Pesquisa consagra vantagem de Lula
Pesquisa consagra vantagem de Lula
Candidato petista lidera pesquisa da CNT/Sensus com 37,9% das inteções de voto. Rejeição do eleitorado cai 3,5%
BRASÍLIA - O candidato à Presidência da República do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, consolidou-se em primeiro lugar na corrida eleitoral. Pesquisa CNT/Sensus, divulgada ontem, registrou Lula com 37,9% de intenções de voto. A ascensão do petista é clara na comparação das pesquisas. Na semana passada, o petista liderava com folga no levantamento do Vox Populi, divulgado pelo Jornal do Brasil, e na pesquisa do Ibope. Na primeira, Lula alcançou 39%. O Ibope registrou 35%.
De acordo com CNT/Sensus, o tucano José Serra está em empatado em segundo lugar com Anthony Garotinho, o ex-governador fluminense que concorre pelo PSB. O candidato Ciro Gomes, do PPS, aparece na terceira colocação. Se forem somadas as intenções de voto em Serra, Garotinho e Ciro, o número supera em apenas 6,3% o percentual alcançado por Lula, sozinho.
A novidade da pesquisa foi a inclusão do nome do apresentador Silvio Santos, filiado ao PFL. Se o dono do SBT concorresse, o desempenho de Lula não seria o mesmo. Cairia para 30,5%. Silvio teria 17,8%, empurrando Serra e Garotinho para o quarto lugar. Ciro também desceria.
O petista tem mais motivos para comemorar. Além de liderar, tem o mais baixo índice de rejeição do eleitorado. Na rodada desta segunda-feira, apenas 38,8% dos 2.000 entrevistados pela Sensus não votariam de maneira alguma em Lula. Em março, esse índice era de 42,7%.
Serra está patinando e enfrenta altas taxas de rejeição ao seu nome. Isolado como o candidato do governo, o tucano enfrenta a aversão da maioria do eleitorado por ser o candidato apoiado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Se no mês passado, 41,9% dos entrevistados não votariam de jeito nenhum em Serra, agora esse percentual saltou para 46,6%. A pesquisa da Sensus indica que se a eleição fosse hoje, 54,2% dos entrevistados não votariam sob qualquer hipótese no homem apoiado pelo Palácio do Planalto. Em março, o índice era de 44,1%.
Outro fator de preocupação para o candidato tucano é que uma parte significativa do eleitorado detectou as digitais de Serra na suposta manobra que retirou a candidata do PFL, Roseana Sarney, da corrida presidencial. Sinal de que o discurso do senador José Sarney (PMDB-AP), que em março subiu à tribuna para denunciar o envolvimento da máquina do governo para minar Roseana, surtiu efeito.
A pesquisa confirma os cenários radiografados pelos outros institutos na semana passada. Além de mostrar a folgada dianteira de Lula, indica empate de Serra com o candidato do PSB, Anthony Garotinho. O número de eleitores indecisos, dispostos a anular o voto ou votar em branco, é alto: 18,2%. No cenário que inclui Silvio Santos, todos os candidatos perdem votos.
Uma novidade efêmera
Sílvio Santos alcança 17,8% em pesquisa, mas PFL não acredita que ele concorra à Presidência
BRASÍLIA - O dia começou com o PFL entusiasmado com a novidade pronta para embolar a sucessão presidencial. Pesquisa CNT/Sensus trazia o empresário e apresentador Sílvio Santos como o segundo colocado na corrida ao Palácio do Planalto, com 17,8%. Foram horas de euforia. Durou pouco. À noite, no Palácio do Jaburu, dirigentes do partido não se deixaram impressionar pelos números e abortaram a operação. A maioria prefere mesmo a reaproximação com o PSDB de José Serra, liberando os palanques nos Estados.
Nem mesmo o porta-voz da ex-candidata do PFL Roseana Sarney defendeu a candidatura própria. ''O apoio a Serra pode acontecer se for em decorrência da política regional'', anunciou o governador do Maranhão, José Reynaldo. Ele admitiu até subir no palanque de Serra. A maioria dos governadores, deputados, senadores e prefeitos quer liberdade para reaproximarem-se do governo.
Após 13 anos da cassação do registro de sua candidatura à presidência da República, por decisão unânime da Justiça Eleitoral, o empresário Silvio Santos ainda está ressabiado. Embarcou anteontem à noite para o exterior. Decisão tomada às pressas, que o levou a encerrar com rapidez o programa Casa dos Artistas, domingo à noite. Volta no final da semana. Segundo amigos, Silvio só admite conversar sobre eleição se procurado oficialmente pelo presidente do PFL, Jorge Bornhausen.
O empresário e apresentador confidenciou a interlocutores do PFL que não aceitará ser massa de manobra de interesses políticos para desestabilizar candidaturas. Não quer repetir o modelo de 1989, quando foi usado pelo PFL para tentar abalar Fernando Collor de Mello.
Sem o aval da maioria do partido, o PFL insiste em perturbar o cenário da sucessão. Depois de Sílvio Santos, há outra tentativa em curso. Incluirão o nome da ex-presidente da CSN, Maria Sílvia Bastos, na próxima pesquisa da CNT. Ela é filiada ao PFL. O maior objetivo é desgastar Serra.
Os governadores, prefeitos e líderes do PFL chegaram ao Palácio do Jaburu confirmando ja tendência de liberação das alianças regionais nos Estados.''Nenhum candidato com esse índice de pesquisa pode ser deixado de lado, mas acho difícil que Sílvio concorra'', adiantou o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN).
Malan toma rumo político e ataca PT
Ministro da Fazenda critica oposição e transforma entrevista em tribuna eleitoral
BRASÍLIA - A cinco meses da eleição presidencial, o sisudo ministro da Fazenda, Pedro Malan, mudou subitamente de estilo. Anunciou que dará entrevistas coletivas mensais. Na estréia, ontem, Malan trocou o habitual economês por outro idioma, o politiquês. E aproveitou o tempo para dirigir ataques ao partido que lidera a disputa para o Palácio do Planalto, o PT. O ministro, com fleuma inconfundível, só se refere à legenda de Luiz Inácio Lula da Silva como ''o principal partido de oposição''. Cuidadoso, o ministro nem sequer pronunciou o nome do candidato do PSDB à Presidência, José Serra. Mas Malan não disfarça que torce pela vitória do candidato do governo. ''É uma expressão de esperança''.
O ministro considerou natural a decisão do banco Morgan Stanley de reclassificar a dívida externa brasileira em função da ascensão de Lula nas pesquisas eleitorais. ''É natural que as pessoas que têm responsabilidades por alocação de recursos de terceiros, estejam querendo fazer uma avaliação dos riscos, das incertezas, das turbulências à frente'' disse. ''Estariam faltando para com suas responsabilidades, não estivessem procurando olhar adiante.'' Malan, no entanto, lamentou que o critério político tenha prevalecido. ''Gostaria que a avaliação tivesse sido feita com base nos fundamentos econômicos'', afirmou.
Malan tentou desfazer o que classificou de ''um mal-entendido'' ocorrido na semana passada, quando , em Nova York, evitou dizer o nome de Serra e falou apenas em ''afinidades eletivas''. O ministro negou qualquer crítica ao tucano e recorreu a uma entrevista dada por ele no início do ano. Leu o trecho no qual qualifica o ex-ministro da Saúde como ''um dos grandes quadros deste país, com longa história de exemplar dedicação à causa pública''.
O ministro garantiu que foi mal interpretado por não ter citado ''o nome de A, B ou C''. ''Aí fica a fertilidade das imaginações que, como nós sabemos, não tem limites'', brincou. Na ocasião, Malan declarou que venceria a eleição o candidato que tivesse maior grau de ''afinidades eletivas'' com o que o atual governo vem tentando fazer. Confrontado com os dados de pesquisas que mostram o aumento da rejeição ao candidato apoiado por FH, Malan afirmou que tem esperança de vitória. ''Não é uma afirmação categórica, é só uma afirmação de esperança'', esclareceu.
O tema preferido, contudo, foram as críticas ao PT. O ministro repetiu declarações de petistas, com opiniões expressas no site do partido na internet sobre pagamento da dívida pública, alterações na Lei de Responsabilidade Fiscal, defesa de protecionismo comercial e exportações.
Reconheceu mudanças ''positivas'' nos adversários, mas não deixou de recorrer à ironia. Declarações recentes do deputado Aloízio Mercadante (PT-SP) foram comentadas, sem menção ao nome do parlamentar. Mercadante dissera que a redução dos juros não é uma questão de vontade política: ''O PT vem dando passos na direção certa'', comentou.
PSDB e PMDB discutem vice
BRASÍLIA - O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), tenta a todo custo contornar as divergências regionais com o PSDB para, finalmente, indicar o vice na chapa do tucano José Serra. Nos dois partidos, há empenho para passar a impressão de que a decisão não é urgente. ''É menos importante do que se imagina'', afirma um dos coordenadores da campanha de Serra, deputado Márcio Fortes (PSDB-RJ).
Pesquisa do Instituto Sensus para a Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgada ontem mostra que 48,5% da população leva o nome do candidato a vice em consideração na hora de escolher o novo presidente da República. O mais cotado na cúpula do PMDB continua sendo o deputado Henrique Eduardo Alves (RN). O PSDB ainda resiste. O levantamento Sensus traz outro dado que pode pesar em favor do deputado. Para 46,7% dos entrevistados, a parcela nordestina, é importante ter um representante de sua região. O Nordeste concentra cerca de 27% do eleitorado nacional.
O resultado da pesquisa não convence o deputado Alberto Goldmann (PSDB-SP). Para ele, o nome do vice não muda a intenção de voto de ninguém. ''Nenhum eleitor vota em alguém porque gosta do vice'', afirma. '' Todos se preocupam é com o cabeça de chapa.''
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), um dos nomes preteridos pelos tucanos, é categórico: ''Indicação de vice só depois que acertarmos os problemas regionais''. PMDB e PSDB têm diferenças no Acre, em Alagoas, Amapá, Sergipe, Maranhão, Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. A opinião geral é de que o companheiro de Serra seja confirmado na próxima semana. As cúpulas dos dois partidos estarão reunidas hoje em Brasília, para fazer um balanço das ações e apagar os focos de incêndio que ainda ameaçam a aliança.
Candidatos fazem promessas
Lula, Serra, Garotinho e Ciro expõem programas na sede da Força Sindical e sugerem saídas para desemprego e violência
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o mais aplaudido. Ciro Gomes (PPS), ao lado da namorada Patrícia Pilar, também teve boa recepção. A platéia de cerca de 1.500 pessoas quase não reagiu a Anthony Garotinho (PSB). E José Serra (PSDB) chegou a lavar uma pequena vaia. O objetivo do Encontro dos Presidenciáveis, promovido pela Força Sindical com o apoio da Bolsa de Valores de São Paulo era reunir e comparar as propostas dos quatro candidatos à Presidência mais bem colocados nas pesquisas.
O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, garantiu que vai cobrar ''tudo o que estão prometendo hoje''. E as promessas e propostas não trouxeram grandes novidades. Para combater a violência José Serra quer um ministério próprio, o da Segurança. Garotinho é mais modesto: garante criar uma secretaria nacional. Lula e Ciro bateram na tecla de que o problema é social, agravado pelo desemprego.
Para acelerar o desenvolvimento, Serra quer estancar a saída de dólares. Lula sugere políticas públicas voltadas para a criação de empregos. Garotinho advoga uma reforma tributária e Ciro clama por uma posição mais afirmativa do Brasil no comércio internacional.
Sudam: PF pode afastar delegado
BRASÍLIA - O novo responsável pela investigação das irregularidades na Sudam, Loredano de Oliveira Pontes, ainda depende de uma decisão da Justiça para ser efetivado como delegado da Polícia Federal. Está sub judice como outros 200 delegados que lançaram mão de ações liminares para transpor, em algum momento, problemas de admissão no concurso da PF. A qualquer momento, pode ser afastado da corporação. Pontes está há apenas quatro anos no posto e vai substituir Deuselino Valadares, afastado sob suspeita de favorecer empresários.
O diretor da Polícia Judiciária da PF, Armando Costa, disse estar ''alheio à questão''. Sugeriu à reportagem do Jornal do Brasil que procurasse a assessoria de imprensa. A Divisão de Comunicação Social solicitou um prazo para checar a informação. Até o início da noite de ontem, nada sabia sobre o assunto. O delegado depende de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para permanecer no cargo.
A PF decidiu abrir sindicância para apurar as acusações contra Deuselino Valadares, que se diz vítima de uma armação. Até a semana passada, ele era o responsável pelo inquérito dos desvios de R$ 44 milhões do projeto Usimar, aprovado pela ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney.
Prazo - O diretor-geral da PF, Itanor Neves Carneiro, reconhece que as denúncias contra o delegado são imprecisas. ''Pode ser armação deles lá no Maranhão'', avisa. Carneiro informou que a corregedoria da corporação vai esclarecer o caso em 30 dias.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Francisco Garisto, acusa a direção da PF de perseguir Deuselino. ''O Ministério Público maranhense recebeu um telefonema anônimo contra o delegado, não tem prova alguma contra ele'', diz. ''Ele só foi afastado porque decidiu indiciar também o governador do Mato Grosso'', afirma Garisto, referindo-se a Dante de Oliveira, do PSDB.
MST tenta inocentar José Rainha
O advogado Hamilton Belloto Henriques, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra (MST), enviou ao juiz Athis de Araújo, de Teodoro Sampaio, cópia de um boletim de ocorrência elaborado pela Polícia Militar no qual o militante José Luis da Silva assume a posse da arma que levou à prisão o líder do MST.
Silva estava no carro com Rainha na última quinta-feira, quando uma barreira da PM de Euclides da Cunha Paulista encontrou uma escopeta de uso restrito das Forças Armadas dentro do veículo. Rainha nega ser o dono da espingarda e está preso em Presidente Venceslau por porte ilegal de arma.
Artigos
Um aliado volúvel
Jarbas Passarinho
A esquerda brasileira adoraria provar que a contra-revolução de 31 de março de 1964 teve a cooperação dos Estados Unidos. O então embaixador Lincoln Gordon, anos depois, depondo no Senado americano, sob juramento, respondeu que o evento fora totalmente brasileiro. Grande risco correria se mentisse. Houve, sim, a Operação Brother Sam. Sublevada Minas, havia o risco de escassez de combustível se a luta fosse demorada. Pelo porto de Vitória os americanos nos supririam. Como a sublevação não durou mais de um dia, nenhum navio chegou ao Brasil. Seria preciso viver no mundo da Lua para pensar que os Estados Unidos, sangrando no Vietnã, não acompanhassem os acontecimentos políticos no Brasil e que sua embaixada não visse como preocupante a escalada esquerdista. Só uma enorme incompetência poderia fazer a embaixada perder-se em recepções sociais e não seguir o clima tenso da política brasileira, especialmente a forte reação da mídia após o comício de 13 de março de 64. Quem viveu - até mesmo como eu, distante no Extremo Norte - o que ocorria no Rio de Janeiro, sobretudo, não tinha a menor dúvida de que o risco de uma guerra civil, evitada em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros, ampliava-se em 1964, no auge da guerra fria e da expansão do comunismo pós-1945, desde a China até Cuba.
Os documentos sigilosos, os americanos os desclassificam depois de alguns anos. Na Biblioteca Lyndon Johnson, há vários sobre o Brasil dos anos 60 e 70. Nenhum desmente o embaixador Lyncoln Gordon. De resto, qualquer segredo internacional pode ser revelado tranqüilamente 20 anos depois. Separam-nos quase 40 anos desde a deposição de Jango. Nada mais está mantido em sigilo. Um ministro das Relações Exteriores do Brasil, meu amigo, me disse certa feita que, em Washington, pediu-lhe um secretário de Estado uma informação confidencial. Embora cordial, o nosso ministro foi taxativo: ''Não lhe dou o que me pede por duas razões. A primeira porque é segredo de meu país. A segunda porque a confidência estaria no conhecimento público cedo ou tarde.''
Depois de 14 meses, os Estados Unidos nos mandam um chefe de missão diplomática. Prova de que não somos muito importantes, mesmo para a América Latina. A embaixadora Donna Hrinak, diplomata de carreira, que nos anos 80 serviu no consulado em São Paulo, chega-nos, ainda, no rescaldo do incêndio da Venezuela, seu último posto. No hearing no Senado americano, apressou-se a ilustre embaixadora a condenar o apoio do seu país ao autoritarismo vigente nestas latitudes nos anos 60 e 70. A crítica de hoje conflita com o aplauso de ontem. Henry Kissinger, no Diplomacy, saudou a ''notável unanimidade na América Latina, a partir da metade do anos 80, pela democracia e o abandono do governo militar brasileiro em favor da regra democrática''. Isso não o protege do incansável juiz espanhol que luta por vê-lo ter o mesmo destino do general Pinochet. A honorável senhora Hrinak acaba de negar qualquer participação americana no golpe frustrado contra Chávez. Choca-se com declarações oficiais ambíguas dadas pela Casa Branca. Ainda vai ter de sustentar essa mesma declaração muitas vezes, provocada pela esquerda de seu próprio país. E agora não existe o espantalho da Guerra Fria, Cuba e China a financiar e treinar comunistas brasileiros para as guerrilhas, que duraram de 1973 a 1975.
Nossas relações fraternas com os Estados Unidos parecem oscilar à medida que se dá o rodízio entre governos republicanos e democratas. Nestes, há a influência maior dos rad-lib, os radicais liberais. Na Segunda Guerra Mundial, fomos o único país latino-americano aliado dos Estados Unidos. Éramos então uma ditadura clássica - a de Vargas -, o que não impediu a aliança com os democratas. Nosso litoral era importante para a invasão da África Ocidental. Na Guerra Fria, ao peso dos nossos mortos nas guerrilhas comunistas, garantimos a tranqüilidade norte-americana no seu quintal sul-americano. Reconheceu-o Nixon ao dizer ao presidente Médici que ''para onde o Brasil se inclinasse, inclinaria a América Latina''. Não era mera flattery. Aliança por vezes incômoda, fomos chamados de lacaios dos Estados Unidos. O esconderijo em que os guerrilheiros mantinham seqüestrado o embaixador Elbrick foi conhecido. Quem ler o nosso afável Gabeira, em O que isso, companheiro?, verá que estavam determinados a matá-lo. Nosso governo, porém, preferiu não tentar libertá-lo, dado o risco de sua morte. Se o primeiro seqüestro de diplomata tivesse sido malogrado, não haveria os seguintes. Cedemos, com grande desgaste. Agora, sabemos que a diplomacia americana despreza e condena o passado que tanto serviu ao seu país.
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer
O ócio improdutivo
Está bem, vamos admitir que o PFL esteja fazendo outro de seus lances de efeito ao acenar com a candidatura de Silvio Santos à Presidência da República. Vamos admitir também que o partido, como parece à primeira vista, tenha pedido ao correligionário Clésio Andrade, financiador da pesquisa CNT-Sensus, a inclusão do nome do empresário na última rodada, para apresentar algum cacife nas negociações eleitorais.
Ainda que as duas premissas sejam verdadeiras, uma terceira - produzida pelos próprios pefelistas - derruba a verossimilhança do raciocínio. Tanto o presidente como o vice-presidente do partido, senadores Jorge Bornhausen e José Agripino, há três dias repetem para quem quiser ouvir que o PFL ficará sem candidato a presidente, a fim de facilitar suas alianças, garantir a eleição de uma boa bancada e manter a força no Congresso. Assim, pelo menos, não estaria mal das pernas ante o próximo governo, qualquer que seja ele.
Ora, se os dois comandantes da legenda já indicam que a inclusão do nome de SS na pesquisa não é para valer, de duas uma: ou não estão comandando coisa alguma ou os pefelistas estão se dando ao exercício da falta absoluta do que fazer.
Estavam para se reunir ontem à noite no Palácio do Jaburu - residência do vice-presidente Marco Maciel - a fim de decidir os rumos do partido, mas, pelo jeito, ali entraram à deriva, de lá é bastante provável que tenham saído na mesma situação. Sim, porque avisaram de antemão que só anunciariam o resultado do encontro na semana que vem. Lógico seria que anunciassem de imediato caso esperassem chegar a algum resultado, pois não?
Pois é, um contra-senso total e absoluto. Muito comum em ambientes no qual vigora o bate-cabeças, cada uma pensando coisa diferente.
Nada surpreendente para quem apresenta biografia de fortuna e sucesso, apenas a cabeça de Silvio Santos conseguiu produzir ontem um pensamento sensato: viajou para o exterior e avisou, por meio de um porta-voz, que não serviria de massa de manobra para partido algum.
Boas falas. Pelo menos indicam que o PFL têm em suas fileiras alguém cuja identificação popular o faz consciente do risco que representam certas brincadeiras fora de hora. Notadamente quando mexem com anseios e sentimentos da coletividade.
Quem não está acostumado com isso, não vê mal algum em criar um factóide dessa envergadura apenas para produzir um número (no caso, 17,8%) na pesquisa que não indica coisa alguma, a não ser a simpatia de boa parte do eleitorado pelo nome de um artista querido e respeitado por sua inequívoca capacidade empresarial.
Daí, a se produzir com isso uma candidatura presidencial consistente e adequada ao enfrentamento da complexidade dos problemas de uma nação como o Brasil, vão léguas de distância.
Isso sem contar que o suposto candidato é apenas o dono da emissora concorrente da TV Globo, o que torna impensável um apoio das organizações da família Marinho, detalhe que decerto não passou despercebido ao pefelê.
Considerando que nem o PFL leva a sério sua própria invenção, na melhor das hipóteses pode ser vista como produto do ócio. Ontem, por exemplo: enquanto os principais partidos estavam com a atenção presa na exposição que seus candidatos faziam a convite da Força Sindical, em São Paulo, o PFL dispunha apenas do vácuo para aparecer.
Vácuo este criado exatamente pela afã de inventar uma situação eleitoral, sem examinar-lhe antes todas as condições de consistência. Por causa disso, os pefelistas buscam um jeito de mostrar serviço para se recuperar dos prejuízos impostos por aquele outro lance, em que os passos se revelaram maiores que as pernas. Ao tentar ganhar tempo, o partido, por enquanto, está conseguindo apenas perder o bom senso.
Faca amolada
Mais preocupante que a defesa da tese do IR com alíquotas de até 50%, é a visão que o candidato do PT revelou sobre liberdade de informação. Segundo ele, houve ''má-fé'' na reprodução de suas declarações.
Luiz Inácio Lula da Silva não discutiu o conteúdo, mas a ênfase dada na maior e não na menor alíquota, de 5%. Se pretende, caso eleito, conduzir o país dentro das regras democráticas, seria bom Lula desde já se acostumar com uma evidência: nas relações entre imprensa e governo, cada qual faz o seu trabalho como sabe e como pode.
Bom companheiro
Tão exigente com o PMDB na escolha do nome que ocupará a vaga de vice, o candidato José Serra exibiu critérios menos rígidos ao aceitar, como coordenado r de sua campanha no Rio, o prefeito Caxias, José Camilo Zito.
Denunciado como mandante de um assassinato em 1994, Zito foi preso duas vezes e absolvido por insuficiência de provas. Por essas e por outras, o Planalto não quis nem ouvir falar em sua candidatura ao governo do Estado pelo PSDB.
E, por muito menos, tem pemedebista sendo vetado na chapa.
Editorial
REINO DAS HIPÓTESES
Na ausência de fatos, as pesquisas dão as cartas do jogo cinco meses antes da eleição presidencial. Consolidou-se a posição de Luiz Inácio Lula da Silva tanto na pesquisa espontânea quanto na estimulada. Na espontânea, Lula obteve 24,5% das preferências dos eleitores (10% mais do que no mês de março) segundo levantamento da CNT/Census. Na estimulada (mediante apresentação de lista), a surpresa foi a ascensão do empresário Sílvio Santos com votos abatidos dos demais candidatos .
A surpresa no voto espontâneo foi o segundo lugar ocupado pelo ex-governador Anthony Matheus Garotinho, seguido do pré-candidato José Serra no seu calcanhar (7,6% e 7,3%). O empate técnico entre os dois desagrada ao ex-governador, que já se declarou prejudicado - não obstante a igualdade, ele fica sempre em terceiro lugar. Pesquisas têm, por natureza, resultado efêmero, com pequenas alterações a cada rodada. Sílvio Santos, na eleição de 1994, teve atuação destacada nas pesquisas mas não confiou nos números para candidatar-se.
Enquanto as candidaturas não saírem a campo, para medir diferenças de idéias e propostas, dificilmente os números refletirão apoio social e definição política estável. Candidato vale o que representa como compromisso político do partido (ou da aliança de partidos) que o apresentar: não tem valor sustentável pessoalmente a não ser em casos especiais. A candidatura de Lula, identificada com o PT, assim como a de José Serra, representa o sentido político e administrativo dos últimos oito anos de governo. A de Garotinho não tem conteúdo socialista, nem a de Ciro Gomes adquiriu o conteúdo trabalhista dos partidos que o apóiam.
A cinco meses da eleição, nada de definitivo nem mesmo o índice de rejeição pouco considerado nas avaliações dos eleitores. Pela primeira vez nas quatro oportunidades que disputou, este é o mais baixo índice de rejeição registrado para Lula: os 38,8% de votos que nunca lhe seriam dados são o melhor desempenho no mês de abril. Todos os outros candidatos ficam entre 40 e 51%. O significado político não saltou do domínio de hipóteses para uma batalha campal. Como a eleição francesa mostrou, não há números absolutos em pesquisas. A eleição é o retrato do eleitor e não do candidato.
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04/30/2002
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