Ciro amplia vantagem









Ciro amplia vantagem
O petista Lula lidera a disputa presidencial com 35% das intenções de votos, mas sua diferença sobre o ex-ministro cai de dez para oito pontos no instituto

Cresceu de oito para 13 pontos percentuais a vantagem do candidato da Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT), Ciro Gomes, sobre o tucano José Serra na disputa pela Presidência da República, segundo pesquisa do instituto Vox Populi divulgada ontem. A consulta, realizada nos dias 20 e 21, mostra que Ciro subiu três pontos percentuais em relação à pesquisa anterior e tem hoje 27% das intenções de voto.

Ciro também se aproximou mais do candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, que subiu um ponto e aparece com 35%, liderando a disputa. A diferença de Lula para Ciro, que era de dez pontos percentuais, agora é de oito pontos no Vox Populi. A consulta mostra que o fato de o PPS de Ciro em Alagoas ter decidido apoiar o ex-presidente Fernando Collor na disputa pelo governo estadual não abalou a candidatura presidencial do ex-ministro.

Serra perdeu dois pontos, passando de 16% para 14% dos votos, e é o terceiro colocado. Dentro da margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos, ele está tecnicamente empatado com o candidato do PSB, Anthony Garotinho, que aparece com 10% — perdeu um ponto em relação à consulta anterior.

Somados, votos nulos, em branco e eleitores indecisos chegam a 14%. O instituto Vox Populi ouviu 1.994 eleitores em 115 cidades do país. E, segundo o instituto, a pesquisa foi realizada com recursos próprios para atualização de sua base de dados. O Vox Populi não divulgou as projeções para o segundo turno.

Ao saber, no início da tarde, dos números da pesquisa, Ciro traçou, durante um almoço na casa do ex-governador Leonel Brizola (PDT), sua nova estratégia de campanha. A ordem é ignorar os ataques dos tucanos, polarizando a disputa com Lula. Segundo os aliados de Ciro, outra determinação é a de não ser agressivo com o PT. Apenas fazer críticas a alguns pontos do programa de governo petista.

— Não vamos cair nas armadilhas do PSDB, não vamos reagir às provocações. Nossa disputa é com Lula. Mas também não vamos baixar o nível da campanha — afirmou o líder do PTB, Roberto Jefferson (RJ), após a reunião com Ciro.

Governo tenta conter debandada
O trabalho do governo para tentar conter a debandada de antigos aliados para a campanha do candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, começa a surtir efeito. Após uma reunião com a bancada federal e estadual, o PPB de Minas adiou sua decisão sobre qual candidato apoiar na disputa pela Presidência. E, para surpresa do comando da campanha de Ciro, o líder do partido na Câmara, Odelmo Leão (PPB-MG), defendeu o apoio à candidatura do tucano José Serra.

Os coordenadores da campanha da Frente Trabalhista estavam contando com Odelmo como anfitrião de um jantar para Ciro amanhã, na viagem do candidato ao estado. Mas Odelmo, que se encontra hoje com o presidente Fernando Henrique , diz que ficará ao lado do governo.

— Depois de oito anos como aliado de Fernando Henrique, tenho, por coerência e ética, que apoiar Serra para a Presidência — disse ele, uma semana depois de afirmar que não tinha qualquer compromisso com a candidatura de Serra.

Dividido, o PPB de Minas decidiu consultar suas bases antes de fazer sua opção. Cotado inclusive para assumir a coordenação da campanha de Ciro no Triângulo Mineiro, Odelmo estará hoje ao lado do candidato do PSDB ao governo de Minas, Aécio Neves, em Brasília. Os dois levarão representantes do setor cafeeiro para uma reunião com Fernando Henrique.

Zito deverá apoiar Ciro no Rio
Mas no Rio, Ciro acaba de ganhar o apoio do prefeito de Caxias, José Camilo Zito. Antes filiado ao PSDB, Zito pretende organizar uma atividade de campanha para Ciro no Rio, para declarar seu apoio.

Ontem, ao saber da disposição do prefeito, Ciro disse, numa reunião na casa do ex-governador Leonel Brizola, que só não participaria ontem mesmo de um encontro com Zito porque estava com viagem programada para São Paulo.

Ciro se reuniu com Brizola no Rio e outros coordenadores de campanha, como o deputado Roberto Jefferson (PTB). Ele não se encontrou com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e tirou a tarde para descansar. Ciro disse que falaria com Armínio ainda ontem por telefone para marcar um encontro, que deve acontecer quinta-feira.

O candidato da Frente Trabalhista afirmou que o apoio que tem recebido de diferentes correntes políticas, como o PFL de Antonio Carlos Magalhães e Jorge Bornhausen, tem o objetivo de garantir uma ampla base de apoio no Congresso, caso vença as eleições. Porém, segundo disse, as adesões não estão condicionadas a cargos em seu governo.

Ciro voltou a rejeitar comparações com o ex-presidente Fernando Collor:

— Isso é forçar a barra, coisa de quem não tem nada para dizer e se aconselha no desespero. Erra, e erra gravemente, quem pensa que o povo é bobo e usa o argumento da desqualificação e da tentativa de lançar suspeitas sem fundamento sobre os adversários — disse Ciro.


Parlamentarismo no presidencialismo
BRASÍLIA. Caso seja eleito, o candidato da Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT) à Presidência, Ciro Gomes, pretende propor ao Congresso Nacional a adoção de um sistema singular de governo. O projeto de reforma política de Ciro, divulgado em seu site na internet, dá ao presidente e ao Congresso a prerrogativa de antecipar eleições de forma unilateral, sem acordo prévio entre os dois poderes.

Essa medida seria aplicada diante de "impasse programático ou legislativo abrangente e persistente" ou "em resposta à desintegração de uma base partidária capaz de sustentar um projeto forte de governo". A idéia foi recebida com preocupação até por aliados de Ciro. Eles temem que tal instrumento possa ameaçar a democracia.

O projeto, sob o título "Reforma da política: aprofundamento da democracia", prega a "parlamentarização do regime presidencial”. O modelo de Ciro lança mão de mecanismos típicos de regimes de gabinete, mas não prevê, como no parlamentarismo, a divisão de poder entre o presidente, chefe de Estado, e o primeiro-ministro, chefe de governo.

Ciro quer estimular os referendos e plebiscitos, instrumentos constitucionais de consulta popular, para "romper os grandes impasses programáticos por meio do engajamento direto do eleitorado". Essas idéias estão no livro "O próximo passo: uma alternativa prática ao neoliberalismo" , de Ciro e Mangabeira Unger.

O projeto de Ciro foi atacado por aliados e adversários. O presidente do PSDB, José Aníbal, disse que a idéia é um desrespeito ao Congresso.

— Esse projeto demonstra a coerência dele no desatino e na impulsividade inconseqüente. Já não sei se seu melhor espelho está em Alagoas ou em Caracas — disse Aníbal, associando Ciro ao ex-presidente Fernando Collor e ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, defensor de formas de relacionamento direto com a população, sem a intermediação de instituições.

Roberto Amaral, coordenador do programa de governo do candidato do PSB, Anthony Garotinho, chamou a tese de loucura.

— É um Frankenstein! A dissolução do Congresso é uma característica do parlamentarismo. O que Ciro quer fere a Constituição — disse.

O líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP), disse que a idéia é inviável.

— É uma invenção impraticável, sem paralelo no mundo presidencialista — disse.

ACM critica, mas Freire defende
O deputado Miro Teixeira (RJ), líder do PDT, não considerou a proposta descabida, mas fez ressalvas.

— Não pode ser uma regra banal, aplicada com voluntarismo do presidente ou do Parlamento. Como todo instru mento excepcional, deve se cercar de cautela para não se tornar antidemocrático — disse.

Aliado de Ciro, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) não aprovou a idéia.

— Não são medidas compatíveis com o regime presidencialista. Mas Ciro, depois de eleito, fará uma base parlamentar sólida, sem usar métodos de outro sistema.

O presidente do PPS, Roberto Freire (PE), aprovou a tese.

— Ciro é parlamentarista e os mecanismos do sistema podem ser usados no presidencialismo. Essas mudanças só ocorreriam se votadas pelo Congresso.


Lula faz primeiro comício com Quércia em SP
Não quero repetir 1989. Naquela eleição achava que não havia espaço para conversar com Ulysses Guimarães. E foi pela diferença dos votos do doutor Ulysses que perdi’, diz candidato

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Com uma intensiva troca de elogios, o candidato a presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou ontem à noite, em São Paulo, do primeiro comício ao lado do ex-governador Orestes Quércia, candidato ao Senado pelo PMDB paulista, na festa de inauguração do comitê da campanha peemedebista. Aplaudido e recebido com a palavra de ordem "Brasil decente, Lula presidente", o candidato petista participou do comício do PMDB ao lado do deputado José Dirceu, presidente nacional do PT.

— Não quero repetir 1989. Na eleição daquele ano achava que não havia espaço para conversar com o saudoso Ulysses Guimarães. E foi exatamente pela diferença dos votos do doutor Ulysses que perdi a eleição — disse Lula.

Tanto o candidato petista quanto Quércia citaram os estados onde o PMDB está apoiando Lula, apesar da verticalização. Lula classificou como "impressionante" o que está acontecendo no país em relação aos apoios do PMDB.

— Tem lugar que vou que metade me apóia, metade não apóia — afirmou Lula, lembrando que em São Paulo as candidaturas de José Genoíno (PT) e Fernando Morais (PMDB) ao governo estadual não atrapalham uma à outra porque se faz política com "P maiúsculo".

Em seu discurso, Quércia disse que era com "alegria e emoção" que abria as portas do PMDB para o "futuro presidente do Brasil".

— Nós queríamos um candidato próprio, que era o governador Itamar, um sujeito complicado mas que representava o crescimento e o desenvolvimento de que o Brasil precisa, o nacionalismo. Como não foi possível, tenho dito que voto no Lula para presidente — disse Quércia, aplaudido.

O ex-governador lembrou que o apoio do PMDB paulista a Lula será feito por meio de comitês suprapartidários.

— Agora nossa missão é lutar para este país encontre um destino melhor — disse Quércia, olhando em direção a Lula, que durante todo o comício esteve a seu lado.

Lula lança hoje seu programa de governo
Lula lança hoje, em Brasília, seu programa de governo. O ponto alto será a leitura de uma carta-compromisso a favor do emprego que inclui a promessa de redução da carga horária dos trabalhadores, com o objetivo de aumentar a oferta de postos de trabalho. O candidato vai defender o fim de impostos para baratear a folha salarial e aumentar o emprego formal e a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais. Lula quer também que a economia cresça já a partir do ano que vem em, no mínimo, 5%. O programa de governo será detalhado nos próximos dias. A proposta abrange áreas como crescimento, emprego e inclusão social; distribuição de renda e estabilidade; infra-estrutura e desenvolvimento sustentável. A cúpula do PT aposta numa repercussão positiva das propostas.

— Vamos apresentar um programa vitorioso e que vai orientar a condução do governo com palavras de ordem, mas com os pés no chão — afirmou o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP).

O PT preparou uma grande festa para o evento. Vão estar presentes, além da direção nacional do partidos, governadores e prefeitos, representantes das minorias como índios, negros, mulheres e trabalhadores rurais. De olho nos votos dos empresários, o candidato a vice na chapa de Lula, senador José Alencar (PL-MG) vai mostrar seu peso, levando empresários para o evento.


FH diz que vai punir funcionários corruptos sem ‘prévios avisos’
BRASÍLIA. O presidente Fernando Henrique disse ontem que não dará “prévios avisos” e punirá possíveis funcionários corruptos das novas agências de desenvolvimento da Amazônia (ADA) e do Nordeste (Adene).

As duas foram criadas em fevereiro para substituir as superintendências para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e do Nordeste (Sudene), que foram fechadas por estarem envolvidas em denúncias de fraude.

Os novos órgãos terão R$ 440 milhões e R$ 660 milhões do Orçamento, respectivamente, para gastar com projetos das regiões.

Fernando Henrique afirmou também que projetos irregulares terão suas atividades paralisadas “doa a quem doer”.

— Ninguém pode evitar que haja desvios, que haja corrupção aqui e ali, mas nós não podemos permitir que ela seja sistêmica, nem deixar que o que acontece aqui e ali deixe de ser apurado e controlado pelos canais competentes, pelos procuradores, pela Justiça. É preciso separar o joio do trigo — disse.

Cada agência será gerida por três diretores, comandados por um diretor-geral. A data de instalação da ADA em Belém e da Adene em Recife será decidida pelos colegiados. As diretorias foram indicadas por Fernando Henrique a partir de uma lista tríplice, e confirmadas pelo Congresso. A diretora-geral da ADA, Teresa Cativo Rosa, deixou o comando da Secretaria-Executiva da Fazenda do governo do Pará para ocupar o cargo.

— A responsabilidade é grande e de todos — disse Teresa.

A diretora-geral da ADA garantiu que os projetos financiados pela Sudam, atualmente suspensos, serão retomados com prioridade, desde que sejam julgados regulares. Segundo ela, parcerias da ADA com o Banco Nacional para o Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e com o Banco da Amazônia (Basa) deverão evitar as fraudes cometidas no passado.

Teresa disse não temer pressões partidárias no exercício de sua nova função.

Já Paulo Roberto Pontes, empossado como diretor da Adene, também disse não esperar enfrentar pressões políticas. Assim como Teresa, ele promete priorizar a retomada dos projetos financiados originalmente pela Sudene que estiverem regulares. E enfatizou o reforço que deverá ser empregado na tentativa de impedir desvios de recursos públicos.

Para tentar tornar transparente a aplicação de recursos, o governo deverá pôr na internet um banco de dados com os projetos das duas autarquias. Trabalhadores, empresários, representantes dos governos estaduais, do federal e dos bancos vão discutir o funcionamento das agências com os conselhos deliberativos (Condel), que decidirão as diretrizes dos planos de desenvolvimento regionais e fiscalizarão o seu cumprimento.


Serra mudará de novo o tom da campanha
Eventos marcados com governadores e prefeitos para dar demonstração de força após a subida de Ciro nas pesquisas são adiados pelo candidato tucano

BRASÍLIA. O discurso da campanha do candidato tucano à Presidência, José Serra, vai mudar de enfoque novamente, pondo no centro do debate as propostas sociais do candidato e deixando de lado a agenda econômica. O novo slogan, que foi apresentado ontem pelo publicitário Nizan Guanaes aos coordenadores regionais da campanha, já reflete essa mudança: “O melhor presidente para mudar a vida da gente”.

Apesar da injeção de ânimo de Nizan, o comando de campanha do tucano não conseguirá promover esta semana dois grandes atos políticos, que serviriam para demonstrar a força da aliança PSDB-PMDB.

Os encontros haviam sido programados na semana passada, durante reunião de emergênc ia para analisar a queda de Serra nas pesquisas e a consolidação de Ciro no segundo lugar da corrida presidencial. Naquele dia, o candidato da Frente Trabalhista tinha conseguido se isolar, pela primeira vez, no segundo lugar.

Encontro com prefeitos também foi cancelado
A reunião com 17 governadores que apóiam o candidato prevista para hoje foi transferida para amanhã. O encontro com prefeitos, que seria na quinta-feira, também foi cancelado e será realizado na próxima semana.

O motivo oficial é a dificuldade de agenda.

Procurando espantar o pessimismo com o desempenho de Serra nas pesquisas, em terceiro lugar nas pesquisas, Nizan disse a 53 coordenadores regionais da campanha que não há motivo para desespero e que o jogo vai virar a partir do início da propaganda eleitoral da TV, em 20 de agosto.

— Se a televisão teve tanta importância na subida dos candidatos, não é possível menosprezar uma candidatura que vai ter cem minutos por semana. Não é hora nem de arrogância, nem de pânico — disse Nizan.

Críticas a Ciro e ao governo serão suavizadas
A mudança nos rumos da campanha também implicará suavizar as críticas ao governo Fernando Henrique e ao candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes. A estratégia de marketing que se pretende é concentrar esforços para mostrar que Serra tem mais capacidade de mudar para melhor o país. A idéia é apresentar o candidato como aquele que vai fazer na área social aquilo que o presidente Fernando Henrique fez pela economia. Fica suspenso, até segunda ordem, o discurso do terrorismo econômico.

— Nós temos um mês para preparar a infantaria. Depois do dia 20 entramos com a artilharia— comentou o novo coordenador da campanha João Roberto Vieira da Costa, explicando que comparava a infantaria à campanha de rua e a artilharia ao programa eleitoral gratuito.

O comando de marketing da campanha desistiu de insistir no debate econômico e apresentará Serra como o mais preparado e cuja candidatura está mais voltada para atender às necessidades sociais. Outro problema identificado na campanha é que a discussão sobre economia ressalta as discordâncias de Serra com a equipe econômica do governo Fernando Henrique.

— Não se trata de gêmeos univitelinos (Fernando Henrique e Serra) . Não são Léo e Lucas (numa referência à novela “O Clone”) . Serra tem que falar do governo dele. As pessoas não querem ouvir sobre o passado — disse Nizan Guanaes.

Coordenador diz que Nizan acabou com desânimo
Disposto a dar ânimo aos coordenadores regionais da campanha tucana, Nizan afirmou que a propaganda eleitoral na TV vai ser fundamental para decidir o voto. O publicitário previu que o programa eleitoral noturno será assistido por 95 milhões de brasileiros e que o diurno por 60 milhões de telespectadores.

— Acho que ele estancou o desânimo — disse Walter Pereira, coordenador da campanha no Mato Grosso do Sul.

Na reunião, o publicitário apresentou o novo jingle da campanha, que será interpretado por Elba Ramalho, pelo conjunto KLB e pela dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó. Os coordenadores receberam também um kit com o material de campanha que chegará aos estados neste fim de semana.

O kit contém uma bandeira, uma camiseta, um boné, um lenço para cabeça, um adesivo em forma de coração para a lapela, uma ventosa para carro, um manual de propaganda gráfica e um CD contendo um arquivo de logotipos, fotos, texturas e fontes.


Depois de perder Zito, PT negocia novos apoios
O PT está tentando recuperar o tempo perdido na costura de alianças para a sucessão estadual. Depois de perder para o PDT de Jorge Roberto Silveira o apoio dos prefeitos de Duque de Caxias, José Camilo Zito dos Santos, e de São Gonçalo, Henry Charles (ambos sem partido), o PT vem negociando palanques com prefeitos e líderes políticos do interior e da Baixada Fluminense. Em troca, estaria oferecendo a retomada de obras paradas por falta de pagamento de fornecedores.

A governadora Benedita da Silva, candidata à reeleição, confirma o empenho na conquista de novas alianças e diz que vai desfalcar os palanques dos outros candidatos ao governo. Benedita evita falar em nomes mas, segundo fontes do partido, estão sendo assediados os prefeitos de São João de Meriti, Antônio de Carvalho (PMDB); de Nova Iguaçu, Mario Marques (PPB); e de Piraí, Luiz Fernando Pezão, até pouco tempo fiel escudeiro do ex-governador Anthony Garotinho.

— Não tenho anunciado nada porque sou governadora. Mas estou escancarando. Vocês me verão em palanques com uma pluralidade grande — disse ontem Benedita.

Benedita fez corpo-a-corpo na estação das Barcas da Praça Quinze, no Centro, e ouviu pedidos dramáticos de eleitores. De joelhos, Meire Bispo Luz, 52 anos, pediu empenho ao governo nas buscas da filha Luana, desaparecida há 17 anos, em São João de Meriti, na Baixada.


Artigos

O Risco Lula e a Colombina
Frei Betto

O Brasil é um país de alto risco para quem mora nele. Basta conferir os índices de violência (40 mil assassinatos por ano); os edifícios e condomínios fechados como penitenciárias de luxo; o poder paralelo do narcotráfico; o número de seqüestros e chacinas; a pobreza e a miséria que atingem 53 milhões de pessoas.

Quem está fora — e só nos EUA são cerca de 700 mil brasileiros — só vê risco quando pensa em regressar ao país. Exceto os especuladores internacionais, que não trocam o certo (a sangria de dólares que o Brasil derrama em seus bolsos) pelo duvidoso (a política econômica de um eventual governo Lula).

Se Lula for eleito, os especuladores vão se sentir como os viciados em jogo ao ser fechado o Cassino da Urca, em abril de 1946. Guardada a roleta, já não podiam arriscar seu dinheiro. No caso dos especuladores, o verbo correto é multiplicar. Pois no Cassino da Especulação, viciada é a roleta. Quem aposta muito nunca perde.

Ainda que o próprio cassino abra falência.

Seu Geraldo, meu vizinho em Belo Horizonte, gostava de jogar no cassino da Pampulha, hoje transformado em Museu de Arte. Apostava alto e quase sempre ganhava. Anos depois, questionado pelo Macedo, jogador que sempre perdia, seu Geraldo contou o segredo de sua aparente sorte: era amigo do crupiê e, em comum acordo com ele, fazia grandes apostas para atrair outros jogadores. Quem apostava pouco, como o Macedo, raramente ganhava. Mas seu Geraldo era recompensado por desinibir os afortunados e dar lucro à casa.

No cassino global, os perdedores blefam. Vide a WorldCom, dona da Embratel. Registrava despesas como faturamento. É o que faz o governo FH: registra como investimentos os empréstimos que toma lá fora. Isso explica o fato de, desde maio, o Brasil dever, para cada R$ 100 produzidos, R$ 56 aos credores internos e externos. A dívida líquida total do setor público é, hoje, de R$ 708,4 bilhões, e corresponde a 56% do PIB. É a mais negativa relação dívida-PIB da História do país (e diga-se de passagem que esses oito anos de governo FH são o período em que o Brasil menos cresceu, desde a proclamação da República).

Na seara dos especuladores, Lula funciona como um espantalho. Lá no Arizona o pequeno investidor escuta dizer que a economia do Brasil vai piorar se Lula for eleito. Trata de vender barato os seus papéis para especuladores que, mais tarde, haverão de vendê-los caro no mercado.

Se o jogo econômico não é suficiente para reverter o índice de aprovação à candidatura Lula, parte-se para as arapucas éticas, agora inclusive com a participação da Polícia Federal: denúncias infundadas, dossiês forjados, especulações fantasiosas. Na campanha de 1994, tomei um táxi cujo motorista declarou que não votaria num candidato que posava de defensor dos trabalhadores mas morava numa mansão no Morumbi, o bairro m ais elegante de São Paulo. Desafiei-o a me levar até lá. Caso ficasse confirmado o que ele dizia, eu pagaria o valor da corrida multiplicado por cinco. Caso contrário, ele nada me cobraria. Evidentemente, não topou.

O risco não é Lula vencer, é o Brasil continuar refém da alta dos juros e, agora, do dólar; mais endividado que bêbado cunhado de dono do boteco; com seus índices sociais cada vez mais deteriorados. Não havia Lula na Argentina, a melhor aluna do FMI, condenada ao buraco. Se a situação do país vai mal, a culpa é de quem o governou nos últimos anos. Se não houver mudança, em breve seremos uma Colombina, misto de Colômbia com Argentina.

Até outubro, ainda há tempo para todos saberem que Lula roubou a taça Jules Rimet, matou Dana de Teffé, escondeu Elias Maluco, atirou na prefeitura do Rio e possui fortuna em paraísos fiscais. Assim ficarão todos com muito medo de ser felizes.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel

Lula: a redenção pelo emprego
Mais importante do que as duas peças do programa de governo — uma genérica e outra específica sobre emprego — será o pronunciamento que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, fará hoje em Brasília.

Depois de ter firmado com o mercado os compromissos econômicos que considera essenciais, na carta de 22 de junho, Lula faz agora um pronunciamento aos brasileiros centrado num ambicioso programa de geração de empregos.

Este discurso, meticulosamente preparado, será lido pelo candidato e porá ênfase no que Lula faria de diferente no governo. E a primeira diferença, ele dirá, será uma revolução pelo emprego, da qual virão soluções para outros problemas, inclusive o de segurança. Três linhas de ação serão destacadas: a retomada do crescimento com foco na produção, as políticas sociais e um ambicioso programa de segurança pública, que inova em relação ao programa preliminar divulgado em abril. Na área de educação, Lula proporá a universalização total, com a oferta da pré-escola pública e gratuita a todas as crianças. Serra também tem defendido esta proposta que vai ao encontro de uma aspiração das famílias mais pobres, cujos filhos, indo para a escola só aos 7 anos, já perderam um momento precioso da expansão intelectual, que o sistema neurológico realiza a partir dos 3 anos.

O pronunciamento ganhou nova dimensão e importância nas últimas horas, traduzindo talvez uma preocupação com o crescimento de Ciro Gomes. A nova pesquisa Vox Populi traz Lula com 35%, Ciro com 27% e Serra com 14%. Com uma vantagem de apenas oito pontos percentuais sobre Ciro, PT e aliados já podem estar achando que ele não é problema só de Serra, como diziam.

Trabalhou-se também para conferir maior densidade política ao ato de hoje. Além do candidato a vice, José Alencar, e dos presidentes dos cinco partidos da coligação Lula Presidente (PT, PL, PCdoB, PMN e PCB), estarão presentes os principais apoiadores de Lula, entre congressistas, governadores, prefeitos, empresários, sindicalistas, artistas e intelectuais.

Depois de ter atendido ao mercado, Lula dirá agora que o compromisso com uma transição segura e a preservação dos fundamentos da estabilidade fiscal e monetária não significam continuidade da atual política econômica. Pelo contrário, resume o presidente do partido, José Dirceu, o objetivo é garantir a passagem para um novo modelo, centrado no desenvolvimento, que possibilite ao novo governo honrar seus compromissos e ao mesmo tempo garantir a realização do slogan “Por um Brasil mais decente”, com mais riqueza e menos desigualdade. A ruptura, diz Dirceu, é com uma tendência histórica do injusto sistema econômico e social brasileiro.

O documento geral trará as metas econômicas já divulgadas, das reformas tributária, previdenciária e trabalhista. Outro, da geração de dez milhões de empregos em quatro anos de mandato. Um aceno será feito aos militares, que clamam pelo fortalecimento do papel institucional das Forças Armadas, e um recado haverá para os Estados Unidos. Da forma como está proposta, a Alca não convém ao Brasil.O governador de Santa Catarina, Esperidião Amin, do PPB, escreveu ontem a José Serra declarando seu apoio. Considera-o o mais preparado e o continuador natural do governo FH.Socorrendo o adversário

Técnicos e economistas entram no gramado eleitoral. O professor Mauro Benevides Filho, da equipe de Ciro Gomes, criticou a proposta de Lula, de aumentar o salário-mínimo em 20%, por não ter apontado a fonte de recursos. O economista José Roberto Afonso, da equipe de Serra, rebate:

— Isto é a crítica do roto ao maltrapilho, pois Ciro já falou num salário-mínimo de US$ 100 dólares, o que é ainda mais leviano.

Ele explica: com base no câmbio de sexta-feira, este mínimo teria que ser R$ 286. Um aumento de R$ 86.

Cada real de aumento do salário-mínimo aumenta os gastos da Previdência em R$ 183. O aumento de R$ 86 prometido por Ciro custaria então R$ 15,7 bilhões ao ano. Algo só possível com déficit ou um corte brutal no Orçamento.

Aécio: vitória à vista no primeiro turno
O candidato tucano ao governo de Minas, Aécio Neves, cresceu 13 pontos de junho para cá e agora lidera a disputa com folga sobre seu principal adversário, Newton Cardoso, do PMDB. Pesquisa do instituto Em Data, divulgada ontem pelo jornal “O Estado de Minas”, mostra Aécio com 37%, Newton estacionado em 23%, Nilmário Miranda, do PT, com 4%, e Margarida Vieira, do PSB, com 3%. Os indecisos ainda são 17% e os que admitem votar em branco ou anular, 12%. Aécio tem entre os votos válidos, portanto, dez pontos a mais que os concorrentes, o que acena com uma vitória em primeiro turno. Aécio teria herdado os eleitores do senador José Alencar, do PL, que acabou se tornando candidato a vice na chapa de Lula; de João Leite, do PSB, que desistiu da disputa; e de Roberto Brant, do PFL, partido que deu o candidato a vice na chapa do tucano, Clésio Andrade.

CIRO GOMES ainda vai crescer mais até agosto, admitem tucanos e petistas. Acham eles que nova dinâmica agora só virá com os programas de TV.


Editorial

VIRÃO OS ANTÍDOTOS

Do alto de sua experiência, Alan Greenspan, o presidente do Federal Reserve (banco central americano) alertara os agentes financeiros para a exuberância irracional que tinha elevado os preços médios das ações nos Estados Unidos em cerca de 80% em um período relativamente curto (dois anos). Há poucas semanas, Greenspan — que mantém as rédeas de controle da moeda em torno da qual gira a maior parte da economia do planeta — criticou a ganância infecciosa de executivos das grandes corporações.

Nem mesmo uma autoridade monetária com os poderes de Greenspan tem hoje forças suficientes para evitar ciclos de valorização exagerada nos mercados. Tampouco pode conter ajustes que venham a ocorrer posteriormente, acelerados por grandes quebras como a da WorldCom, em meio a uma crise do padrão ético da administração empresarial americana. A globalização multiplicou investimentos mundo afora. A principal característica desse processo é que não é possível controlá-lo, ao menos pelos meios e formas que se conheciam no passado. Todas as economias são atingidas pela dinâmica da globalização, e, por isso, não há como se ficar alheio ou imune ao que se passa em volta.

Os mecanismos de defesa estão no próprio mercado. O Brasil, por exemplo, viu o seu prêmio de risco saltar de um momento para outro, embora esteja claro que esses mecanismos de defesa vêm sendo montados. Em meio a essa confusão, a balança comercial brasileira tem acumulado superávits crescentes, resultado não apenas de desaceleração do consumo interno mas de investimentos que ampliaram a capacidade produtiva, possibilitaram a substituição de importações e aumento de exportações para mercados onde há demanda. Assim, o déficit em conta corrente (mercadorias, juros e serviços) está em queda. Porém, isso ainda é insuficiente para nos livrar dos efeitos indiretos da crise de confiança que atinge os mercados acionários globais, fruto da combinação da exuberância irracional com a ganância de executivos.

O ajuste em andamento certamente criará antídotos que devem favorecer as economias que melhor se estruturarem para enfrentar a crise.


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07/23/2002


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