Pedro Simon defende atitude de João Goulart com relação ao golpe de 1964




O senador Pedro Simon (PMDB-RS) defendeu que a história oficial resgate os últimos movimentos na Presidência da República de João Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964. Simon disse que vinha à tribuna "contra a vontade", mas motivado por pronunciamento feito no dia anterior pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), para quem Goulart deveria ter reagido ao golpe. Simon, no entanto, disse que o então presidente procurou evitar um "banho de sangue".

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- Meu filho Randolfe, tu tens razão. Que bom se nós pudéssemos ter resistido a 1964 e esses 20 anos não tivessem acontecido. Mas não dá pra ficar na história a tese de que João Goulart fugiu. A rigor, repetiu Getúlio Vargas, 10 anos antes. Ele podia fazer uma guerra civil, uma luta de consequências imprevisíveis, e resistir - afirmou o parlamentar.

Resistência ao golpe

No pronunciamento, o senador pelo Amapá disse que "o presidente João Goulart foi tolerante, aliás, tolerante demais, com a tentativa de golpe entre os dias de agosto e de setembro de 1961". Para Randolfe, João Goulart tinha força política e militar necessária para ter "sepultado as intenções golpistas que já estavam demonstradas naquele período, entre agosto e setembro de 1961", mas não o fez.

Randolfe disse que o presidente João Goulart "aceitou, passivamente, a emenda do parlamentarismo para limitar os seus poderes de Presidente da República" e, em seguida, "convocou o povo, em plebiscito, para derrubar o regime parlamentarista e ter restabelecido os seus poderes presidenciais". Acrescentou que João Goulart tinha apoio popular para "ter convocado o povo para resistir aos acontecimentos de 1º de abril de 1964". E finaliza: "para a História do Brasil, quero dizer aqui, talvez fosse melhor a decisão contrária; talvez fosse melhor o Sr. João Goulart ter, naquele momento histórico, atendido os clamores de Leonel Brizola e resistido ao golpe que foi impetrado no dia 1º de abril."

Simon elogiou Randolfe por sua "cultura, conhecimento, capacidade, liderança, seriedade e profundidade" demonstradas no pronunciamento que fez quando se apresentou como candidato à Presidência do Senado, no início da atual legislatura. Disse que falava para ele como se fosse um filho, ou um neto, embora não soubesse se o representante amapaense no Senado "estava vivo em 1964" (Randolfe Rodrigues nasceu em 1972). Simon passou a relatar os momentos que viveu ao lado do presidente João Goulart quando eclodiu o golpe militar.

Parlamentarismo

O senador gaúcho esclareceu, inicialmente, que foram dois momentos distintos: a campanha da legalidade, deflagrada por Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, a favor da posse do então vice-presidente João Goulart após a renúncia do presidente Jânio Quadros.

Simon explicou que, quando Jânio Quadros renunciou, João Goulart estava na China, em missão oficial. Os chefes militares não queriam a posse de João Goulart e criaram uma junta militar, dando posse ao então presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli. Brizola então assumiu o comando de uma rádio gaúcha e começou a fazer pronunciamentos que passaram a serem reproduzidos em todo o Brasil, defendendo a posse do vice-presidente, como ordenava a Constituição.

- Neste Senado Federal, de madrugada, se criou o parlamentarismo, com o qual João Goulart concordou. Ele abria parte de seus direitos, passando a ser chefe de estado, e o primeiro ministro que indicou, Tancredo Neves, passou a ser chefe de governo - afirmou Simon, para quem esta foi "uma das páginas bonitas da nossa história", com uma atuação importante do Congresso Nacional para evitar o golpe iminente.

O representante gaúcho no Senado disse, então, que Jango assumiu, com presidente parlamentarista, e estava fazendo um grande governo. Tancredo Neves, como primeiro ministro, tinha também uma atuação muito importante. Foi então, de acordo com Simon, que o ex-presidente Juscelino Kubitschek, que já estava em campanha para a eleição de 1965, e o ex-governador da Guanabara, Carlos Lacerda - também candidato, "praticamente se uniram e terminaram derrubando o parlamentarismo", ao conseguirem aprovar proposta determinando que Tancredo teria de renunciar ao cargo de primeiro ministro para concorrer à Câmara dos Deputados.

- Caiu o parlamentarismo e, desde aquele momento, começou caminhada para golpe para derrubar João Goulart - afirmou Pedro Simon, destacando a campanha efetuada pelos meios de comunicação e pela Igreja contra o governo de João Goulart.

O golpe de 64

Para Simon, se João Goulart cometeu um erro, foi ter permitido a radicalização de líderes políticos e sindicais de esquerda. Citou o almoço com sargentos no Rio de Janeiro, para ele "uma situação ridícula" que causou uma insatisfação generalizada na cúpula militar do país.

- O que presidente da República tem de conversar com sargento?

Com o anúncio das reformas de base e a desapropriação das terras ao lado das rodovias federais, estourou o movimento de 1964. O general Olympio Mourão Filho começou a marchar com suas tropas de Juiz de Fora (MG) para o Rio de Janeiro, com o objetivo de depor João Goulart, que se encontrava na capital fluminense.

De acordo com Pedro Simon, João Goulart pediu ao general Amaury Kruel - seu amigo e ex-ministro da Guerra - que dissipasse o movimento iniciado pelo general Mourão. O general Kruel, no entanto, exigiu, para isso, que João Goulart divulgasse uma nota oficial rompendo com o Partido Comunista Brasileiro e "eliminando algumas figuras do governo", com a qual o presidente não concordou.

Pedro Simon afirmou que João Goulart foi a Brasília e, de lá, foi para Porto Alegre. Nomeou novo comandante para o 3º Exército (o general Ladário Teles). As notícias que vinham do interior do estado falavam de adesões ao golpe de tropas consideradas fiéis a Goulart. Leonel Brizola, então deputado federal, insistia que João Goulart o nomeasse ministro da Fazenda e o general Ladário Teles ministro da Guerra. Na ideia de Brizola, eles iriam juntos a Brasília repetir a Campanha da Legalidade, bem sucedida três anos antes.

Após um longo levantamento, afirmou Pedro Simon, os militares aliados ao presidente viram que as tropas fiéis e solidárias a João Goulart eram minoritárias. Além disso, chegou do serviço secreto a informação de que a 6ª frota americana já estava na divisa do mar territorial brasileiro, esperando o início da luta para atuar a favor dos golpistas.

- Foi em meio a isso que João Goulart não resistiu. Eu estava ali, participei de todo o movimento - afirmou Pedro Simon, para quem o presidente quis evitar um grande derramamento de sangue, repetindo a atitude de Getúlio Vargas, 10 anos antes, que, em vez de deixar o poder, se suicidou.

Para Pedro Simon, "é preciso recompor a história de João Goulart". Lembrou que o então senador Tancredo Neves, "aos berros", chamava de mentiroso, no Plenário do Senado, o presidente da Casa, senador Auro de Moura Andrade, que declarara vaga a Presidência da República e que João Goulart estava "em lugar incerto e não sabido", quando o presidente estava na casa do Comandante do 3º Exército, em Porto Alegre.

O senador disse também que a imprensa "foi muito cruel" com o ex-presidente. De acordo com ele, o jornal The New York Times afirmou que João Goulart era "o homem que tinha a maior extensão de terras do mundo", matéria reproduzida por jornais brasileiros. Para desmentir a história, João Goulart foi a um cartório em Montevidéu, no Uruguai - onde se exilou - e fez um procuração vendendo a US$ 1 cada fazenda que adquirira depois de assumir o poder. Simon disse que fez discurso na Assembleia gaucha, que visitou redações de jornais e televisões, mas nada foi publicado sobre essa procuração.

Simon disse, porém, que "a história não irá perdoar" a falta de entendimento entre João Goulart e o general Amaury Kruel.

Dilma

Ainda nesse pronunciamento, Pedro Simon elogiou a presidente da República, Dilma Rousseff, que, embora tenha sido torturada durante a ditadura, "não se vê na fala dela uma vírgula que denota a resposta do rancor".

- Vejo nela um sentimento de grandeza das pessoas que conseguiram colocar o interesse público acima das questões pessoais. Que bom que isso esteja acontecendo - afirmou o parlamentar.

O pronunciamento de Pedro Simon foi elogiado, em aparte, pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF).



01/04/2011

Agência Senado


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