Pesquisa indica preferidos a um ano da eleição



Pesquisa indica preferidos a um ano da eleição O ex-governador Antônio Britto lidera as simulações do Cepa-UFRGS, seguido do prefeito da Capital, Tarso Genro Realizada a pouco menos de um ano da eleição, a pesquisa do Centro de Estudos e Pesquisas em Administração (CEPA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) sobre a intenção de voto para o governo do Estado aponta o ex-governador Antônio Britto (PPS) como o nome mais lembrado pelos entrevistados. Britto lidera tanto a simulação espontânea como a estimulada, aquela em que se apresenta ao eleitor um cartão com os nomes de possíveis candidatos. O Cepa-UFRGS entrevistou 1.750 pessoas em 17 cidades gaúchas entre os dias 25 e 27 de setembro. A margem de erro da pesquisa é de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos. Diante da dificuldade de montar cenários com todos os cruzamentos possíveis, na consulta estimulada foi apresentada aos entrevistados uma cartela com 16 nomes de possíveis candidatos – mais de um na maioria dos partidos. São dois do PT (o governador Olívio Dutra e o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro), três do PPS (Antônio Britto, Bernardo de Souza e Nelson Proença), quatro do PMDB (Pedro Simon, José Fogaça, Germano Rigotto e Cézar Schirmer), três do PDT (Leonel Brizola, José Fortunati e Vieira da Cunha), um do PTB (Sérgio Zambiasi), um do PPB (Celso Bernardi), um do PSDB (Yeda Crusius) e um do PFL (Germano Bonow). Com o encerramento do prazo para a troca de partido e de domicílio eleitoral, no próximo dia 6, o número de pré-candidatos cairá. Na consulta estimulada, Britto aparece com 21,5%. Em segundo lugar está o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro (PT), com 16,4%, seguido pelo presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, 11,7%, e o governador Olívio Dutra (PT), 11,2%. Britto também é o primeiro na espontânea, com 11,1%, seguido de Tarso, com 9,9%. Na simulação espontânea o entrevistador pergunta ao entrevistado, sem apresentar cartela com nomes, em quem ele pretende votar para determinado cargo em 2002. O Cepa constatou empate no índice de rejeição do governador Olívio Dutra e do ex-governador Antônio Britto. Olívio é rejeitado por 28,9% dos entrevistados e Britto por 28,1%. A rejeição a Tarso Genro é de 6,1%. Na pesquisa anterior do Cepa para o governo do Estado, feita nos dias 21 e 22 de junho deste ano, Tarso e Britto apareciam empatados tecnicamente, com 21,2% e 20,8%, respectivamente. Zambiasi estava em terceiro (12,1%) e Olívio em quarto (10,6%). A diferença é que na pesquisa de junho Brizola não figurou entre os possíveis candidatos ao Palácio Piratini. Os números de agora são semelhantes aos da primeira pesquisa do Cepa, feita em março deste ano. Naquela pesquisa Britto apareceu em primeiro, com 22,5% das intenções de voto e Tarso em segundo, com 17,3%. Leonel Brizola e Olívio Dutra empataram em 11,4%. Há sete meses, Olívio e Britto já eram os campeões de rejeição. Olívio tinha 34,7%, seguido pelo ex-governador Alceu Collares (PDT) com 33% e por Brito, com 27,5%. Um nova pesquisa será realizada pelo Cepa-UFRGS depois de encerrado o período para troca de partido ou de domicílio eleitoral para quem pretende concorrer em 2002. Depois desse período se terá um quadro mais definido das candidaturas, com a confirmação das opções de Leonel Brizola e do senador José Fogaça. Brizola tem dito que concorrerá a deputado federal do Rio de Janeiro, mas os trabalhistas gaúchos têm esperança de que mude de idéia até 6 de outubro. Levantamento aponta preferências para o Senado Presidente da Assembléia Legislativa, Sérgio Zambiasi, obtém o melhor índice na pesquisa estimulada Na pesquisa para senador, o presidente da Assembléia Legislativa, Sérgio Zambiasi (PTB), lidera as intenções de voto, com 23,4% das preferências. O melhor desempenho do deputado foi registrado entre as mulheres (25,4%), na Região Metropolitana (25,1%) e entre os eleitores com ensino fundamental (27%). Entre os homens, ele obteve 21,2% de aprovação. Zambiasi, porém, é o segundo com o maior índice de rejeição (12,2% dos entrevistados afirmaram que não votariam nele de jeito nenhum), perdendo apenas para o senador José Fogaça, do PMDB (16,3%). Um empate foi registrado entre os entrevistados com nível superior. O vereador da Capital José Fortunati (PDT), com 17,7% das preferências, tem apenas 0,4 pontos percentuais de vantagem sobre Fogaça e o deputado federal Paulo Paim (PT), que obtiveram 17,7% cada um na intenção de voto dessa faixa de escolaridade. Entre esses entrevistados foi verificado o desempenho mais baixo do presidente do Legislativo gaúcho (7,7%). Partidos retardam definição de candidatos Na disputa pelo Palácio Piratini, Celso Bernardi, do PPB, é o único nome confirmado a 12 meses da eleição A um ano da eleição, o quadro de candidatos ao governo do Estado e ao Senado está indefinido. Os movimentos nos partidos indicam que haverá de três a cinco candidatos de oposição ao PT – um do PMDB, um do bloco PPS-PTB, um do PPB e, possivelmente, um do PDT. A única definição até agora saiu do PPB, que escolheu Celso Bernardi para concorrer a governador. Há uma frente em gestação, mas o candidato só deve ser confirmado nos primeiros meses de 2002. Por essa mesma época, em 1997, o PMDB já havia estabelecido que o então governador Antônio Britto concorreria à reeleição, embora Britto continuasse dizendo que não era candidato. Seu principal adversário, o PT, encontrava-se na mesma situação de hoje, indefinido entre o Olívio Dutra e Tarso Genro. A situação é ainda mais incerta quando se trata da disputa pelo Senado. As indicações são tratadas como carta na manga nas negociações das alianças para as candidaturas ao Piratini e ao Planalto. A oferta de candidatos maior do que a demanda contribui para que o assunto seja colocado em segundo plano. O leque de opções para o governo gaúcho teve seus contornos ampliados na semana passada, com o ingresso de Britto no PPS e do vereador José Fortunati no PDT. No PMDB, a saída de Britto, líder nas pesquisas, colocou em debate uma possível candidatura do senador Pedro Simon ao Piratini. Pelo menos nove das 33 coordenadorias regionais do partido defendem a iniciativa. O presidente estadual, Cezar Schirmer, informou que o tema será examinado durante esta semana pelas coordenadorias restantes. Simon pretende concorrer à Presidência da República, mas para isso será necessário vencer a prévia da legenda, prevista para janeiro. O nome do senador é considerado consensual por Schirmer: – Se ele quiser se candidatar, não haverá prévia. A migração de Fortunati, campeão de votos na Câmara da Capital, deu ao PDT de Leonel Brizola um trunfo para pleitear a cabeça de chapa numa possível aliança trabalhista para as majoritárias. O vereador também pode ser uma opção para o Senado, como estava em seus planos quando ainda filiado ao PT. O comando do PT trabalha com a perspectiva de evitar a prévia para poupar o partido e o governo de desgastes. David Stival, vencedor do primeiro turno das eleições internas que apontou a composição do diretório estadual, afirma ser esta a sua primeira tarefa. Como a prévia é uma tradição no PT, dificilmente os filiados aceitariam a volta da escolha por meio de delegados. A única forma de evitar a disputa seria Olívio ou Tarso desistir de concorrer. Em tese, a vitória de Stival fortaleceu a posição de Olívio. Os apoios anunciados até o momento para o segundo turno apontam para a provável confirmação de Stival, que recebeu no primeiro turno o apoio da Democracia Socialista do vice-governador Miguel Rossetto, mas não se comprometeu publicamente com a candidatura de Olívio. Na sexta-feira, a Ação Democrática, a menor dos quatro grandes grupos do partido, posicionou-se a favor de Stival. Isso significa que das 59 vagas do diretório, pelo menos 34 estariam alinhadas com a proposta governista, mas se houver prévia a definição estará nas mãos dos filiados. Outra indefinição que ronda o PT diz respeito ao PSB. O secretário dos Transportes, Beto Albuquerque, estabelece uma condição para a continuidade do partido na aliança que elegeu Olívio: – Postulamos uma das vagas para o Senado. No PT, a reivindicação esbarra na candidatura do governador do Rio, Anthony Garotinho, adversário de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial. OS POSSÍVEIS CANDIDATOS Antônio Britto (PPS) – Aos 49 anos, o ex-governador é o primeiro colocado nas pesquisas e candidato em potencial. Apesar de negar a intenção em concorrer em 2002, anunciou que irá percorrer o Estado para explicar sua transferência para o PPS. Seu ingresso no partido, no dia 26, ameaça romper a frente anti-PT que seria formada com o PTB e o PDT. O presidente do PDT, Leonel Brizola, descartou qualquer possibilidade subir no mesmo palanque caso Britto faça parte da chapa majoritária, que inclui a disputa pelo Senado. Bernardo de Souza (PPS) – O deputado estadual, 58 anos, vem trabalhando em um plano de governo desde seu ingresso no PPS em dezembro de 2000. Seu nome não enfrenta restrições dos partidos que comporiam a frente anti-PT, mas seu desempenho nas pesquisas desencoraja o PPS. Egresso do PSB, Bernardo se lançou como candidato de terceira via entre o PT e o ex-governador Antônio Britto. Com o ingresso de Britto no PPS, seu espaço diminuiu e poderá concorrer a deputado federal. Celso Bernardi (PPB) – o presidente estadual do partido, no cargo desde 1993, é o primeiro a ter seu nome definido como candidato ao Palácio Piratini em 2002. Na prévia realizada no dia 23, Bernardi, 58 anos, obteve o apoio de 78,8% dos filiados do PPB gaúcho, derrotando o deputado federal Adolfo Fetter Júnior. Em 1998, o PPB apoiou a candidatura de Antônio Britto (na época filiado ao PMDB), ofereceu José Otávio Germano como vice, mas não se coligou na eleição proporcional. Fez 11 deputados estaduais e cinco federais. Tarso Genro (PT) – Os defensores da candidatura do prefeito de Porto Alegre consideram que o nome de Tarso, segundo colocado nas pesquisas, apresenta maior potencial eleitoral do que o de Olívio Dutra. Tarso, 55 anos, ainda não assumiu a intenção de concorrer. A corrente PT Amplo planeja lançar seu nome logo depois do segundo turno da eleição para presidente do diretório estadual. Olívio Dutra (PT) – O projeto de reeleição do governador ganhou força com o resultado do primeiro turno da disputa pelos diretórios estadual e municipal do partido. As correntes que apóiam Olívio, 60 anos, saíram vitoriosas, mas como o candidato deverá ser escolhido em uma prévia, com a participação dos filiados, o vencedor será o que tiver maior capacidade de mobilização. José Fogaça (PMDB) – Apesar de ainda não haver dado sua palavra final sobre a permanência no PMDB, o senador é um dos nomes cogitados pelo partido para concorrer ao Palácio Piratini. Fogaça, 54 anos, tem dito que, se continuar filiado ao PMDB, não pretende concorrer a nenhum cargo. Se for para o PPS, o senador tem assegurada a candidatura à reeleição. Pedro Simon (PMDB) – com a saída de Antônio Britto do partido, o nome do senador passou a ser cogitado para o Piratini. A candidatura poderá se confirmar se Simon, 71 anos, não vencer a prévia nacional do PMDB que indicará o pretendente à Presidência da República ou se desistir antes para apoiar o governador de Minas, Itamar Franco. A prévia do PMDB está prevista para 20 de janeiro de 2002. Sérgio Zambiasi (PTB) – O presidente da Assembléia Legislativa é a opção do PTB para a composição de uma chapa majoritária em uma aliança com o PDT. O deputado, 52 anos, trabalha pela aliança, mas se diz contrário à formação de uma frente anti-PT no primeiro turno da eleição e não admite a possibilidade de concorrer ao Piratini. Zambiasi é o primeiro colocado na mais recente pesquisa para o Senado. José Fortunati (PDT) – O vereador mais votado da Capital, 45 anos, assinou ficha na semana passada no PDT e anunciou que irá percorrer o Estado justificando a opção partidária. Depois de Leonel Brizola, é o nome do PDT com a melhor colocação nas pesquisas para o governo do Estado. Fortunati também poderia concorrer ao Senado, seu projeto original no PT, ou ser vice em uma aliança com o PTB. Nomes cotados para disputar as duas vagas para o Senado: • Beto Albuquerque (PSB) O partido reivindica ao PT uma das duas vagas ao Senado para manter a aliança no Estado. O candidato seria o secretário dos Transportes, Beto Albuquerque, 38 anos. Para o PT, a negociação envolve o apoio à candidatura presidencial de Lula. O PSB, porém, deve ter candidato próprio, o governador do Rio, Anthony Garotinho. • Emília Fernandes (PT) Aos 52 anos, filiada ao PT desde maio, a senadora não tem suficiente apoio interno do partido para garantir uma das vagas. A indicação, porém, contaria com o apoio de Olívio Dutra e do presidente nacional do PT, José Dirceu. A possibilidade de Emília conquistar a vaga foi uma das razões da saída do vereador José Fortunati. • Germano Rigotto (PMDB) Apesar de ser um dos nomes considerados pelo PMDB gaúcho para concorrer ao Piratini, o deputado federal de 52 anos trabalha para ser candidato ao Senado. Rigotto foi convidado pelo ex-governador Antônio Britto para entrar com ele no PPS, mas preferiu continuar no PMDB. Antes da debandada, admitia disputar a prévia. • Paulo Paim (PT) O deputado federal de 51 anos foi o primeiro a assumir oficialmente a candidatura ao Senado no Estado. Junto com Emília Fernandes, sua indicação contaria com o apoio do governador Olívio Dutra. Paim foi o campeão de votos no Rio Grande do Sul em 1998 na disputa por uma cadeira na Câmara dos Deputados. • Pedro Ruas (PDT) Até o ingresso do vereador José Fortunati no partido, era o único nome citado no PDT para disputar a indicação. Três mandatos de vereador e ex-secretário de Obras, Ruas, 45 anos, concorreu ao Senado em 1998, ficando em terceiro lugar. O advogado tem dito que pretende concorrer à Câmara dos Deputados. Campanha pode virar duelo de marqueteiros Candidatos do Planalto e do PT chamam estrelas da publicidade para a disputa A campanha eleitoral de 2002 não será apenas uma disputa entre candidatos: está se desenhando um duelo entre dois magos do marketing político, os publicitários Duda Mendonça e Nizan Guanaes. Um estará ao lado do candidato do PT a presidente da República, e o outro dará orientação ao representante do Palácio do Planalto, provavelmente o ministro da Saúde, José Serra. Duda, que vem fazendo os programas eleitorais do PT, foi convidado a trabalhar na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. Nizan foi chamado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para assumir a campanha do candidato governista. Ele tem se dedicado a um site e está afastado da publicidade. Os dois marqueteiros são baianos, falantes e fizeram fortuna e sucesso com a publicidade e as campanhas eleitorais. Ambos pertencem à mesma escola de marketing político: – A escola Duda Mendonça – apressa-se a dizer Nizan, que foi estagiário de Duda na DM-9, agência que acabou comprando. Se os convites forem mantidos, pela primeira vez o mestre e o pupilo estarão se enfrentando numa campanha política. Duda e Nizan trabalham com conceitos quase absolutos e elegem uma máxima para que uma campanha política seja bem sucedida: quem bate não ganha. O conselho foi dado por Duda aos petistas da Bahia, para tentar impedir a continuidade das críticas a um dos maiores adversários do PT, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL). Nélson Biondi, que dividiu campanhas de Paulo Maluf com Duda, explica: – Quem não bate pode perder, mas quem bate sempre perde. Nizan segue a mesma linha. Ele acha que as campanhas devem ser “para cima”. Os dois fazem o estilo descontraído: calça de brim com camisa para fora. Mas, quando é preciso, os marqueteiros recorrem ao terno. Nizan, às sextas-feiras, invariavelmente usa branco. No discurso, se dizem bem-mandados pelos clientes do marketing político. Mas, quando se aborrecem, não hesitam. Vão embora. Duda deixou uma campanha de Maluf antes do fim e Nizan, uma de Serra. Nizan elogia em Duda o bom senso numa campanha e, principalmente, sua capacidade de compreender uma pesquisa de opinião. O elogiado não se faz de rogado: – Quem introduziu as qualis (pesquisas qualitativas) no marketing político fui eu. Duda conta que usava esse recurso nas campanhas publicitárias e, ao transplantá-las para o marketing político, descobriu coisas que nem poderia imaginar. No marketing político, Nizan teve outro professor: Geraldo Walter, também baiano, que fez a campanha de Antônio Britto em 1994 . – Melhor que o Duda, só o Geraldão – diz Nizan, referindo-se ao colega de campanha em 1994, morto em 1998. Geraldo enfrentou Duda numa campanha política na Bahia e seu candidato venceu. Ele fazia a campanha de Waldir Pires (PMDB) contra Josaphat Marinho (PFL), apoiado por ACM. Na campanha de Waldir, a música escolhida por Geraldão foi Amanhã, de Guilherme Arantes, gravada por Caetano Veloso. A mesma que Duda incluiu no elogiado programa político do PT que foi ao ar na semana passada. Aécio quer reunião de conciliação O presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves (PSDB-MG), disse sábado que promoverá na terça-feira uma reunião entre os congressistas da oposição e o presidente do Congresso, senador Ramez Tebet (PMDB-MS), para uma “missão tancrediana”. Invocando a imagem de conciliador do seu avô, o ex-presidente Tancredo Neves, Aécio quer pôr fim aos desentendimentos entre o novo presidente do Congresso e a oposição. Na terça-feira, durante a primeira sessão comandada por Tebet, o regimento foi descumprido na votação que aprovou o Plano Plurianual de Investimentos (PPA), causando irritação na oposição. Tebet foi xingado e não teve condições de prosseguir com a sessão. Os opositores agora correm risco de ter contra si processos por falta de decoro parlamentar. Por outro lado, ameaçam ir ao Supremo Tribunal Federal contra a atuação do senador. Artigos Desordem na ordem global DÉCIO FREITAS Dez anos atrás, os EUA faziam saber ao mundo, através da Guerra do Golfo, sua determinação de assumir o papel de líderes duma “nova ordem mundial”. Fundava-se tal determinação no fato de que, após o desabamento da União Soviética, haviam-se tornado a única potência capaz de intervir em qualquer ponto do globo. No seguinte ano, definiram-se oficialmente as bases desta política no documento Defense Planning Guidance (Diretrizes para a Planificação da Defesa), elaborado pelo Pentágono. Cogitava-se da formação dum cinturão de segurança no planeta, destinado a neutralizar e, se necessário, desbaratar ameaças ou desordens regionais. Como toda estratégia, a da Pax Americana não visava só a conjurar contestações militares, mas, também assegurar uma hegemonia política e econômica. Formou-se assim um Império informal (sem ocupação de territórios estrangeiros), à feição da Roma anterior a César Otávio. O Império adotou um pseudônimo – globalização. A nova ordem estribar-se-ia no sistema de alianças criado pelos EUA durante a Guerra Fria, deixando aos aliados nenhuma ou escassa autonomia ou iniciativa. Na Europa, operaria formalmente através da Otan, cuja manutenção os aliados ocidentais reclamavam, receosos de que um sempre latente isolacionismo promovesse a retirada dos efetivos americanos, deixando o velho continente sem garantias sólidas de segurança. Tanto mais que o fim da ordem bipolar fazia temer a aparição ou a recrudescência de focos de tensões e conflitos, instalando o caos na Europa central e oriental. As dramáticas crises resultantes da dissolução da Iugoslávia criaram sério desafio à elite dirigente americana, que as resolveu pro tempore, não sem dificuldades. O que sobra de influência russa no velho continente tende a minguar devido a impasses internos e à crescente adesão dos ex-satélites soviéticos à Otan. Na verdade, o terrorismo passou da extrema esquerda para a extrema direita, expandindo-se cancerosamente O quintal latino-americano, uma vez substituídos os regimes autoritários por regimes de verniz democrático, está sob controle, tirante a irredenta guerrilha colombiana, retroalimentada por dólares do narcotráfico globalizado. No Magreb e na África Negra, delegou-se a manutenção da ordem às ex-potências colonizadoras, tolerando-se até mesmo genocídios, como o patrocinado pela França em Ruanda. No Extremo Oriente, Japão capitalista e China comunista não inspiram cuidados. No Oriente Médio – termo hoje abrangente de vasto território regional, do Marrocos ao Paquistão – o sistema assenta numa rede de alianças: Israel e Estados islamitas ricos em petróleo (Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Kuwait, Catar, Jordânia). Todos são Estados fracos, criados artificialmente. A contestação provém de Estados-párias (Iraque, Irã, Líbia, Afeganistão, Líbano), ou povos sem Estado (palestinos, curdos...). O mundo islâmico – no qual a religião é a fonte da magistratura legislativa – dista muito de ser inimigo temível: forte aqui e fraco acolá, às vezes sequer é força política, padecendo de insolúveis clivagens religiosas e etnolingüísticas. Visto está que este sistema estratégico, com bases e soldados em mais de 80 países, ancora-se em Estados. Mas como Estado e política estão desvalorizados, por obra da própria globalização, insatisfações e irredentismos extravasam através de canais não-institucionais. No mundo ocidental, dão-se os estridentes protestos antiglobalização dum pacífico anarquismo pós-moderno. O terrorismo pós-moderno que hoje ataca o sistema, difere daquele anarco-socialista de fins do século 19 e início do século 20, que visava a chefes de Estado, ou da extrema esquerda do pós-guerra nos países avançados (extintas brigadas vermelhas da Alemanha, Itália e Japão). Na verdade, o terrorismo passou da extrema esquerda para a extrema direita, expandindo-se cancerosamente: Irmandade Islâmica, Hamas palestina, ETA, IRA, extremistas curdos, davidianos, Unabomber, McVeigh etc. São fanáticos fundamentalistas (religiosos, nacionalistas, milenaristas, apocalípticos, hiperindividualistas), não movimentos políticos representativos de categorias sociais (quanto menor o grupo, mais fanático). É a própria fraqueza que os leva ao terrorismo. Como o herói de Racine, sua “única esperança reside em seu desespero”. Os ataques, de previsão impossível, visam a destruição e matança indiscriminadas para semear pânico. O impacto político é escasso, até contraproducente, visto reforçar o poder. Não derruba governos nem quer ocupar território, à diferença das hoje anacrônicas guerrilhas da Guerra Fria. A publicidade é o objetivo desta patologia que tem a tecnologia a seu serviço. Múltiplas e crescentes desordens na ordem global – econômicas, sociais, culturais – atestam uma crise do Império. Em 11 de setembro, ele sofreu sua primeira grande derrota – e de repente descobrimos que o mundo voltou a ser bipolar. Não é o fim do Império, mas o início dum novo capítulo. Por mais que o antipatizemos ou malqueiramos, temos de admitir que, por ora, a alternativa a ele é uma obscurantista barbárie que viola abjetamente todos os direitos humanos. Outrossim, o triunfalismo guerreiro americano faz pensar que precisamos ajudar os EUA a se salvarem de si mesmos. Ai de nós! Projetos para o Brasil LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA A luta das oposições democráticas e populares ao modelo neoliberal do governo FH já atingiu um novo patamar de maturidade em nosso país. As forças de oposição, em especial o PT, têm apresentado propostas a partir de diagnósticos claros, que demonstram as debilidades e a vulnerabilidade do atual quadro econômico conduzido pelo governo federal. As nossas soluções são viáveis para a superação dos problemas, indicando os desenhos institucionais necessários, as mudanças legais cabíveis, as fontes de financiamento, as metas e os prazos. Tudo isso está – e continuará – sendo discutido e aperfeiçoado com todos os setores da sociedade brasileira. Já nas eleições municipais de 2000 este salto de qualidade pôde ser constatado, conforme foi registrado por muitos analistas, inclusive o companheiro Francisco de Oliveira, lembrando que até mesmo as forças conservadoras passaram a falar em cidadania, renda mínima, participação e outros itens fundamentais de nossa agenda. Está claro também que o embate decisivo das urnas de 2002 será travado mediante o confronto entre projetos opostos de Brasil. Ao projeto que hoje agoniza, marcado por um fracasso histórico que deixará graves dificuldades para a reconstrução nacional, vamos opor a alternativa democrática de desenvolvimento com distribuição de renda que estamos trabalhando e aperfeiçoando há pelo menos duas décadas. Entre os projetos que estamos propondo, estão os do Instituto Cidadania. Entre eles, o de moradia, lançado no ano passado, o Fome Zero, que apresentaremos à sociedade no próximo dia 16 de outubro, no Congresso Nacional, e o de segurança pública, que se propõe a enfrentar de forma decisiva a crescente violência no nosso país. Um componente essencial de todos esses projetos é o seguinte: as políticas públicas devem se ancorar, de maneira profissional, num amplo engajamento da sociedade civil. Estamos convictos de que só com uma nova era de participação direta de todos os cidadãos na busca de saídas para a profunda crise nacional será possível reunir as forças políticas, econômicas e sociais necessárias para responder a desafios de tamanha envergadura. Localiza-se aí um aspecto bastante delicado da atual conjuntura. Trata-se de perguntar aos nossos leitores se a capacidade de mobilização democrática e popular que temos conseguido demonstrar no último período não está um pouco abaixo do que seria necessário para um contexto de tanto descalabro político. Não estamos, aqui, fazendo coro com a mentira propagada desde sempre pelas elites conservadoras de que o povo brasileiro é um povo conformista e apático. Nas greves do ABC, nos anos 70 e 80, já provamos que ninguém deveria duvidar da capacidade de organização dos trabalhadores. Todos se lembram também das memoráveis jornadas das “Diretas, Já!” e do impeachment de Collor, sem falar de tantas batalhas históricas das décadas e séculos anteriores. Queremos apenas chamar a atenção para um aspecto que precisamos trabalhar melhor em nossa caminhada estratégica para transformar pela via democrática o Brasil num país justo e socialmente equilibrado. Nenhum projeto de política pública, por mais fundamentado tecnicamente e por mais consenso que reúna entre as forças políticas, deixará de enfrentar duras resistências por parte de interesses hoje privilegiados. Mesmo um Congresso Nacional cada vez mais depurado dos picaretas lembrados naquela música de Herbert Vianna dificilmente conseguirá, sem respaldo popular, reordenar satisfatoriamente os dispositivos implantados para impedir que o Brasil se torne uma nação soberana, democrática também em seus fundamentos econômicos. Organização de base, mobilização e educação política permanente compõem, como todos sabem, o triângulo vital para o fortalecimento da intervenção democrática dos cidadãos e cidadãs e de todas as forças populares nas disputas políticas de um país. Num cenário como o atual, torna-se imperativo reforçar, consolidar e multiplicar a capacidade de organização e de mobilização a partir da base da sociedade. Tanto das bases partidárias, dos movimentos e associações populares como de centenas de ONGs e entidades empresariais que têm colocado a ética e a defesa da democracia como essenciais para a construção de um novo Brasil. O Brasil precisa acreditar de fato no Brasil. O Brasil precisa gostar mais do Brasil. O Brasil precisa ser governado para o bem do Brasil. Colunistas JOSÉ BARRIONUEVO – PÁGINA 10 Pesquisa mostra largada numa eleição diferente A pesquisa publicada nesta edição apenas retrata a largada da campanha no RS a um ano da eleição, quando chega ao fim o prazo para a troca de partido. Seguramente não antecipa o que vai acontecer dentro de seis meses, com a tendência de haver uma disputa entre quatro ou cinco coligações no primeiro turno: em torno do PT, com Tarso ou Olívio, do PDT brizolista, com Fortunati, do PPS, com Britto, do PPB, com Bernardi, do PMDB, com Simon, Rigotto ou Schirmer. Candidato ao Senado, Zambiasi vai trabalhar pela formação de uma frente trabalhista, juntando Britto e Fortunati na mesma chapa, idéia rechaçada nesta fase por Brizola. A divisão do PMDB reforça a posição do PT, com a soma dos votos de Tarso e Olívio. Dificilmente haverá polarização de duas frentes, na campanha propriamente dita. Não deve se repetir no primeiro turno o confronto que colocou em lados opostos Olívio e Britto em 1994 e em 1998. Britto preserva favoritismo Pela pesquisa do Cepa/UFRGS com a lista de todos os candidatos, Antônio Britto larga na primeira posição, funcionando como contraponto ao PT. Com apenas um candidato de cada partido, pode-se imaginar um equilíbrio entre o candidato do PT e Britto, o que pode ser identificado nas simulações do Ibope na próxima semana. O que as pesquisas não puderam captar é o potencial de crescimento de Fortunati, que estava fora das cogitações para o Piratini como integrante do PT. PMDB pode melhorar Pedro Simon e José Fogaça são os únicos candidatos que largam numa posição intermediária no PMDB sem Britto (isso se Fogaça permanecer no PMDB). Os demais estão atolados em 1%, seja Cézar Schirmer ou Germano Rigotto (Padilha, que não constou desta pesquisa, na anterior ficou em 1%). No PPB, Celso Bernardi, recém egresso da convenção, está na mesma faixa. Por possuírem forte estrutura no Interior, tanto o candidato do PMDB quanto Bernardi devem crescer. Vaga reservada no Senado Sérgio Zambiasi ocupa lugar de destaque em qualquer posição que venha a atuar na próxima campanha eleitoral. Mas é para o Senado que sua estrela resplandece com mais força, projetada pelo desempenho na presidência da Assembléia. Se afirma com menos de oito meses no cargo, eleito para um período de dois anos, o dobro de seus antecessores que comandaram a Assembléia. Para o Senado, tem um índice duas vezes superior aos demais concorrentes. A rigor, pelo resultado das avaliações desta fase, Fogaça, Paim e Emília, nesta ordem, disputam o segundo voto, numa eleição com duas vagas de senador. Fogaça, Paim e Emília equilibrados Três disputam, hoje, a segunda vaga de senador. A indecisão de Fogaça, até ontem no PMDB, pode ter comprometido seu desempenho na pesquisa. Leva pequena vantagem sobre Paulo Paim e Emília Fernandes, ambos do PT, depois de 15 anos no Senado. Enquanto Zambiasi lidera com 23,4%, Fogaça fica com 13,9%, o deputado Paim está com 12,7% e a senadora Emília conquista 10,1%. Brizola inicia frente trabalhista Com o foguetório que marcou o ingresso de José Fortunati no PDT, Brizola fez o primeiro movimento para formar uma frente trabalhista com um projeto alternativo ao governo, uma terceira via às duas frentes que dividiram o Estado já no primeiro turno nas últimas eleições. Foi buscar um fundador do PT, com um posicionamento à esquerda, para enfrentar Olívio ou Tarso no segundo turno. Novos tempos Com a presença de Ciro Gomes e Roberto Freire, o ex-governador Antônio Britto e o grupo que deixou o PMDB esta semana ingressa no PPS às 11h de terça-feira, no CTG-35. A visita dos dissidentes à sede do partido de Bernardo de Souza e Valter Nagelstein, quarta-feira, marcou também a estréia da companheira do ex-governador, a advogada Luciana Cogo Maydana, em atos partidários. Orçamento maquia déficit O deputado Adroaldo Loureiro (PDT) terá uma tarefa nada fácil este ano como provável relator do Orçamento do Estado na Comissão de Finanças da Assembléia. Segundo o auditor de Finanças Públicas Darcy Carvalho dos Santos, assessor do deputado Bernardo de Souza (PPS), na proposta orçamentária para 2002, as receitas estão infladas em R$ 630 milhões. Ou seja, o déficit efetivo não é de R$ 310 milhões como está no projeto do Orçamento possivelmente maquiado pelo governo, mas sim de R$ 940 milhões. O déficit só não é maior porque está previsto o ingresso de R$ 335 milhões de operações de crédito. A previsão de R$ 1,065 bilhão em investimentos no último ano do governo Olívio pode-se dizer que é meramente escritural. Vai virar farinha. Nos termos apresentados, o Orçamento contraria o discurso do PT dos tempos de oposição. É tão ortodoxo que parece montado pela equipe do ministro Pedro Malan. Mirante • Por 45 dias, 105 novos tenentes formados pela Academia Militar aguardaram a publicação da promoção no Diário Oficial, que só ocorreu sexta-feira, para exercerem suas funções. • Alquimista-chefe da Segurança redige decreto permitindo promoção de oficiais que estejam respondendo a processo. Teria por objetivo beneficiar o companheiro Araken? • Com o apoio da Ação Democrática, está assegurada a vitória de David Stival no segundo turno para a presidência estadual do PT. Não significa necessariamente apoio a Olívio. • O movimento dos dissidentes do PMDB já foi apelidado de Intentona Comunista II. ROSANE DE OLIVEIRA Cenário nebuloso Antes de analisar os resultados da pesquisa Cepa-UFRGS, cabe aqui uma ressalva: não haverá na eleição o cenário proposto nas cartelas apresentadas aos entrevistados. Diante da indefinição dos candidatos, foi preciso apresentar, na mesma lista, todos os possíveis concorrentes ao Piratini – vários do mesmo partido. A comparação com pesquisas anteriores fica prejudicada pela inclusão e supressão de nomes, de acordo com os movimentos nos partidos. Exceto pela vantagem de Antônio Britto em relação a Tarso, não há grandes surpresas na pesquisa. A inclusão do nome do ex-governador Leonel Brizola, a quem o PDT gaúcho gostaria de ver como candidato ao Palácio Piratini, serve mais para avaliar a importância do seu apoio. Como Brizola não pretende transferir o título eleitoral do Rio para o Rio Grande do Sul, o terceiro lugar, com 11,7% na estimulada, eleva o cacife do PDT nas negociações para a formação de uma aliança. Para o bem ou para o mal, três prováveis candidatos estiveram no noticiário na semana em que a pesquisa foi realizada: Britto, porque trocou de partido, Celso Bernardi, na condição de vencedor da prévia do PPB, e José Fortunati, que se filiou ao PDT. Além deles, Brizola esteve na vitrina, como padrinho de Fortunati no PDT. O aumento da vantagem de Tarso em relação a Olívio vai estimular os defensores da candidatura do prefeito a apressar o lançamento. O resultado da eleição no PT indica que, hoje, ninguém tem a vitória assegurada na prévia. O quesito viabilidade eleitoral vai pesar na balança dos pragmáticos. Líder na pesquisa do Senado, com 23,4%, o presidente da Assembléia, Sérgio Zambiasi, é uma reserva da oposição para concorrer ao Piratini. Leva sobre Antônio Britto a vantagem de não sofrer restrições de Leonel Brizola e de ter um índice insignificante de rejeição. Nas especulações desse período nebuloso cogita-se de tudo – até de Britto ser o vice de Zambiasi (e virar primeiro-ministro em caso de vitória) ou mesmo concorrer a deputado estadual para garantir a eleição de uma bancada numerosa no PPS. Editorial Mundialização ética Dentre os muitos apelos para que se preserve o processo de globalização dos efeitos do terrorismo, redefinindo o seu rumo, nenhum revelou-se tão contundente como o lançado pelo presidente em exercício da União Européia, Guy Verhofstadt. Divulgada simultaneamente em 50 países, a “Carta aberta aos antimundialistas” servirá de tema para uma conferência a ser realizada em 30 de outubro em Gand, na Bélgica. Com as manifestações de rua nos moldes das realizadas em Seattle e em Gênova temporariamente suspensas, as Organizações Não-Governamentais (ONGs) ainda não se definiram em conjunto sobre a convocação. O aspecto positivo da iniciativa do premiê belga, porém, é o de lançar uma proposta concreta para debate num momento em que a sensação predominante ainda é a de aturdimento. Antes mesmo que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird) decidissem cancelar suas tradicionais assembléias anuais de setembro, em Washington, os manifestantes antiglobalização já haviam decidido sustar os protestos programados para o período. Mesmo diante das conseqüências legadas pelos atentados contra os Estados Unidos, porém, seria ilusório imaginar que a atuação dessas entidades contra questões que vão dos transgênicos às alterações climáticas viessem a perder força. Num cenário internacional marcado por tensões, portanto, a continuidade das pressões pode dificultar até mesmo a próxima rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), marcada para novembro em Doha, no Catar, a exemplo do que ocorreu em Seattle, nos Estados Unidos. A humanidade não tem mais como postergar o desafio de redefinir novas bases de convivência Preocupado justamente com essa possibilidade, propostas como a do líder europeu esforçam-se em incorporar algumas das reivindicações em relação às quais há consenso – menor desigualdade social, por exemplo – na agenda das entidades internacionais. Se prosperar, a alternativa poderia levar à transformação do atual G-8, formado pelas nações mais ricas do mundo mais a Rússia, numa entidade que venha a reunir não mais países, mas blocos econômicos. Questões de interesse internacional como as levantadas hoje com veemência nas ruas – na maioria das vezes sem qualquer preocupação em fornecer as respostas – poderiam portanto ser debatidas em pé de igualdade por representantes de blocos econômicos como a União Européia, o Nafta e o Mercosul. A sugestão do líder europeu é de que as discussões levem em conta a preocupação com a mundialização ética, preservando-se princípios como o livre comércio, o conhecimento e a democracia. Num contexto em que começam a prosperar alternativas múltiplas de solução para o impasse global enfrentado hoje, projetos como os relacionadas a áreas aparentemente sem relação direta com o terrorismo parecem sempre de difícil execução. Depois dos episódios brutais de 11 de setembro, porém, a humanidade não tem mais como postergar o desafio de redefinir de forma responsável novas bases de convivência. O novo intervencionismo A medida que se ampliam as providências norte-americanas para o enfrentamento dos prejuízos decorrentes dos atentados do terrorismo e da guerra contra ele, cresce a preocupação de que, ao final desse processo, o equilíbrio entre os setores público e privado na mais típica economia de mercado do mundo venha a se mostrar prejudicado. Historicamente, em tempos de guerra e de dificuldades econômicas, a balança tende a pender para um crescimento do setor público em detrimento da livre iniciativa. Ninguém admite a possibilidade de que essa tendência vá agora representar um retrocesso aos níveis dos anos 60, quando o intervencionismo estatal nos Estados Unidos atingiu o auge e a participação do setor militar na economia era três vezes superior à de hoje. O aumento das pressões pela ajuda do Estado, porém, começa a produzir uma escalada que, se se estender por um período além do razoável, pode acabar implicando conseqüências profundas além das fronteiras dos Estados Unidos, atingindo inclusive o Brasil. A conceituada publicação econômica BusinessWeek, que considera essa tendência um risco, vê com restrições as pressões por ajuda financeira que, a partir do setor aéreo, se estenderam agora a outros segmentos, como seguros e siderurgia, ao mesmo tempo em que o Federal Reserve Board (Fed) vem atuando com mais intensidade para equilibrar o mercado financeiro. Se a desaceleração econômica reforçar a necessidade de ajuda, estará em curso, mesmo que temporariamente, uma surpreendente reversão de tendências. De 1990 a 2000, os gastos militares declinaram de 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB) para menos de 3%. No mesmo período, os gastos governamentais com funcionários públicos e compras de bens e serviços caíram de 20,4% para 17,6% do PIB, o menor patamar desde 1948. Foi justamente nesse período que o setor privado mais prosperou, inaugurando uma fase inédita de pujança da economia norte-americana. O aumento das pressões pela ajuda do Estado começa a produzir uma escalada de amplas conseqüências O problema, portanto, ocorreria se esse deslocamento em favor do intervencionismo fosse longe demais – risco que, embora remoto, implicaria mais uma seqüela deixada pelo terrorismo. O papel do Estado como condutor do processo de crescimento da economia ou como promotor do bem-estar – função que lhe foi atribuída depois da recessão dos anos 30 – tem sido posto em discussão desde os anos 70 do século 20, quando começou a tendência mundial de valorizar o papel de outros agentes dinâmicos da sociedade, como as organizações não-governamentais e o mercado. O debate, capaz de embaralhar as opiniões dos analistas, precisa ser retomado, desta vez junto com a constatação de que houve um fracasso nas tentativas de impor uma receita única para as dificuldades de crescimento e estabilidade dos países pobres ou em desenvolvimento, ao lado da discussão que se faz sobre os efeitos da globalização e na perspectiva de uma busca de um novo caminho para a comunidade humana. Topo da página

09/30/2001


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