitê contra a Tortura da ONU, que avaliou nosso relatório no ano passado, e do ex-relator especial sobre a tortura, que visitou o Brasil no ano 2000 e formulou uma série de recomendações para a superação desses problemas.
Com base nessas sugestões, o Governo federal preparou uma inédita campanha nacional contra a tortura, veiculada a partir de spots publicitários na televisão, no rádio e nos jornais. Como presidente em exercício, lancei-a no dia 30 de outubro de 2001. Na ocasião, foi, também, inaugurada a central nacional de SOS Tortura, que oferece um canal eficiente para o registro e acompanhamento de denúncias de tortura em todo o País.
Para que a campanha contra a tortura tenha êxito, faz-se necessária a adesão de todas as unidades da Federação e de suas instituições no âmbito dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e do Ministério Público. Os órgãos e instituições do Estado devem, em seu conjunto, esmerar-se o máximo para que a lei da tortura seja aplicada em todo o território nacional.
Como bem destacou o presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Nilson Naves, durante recente solenidade de adesão do Brasil ao Dia Mundial de Combate à Tortura, "o sofrimento humano não é espetáculo; justiça não é vingança; policial nãoé carrasco". E, portanto, como enfatizou o ministro, "que, ao agirem fora da lei, sobre os criminosos recaia o castigo por seus crimes, após o devido processo legal".
Os esforços em andamento sinalizam a construção de um consenso na sociedade brasileira sobre a gravidade da prática da tortura no País, e a necessidade de ações conjuntas para a superação desse quadro no mais curto prazo. É através delas e com o êxito dessa campanha que realizaremos o "sonho intenso" de que fala o Hino Nacional, de construir uma nação não só democrática e desenvolvida mas igualmente pacífica e, sobretudo, justa.
Colunistas
DIARIO POLÍTICO - Vandeck Santiago
Gigantismo perigoso
Um cacique da aliança comentava ontem que, aonde chegava (claro que ele está falando do território governista), só encontrava gente reclamando: "É todo mundo insatisfeito, todo mundo brabo". Há muitos motivos para isso (fontes escassas de financiamento para as campanhas é um deles), mas os principais dizem respeito à acomodação de forças na base governista. No futuro, quando houver passado o partidarismo típico dos embates eleitorais, a importância dessa aliança para a política pernambucana e para o próprio Estado há de ter a nitidez que não tem hoje. Seu ideário inicial - promover um conjunto de reformas privatizantes e administrativas - tem uma homogeneidade maior e mais clara do que as que lhe antecederam. Como seu maior líder, o governador Jarbas Vasconcelos tem o mérito de conseguir mantê-la até hoje. Ampliada nos últimos anos, e agora vendo aproximar-se os ex-comunistas do PPS, ela agiganta-se como nunca - e este seu crescimento, ao mesmo tempo que a torna mais forte, pode também torná-la mais frágil.O cientista político Marcus André Melo afirma que toda grande aliança, dada sua heterogeneidade, tem "pouca sustentabilidade a longo prazo". As insatisfações hoje existentes estão abafadas, muito em parte dada a força eleitoral de Jarbas e a conseqüência que isso tem para uma possível manutenção do governo. Desde que quem faz previsão é metereologista e não jornalista, é impossível saber como isso vai acabar.
Mas uma coisa é certa: se tiver os pés de barro, até o maior dos gigantes acaba desabando.
Há um pernambucano - só um - na lista dos dez parlamentares mais influentes do Congresso, que acaba de ser feita pelo insuspeito DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar). Sim, é ele mesmo: Inocêncio Oliveira, do PFL.
De jumento
Encerrou-se ontem a novela da Toyota Hylux adquirida pela Prefeitura de Gravatá para ser o carro oficial do prefeito. O automóvel foi leiloado em chamada "praça pública", por r$ 75 mil. Mentor do leilão, o prefeito Joaquim Neto (PSDB) circula agora num Gol.
De jumento II
No Piauí o candidato a governador do PV, Judson Barros, está defendendo uma proposta que eliminaria todos esses abusos de compras-de-automóveis-luxuosos-para-autoridades. Cheio de argumentos (é mais ecológico, mais barato etc. e tal), ele quer que em vez de aumotomóvel esse pessoal passe a andar de jumento.
Nem conheço
O candidato a senador Sérgio Guerra (PSDB) garante que não tem nenhuma relação, nenhuma mesmo, com a Guerra Construções Ltda, a empresa cujos empregados (vestidos com farda da Prefeitura do Recife) trabalharam na montagem do comitê de Humberto Costa (PT). O telefone de Guerra, o candidato, não parou ontem, com gente querendo saber o que ele tin ha a ver com a empresa.
Ele já foi avisado?
Para o Palácio, já está decidido: quem se candidata a deputada estadual pelo PMDB de Olinda é Jacilda Urquisa. Sendo assim, o marido dela, Hélio Urquisa, que já é deputado e dizia querer concorrer à reeleição, fica fora da disputa.
No grito
Seguidores da prefeita de Olinda, Luciana Santos (PCdoB), e da ex-prefeita Jacilda Urquisa (PMDB) enfrentaram-se verbalmente ontem durante a inauguração do Núcleo de Segurança de Jardim Brasil II, realizada pelo governador Jarbas Vasconcelos. "Fora, Jacilda, fora!", gritavam uns. "Babão, babão!", rebatiam os outros. Em maior número, o pessoal pró-Luciana levou a melhor.
Proletários, uni-vos
Às vezes dando um passo atrás - como recomendava o velho Lênin - para dar dois à frente, o PCdoB está expandindo sua influência eleitoral. Lançou candidatos em todos os Estados e participará das chapas majoritárias em 9 Estados, incluindo Pernambuco. Terá 44 candidatos a deputado federal (Renildo Calheiros, em Pernambuco) e 128 a deputado estadual (Nélson Pereira).
Sem acento
Parece que está fazendo água a chapinha PSDC-PPS, articulação que teve a bênção do Palácio. A cúpula tucana não conseguiu cumprir a promessa de dar Gravatá para o presidente do PSDC, Luiz Vidal, candidato a deputado estadual. Já tem político ironizando o desenlace: em vez de Gravatá, Vidal acabou levando mesmo foi uma gravata.
De novo?!
A campanha de Humberto Costa, pelo jeito, tá precisando ser privatizada.
Editorial
ARMAMENTO PESADO
Ao revelar a estratégia de intervenção no câmbio que será usada ao longo deste mês, o Governo mostrou aos investidores que ainda dispõe de pesado armamento para conter a escalada do dólar frente ao real. Até o final de julho, o Banco Central colocará pelo menos US$ 1,5 bilhão das reservas internacionais no mercado por meio de ofertas diárias de moeda estrangeira. Além disso, pretende, com operações de troca de títulos públicos, encurtar o prazo de vencimento de parte da dívida do Governo. As duas medidas anunciadas ontem tiveram efeito imediato: derrubaram a cotação da moeda americana, que encerrou o dia cotada a R$ 2,86, depois de atingir o recorde de R$ 2,93 na abertura dos negócios.
É difícil prever como o mercado financeiro se comportará nos próximos dias e até quando durará o efeito do calmante ministrado. Afinal, poucas vezes, na história recente, os investidores demonstraram tanto ceticismo em relação ao futuro do País. Há o temor em relação a mudanças na política econômica no caso de eventual vitória do candidato do PT Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de outubro. Há a desconfiança de que o próximo Governo, seja ele qual for, dificilmente conseguirá honrar compromissos com os credores, porque a dívida pública não pára de crescer.
Para piorar a situação, o quadro externo também é desfavorável. A economia dos países ricos vive momento delicado, abalada pela baixa produção, pelo consumo escasso e pela recente descoberta de fraudes nos balanços da Enron, da WordCom, da Xerox e da Vivendi Universal - poderosas empresas que, até há pouco, simbolizavam o progresso e gozavam da confiança dos investidores.
O baixo desempenho das economias dos países ricos, somado aos escândalos financeiros nas grandes corporações, atiçou ainda mais a aversão ao risco. Com isso, a saída natural é a fuga dos mercados emergentes, principalmente depois da crise argentina. No meio desse torvelinho, o Brasil, apesar de ter tomado medidas exemplares para equilibrar as contas públicas, tem sido vítima da insegurança dos mercados financeiros.
O nervosismo dos investidores tem causado enormes prejuízos ao País. A alta do dólar aumenta os custos das empresas, eleva os preços ao consumidor e cria clima de instabilidade que assusta a população. Por isso, medidas adotadas pelo Governo para acalmar o mercado são bem-vindas, embora ainda seja cedo para prever os efeitos que terão sobre os nervos do mercado.
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07/05/2002
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