Pedido o bloqueio dos bens de Jader







Pedido o bloqueio dos bens de Jader
BELÉM e BRASÍLIA. O Ministério Público do Pará entrou ontem com uma ação para reaver o dinheiro desviado do Banco do Estado do Pará (Banpará) na época em que o ex-senador Jader Barbalho (PMDB) era governador do estado. O nome de Jader encabeça uma lista onde aparecem mais 12 pessoas, entre elas o seu segundo suplente, Fernando Ribeiro, apontadas como beneficiárias da fraude. O jornal “Diário do Pará”, de propriedade da família do ex-senador, também está incluído entre os que receberam dinheiro desviado.

Os promotores Agar Jurema, Hamilton Salame e João Gualberto pediram à juíza da 14 Vara Cível, Marta Inês Jadão, o bloqueio de bens dos envolvidos. Na ação, eles também solicitam a devolução de R$ 5.574.722,09, em valores corrigidos.

O dinheiro foi desviado do Banpará entre outubro de 1984 a agosto de 1985 por meio de 21 cheques administrativos, que depois foram localizados em uma conta da agência Jardim Botânico do Banco Itaú, no Rio.

O advogado de Jader, Sábato Rosseti, afirmou que vai tentar impedir na Justiça o bloqueio dos bens de seu cliente. Ele argumentou que ninguém poderá ser responsabilizado pela fraude porque o crime estaria prescrito.

O procurador Hamilton Salame rebate esta alegação, afirmando que a Constituição tornou imprescritíveis os danos causados ao Erário. Segundo ele, apenas a ação de improbidade administrativa não poderá ser movida.

A assessoria do ex-senador divulgou nota afirmando que “não haverá mais palanque para serem repetidas acusações infundadas e irresponsáveis, como vem acontecendo há já onze longos anos a cada vez que se aproxima o período eleitoral”.

Jader questiona ainda o Ministério Público, afirmando que o órgão age de forma inexplicável e esquiva-se do que chama de quesitos necessários ao completo esclarecimento dos fatos.


Votação anulada
Em menos de um mês, um precedente até então inédito no Congresso — a anulação de votações — foi repetido pelos líderes na Câmara. Os mesmos líderes que assinaram a urgência para aprovação do projeto de resolução que concede décimo terceiro salário a ex-congressistas e pensionistas resolveram ontem anular a votação. Na sessão da quarta-feira passada, que aprovou o décimo terceiro inclusive para ex-parlamentares que renunciaram ou foram cassados, a Câmara tinha autorizado também a duplicação do benefício dos segurados do extinto Instituto de Previdência do Congresso (IPC).

Os mesmos líderes que aprovaram o projeto ontem mandaram o texto de volta à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde deverá ser arquivado por falhas jurídicas. Ainda assim, a decisão provocou polêmica entre os líderes da base aliada:

— Ninguém terá coragem de ressuscitar esse projeto — sentenciou o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE).

— Tenho coragem de ressuscitar esse assunto, sim! A Câmara não pode ser covarde numa hora dessas — reagiu Geddel Vieira Lima, líder do PMDB, o único que continuou defendendo o projeto.

De manhã, na reunião de líderes, Geddel acusou os deputados de se renderem ao poder da imprensa. Todos reagiram dizendo que a opinião pública não perdoaria a Câmara caso fosse preservada a proposta, que beneficiava até deputados e senadores cassados ou que renunciaram para escapar de processos, como os anões do Orçamento.

No fim, Geddel concordou com a idéia de anular a votação, sob o argumento de que, pela legislação, a regulamentação do novo sistema de previdência só poderia ser feita via projeto de resolução 60 dias depois de aprovada a extinção do IPC, em 1997. Pelo projeto aprovado semana passada, os gastos extras provocados pela concessão do décimo terceiro seriam pagos pela União.

A decisão de ontem da Câmara não suspende o benefício concedido, por exemplo, aos anões do Orçamento. Só impede que recebam o décimo terceiro salário.

Aécio: projeto não voltará à pauta

Depois da decisão de ontem, para que o texto seja modificado será necessária a tramitação de um projeto de lei.

— Esse assunto não voltará para a pauta enquanto eu estiver na presidência — garantiu o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG).

Embora Aécio repita que não conhecia o teor do projeto, a lista assinada pelos líderes de todos os partidos — à exceção de Jutahy Magalhães Júnior, do PSDB — requerendo urgência para a votação da proposta circulou numa reunião em seu gabinete, há quase um mês. Entre os signatários estavam Walter Pinheiro (PT-BA), Miro Teixeira (PDT-RJ), Odelmo Leão (PPB-MG), Roberto Jefferson (PTB-RJ), Geddel e Inocêncio.

Além disso, Aécio foi alertado por outros parlamentares para o risco da proposta. No dia da votação, sabendo que o polêmico projeto estava na pauta, chamou Themistocles Sampaio (PMDB-PI), pedindo que assumisse a presidência da sessão em que seria feita a votação.

A outra anulação em menos de um mês foi de uma sessão no Senado em que o presidente Ramez Tebet (PMDB-MS) desrespeitou o regimento. Mas os líderes estão convencidos de que não foi aberto um perigoso precedente:

— Não é precedente. Erramos. Tínhamos que consertar — justificou Roberto Jefferson (PTB-RJ).

— A anulação foi toda dentro do regimento. Não está aberto precedente algum — disse Jutahy Júnior, o único que não havia assinado a proposta.


Dinheiro de Maluf em Jersey pode ter sido transferido para outro banco
SÃO PAULO. O dinheiro que o ex-prefeito Paulo Maluf teria mandado para contas bancárias na Ilha de Jersey — cerca de US$ 200 milhões, segundo informações do Ministério Público Estadual — pode ter sido transferido do Citibank para o Deutsch Morgan Greenfell, segundo o promotor Sílvio Marques. A informação foi passada ao Ministério Público por um informante na Suíça.

Promotor espera a chegada de documentos

Como o promotor ainda não tem informações oficiais sobre o bloqueio dos negócios bancários de Maluf na Suíça e em Jersey, ele espera que todas essas operações sejam reveladas com a chegada de documentos enviados por autoridades bancárias e judiciais.

— Hoje (ontem) deve estar chegando à Ilha de Jersey a carta rogatória — disse o promotor, referindo-se ao documento enviado há dez dias pelo Itamaraty pedindo a quebra do sigilo e o bloqueio de contas e aplicações de Maluf e de seus parentes no exterior.

No dia 21 de setembro, o procurador-geral do Cantão de Genebra, Jean-Louis Crochet, mandou ofício ao Ministério Público Federal em São Paulo comunicando a apreensão de documentos bancários de Maluf na Suíça. A rogatória enviada a Crochet foi assinada pelo juiz federal Fernando Moreira Gonçalves, de São Paulo, que já decretou a devassa em contas bancárias de Maluf em todo o território brasileiro.

Ontem de manhã, seguindo orientação do advogado da família, a mulher de Maluf, Sylvia, e a filha mais velha do casal, Lígia, usaram uma única frase — “nada a declarar” — para responder às mais de 20 perguntas do promotor Sílvio Marques. Elas depuseram na Promotoria de Justiça da Cidadania no inquérito civil que investiga a possível ligação entre o desvio de recursos de obras na administração Maluf e o envio do dinheiro para contas na Suíça e em Jersey.

Interrogatório sobre ligações para a Suíça

O advogado da família, Ricardo Tosto, explicou que Sylvia e Lígia se valeram do direito constitucional de permanecerem caladas para não produzirem provas contra elas mesmas. A mulher e a filha de Maluf foram interrogadas sobre ligações telefônicas que fizeram para a Suíça. Segundo o rastreamento telefônico da família Maluf, Lígia telefonou 15 vezes, entre 1994 e 1996, para o Citibank de Genebra.

Sylvia depôs durante 15 minutos. Lígia levou um pouco mais, cerca de 20 minutos. Elas entraram e saíram do Ministério Público sem conversar com os jornalistas.

Em nota, Maluf classificou como terrorista a atitude do promotor. “A intimação do promotor Sílvio Marques para que minha dedicada e virtuosa esposa, Sylvia Maluf, compareça para depor é mais um ato de arbitrariedade e terrorismo que tem por fim apenas perseguir a minha família”, disse o ex-prefeito na nota.


Tasso e Serra fazem pacto de não-agressão
BRASÍLIA. Por mais de três horas na noite de terça-feira, o governador do Ceará, Tasso Jereissati, e o ministro da Saúde, José Serra, tentaram mais uma vez acertar os ponteiros. Os presidenciáveis tucanos selaram um pacto de boa convivência e não-agressão. O encontro aconteceu no apartamento do ministro, onde, a sós, saborearam bons vinhos e um espaguete ao sugo.

— Não temos problemas pessoais para resolver. Só temos que acabar com as futricas, as brigas e as agressões que envolvem nossos nomes. Nós já temos um pacto de boa convivência — disse Tasso.

Tasso também esteve com Fernando Henrique

O governador garantiu que não partiram dele ou de Serra as informações de que estariam brigando pela candidatura do PSDB a presidente.

— Não existe essa disputa, não somos adversários. Vamos chegar sem drama a um nome de consenso — disse Tasso.

Além de Serra, o governador do Ceará se reuniu também com o presidente Fernando Henrique, com o presidente do PSDB, José Aníbal, com o presidente da Câmara, Aécio Neves, e com o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga.

Nessa maratona, o governadora defendeu o diálogo constante com os partidos aliados para garantir a reedição da aliança em 2002. A proposta foi discutida num almoço com os governadores de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), e do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), na terça-feira passada.

— Tasso tomou a decisão certa. Eu estimulo a aliança com o PFL, o PMDB, o PPB e, se possível, com o PTB. Ele é um dos nomes do PSDB para a Presidência e é legítimo seu movimento para explicitar sua intenção — disse Aécio.

A desenvoltura com que Tasso transitou no cenário político de Brasília levou tucanos a cobrarem o mesmo de Serra. Seus colegas no Senado chegaram a defender sua saída imediata do Ministério da Saúde para que possa preparar a candidatura.

— Ele não tem mais nada a ganhar no ministério e pode até sofrer desgastes. Já está na hora de ele assumir de vez que disputa a indicação — disse um senador amigo de Serra.

Aécio não fala sobre uma possível saída de Serra do ministério, mas acha que o ministro deveria assumir mais a pré-candidatura:

— Ele tem que se movimentar como os outros postulantes à indicação. Aí vamos chegar ao melhor candidato.


FH: acusações da Força ao governo são uma infâmia
BRASÍLIA. O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que são infames as acusações de que o governo é responsável pelas denúncias envolvendo o deputado Luiz Antônio de Medeiros (PL-SP) e o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, em irregularidades no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Fernando Henrique disse que conversou ontem por telefone com Paulinho, que acusa ministros de liderar um complô contra Medeiros.

Por intermédio do porta-voz adjunto, Alexandre Parola, o presidente disse que desafiou Paulinho a apresentar provas das denúncias. Ele avisou que, se confirmadas as denúncias, os ministros citados por Paulinho — o da Saúde, José Serra, e o da Secretaria-Geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira — seriam demitidos. Andrea Matarazzo também foi mencionado por Paulinho, mas ele já deixou a Secretaria de Comunicação de Governo e foi indicado para a embaixada em Roma.


A infinita espera de Matarazzo e Suassuna
BRASÍLIA. Um ministro e um candidato a ministro viveram ontem mais um dia de expectativa e ansiedade com a indefinição de seu futuro. O ex-secretário de Comunicação da Presidência Andrea Matarazzo viu crescer no Congresso a má vontade contra sua indicação para a embaixada em Roma. E a novela da nomeação do senador Ney Suassuna (PMDB-PB) para o Ministério da Integração teve um novo e dramático capítulo.

Suassuna continua sem receber o convite para o cargo, mas ontem o presidente Fernando Henrique ligou para lhe dizer que ainda estava resolvendo algumas dificuldades. Sem apoio do próprio partido, no fim do dia o senador lutava sozinho pela nomeação.

Vetado pelo PSDB da Paraíba, Suassuna reuniu-se na sala da Comissão de Constituição e Justiça do Senado com os 17 deputados e os outros dois senadores do estado. O candidato a ministro organizou o encontro na tentativa de pacificar os ânimos, mas os tucanos não compareceram.

— Se for nomeado, não serei parcial nem partidário. Sei que tenho uma bancada de apoio composta por diferentes partidos — disse.

Suassuna, que é presidente da Comissão de Fiscalização e Controle e relator do processo sobre o ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge, negou que vá se tornar inimigo do governo caso não seja nomeado. Mas deu a entender que mudará sua disposição.

— Perseguir, não. Mas posso cumprir meu dever com mais afinco — afirmou.

Mesmo com a sabatina no Senado adiada por duas vezes, Matarazzo começou a fazer mudanças na embaixada. Ele pediu ao secretário-geral do Itamaraty, Luiz Felipe Seixas Corrêa, que informasse à principal assessora do embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima que precisaria do cargo. A ministra Leonilda Correia é a segunda na hierarquia da embaixada e acompanha Flecha de Lima desde a época em que ele foi embaixador em Washington.

Esta teria sido mais uma das razões pelas quais Matarazzo estaria enfrentando agora uma certa má vontade do PFL, a quem Flecha de Lima é ligado. Quando ainda era embaixador em Roma, Flecha de Lima prestou solidariedade ao amigo Antonio Carlos Magalhães quando este renunciou ao Senado. E perdeu o cargo na Itália dias depois, tendo sido informado da decisão do presidente por telefone.

Mas o complicador maior para Matarazzo hoje é sua estreita ligação com o ministro da Saúde, José Serra, que, nos bastidores, estaria entrando em atrito com os aliados do PFL por causa da sucessão presidencial.


PSDB lança jornal com críticas a Marta Suplicy
BRASÍLIA. Um dia depois de o petista Luiz Inácio Lula da Silva lançar no Congresso o projeto Fome Zero, o PSDB deu uma resposta radical. Lançou, também no Congresso, o “Tucano Municipal”, jornal do diretório do partido em São Paulo. Em suas 20 páginas, a publicação do PSDB reproduz reportagens desfavoráveis à prefeita de São Paulo, Marta Suplicy.

A divulgação do jornal chegou a ser anunciada como um evento que reuniria os principais líderes tucanos em Brasília. Mas a idéia pegou mal e o evento acabou esvaziado. Apenas o presidente do PSDB, José Aníbal, e os deputados Paulo Kobayashi (SP), Inaldo Leitão (PB) e Zulaiê Cobra (SP) compareceram.

— O jornal é esplêndido! O PT esconde a Marta, tem gente no partido que já a considera um caso perdido. Vamos mostrar que é esse o modo de o PT governar, atendendo às corporações e à máquina partidária — atacou Aníbal.

A deputa Zulaiê Cobra disse que Marta é pior do que o ex-prefeito Celso Pitta:

— A Marta é pior do que o PItta porque tem o discurso novo com a prática velha.

O jornal reproduz reportagens que tratam de temas como o aumento das passagens de ônibus em São Paulo, os gastos da prefeitura com publicidade, a assinatura de contratos sem licitação, o superfaturamento no preço do leite e as investigações sobre os contratos para a coleta de lixo na capital pa ulista.

Para falar da popularidade da prefeita, os tucanos usaram uma pesquisa do Datafolha divulgada no início de julho, na qual ela aparece com o maior índice de desaprovação entre os prefeitos das capitais.

Petistas dizem que jornal é sinal de desespero

O PT saiu em peso em defesa de Marta Suplicy. Para a cúpula do partido, a divulgação do jornal mostra o desespero dos tucanos frente ao crescimento de Lula nas pesquisas para a sucessão presidencial do ano que vem.

— Isso mostra claramente o desespero do PSDB. Trata-se de uma colagem mal feita e de baixo nível. Esse rebaixamento me faz lembrar o período Collor. O José Aníbal está desequilibrado — alfinetou o deputado Aloizio Mercadante (SP), ao saber que a Executiva Nacional do PSDB financiara o jornal.


Garotinho diz que Benedita desviou R$ 500 mil
O governador Anthony Garotinho (PSB) acusou ontem a vice-governadora Benedita da Silva (PT), que deverá sucedê-lo no cargo em abril do ano que vem, de ter desviado R$ 500 mil na época em que coordenava as ações sociais do estado. Segundo Garotinho, o dinheiro foi doado pela Telemar para a implantação do projeto de restaurantes populares, um dos principais programas de seu governo.

— Dona Benedita entregou isso (o dinheiro) para uma ONG chamada Ação da Cidadania, liderada pelo senhor Maurício Andrade, que pegou os R$ 500 mil e não apresentou restaurante nenhum. Tanto que algumas pessoas se afastaram do projeto por desconfiarem que a coisa ali não estava bem. Não pude tomar nenhuma atitude porque se tratava de uma doação de uma empresa privada para uma ONG — afirmou o governador durante encontro do PSB, ontem à noite, no Hotel Glória.

Palmares: Garotinho teria que ter autorizado

A vice-governadora não foi localizada ontem à noite para comentar a acusação do governador, feita um dia após Benedita dizer que assumirá o governo do estado se Garotinho renunciar em abril para concorrer à Presidência. Benedita também anunciou sua intenção de disputar as prévias do PT que escolherão o candidato do partido à sucessão estadual.

Para o presidente eleito do PT fluminense, Gilberto Palmares, as acusações de Garotinho demonstram seu desespero, diante da intenção de Benedita de concorrer à sucessão estadual.

— Fui secretário estadual de Trabalho e sei que é impossível que uma operação envolvendo essa quantia seja feita sem a autorização e o conhecimento do governador. Ele está desesperado, enlouquecido, porque sentiu que Benedita está jogando para valer — disse Palmares.

Coordenador-geral da Ação da Cidadania, Maurício Andrade disse que Garotinho é leviano. Ele garantiu que nunca recebeu dinheiro da Telemar ou de Benedita. Afirmou que sua entidade chegou a firmar convênio com o governo para a construção dos restaurantes. A parceria, disse, foi rompida porque a ONG considerou inadequado o local escolhido para o primeiro restaurante, na Central do Brasil.

— Este local não tinha capacidade para oferecer três mil refeições diárias, como ficou comprovado depois. As pessoas ficam até quatro horas na fila. A acusação é leviana porque envolve uma empresa com a qual temos parceria há quatro anos. Nunca recebemos nada do governo. Pelo contrário. Fizemos uma doação de alimentos para a Leão XIII, que é muito mal administrada — disse Andrade, coordenador da ONG fundada por Herbert de Souza, o Betinho.

Quando deixar o cargo, Garotinho deverá ser alvo de investigações do governo do PT, se prevalecer a intenção de petistas de diferentes tendências. O deputado federal Jorge Bittar, da Articulação, e o deputado estadual Chico Alencar, da esquerda do partido, defenderam auditorias para apurar as denúncias de irregularidades na Cehab e na Fundação DER.

— Depois de tantas denúncias, essas auditorias devem ser feitas. E o que for programa sério deve ser mantido, mas o que for assistencialismo barato, não — afirmou Bittar.

O deputado, que foi secretário de Planejamento de Garotinho, criticou o programa cheque-cidadão, que distribui mensalmente vales de R$ 100 a famílias carentes para compra de alimentos. Ele defendeu a transferência desses recursos para o bolsa-escola, cujas famílias beneficiadas têm que manter os filhos matriculados nas escolas.

— O bolsa-escola não é mera distribuição de dinheiro, mas um programa de renda mínima vinculado à educação — afirmou Bittar.

PT tentará instalar CPIs contra Garotinho em 2002

Líder do PT na Assembléia Legislativa, o deputado Artur Messias também defendeu o fim do cheque-cidadão e a realização de auditorias. Foi além: em 2002, avisou, a bancada petista vai tentar instalar todas as CPIs contra Garotinho, sepultadas este ano pela maioria governista.

Ao comentar as críticas do PT contra os projetos de seu governo, Garotinho voltou a atacar Benedita, no discurso de uma hora e meia que fez para os integrantes do PSB.

— Lamento que queiram acabar com cheque-cidadão e o restaurante popular. Principalmente uma vice-governadora que veio de baixo como a Benedita, que tantas vezes, quando morava no morro, precisou pedir ajuda a um e a outro para poder comer um prato de comida gostoso como aquele que é servido no restaurante popular — afirmou Garotinho.

Rosinha: “Nosso adversário maior chama-se PT”

As críticas ao PT também foram a tônica do discurso da secretária de Ação Social, Rosinha Mateus. Ela acusou administrações petistas de estarem envolvidas em irregularidades em todo o país.

— Nosso adversário maior chama-se PT. Eles ficaram um ano no governo e não disseram ao que vieram. É só pegar os exemplos do Olívio Dutra (governador do Rio Grande do Sul), que está com salários atrasados; a Marta Suplicy (prefeita de São Paulo), que tem 108 processos; o Zeca do PT (governador de Mato Grosso do Sul), que estava desviando verbas do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Esse partido sabe fazer uma coisa muito bem: calúnia — disse.

Garotinho disse que o PSB terá candidato ao governo e que só apoiará o deputado Sérgio Cabral Filho (PMDB) se o partido apoiar sua candidatura à Presidência.


Gregori manda polícia proteger ambientalista
BRASÍLIA. O ministro da Justiça, José Gregori, determinou ontem que a Polícia Federal dê proteção ao ambientalista Paulo Adário. Coordenador da campanha Amazônia, do Greenpeace, Adário está sendo ameaçado de morte desde agosto, quando começou a denunciar a exploração ilegal de mogno em áreas indígenas no sul do Pará. Gregori decidiu mandar a polícia investigar o caso e proteger o ambientalista a pedido do ex-ministro da Justiça, o advogado José Carlos Dias.

— Este é um caso gravíssimo. O trabalho do Adário na Amazônia é importantíssimo para o Brasil e para a humanidade. Um eventual atentado contra ele agora teria tanto impacto quanto o assassinato de Chico Mendes — disse Dias.

Segundo Adário, as ameaças se tornaram mais freqüentes nas últimas semanas. No último dia 2, um homem ligou para o antigo escritório do Greenpeace em Manaus e avisou ao segurança que atendeu o telefone que o ambientalista está com os dias contados.

— Ele disse que eu precisava morrer e que eu iria morrer — disse o ambientalista.

Sindicalistas entregou dossiê à Procuradoria da República

Adário também foi ameaçado no final de setembro, em Marabá, no Pará. Ele estava se preparando para fazer um sobrevôo das reservas indígenas devastadas, quando recebeu o alerta de que, se insistisse em sua empreitada, seria assassinado.

Em agosto deste ano, o sindicalista entregou um dossiê ao Ministério Público Federal. Adário reuniu fitas e fotos feitas por satélite que mostram a atuação de madeireiras dentro da reserva caiapó, no sul do Pará.

A exploração do mogno, segundo Adário, é um neg ócio tão rentável quanto o tráfico de cocaína. O metro cúbico vendido pelos índios a R$ 70 chega a US 1,1 mil no mercado internacional. No país existem 13 planos de manejo sustentável de mogno explorados por oito empresas. Algumas dessas empresas, segundo Adário, estão utilizando a documentação para se apropriar da madeira indígena.


Artigos

Tudo à venda
MARCELO SANTA CRUZ

O Brasil foi posto à venda. O corpo já foi arrematado: o controle da nossa economia, nos últimos anos, foi todo transferido para o capital internacional. Agora estamos vendendo a nossa alma, por um punhado de dólares.

O altar-mor do Mosteiro de São Bento, em Olinda, obra de arte barroca do fim do século XVIII, medindo 14 metros de altura e pesando 24 toneladas, um patrimônio histórico e cultural de valor inestimável, é um pedaço da alma brasileira. Levá-lo para o exterior, separado em blocos, enfrentando os percalços do transporte de uma peça tão delicada e complexa, constitui uma operação bastante arriscada, contra a qual se levantaram várias e esclarecidas vozes.

Lembrou-se, por exemplo, que a umidade do ambiente do museu onde a peça será exposta, muito abaixo da do seu local de origem, pode causar sérios danos à madeira. Nem sequer, inicialmente, o seguro indenizatório cobria parte dos danos, no caso de ação terrorista ou ato de guerra.

Com base nesses princípios e na Constituição federal, que afirma ser “da competência comum da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural”, apresentei requerimento, aprovado por unanimidade pela Câmara Municipal de Olinda, no dia 24 de agosto próximo passado, pedindo providências à Procuradoria da República para sustar o embarque do altar para Nova York. Enquanto o pedido tramitava, ocorreram os atentados terroristas contra o World Trade Center e o Pentágono.

Não restou alternativa ao Ministério Público que não a promoção da ação cautelar. O juiz federal Roberto Wanderley Nogueira observou, na fundamentação da liminar, que “o Brasil não pode ficar à mercê dessas vicissitudes e expor a riscos incalculáveis a sua riqueza artístico-cultural”. Por duas vezes a decisão foi mantida por juízes do Tribunal Regional Federal de Pernambuco. Mas pressões que chegaram a envolver o presidente da República e o ministro da Cultura fizeram com que ela fosse mudada.

Com relação à “visibilidade” que Pernambuco e o Brasil obteriam com essa exposição, ficamos com a opinião do físico Plínio Santos Filho, diretor-executivo da Agência de Restauro das Cidades da Região Metropolitana do Recife. Para ele (em declaração feita antes do envio do altar), “podemos ter muito mais visibilidade se não deixarmos que uma obra de arte religiosa de tal importância vá para a incerteza de uma exposição nos EUA que, nas atuais circunstâncias, está fadada ao fracasso. Agora seria tempo, talvez, de se reverenciar os mortos, e de usar o altar, em Olinda mesmo, numa vigília pela paz”. E pela alma brasileira, que também está ameaçada.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – TEREZA CRUVINEL

Duplo desafio

Os movimentos acelerados do governador Tasso Jereissati encontram terreno fértil na ansiedade tucana para pôr um candidato presidencial na rua. Já a estratégia do ministro José Serra contraria a pressa, aposta no tempo e nos resultados de seu trabalho como ministro. Estão pois os tucanos entre dois desafios, o de ter logo um candidato e o de ter um candidato com chances de vitória.

Entre os caciques, Tasso certamente avançou na maratona de encontros que teve em Brasília nas últimas horas. Ainda que não seja formalmente lançada em São Paulo na segunda-feira, no evento organizado pelos filhos de Mário Covas, sua candidatura está posta e registrada. A alguns dos tucanos com quem se encontrou, entre eles o próprio ministro da Saúde, deu duas garantias importantes. Uma, talvez necessária, a de que, não sendo o escolhido, não comandará dissidência. Que parem, entretanto, de especular sobre sua lealdade partidária, o que considera uma ofensa. A outra, nem tão necessária, a de que jogará aberto, franca e lealmente, sem golpes baixos. Sua disposição deixou de alma mais leve uma parte do ninho, a mais ansiosa.

— Seus movimentos são legítimos e atendem ao que o partido pede, que os postulantes exponham suas idéias e entrem no debate — diz o presidente do PSDB, José Aníbal.

Ser candidato é uma coisa, ganhar a eleição é outra. Para esse último desafio, Tasso não seria hoje, segundo as pesquisas, a melhor opção tucana. Entre elas, a do Instituto Vox Populi sobre expectativas do eleitor com a sucessão, que teve a maioria de seus dados publicada na edição de ontem. Confrontados com uma lista de presidenciáveis tucanos, 44% apontaram Serra como o candidato com mais chances de vencer a eleição. Tasso obteve 4%, Pedro Malan 3%, Paulo Renato 2% e Pimenta da Veiga 1%. Mas há outros: entre os eleitores identificados com o PSDB, o ministro da Saúde é o preferido de 66%, e é apontado como o mais viável por 50% dos simpatizantes do PFL, 44% do PMDB e 47% do PTB. É ainda indicado como o nome mais forte por 52% dos simpatizantes do PPS e 36% do PT. Os outros tucanos obtêm resultados pouco significativos, exceto Tasso, que tem a preferência de 6% dos simpatizantes do próprio PSDB e 10% entre os do PFL.

O Vox Populi mediu o potencial de voto e a rejeição dos presidenciáveis de todos os partidos, traduzidos respectivamente pela admissão de que “poderiam votar” no candidato ou nele “não votariam de jeito algum”. Lula ganha também nesse quesito. Os que “poderiam votar” nele (potencial) são 62%, contra 30% que “não votariam de jeito algum” (rejeição). É seguido por Ciro, que tem 53% de potencial e 32% de rejeição. Entre os governistas, Serra tem o melhor desempenho. Seu potencial é de 51% e a rejeição de 35%. Roseana Sarney sai-se bem, com potencial de 46% e 35% de rejeição. Tasso tem apenas 13% de potencial de voto e 58% de rejeição, à frente de Paulo Renato.

Mas se o drama era ter um candidato, os tucanos agora têm um, que fala e age como tal.“O Tucano Municipal”, jornal do PSDB paulista lançado ontem, bate na prefeita Marta Suplicy do começou ao fim. Deveria chamar-se “abutre municipal”, reagiu o petista Marcelo Déda.PT sem pressa de ter um vice

Apesar da onda criada em torno do senador José Alencar (PL-MG) como provável vice de Lula, o PT não tem pressa de escolher sua chapa. Vai esperar até março, pelo menos. Em janeiro, há a convenção do PMDB, que decidirá o destino de Itamar Franco. Se ele for preterido, pode apoiar Ciro Gomes ou mesmo Lula.

Se Itamar for candidato, Ciro perde seu aliado potencial, pode retirar-se da disputa e quem sabe compor com o PT.

As conversas com o PL prosseguem, apesar do caso Medeiros. Mas também sem pressa, diz o deputado Aloizio Mercadante.FH pede fim da greve

Disposto a vencer a greve dos professores universitários pelo cansaço, o ministro da Educação, Paulo Renato, cansou o ex-docente Fernando Henrique. O presidente, diz-se que alertado por amigos da vida acadêmica sobre o desgaste que a greve traz ao governo, pediu a ministro um esforço de negociação que ponha fim ao conflito.

Paulo Renato conseguiu ficar mal com as universidades federais e também com as particulares, que ganharam muitos concorrentes ao longo de sua gestão.CPI do FAT

Ao pedir a imediata instalação da CPI do FAT, o líder do Governo no Congresso, Arthur Virgílio, surpreendeu aliados e adversários. Especula-se sobre um improvável afastamento do PSDB e sobre que candidato estaria querendo atingir. O governo sempre correu dessa CPI e a oposição sempre fez um certo corpo mole. Para evitá-la, o ministro do Trabalho, Francisco Dornelles, chegou a deixar o cargo e reassumir o mandato de deputado. Foi surpreendido pela iniciativa do líder no Canadá.

HOJE tem reunião da coordenação política do governo com o presidente FH. Na base aliada, cada partido tem cuidado de si. O PMDB quer ministro. O PFL dificulta a sabatina do futuro embaixador em Roma, Andrea Matarazzo.


Editorial

Na mesma moeda

A Justiça deu a palavra final na controvérsia sobre a ida do altar-mor do Mosteiro de São Bento de Olinda para Nova York. O Tribunal Regional Federal da 5 Região autorizou o empréstimo da peça ao Museu Guggenheim, e ela será a principal atração da exposição “Brasil: corpo e alma”, que abre amanhã para o público.

Superado o impasse, ficam temas para reflexão. Compreende-se o zelo dos que tentaram impedir a remoção. Eles prefeririam que o altar-mor, tido por especialistas como um tesouro da arte religiosa brasileira, permanecesse em seu lugar e fosse visto e admirado apenas por quem se dispusesse a ir a Olinda.

A certa altura do imbróglio, iniciado antes dos atentados terroristas de 11 de setembro, usou-se até o argumento da falta de segurança nos Estados Unidos para impedir a saída do altar. Seria lamentável se esse raciocínio prevalecesse: o principal objetivo dos terroristas é infundir o pânico, e o Brasil daria uma despropositada demonstração de medo se permitisse que o intercâmbio cultural ficasse refém do terror.

Com efeito, fora pareceres técnicos que desaconselhassem terminantemente a remoção do altar, qualquer outra razão invocada para não despachá-lo teria um ranço provinciano e egoísta. O tempo todo obras artísticas de valor incalculável atravessam fronteiras para comover e educar pessoas em países e continentes distantes. Especialmente nos últimos anos, os brasileiros têm-se beneficiado desse costume civilizado — e civilizador— recebendo a visita de exposições de artistas como Picasso, Dalí e Rodin.

Por isso, em vez de criar obstáculos, seria o caso de o Brasil, como parte desse circuito, aproveitar a oportunidade para, com generosidade e até com orgulho, pagar na mesma moeda.


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10/18/2001


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Mário Couto quer que Mesa esclareça dúvidas sobre bens declarados por Jader Barbalho

Jader assina pedido de criação da CPI da corrupção