Pesquisa mostra que 2° turno ainda é incerto



 





Pesquisa mostra que 2° turno ainda é incerto
Lula está a 2,2 pontos percentuais da maioria absoluta, que lhe daria a vitória no domingo

BRASÍLIA - Faltando apenas quatro dias para a eleição, a possibilidade de que a sucessão presidencial seja decidida logo no primeiro turno continua incerta. A pesquisa Ibope divulgada ontem pela Rede Globo no Jornal Nacional mostra que o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ainda não conquistou a maioria absoluta do eleitorado.

Ele subiu dois pontos percentuais em relação à pesquisa da semana passada, alcançando 43% das intenções de voto. Caso a eleição fosse hoje, Lula teria 47,8% dos votos válidos, contra 52,2% dos demais candidatos somados. O resultado levaria a disputa para um segundo turno, que seria realizado no dia 27 de outubro.

Caso haja efetivamente segundo turno, a briga pela outra vaga continua acirrada. Tanto o candidato do governo, José Serra (PSDB), quanto o ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PSB), melhoraram o desempenho em um ponto percentual e permanecem tecnicamente empatados. Serra tem a preferência de 19% dos eleitores e Garotinho, de 16%. Como a margem de erro da pesquisa é de 1,8 ponto percentual, não é possível garantir com precisão qual deles está realmente em vantagem. Além disso, a diferença entre os dois é tão pequena que a situação entre eles pode mudar até domingo.

O candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes (PPS), perdeu um ponto percentual, caindo para 11% das intenções de voto. Com isso, ficou mais distante da vaga para o segundo turno.

José Maria de Almeida (PSTU), que não havia pontuado na pesquisa anterior, voltou a ter 1% dos votos. O resultado de Rui Costa Pimenta (PCO) foi insignificante.

O levantamento do Ibope mostra que o cenário eleitoral não se modificou na última semana e a disputa será decidida pelos eleitores que ainda estão indecisos. Com apenas mais um dia de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, os candidatos à Presidência devem apostar suas últimas fichas no debate de amanhã, promovido pela Rede Globo.

Na pesquisa de ontem, 7% dos eleitores não souberam ou não quiseram apontar em quem votariam, mesmo quando lhes foi apresentada a lista com os seis candidatos. Na sondagem anterior, o Ibope havia registrado que 10% do eleitorado ainda estava indeciso. As declarações de votos em branco e nulos caíram de 4% para 3%.

Foram entrevistados 3 mil eleitores em 203 municípios do país nos últimos quatro dias.

A pesquisa mostra ainda que Lula venceria a disputa em todas as simulações de segundo turno. A menor margem seria de 19 pontos percentuais e a maior, de 26 pontos. Lula teria 55% contra 35% de Serra - o mesmo resultado da pesquisa anterior. Em relação a Garotinho, o placar seria 54% a 35% - pequena oscilação, já que há uma semana era 55% a 34%. Se o adversário for Ciro, Lula teria 57% contra 31% - uma diferença um pouco maior do que a anterior, que registrou 56% a 32%.


Tucano ironiza reajuste
Serra critica Petrobras por aumento do preço do óleo combustível. Depois suspende entrevista

PORTO ALEGRE - O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, comentou ontem, com ironia, em Pelotas, Rio Grande do Sul, o fato de a Petrobras ter reajustado o preço do óleo combustível faltando menos de uma semana para a eleição presidencial. A empresa anunciou, anteontem, um aumento de 9,7% no preço do óleo combustível.

- A Petrobras faz ajustes [de preços]muito oportunos, a três, quatro dias da eleição. Não há a menor dúvida disso - afirmou Serra, sem esconder seu desgosto pelo fato de poder sofrer prejuízos eleitorais com a decisão da estatal.

A Petrobras já tinha sido alvo de críticas de Serra e dos outros candidatos por causa dos aumentos dos combustíveis a cada aumento da cotação do dólar.

Depois da ironia, o candidato tucano procurou atenuar o discurso em relação à empresa estatal.

- Se ela [a Petrobras]fez isso é porque acha necessário. Mostra que ela não está nem aí para a eleição, o que é uma coisa positiva. Ou seja, a empresa não está interferindo no processo eleitoral em meu favor. Isso é um testemunho de independência - afirmou, de certa forma retratando-se da crítica anterior.

Em dois momentos Serra interrompeu, nervoso, a entrevista que concedeu em Pelotas. Primeiro, quando houve uma referência ao nome do ministro Pedro Malan (Fazenda). Ele se levantou para deixar o local, criticando os comentários dos presentes, sem ouvir o que seria perguntado. Depois, quando foi abordado seu discurso em relação ao próprio PT. Nesse momento, ele encerrou a entrevista.

Afirmando o Brasil ''está cheio de problemas e a questão é saber quem é capaz de enfrentá-los'', o candidato do governo não poupou críticas a seus adversários. Disse haver dois comportamentos diferentes do PT.

- Há dois PTs no Brasil. O PT da TV, da paz e amor, bonzinho e ponderado, e o PT real, que é o que há aqui no Rio Grande do Sul. O PT real é outra coisa, é cúmplice das invasões de terra, é o que atrasa salários, como aqui acontece - afirmou, referindo-se à suposta ausência de repressão policial a ocupações de terras e ao fato de ter ouvido informações a respeito de atrasos de salários do funcionalismo na prefeitura de Pelotas, onde o titular é o petista Fernando Marroni. Serra participou de uma carreata na cidade no início da tarde.

Quanto às ocupações de terras, o governo gaúcho afirma que não trata a questão agrária como caso de polícia, mas como problema social. Por isso, prefere negociar a reprimir. A Prefeitura de Pelotas nega que os salários estejam atrasados.

Utilizando-se da situação de insegurança vivida no Rio de Janeiro, Serra também aproveitou para criticar o PT e o PSB .

- Estavam juntos [o então governador Garotinho e a vice-governadora petista Benedita da Silva, que concorre ao governo fluminense]e agora um acusa o outro. Quem paga o pato é a população brasileira, é a população do Rio de Janeiro - disse.

Preocupado em falar sobre questões regionais, Serra criticou o suposto isolamento do Rio Grande do Sul das decisões tomadas nacionais, o que, segundo ele, ocorre por culpa do PT. E afirmou:
- O Brasil não vai para a frente sem o Rio Grande ao lado.


As desigualdades e 'espertezas' da Câmara
Eleitor de Roraima valeria cerca de 18 vezes mais que um cadastrado em São Paulo

A Câmara dos Deputados representa o povo brasileiro, mas poderia representá-lo bem melhor se fossem abolidas as muitas espertezas infiltradas na legislação eleitoral. Sobram distorções, que poucos ousam defender publicamente. Para que tudo fique como está, os beneficiários, quase sempre imersos no ''baixo clero'', preferem valer-se do silêncio. Como poucos cardeais têm coragem de brigar por mudanças modernizadoras, tudo continua como está. E o quadro se torna um pouco pior a cada eleição.

A representação dos Estados na Câmara, como vem alertando há quase 10 anos o Departamento Intersindical de Estudos Parlamentares (DIAP), é ''desigual e desproporcional''. Os adjetivos parecem excessivamente amenos diante dos números extraídos, por exemplo, do confronto entre Estados como São Paulo e Rondônia. Em 1994, o cruzamento das normas legais resultou num cálculo capaz de levar ao colapso qualquer computador de última geração: um eleitor alistado em Roraima valeria quase 18 vezes mais que outro cadastrado em território paulista.

Em Roraima, foram necessários 10.406 votos para eleger-se um deputado federal. Em São Paulo, cada parlamentar precisou do apoio de 183.719 eleitores. Neste 6 de outubro, as deformações serão ainda mais absurdas. Com mais de 25 milhões de cidadãos com direito a voto, São Paulo concentra 22,26% do eleitorado nacional. Mas terá somente 70 representantes na Câmara, limite imposto por lei.

Roraima, com 208.524 votantes (0,18% do eleitorado brasileiro), mandará para Brasília 8 deputados, porque é esse o limite mínimo. Tecnicamente, teria direito a um único representante. Como estamos no Brasil, não pode ficar com menos de 8, favorecido pelo mesmo casuísmo que beneficia Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Sergipe, Rondônia, Tocantins, Acre e Amapá, além do Distrito Federal.

- Atualmente, a limitação de representantes só atinge São Paulo - lembra o gaúcho Nelson Jobim, ex-deputado, ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Superior Tribunal Eleitoral. A menos que se revogue o fenômeno da procriação, a fronteira dos 70 não demorará a estender-se a outros campeões de votos como Minas Gerais (12.680.684 eleitores inscritos, ou 11% do total nacional) ou Rio de Janeiro (10.213.518, ou 8,86%).

Há alguns anos, o deputado Geddel Vieira Lima, do PMDB baiano, invocou durante uma entrevista o argumento apenas sussurrado, nos corredores da Câmara, por deputados satisfeitos com a legislação em vigor. ''Se não houver nenhuma limitação, os paulistas vão tomar conta do Congresso'', acha Geddel. O argumento é tão verdadeiro quanto uma cédula de 7 reais.

Primeiro, porque a existência de uma ''bancada paulista'' - ou mineira, ou carioca, ou baiana, ou algo parecido - será apenas uma fantasia enquanto todos os parlamentares eleitos não pertencerem ao mesmo partido. Os deputados José Aníbal e José Dirceu, por exemplo, são originários do mesmo Estado. Mas o primeiro é do PSDB e o segundo milita no PT. Assim, passaram os últimos quatro anos divergindo sobre virtualmente tudo.
Além das bancadas partidárias, que desconhecem divisas estaduais, existem outras cujos interesses estão acima de legendas e fronteiras. Algumas agem em tempo integram, como a dos evangélicos. Outras se manifestam eventualmente, caso dos ruralistas. E há as formadas ao sabor dos projetos colocados em votação, ou quando reformas agudas se prenunciam.

Pena que não haja sinais do surgimento, no horizonte próximo, de uma bancada dos defensores da reforma polícia, incluindo mudanças na legislação eleitoral. Sem essa reforma, o povo não estará corretamente representado na casa que lhe pertence.


Só três índios para 513 vagas na capital
Doze concorrem a deputado e um a suplente de senador

BRASÍLIA - Entre os 4.833 candidatos a deputado federal que disputam uma das 513 vagas na Câmara dos Deputados existem apenas três índios. Brasília, no entanto, não é novidade para nenhum deles. O trio já trabalhou na Fundação Nacional do Índio (Funai) - mas não escondem a animação com a perspectiva de se mudarem para a capital na condição de parlamentares.

Candidato pelo PMDB, Amanuá Seus é cacique da tribo dos Kamayurá, no interior do MT. Eleito vereador em 2000, ele cumpre mandato em um município próximo à sua aldeia. Ele afirma que, se eleito deputado, lutará pelos interesses dos mais de 350 mil índios do Brasil. Aos 38 anos, Amanuá é pai de 10 filhos e está no quinto casamento. Ele defende que a população indígena tem que aprender a votar em alguém que a entenda.
Amanuá cultiva admiração muito por Juruna, o primeiro - e único - entre os índios brasileiros a chegar ao parlamento. Ele foi eleito deputado pelo PDT do Rio no início da década de 80. Ficou conhecido pelas suas desconfianças em relação ao homem branco. Andava pelos corredores do Congresso munido de um gravador para registrar as conversas que tinha com os seus interlocutores. Amanuá acredita que Juruna foi usado enquanto esteve na Câmara. Diz que vai evitar que o mesmo aconteça com ele.

Outro índio que ambiciona uma cadeira na Câmara é José Adalberto Silva, da etnia Macuxi. Confiante na vitória, o candidato pelo PC do B de Roraima não se deixa abater nem pelas ameaças de morte que diz estar sofrendo. Adalberto explica que a sociedade do Estado é preconceituosa, razão pela qual o crescimento intelectual e profissional de um índio não seria bem visto. Apesar do índio não ser obrigado a votar, ele acredita no trabalho que fez junto aos mais de 27 mil índios de Roraima. Uma das pretensões dele é lutar contra o projeto do senador Romero Jucá (PSDB-RR) que permite a mineração nas reservas indígenas.

Outro índio que se submeterá ao julgamento das urnas é Evilásio Pereira da Silva, um Fulni-Ô candidato pelo PPS de Pernambuco.

Conhecida por defender os interesses indígenas, a senadora Marina Silva (PT-AC) escolheu um índio para concorrer na sua chapa como segundo suplente: Antônio Ferreira da Silva, da tribo dos Apurinã. Outros 12 índios concorrem a deputados em 9 estados.


Ciro vai manter candidatura
Apesar das pressões de Brizola e do PDT, candidato não vai sair da disputa para ajudar Lula

BRASÍLIA - O movimento pela renúncia do candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, do PPS, se enfraqueceu ontem. PTB e PDT diminuíram a pressão, depois de conversas com o vice na chapa, Paulo Pereira da Silva. O PT também baixou o tom. Não quer prejudicar articulações e alianças políticas, em caso de segundo turno.

Em contato com o PT desde a semana passada, Leonel Brizola, presidente do PDT, bem que tentou, mas não convenceu Ciro a renunciar para ajudar Luiz Inácio Lula da Silva a vencer as eleições ainda no primeiro turno. Depois de vários telefonemas e de uma visita ao Paraná, Brizola consegui trazer para seu lado o presidente do PTB, José Carlos Martinez. Os dois procuraram Paulinho na noite de segunda-feira, mas o vice não aceitou a proposta.

- Se ele quiser renunciar, vai renunciar sozinho. Sou vice do partido e presidente licenciado da Força Sindical. Vamos até o fim. O Ciro, o PPS e a Força vão juntos até a eleição - disse ele a Martinez, segundo assessores da Frente Trabalhista.

De acordo com integrantes da Frente, Paulinho reuniu-se com a Força Sindical na segunda-feira e acertou que a central não falará em renúncia. O vice mandou ainda um recado: caso o comando da coligação insista no tema, ele pode indispor a Força Sindical com o PTB e o PDT.

No PT e no PDT há rumores de que acertos vinham sendo esboçados entre os dois partidos no Paraná e no Maranhão - onde os trabalhistas têm chances e o PT nenhuma. E no Rio Grande do Sul, onde o PDT relutou a apoiar Antônio Britto (PPS), já aparecem adesivos dizendo: ''Sou do PDT, voto Tarso'', em referência ao candidato do PT gaúcho.

Os maiores apoios à sugestão de Brizola para que Ciro renunciasse à candidatura, porém, surgiram no Nordeste. No Maranhão, aliados do pedetista Jackson Lago, que está em primeiro lugar nas pesquisas, torcem pelas negociações com o PT. E no Piauí é o candidato do PPS, Acilino Ribeiro (com apenas 1% nas pesquisas), quem já promete apoiar o petista Wellington Dias, que lidera a disputa ao governo, segundo o representante da Frente Trabalhista no Estado, Luiz Augusto.

- Hoje estamos todos com Ciro Gomes. A campanha de Acilino, inclusive é casada com a dele. Mas podemos compatibilizar muito bem o apoio ao PT - diz ele.

Seria bastante difícil, porém, conseguir um acordo em Estados onde a disputa entre petistas e pedetistas é direta, como Rio e Amapá. De qualquer forma, diante da firme negativa de Ciro e Paulinho, o PDT recuou.
- Brizola só colocou isso como uma possibilidade, mas desde que Ciro aceitasse a idéia. Como ele não aceitou, foi descartada - disse o vice-presidente do PDT e presidente da legenda no Rio, Carlos Lupi.

Ele adiantou que a cúpula do partido se reunirá hoje, mas a renúncia não estará mais na pauta.

- Não há nada disso, vamos reafirmar o apoio a Ciro. Se o Ciro topasse desistir era outra questão. Se ele não concorda, ficaria como falta de caráter da gente, lar gando o barco - completou Lupi.

No comitê da Frente Trabalhista, o artigo do ex-guru do candidato, Mangabeira Unger, na Folha de S.Paulo ontem, defendendo a renúncia de Ciro e de Anthony Garotinho (PSB), em favor de Lula, foi classificado como ''fraco''. Já no PT, a ordem é esquecer a idéia de renúncia e não pressionar Ciro.

O candidato disse ontem em Belém, onde fez campanha ao lado da mulher, a atriz Patrícia Pillar, que o projeto do PT vai precipitar uma, caso Lula seja eleito presidente.

- Votar no Lula é um ato compreensivo de revolta e de protesto, mas o projeto do PT vai precipitar uma crise econômica, que já é muito grave, e uma crise de governabilidade - afirmou Ciro.


Lula caminha com Itamar
Candidato faz seu último ato público de campanha em São Bernardo

SÃO PAULO E BRASÍLIA - Cerca de dez mil pessoas participam da caminhada de Luiz Inácio Lula da Silva em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, que teve a presença do governador de Minas Gerais, Itamar Franco. Este é o último compromisso público de Lula antes do debate entre os candidatos na TV Globo, na noite da próxima quinta-feira. Lula ficará se preparando para o debate, considerado fundamental, porque pode facilitar a vitória no primeiro turno.

Ao lado de Lula, estavam também o candidato ao governo de São Paulo José Genoino, seu vice, Luiz Marinho, a prefeita Marta Suplicy e o candidato ao Senado, Aloizio Mercadante. A caminhada começou na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e foi até a Praça da Matriz, no centro de São Bernardo.

Também ontem, na mesma sessão plenária em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou a argüição de suspeição de seu presidente, o ministro Nelson Jobim - requerida por Goffredo da Silva Telles e outros advogados paulistas - Lula ganhou mais de seis minutos de direito de resposta em programas de propaganda de José Serra (PSDB).

O PT vai guardar os minutos para dividi-los em seus programas de amanhã, o último dia da propaganda eleitoral gratuita, na hora do almoço e à noite. Na primeira representação, os ministros do TSE garantiram a Lula e ao presidente do PT, José Dirceu, o direito de rebaterem, no programa de Serra, as insinuações contidas na propaganda do PSDB, de que o PT e José Dirceu foram responsáveis por agressões físicas ao então governador de São Paulo, Mário Covas, durante uma greve de professores estaduais.

O plenário do TSE confirmou também liminar do ministro Gerardo Grossi, dando direito de resposta a Lula, devido a inserções em outros programas do PSDB, segundo as quais a Prefeitura de São Paulo exigia diploma para fiscais de rua, enquanto Lula não havia cursado universidade.


Garotinho critica Aguiar de novo
RECIFE - O candidato à Presidência pelo PSB, Anthony Garotinho, voltou a criticar o secretário de Segurança Pública do Rio, Roberto Aguiar, apontando-o como o principal responsável pelos problemas de ontem, quando o comércio, escolas e bancos foram fechados, após uma onda de boatos que espalharam o medo. Segundo Garotinho, Aguiar não tem perfil para comandar as polícias do Rio, por não entender do assunto.

- O secretário é pessoa alheia ao setor e tem feito com que decisões equivocadas tenham sido tomadas nos últimos meses, prejudicando o trabalho dos profissionais - afirmou Garotinho, garantindo que, no seu governo, houve redução dos índices de violência, o que tem sido contestado.

Mas o candidato admitiu motivação política para os boatos. Segundo ele, setores conservadores estão apavorados com a ''iminente derrota do candidato do PSDB, José Serra'', e vão aproveitar qualquer brecha nestes últimos dias de campanha para levar pânico e, conseqüentemente, indecisão ao eleitorado.

- Existe um setor da elite, principalmente grandes especuladores, que não quer que ocorram mudanças efetivas nos destinos do país, para que continuem se beneficiando da atual política.

O quase feriado imposto ontem pelos boatos foi considerado inaceitável por Garotinho e, segundo ele, demonstra a existência de um clima de temor e insegurança na população. O candidato garantiu que isto não aconteceria se ainda estivesse no governo.

- Em mais de três anos, a polícia carioca deu demonstrações de que era superior ao crime organizado - afirmou, acrescentando que não se conseguirá descobrir de onde partiu a ordem para o fechamento dos estabelecimentos.

- Será sempre um mistério.


Governo decide antecipar transição
BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu ontem antecipar os preparativos da transição para o futuro governo antes da realização do segundo turno da eleição presidencial. O porta-voz Alexandre Parola confirmou o nome do ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, como representante do governo.
- O do futuro governo na transição só deverá ser indicado pelo presidente que for eleito - disse Parola.

Duas propostas de emendas constitucionais serão examinadas com prioridade pela Comissão de Transição, segundo assessores da Presidência. A primeira adia a data da posse do futuro presidente para 6 de janeiro. A outra de autoria do deputado Bonifácio Andrada (PSDB-MG), permitirá fôro privilegiado no STF aos ex-presidentes.

Na semana que vem, o presidente Fernando Henrique assinará a medida provisória criando os 51 cargos especiais. A partir do dia 10, as salas no Centro de Formação do Banco do Brasil, no Setor de Clubes Sul, serão ocupadas. A ''Agenda 100'', com os compromissos administrativos e financeiros que vencerão no primeiro trimeste do futuro governo, já está pronta.


Uma dúvida e duas certezas
Com base na pesquisa que o Ibope divulgou na noite de ontem, Lula está a 2 pontos de alcançar a maioria absoluta no primeiro turno. Tem 43, contra 19 de Serra; 16 de Garotinho e 11 de Ciro. São portanto 43 contra 46. Mas José Maria e os demais candidatos pouco conhecidos reúnem 1 %. Assim, são 43 de um lado e 46 de outro. Para efeito de maioria absoluta dos votos válidos, 89 passam a ser iguais a 100. Faltam 2 degraus e mais 1 voto para que a sucessão de Fernando Henrique Cardoso seja decidida em turno único. Em relação à pesquisa de uma semana atrás, do mesmo Ibope, Lula avançou 2 pontos; Serra subiu 1; Garotinho também cresceu 1 e Ciro continua caindo: desceu mais 1 ponto.

Pela primeira vez, na história da eleições, de 45 para cá, na quase véspera de uma sucessão presidencial a duvida é se um candidato vence ou não, por diferencia mínima , no primeiro turno. Todas as pesquisas estão convergindo. Para o Vox Populi, por exemplo, falta uma ponte de três degraus entre as urnas de domingo e o Palácio do Planalto. O Datafolha em sua última pesquisa encontrou apenas 1 ponto de distancia. Sem duvida, a emoção que nunca falta nos últimos dias vai decidir se na manhã de segunda-feira o Brasil tem ou não um novo presidente eleito.

No entanto, o debate de amanhã na Rede Globo é a última chance de outubro, tanto para Serra, quanto para Garotinho, na tentativa de adiar o desfecho para o dia 27. Ciro Gomes está fora de cogitações. Mas pode aproveitar o palco para um segundo lance, como a perspectiva que Brizola propõe de uma renúncia acompanhada de apoio àquele que, pela quarta vez, tenta ser presidente. Melhor oportunidade não poderia haver.

A atmosfera das ruas está sintonizada com o tempo do voto, com a emoção do desfecho, mas também - caso do Rio de Janeiro - lançada em sobressalto pelo episódio de segunda-feira, cuja inspiração parece antecedida pelos 47 anos que nos separam do lançamento da Carta Brandi (falsa) pelo deputado Carlos Lacerda a três dias da vitória de Juscelino Kubitschek e João Goulart, em 55. Brandi era o personagem imaginário que teria escrito uma carta revelando compra de armas revolucionárias por parte de Jango na Argentin a. Uma alucinação. Mas para tornar mas densa e tensa a atmosfera, naquele dia 3 de outubro, enquanto o povo elegia JK e Goulart, as Forças Armadas argentinas derrubavam Perón, que, para escapar com vida, teve que se asilar num navio paraguaio no Rio da Prata.

A manobra não funcionou. Aliás, a falsificação, por melhor que seja, nunca dá certo. Os autores aparecem. Principalmente agora com a velocidade dos meios de comunicação e a lúcida isenção dos jornalistas. Quem arma fraude no campo político esquece sempre os desdobramentos nos dias seguintes. No caso do pânico imposto ao Rio não foi calculada a reação da imprensa e tampouco o espaço aberto pela Globo à governadora Benedita da Silva. A tentativa encurralou a cidade, mas não se traduziu em votos. Talvez, até (segunda dúvida) os tenha direcionado em favor do Palácio Guanabara. De amanhã para depois, as pesquisas vão dizer.


Artigos

Estrela é o que não falta
Octávio Costa

Chegou a hora de Luiz Inácio Lula da Silva. Na quarta tentativa de se eleger presidente da República, o ex-metalúrgico tem a chance de ouro de liquidar a fatura no primeiro turno. A onda de adesão de última hora é impressionante. Grandes empresários fazem questão de alardear a mudança de voto. Até no sisudo ambiente da Academia Brasileira de Letras, Lula conquistou a preferência. Nessa toada, não será difícil alcançar os 50% mais um.

Outro fator deverá beneficiar Lula: os indecisos tendem a votar no favorito. Não gostam de desperdiçar o voto. No último fim de semana cresceu também o movimento pelo voto útil. Por que perder tempo com um segundo turno? Se Lula é a bola da vez, que se definam logo os rumos do país. Com a disputa encerrada no próximo domingo, não haverá mais motivo para tanta especulação. Com Lula-lá, o mercado financeiro possivelmente voltará à calma e o dólar será negociado em níveis razoáveis. A razão recomenda que se abreviem os fatos.

Se o voto útil vingar na boca de urna, não haverá mesmo o segundo turno. Mas todo cuidado é pouco com previsões eleitorais. Acontecem surpresas. Em 1989, a apenas duas semanas da eleição, tudo indicava que Brizola iria para o mano a mano com Fernando Collor. Lula correu por fora e livrou vantagem mínima em cima da linha de chegada. Uma reação impressionante.

Fala-se e escreve-se muito sobre a reviravolta de 1989, mas um detalhe ficou esquecido. Muita gente que - de nariz torcido - havia decidido votar útil em Brizola (o bicho-papão era Collor), voltou atrás quando as pesquisas mostraram ligeira recuperação de Mário Covas. Parte da classe média do Rio e de São Paulo acreditou que Covas passaria à final. E mudou de voto da noite para o dia. Covas subiu, porém não passou dos 12%. E Brizola viu-se alijado do segundo turno por 300 mil votos.

Outra virada famosa, em esfera municipal, foi a de Luiza Erundina contra Paulo Maluf em 1988, na eleição para a Prefeitura de São Paulo. Todas as pesquisas apontavam fácil vitória de Maluf. Ninguém contava com que um general linha-dura ordenasse o avanço da tropa contra metalúrgicos em greve em Volta Redonda. Três operários morreram e o grito de dor correu pelo país. O voto de protesto ajudou Erundina (Maluf também perdeu votos no próprio campo para João Mellão Neto). Na hora H, a população mais pobre elegeu Erundina. Depois do pleito, experts explicaram que o povo tinha medo de dizer que ia votar no PT e batizaram o fenômeno de voto envergonhado.

Lula, ao que tudo indica, não corre nenhum tipo de ameaça. Ao contrário, o PT já não mete medo e o voto útil enche o seu balaio. Seu percentual avança na proporção do esvaziamento de Ciro. Garotinho, por seu turno, cresce em cima de Serra. Não parece, contudo, ter fôlego para a virada. A não ser que faça milagre no debate de amanhã na TV Globo. Milagre e reza forte? Cuidado, nesse terreno Garotinho é rei.

Chegou a vez de Lula. O ex-metalúrgico faz lembrar a saga eleitoral de François Mitterrand e de Salvador Allende. O líder francês e o socialista chileno também concorreram várias vezes à Presidência até sentirem o gosto da vitória. O resto da história é famoso. Mitterrand governou a França por 14 anos e Allende se matou em 11 de setembro de 1973, ao reagir heroicamente ao golpe militar.

A tragédia de Allende aconteceu nos anos de chumbo do Cone Sul. Hoje, sopram os ventos da democracia no continente. O caminho das mudanças está aberto para Lula. Ele é senhor do seu destino. Estrela não lhe falta.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

Especuladores do terror
A conexão entre o estado de sítio imposto ao Rio pela boataria de que o narcotráfico ocuparia a cidade, e uma suposta ação política visando a causar prejuízos eleitorais ao PT, é tão plausível quanto o cunho eleitoral de uma enchente que porventura venha a ocorrer na véspera da votação.

Enquanto não houver indícios dignos de credibilidade que sustentem a tese, inexiste a correlação entre uma coisa e outra. Aliás, se aparecerem evidências nessa direção, estaremos diante de um caso inequívoco de ato criminoso passível da cassação de candidaturas.

O que se tem até agora, porém, são sinais de que o que houve foi um episódio - o mais aterrador, talvez, pela amplitude - ilustrativo de uma situação que vem se agravando há 20 anos.

Sem perder de vista a necessidade de se detectar a origem e autoria da onda de boatos, cumpre registrar que, nesse momento, assusta bem mais o fato de o pânico se alastrar da forma como se alastrou. Organismos debilitados, como se sabe, são permeáveis à contaminação e à infecção.

Nossos digníssimos representantes políticos, no entanto, têm o desplante de ignorar propositadamente o foco da questão para darem-se ao desfrute de se perder em suas picuinhas eleitorais.

Voltamos sempre à mesma estaca residente nas vizinhanças do zero: enquanto o país legal briga entre si, a nação dos fora-da-lei domina solerte a situação.

Sim, porque ainda que o ''manifesto'' assinado supostamente pelo Comando Vermelho assumindo a autoria do protesto ''contra o tratamento arbitrário sofrido pelos presos de todo o estado'', seja falso, isso não reduz a gravidade dos acontecimentos.

Assim como o principal na segunda-feira de terror foi o estado de coisas que permitiu a disseminação de uma onda de boatos daquela natureza, o fundamental ante ao documento é o fato de levarmos seriamente em conta a possibilidade de que seja verdadeiro.

E por que os boatos prosperaram ao ponto de intimidar uma população e os termos do suposto manifesto são considerados verossímeis? Porque são dados condizentes com a realidade presente.

Isto, muito, mas muito mais importante mesmo que suspeições de ordem eleitoral, é o que desmoraliza o Estado e humilha a cidadania.

Muito justo que as autoridades queiram dizer que a situação está sob controle e a bandidagem agora apenas reage ao endurecimento no combate ao crime. Só não podem querer é que uma sociedade acuada aceite nem se tranqüilize diante desses argumentos.

São fragilíssimos ante a capacidade que o crime adquiriu de manipular o medo e fazer extravasar num átimo e coletivamente, o pavor inoculado no organismo social.

Se, por hipótese remota, surgirem indícios da alegada orquestração política é evidente que aparecerão também os rastros de seus autores. Tão criminosos quanto aqueles que, ainda no quente nos acontecimento, trataram logo de tirar proveito para acusar seus adversários.

Nem uma palavra deram a respeito do medo que assolava os cidadãos, boa parte deles integrantes do contingente de 117 milhões de eleitores brasileiros.

E estes, sinceramente, já devem estar bastante fartos da insegurança econômica qu e lhes impõe os aproveitadores do mercado financeiro, para ainda aceitarem passivamente ser vítimas dos especuladores eleitorais do terror.

A improbabilidade da tese da armação política não pode, entretanto, desobrigar as autoridades, aí em suas instâncias federal e estadual, de tomarem medidas para garantir a liberdade de ir e vir no dia da eleição.
Na atual conjuntura, em que bandidos que não obedecem à polícia, ordens de políticos é que também não cumprirão. Este é um dado real.

Mas não custa, aliás, urge, que estejamos precavidos contra qualquer tentativa de demonstração de força e ousadia que ponha em risco o exercício da democracia.

A repetição, no domingo, do episódio que fez do Rio refém do pânico na segunda-feira, equivalerá à decretação tácita do estado de exceção.

Cenário bastante mais grave que a troca de arreganhos irresponsáveis, rasos, apressados e entre adversários eleitorais.

Avança no Brasil
É possível que se trate de mera especulação e melhor será se assim for. Mas, de qualquer forma, consta que o atual governo pretende propor ao presidente eleito mudanças nas estruturas dos ministérios, incluindo fusões e desmembramento de algumas pastas.

Considerando que a atual administração teve oito anos para fazê-las, a idéia sugere que o governo FH esteja querendo extrapolar seus poderes para além do próximo dia 31 de dezembro.

Em tese, significa avançar no mandato alheio. Na prática, não quer dizer nada porque o eleito com certeza não abrirá mão de governar a seu modo.


Editorial

CONCURSO DE BELEZA

O aumento do salário mínimo tornou-se trunfo eleitoral e estará amanhã no último debate dos candidatos à Presidência da República. O primeiro a acenar com a benesse foi o ex-governador Anthony Garotinho, ao lembrar que usou uma brecha jurídica da Constituição para elevar o piso salarial no Estado do Rio. No horário gratuito, Garotinho prometeu reajustar o mínimo para R$ 280 caso chegue ao Planalto. Cresceu nas pesquisas e José Serra contra-atacou. Além de negar seu endosso à proposta oficial de R$ 200 _ que consta do Orçamento da União _ fez oferta mais generosa: um mínimo de R$ 300 com correção monetária ao longo dos próximos quatro anos. Agora, aguarda-se a tréplica do candidato do PSB.

Da forma como vem sendo travado, o debate sobre o salário mínimo parece concurso de beleza. A questão fica na superfície, numa espécie de quem _ dá _ mais, sem o necessário aprofundamento.

Em lugar de promessas ao vento, não custava aos candidatos informar_ se sobre a experiência recente do Chile. Em 1989, após a volta dos civis ao Palácio de la Moneda, um dos primeiros atos do presidente Patrício Alwin foi exatamente o aumento do salário mínimo. Porém, simultaneamente ao decreto que elevou o piso, o governo cuidou de desvincular o reajuste de outras rubricas, com o objetivo de não sobrecarregar os gastos da Previdência e a folha de pagamento do setor público. Tratou também de reduzir a carga de obrigações trabalhistas que onerava o setor privado.

No caso brasileiro, se forem tomados os mesmos cuidados, nada impede aumento real do salário mínimo, que poderia chegar rapidamente a R$ 400. Não haveria maiores transtornos, mesmo porque na indústria o mínimo é valor de referência. Antes, porém, o terreno deve ser aplainado. A exemplo do que se fez no Chile, é preciso eliminar a vinculação do piso salarial aos benefícios da Previdência e ampliar a margem de manobra dos Estados e municípios, além de desonerar os custos trabalhistas das empresas.

Com o fim dos repasses automáticos, não será difícil para o Estado e a iniciativa privada absorverem futuros reajustes do salário mínimo.

Este é o enfoque sério para discutir a questão. Que, assim, merece ser abordada no último debate da campanha sucessória. O resto é perfumaria.


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10/02/2002


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