PL dá apoio a Medeiros, e PT ainda insiste na aliança







PL dá apoio a Medeiros, e PT ainda insiste na aliança
O deputado Luiz Antônio de Medeiros (PL-SP) obteve ontem o apoio do PL ao apresentar sua defesa nas acusações de desvio de dinheiro do Ibes (Instituto Brasileiro de Estudos Sindicais), entidade que presidiu, para conta no Commercial Bank de Nova York. A acusação foi feita por seu ex-assessor Wagner Cinchetto, que confessou ter participado do esquema financeiro.
"O PL defende a posição de Medeiros até que se prove o contrário. Medeiros tem a confiança do partido e da bancada. Acreditamos na palavra dele", afirmou o líder do PL e presidente nacional do partido, deputado Valdemar Costa Neto (SP).

O deputado federal José Genoino, da Executiva petista, disse que a decisão do PL não muda em nada o curso da negociação entre os dois partidos. "A denúncia tem de ser apurada, mas o Medeiros não está na agenda das conversas." O PL está negociando apoio ao pré-candidato do PT ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva.
Costa Neto atribuiu as acusações contra Medeiros à pressão do governo. Segundo o líder, o partido cresceu com novas filiações, incluindo a do senador José Alencar (ex-PMDB-MG), e já decidiu apoiar a oposição nas próximas eleições. "É pressão do governo que não quer o crescimento do PL nem que o partido caminhe com as oposições", afirmou.

Para manter Alencar no PMDB, partido aliado, o presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a oferecer um ministério para o senador.
Hoje, Medeiros vai prestar depoimento ao corregedor da Câmara, Barbosa Neto (PMDB-GO), que investigará preliminarmente as acusações em processo aberto à pedido do presidente da Casa, Aécio Neves (PSDB-MG).
A disposição de Aécio, que saiu do plenário e não ouviu a defesa de Medeiros, é enviar as denúncias ao Conselho de Ética, criado com o Código de Ética promulgado ontem.
Medeiros negou ter conta no exterior, disse que não era responsável pela movimentação dos recursos doados por empresários ao Ibes e que vai defender sua honra.

"Sou inocente. Começou o massacre em cima de mim. Não serei triturado por ninguém", afirmou Medeiros. Medeiros disse que o instituto foi concebido como embrião de fundação da Força Sindical e foi criado com recursos privados -de empresas, de associações de classe, de entidades profissionais e de pessoas físicas.
Medeiros confirmou que, durante sua gestão no Ibes, as despesas operacionais de toda a direção da entidade eram pagas com os recursos arrecadados. Os mesmos argumentos foram apresentados ontem à bancada do PL.


Da luta armada ao sindicalismo de resultado, deputado atraiu inimigos
Com um histórico de muitos confrontos ao longo de sua vida política, que lhe renderam diversos inimigos, o deputado federal Luiz Antônio de Medeiros (PL-SP) enfrentará dificuldades para evitar a cassação de seu mandato pelo plenário da Câmara.
Medeiros é acusado de ter criado a Força Sindical com dinheiro de empresários. Ele responde a um inquérito policial no qual é suspeito de ter desviado parte dos recursos que recebeu -cerca de US$ 2 milhões- para contas no exterior, conforme a Folha revelou em 1995. Em tese, ele poderá responder a processo criminal por evasão de divisas, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.
Em meio às investigações, os relatos de seus antigos companheiros do movimento sindical descrevem uma trajetória política controversa.

Nascido em Eirunepé (AM), filho de família humilde, Medeiros militou no movimento secundarista do Rio de Janeiro, em pleno regime militar. Integrava o grupo de militantes do restaurante Calabouço, um reduto de comunistas.
Dividiu quarto com o estudante Edson Luís, que se tornaria um mártir da luta pela democracia após ser assassinado no Rio.

Luta armada
Ligado ao grupo guerrilheiro Vanguarda Popular Revolucionária Palmares, Medeiros participou da luta armada contra o regime militar (1964-1985). Exilado, deixou o Chile rumo a Cuba e, depois, Moscou, onde frequentou a universidade Patrice Lumumba, um centro de formação mantido pelo Partido Comunista do Brasil, o "Partidão".
De volta ao Brasil, em 1978, antes da anistia, usou os conhecimentos de metalurgia, também adquiridos em Moscou, e ingressou na carreira operária. Os registros na carteira de trabalho -entre eles o da Gradiente- prestavam-se apenas a uma questão formal. O verdadeiro trabalho de Medeiros era político.
O "Partidão" negociou a entrada de Medeiros na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, com o então presidente da entidade, Joaquim do Santos Andrade, o Joaquinzão.

Em tese, Medeiros integrava a oposição a Joaquinzão, mas acabou compondo uma chapa com ele e deixando o "Partidão" para trás. Em troca, elegeu-se presidente da entidade em 1987, cargo que ocupou até 1994.
Mais tarde, preteriu Joaquinzão ao comando da Confederação Geral dos Trabalhadores, entregue ao sindicalista Rogério Magri.
Depois de ter apoiado o ex-presidente Fernando Collor à Presidência da República, recebeu diversas visitas dele e de Magri, que se tornara ministro do Trabalho.
Em uma dessas conversas surgiu a idéia da criação da Força Sindical, para combater a CUT (Central Única dos Trabalhadores, ligada ao PT), que fazia forte oposição a Collor. O então presidente destacou o empresário Luiz Estevão -hoje ex-senador- para angariar recursos de grandes empresas destinados a financiar a criação da Força Sindical.

Quando os índices de rejeição de Fernando Collor ficaram altos, Medeiros subiu em palanques para defender o impeachment de seu ex-amigo.
Candidato ao governo de São Paulo pelo PP, em 1994, fez um acordo com o PMDB para atacar Mário Covas (PSDB), de forma a beneficiar a candidatura de Barros Munhoz.
Foi dos bastidores da disputa eleitoral que surgiram as desavenças entre Medeiros e seus ex-assessores Wagner Cinchetto e Marcos Cará. Os dois dizem que Medeiros lhes deve dinheiro.


Medeiros diz que não traiu sindicalista
O deputado Luiz Antônio de Medeiros (PL-SP) se recusou a falar de sua trajetória política ontem. Disse que estava muito cansado e que vivia uma fase em que nada que declarasse adiantaria para mudar a situação em que se encontra.
"Não traí Joaquinzão", limitou-se a dizer, em referência a Joaquim dos Santos Andrade, já morto, que presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo de 1965 a 1986, articulou a entrada de Medeiros na entidade e viabilizou a composição que o elegeu presidente daquela categoria por oito anos consecutivos.

"Esse cara [Wagner Cinchetto, ex-assessor de Medeiros, autor das acusações contra ele] é um marginal. Eu fui achacado. Ele é um bandido. Quis que eu lhe desse dinheiro, e eu não dei", afirmou o deputado federal ao ser questionado sobre o suposto envio ilegal de recursos ao exterior.
O dinheiro -cerca de US$ 2 milhões- teria sido recebido de empresários e estaria em um banco em Nova York.

"Prato requentado"
De acordo com Medeiros, não há nada de novo no inquérito. "A Folha contou tudo isso em 1995, quando esse bandido foi procurar os jornalistas. Quem publica isso agora está servindo um prato requentado", afirmou.
Quanto aos conflitos desencadeados a partir da campanha para o governo de São Paulo em 1994, Medeiros declarou que Cinchetto não participou de sua equipe.
Portanto, aquela disputa eleitoral não teria sido o pivô da crise que levou ao rompimento entre os dois.


Patrimônio declarado é de R$150 mil
O deputado Luiz Antônio de Medeiros (PL-SP), acusado por um ex-assessor de desviar dinheiro do Ibes (Instituto Brasileiro de Estudos Sindicais), declarou, em 1994, ter um patrimônio de R$ 145.461,54. Quatro anos depois, o total da declaração do Imposto de Renda passou para R$ 150.396,80.
Há cerca de quatro meses, o deputado comprou uma casa no bairro Granja Viana, cujo v alor de mercado é estimado em pelo menos R$ 500 mil.

As declarações de patrimônio, com valores atualizados, foram entregues ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. Uma, em 1994, quando ele se candidatou ao governo paulista e outra, em 1998, quando concorreu e ganhou como deputado federal.
O deputado afirmou que as acusações são mentirosas. Sobre a casa recentemente comprada, disse que o valor pago é inferior à estimativa de mercado e que, além do salário como deputado (de R$ 6 mil por mês), possui outras fontes de renda. Segundo a declaração entregue ao TRE em 1998, Medeiros vivia em um apartamento no bairro da Aclimação, com o valor atualizado de R$ 134.884,56.

Na época, declarou possuir ainda um fundo de investimento na Caixa Econômica Federal e duas linhas telefônicas.
Nas eleições de 1994, o deputado declarou possuir 50% de uma casa no Brooklin (financiada pela Nossa Caixa Nosso Banco), seis contas bancárias e duas linhas telefônicas. Wagner Cinchetto, ex-assessor de Medeiros e autor das acusações, afirmou que o deputado mantinha duas contas no exterior, para onde teria enviado cerca de US$ 2 milhões.

Nas declarações de Medeiros à Justiça Eleitoral, não consta nenhuma conta fora do Brasil.
"Isso é mentira. Não tenho nenhuma conta fora do Brasil, a não ser que ele [Cinchetto, o ex-assessor" tenha armado algo. Eu não fiz nada de errado e tudo o que tenho foi conseguido com o meu trabalho", afirmou o deputado.


Zeca anuncia viagem e diz que notícia é requentada
No mesmo dia em que a Folha publicou reportagem revelando que o governador José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, usou um fundo de natureza secreta em dez viagens que fez pelo país no ano passado, gastando em média R$ 26 mil em cada uma, o site de notícias do governo estadual divulgou que Zeca pretende visitar 32 municípios entre 20 de outubro e 20 de novembro.
O anúncio foi feito ontem em Aquidauana, a última das dez cidades do Estado visitadas por Zeca desde o dia 1º de outubro. As viagens fazem parte da comemoração de 24 anos da criação do Estado de Mato Grosso do Sul, que antigamente fazia parte do Mato Grosso. "Gosto de andar, estar ao lado do povo, faz parte da minha trajetória. Eu já fazia isso quando era deputado", afirmou Zeca.

Segundo o secretário de Governo, Ben-Hur Ferreira, que falou em nome de Zeca, as viagens anunciadas hoje já estavam programadas. Ele disse ainda que Zeca fez o anúncio sem ter conhecimento da reportagem. Não foi divulgado o gasto previsto para as novas viagens.
"O governador já havia anunciado há bastante tempo que pretendia visitar todos os 77 municípios do Estado até o final do ano", disse Ferreira.

Trecho de nota oficial enviada à Folha afirma que a reportagem de ontem "é requentada e patrocinada por adversários do governador Zeca do PT. O documento de caráter reservado produzido pelo governo de MS vazou de maneira distorcida procurando macular claramente a boa imagem do governador Zeca do PT".
O governo alega que os gastos são altos para "dar agilidade e, principalmente, segurança às viagens do governador". Afirma ainda que todas as contas foram aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado.

Cancelamento
Hoje, no aniversário do Estado, Zeca deve passar o dia em Campo Grande em atividades do governo. Estava prevista a presença do virtual candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, mas ele (Lula) cancelou a viagem ontem.
O governo informou que o cancelamento ocorreu em razão do atraso na volta de Lula de viagem a Europa. Procurada pela Folha, a assessoria de Lula informou que ele passou o dia de ontem em São Paulo, mas não soube explicar o cancelamento da viagem.

O maior evento programado para hoje é a "Ação Popular". Inspirada na "Ação Global", a atividade é feita semanalmente em um bairro de Campo Grande, geralmente aos sábados.
Entre os serviços oferecidos durante o dia pelo programa estão corte de cabelo gratuito, emissão de documentos e atendimento dentário.
Zeca costuma visitar as ações durante a manhã e tira fotos instantâneas ao lado de eleitores. A foto e o fotógrafo são custeados pelo Estado.


Caso Jersey é de responsabilidade federal
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu ontem, por unanimidade, que é responsabilidade da Justiça Federal de São Paulo -e não da estadual- investigar as contas mantidas pelo ex-prefeito Paulo Maluf e seus familiares na ilha de Jersey.
O tribunal considerou que os crimes supostamente cometidos pelo ex-prefeito - lavagem de dinheiro, evasão de divisas e sonegação fiscal- seriam, a princípio, de competência federal, isto é, contra a União.
O conflito de competência deu-se por causa das possíveis origens do dinheiro depositado no exterior. Caso a origem fosse ligada à emissão fraudulenta de títulos públicos, os precatórios judiciais, caberia à Justiça Federal. Se estivesse relacionada a desvios em obras locais, a competência seria estadual.

Ambas as hipóteses, consideradas pela juíza federal Adriana Soveral no pedido de julgamento do conflito de competência, foram descartadas pelo ministro-relator Gilson Dipp, que afirmou faltar provas que indiquem a causa da suposta infração.
"Para a conexão objetiva, seriam necessários indícios da relação de causalidade entre as alegadas infrações", justificou em seu voto, seguido pelos outros oito ministros da terceira seção do STJ. Dipp citou uma jurisprudência anterior do STJ que dita que processos de crimes conexos, de competências federal e estadual, competem à Justiça Federal.
Desse modo, o tribunal determinou que todas as provas levantadas no âmbito estadual sejam repassadas à 8ª Vara da Justiça Federal de São Paulo.

Provas válidas
Ao concluir seu voto, Dipp lembrou que a mudança de foro não desqualifica as provas já recolhidas: "A posterior declinação da competência [...] não tem o condão de, por si só, invalidar a prova até então regularmente colhida".
Com a decisão do STJ, o promotor Marcelo Mendroni, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) do Ministério Público de São Paulo, deve se afastar das investigações. "Só me resta esperar pelo sucesso da Justiça Federal", afirmou o promotor.
Foi Mendroni quem deu início às investigações sobre as contas da família Maluf em Jersey. Ele acreditava na relação entre o dinheiro depositado no exterior e o superfaturamento de grandes obras viárias na gestão Maluf (1993-1996).

O promotor Sílvio Marques, da Cidadania, que investiga eventuais crimes de improbidade administrativa por causa do superfaturamento das obras, permanece à frente do caso, já que, quando os supostos crimes foram cometidos, Maluf era prefeito da capital paulista.
Marques tem até o último dia útil do ano para denunciar o ex-prefeito por crime de improbidade administrativa. Eventuais crimes de improbidade cometidos por Maluf prescrevem no dia 1º de janeiro de 2002, quando completa cinco anos que ele deixou o cargo.

A Justiça Federal considera essa decisão uma vitória prévia para o processo que pode decorrer das investigações. Com a competência do tribunal previamente estabelecida pelo STJ, o réu não poderá entrar posteriormente com uma ação anulatória alegando a incompetência do juiz.
"Vamos continuar investigando e aguardando o envio de documentos que solicitamos ao exterior", disse a procuradora da República, Denise Abade. Ela divide o caso com o colega Pedro Barbosa Neto.

Colaboração externa
Na decisão, o ministro Dipp considerou que duas investigações paralelas poderiam prejudicar as partes, a celeridade da apuração, a colaboração internacional e a "própria verdade real". Na semana passada, o ministro da Justiça, José Gregori, pediu a quebra do sigilo bancário de Maluf às autoridades da Suíça e de Jersey.


Pimenta quer nova regra de licitação < BR>O ministro Pimenta da Veiga (Comunicações) incluirá no anteprojeto da nova Lei dos Serviços de Radiodifusão, a ser encaminhado ao Congresso até o fim do ano, a proposta de que as licitações públicas para venda das concessões de rádio e televisão sejam decididas pelo preço médio, e não pelo maior preço, como estabelecido na lei de licitações públicas.
Pimenta sugeriu que as concessões sejam vendidas ao candidato que apresentar o preço mais próximo da média entre a maior oferta e o valor mínimo estabelecido pelo governo nos editais. "Seria uma forma de evitar alguns excessos que estão sendo cometidos, não sabemos por que razão."

A Folha apurou que o ministro suspeita da utilização de dinheiro ilegal, até mesmo do narcotráfico, nas concorrências de radiodifusão, embora não disponha de provas nesse sentido.
Segundo o ministro, desde que as concessões começaram a ser vendidas em licitações públicas (no final do primeiro governo FHC), as emissoras têm sido adquiridas por pessoas sem vínculo com o setor. Ele disse que não defende a volta ao modelo anterior, quando as licitações eram distribuídas por critérios políticos.
A cúpula do ministério passou o dia de ontem no Congresso Internacional sobre Radiodifusão, promovido para discutir questões polêmicas do anteprojeto, como o controle da propriedade dos meios de comunicação.

Os representantes do Reino Unido e da França defenderam a existência de limites de concentração da propriedade para assegurar a pluralidade da mídia e a democracia.
Segundo Catherine Smadja, chefe da Divisão de Políticas Comercial e Digital de Radiodifusão do Reino Unido, lá é proibido que proprietários de jornais diários que tenham mais de 20% do total de leitores tenham emissoras de rádio e de televisão.

A França também impõe limites rígidos à concentração, e a radiodifusão está diretamente subordinada ao primeiro-ministro. Segundo Jacques Louvier, diretor de Desenvolvimento de Mídias e Serviços do governo, nenhum grupo privado pode ter mais de uma concessão terrestre de TV com cobertura nacional.
Além da França e do Reino Unido, Estados Unidos e Itália mandaram representantes para prestarem informações sobre seus regulamentos ao ministério. Os quatro países informaram possuir limites para a concentração da propriedade na mídia. O anteprojeto apresentado por Pimenta elimina o limite de dez emissoras de TV por acionista. E não contém barreiras para a propriedade acumulada de meios, como rádio, televisão, jornal e TV a cabo.


Procuradores movem ação contra Jader hoje
O Ministério Público do Pará entra hoje com uma ação civil pública na Justiça de ressarcimento de danos contra o ex-senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e os demais envolvidos no caso do desvio de verbas do Banpará (Banco do Estado do Pará), em 1984.
Os promotores pedirão também liminar para o bloqueio dos bens de Jader a fim de garantir o ressarcimento de R$ 5 milhões, que ele teria desviado do banco.
O processo foi fundamentado em relatório do Banco Central e nota técnica da 5ª Câmara do Ministério Público Federal. Os dois documentos analisaram como funcionou a operação de desvio e quais foram os beneficiados.

Jader renunciou há uma semana. Com a renúncia, o ex-presidente do Senado perdeu a imunidade parlamentar e o foro privilegiado. Com isso, pode ser processado por promotores de Justiça ou procuradores da República. Antes, a abertura de qualquer processo contra ele dependia de aprovação do STF (Supremo Tribunal Federal).
O advogado do ex-senador peemedebista, Sábato Rossetti, prepara uma ação para impedir que o Ministério Público consiga o bloqueio dos bens.


Sem cargo, PMDB ensaia abandonar FHC
O PMDB está com um pé fora da aliança eleitoral que o governo vai apresentar para a sucessão presidencial de 2002. Ontem, a sigla resolveu testar seu poder de barganha no Palácio do Planalto e perdeu ao não conseguir concretizar a nomeação do senador Ney Suassuna (PB) para o Ministério da Integração Nacional.
O nome do senador foi vetado pelo PSDB e sofria restrições no próprio Planalto. O PMDB foi informado do veto por interlocutores do presidente. Ainda assim, resolveu testar o pulso de FHC: a indicação foi formalizada pelo presidente da sigla, Michel Temer (SP), e pelo líder da bancada no Senado, Renan Calheiros (AL).

Os dois fizeram questão de dizer que não estavam impondo o nome e que a decisão era do presidente. Estavam apenas atendendo um pedido de FHC, que declarara que o cargo, vago desde que Ramez Tebet (MS) foi eleito presidente do Senado, era da bancada liderada por Renan.
FHC não respondeu nem que sim nem que não. Disse apenas que havia restrições. Principalmente do PSDB. Antes mesmo de ser nomeado ministro, Suassuna já fazia contatos políticos com prefeitos da Paraíba. A conversa entre FHC, Temer e Renan foi interrompida diversas vezes, para o presidente atender a telefonemas.

Outro assunto
Outro assunto que permeou a reunião, mas nunca tratado diretamente, foi a situação do secretário de Desenvolvimento Regional, Ovídio de Ângelis, que era do PMDB e passou para o PSDB.
Sabendo de antemão que FHC conhecia as restrições da sigla à manutenção de Ovídio, Temer e Renan resolveram não provocar o assunto. Mas o próprio FHC se encarregou de sugerir que a legenda deveria se sentir compensada com a filiação de Raul Jungmann (Reforma Agrária).

Ao PSDB, FHC teria garantido que a permanência de Ovídio é irreversível. Ele chegou a fazer brincadeira com a filiação do ministro. Disse que até então desconhecia que Jungmann era um peemedebista convicto. Tanto que disse que iria a Pernambuco filiar-se ao PSDB e voltou no PMDB.
Nas entrelinhas, o PMDB deixou claro a FHC que, se ele não nomear Suassuna e não rever a situação de Ovídio de Ângelis, a sigla cairá de vez nos braços do governador Itamar Franco (MG), favorito na prévia que a sigla realizará em janeiro para escolher seu candidato à Presidência.
E pode antecipar a entrega dos cargos no governo para dezembro. O ministro Eliseu Padilha (Transportes), por exemplo, já disse que sai antes do final do ano.
FHC, por seu turno, esperava que o PMDB tivesse escorraçado Itamar desde a convenção de 9 de setembro. Pelo contrário, Itamar aparece agora como o nome mais forte na prévia do partido, aparentemente aumentando o poder de barganha da sigla no governo.

Para evitar a vitória de Itamar na prévia, o grupo governista conta com o governador Jarbas Vasconcelos, que não se mostra muito disposto a concorrer. Por isso, após a reunião, Temer e o assessor especial da Presidência Moreira Franco foram a Recife a fim de convencer Jarbas a disputar a prévia (leia texto ao lado).
Além dele, o Planalto tenta convencer Temer a também concorrer. Com três candidatos, a possibilidade de uma diluição de votos -e derrota de Itamar- seria maior. Calcula-se que entre 70 mil e 80 mil militantes votarão na prévia do PMDB


Itamar perde participação em programa do PMDB
O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), fez suspense até o último momento e perdeu a chance de falar no programa nacional do partido, que vai ao ar hoje à noite.
A cúpula peemedebista não vetou Itamar. Mas o lembrou de que não se tratava de um palanque eleitoral para atacar o presidente Fernando Henrique Cardoso. Em dúvida, Itamar atrasou sua resposta, o que acabou inviabilizando tecnicamente sua participação.
Haverá uma única imagem de arquivo, que registrou a presença de Itamar na convenção nacional do partido, em setembro.

Como resultado das negociações, Itamar aparecerá no vídeo nas inserções de 30 segundos do partido, que serão veiculadas nos próximos dias 13, 16 e 18. Ontem à tarde, o governador estudava o formato dessas participações.

Vídeo
Além das realizações de prefeitos e governadores do PMDB, o vídeo de 20 minutos vai apresentar o partido como uma opção para presidir o país a partir de 2002.
O presidente do PMDB, Michel Temer, falará em duas ocasiões e sustentará o slogan "o caminho do meio" -algo situado entre o que seria o "radicalismo" de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a estabilidade econômica acima de tudo defendida pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan.
O programa vai apresentar o que o partido considera avanços em relação às conquistas do governo FHC, com destaque para a reforma tributária e os programas sociais. O PMDB levantará um segundo slogan: "a democracia do pão sobre a mesa".

Trata-se de uma crítica comedida ao governo, cuja base de apoio o PMDB integra. "Participamos de importantes conquistas do governo, como as reformas constitucionais e a estabilidade econômica. Se quisermos agora tomar uma posição radical de oposição, ninguém vai acreditar na gente", disse Temer, que por duas gestões foi presidente da Câmara.
Temer falará de um futuro promissor do Brasil, "um país sem os antagonismos e a intolerância que teriam gerado os ataques terroristas aos Estados Unidos".

A história da legenda será lembrada pelo senador Pedro Simon (RS), com imagens de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. No encerramento do programa, o partido convidará a militância a participar das prévias, em 20 de janeiro, quando deverá ser escolhido o candidato da legenda à Presidência da República.


Serra intensifica contatos com governadores e "rivais" tucanos
Surpreendido com a rejeição dos tucanos à sua candidatura presidencial, o ministro da Saúde, José Serra, decidiu intensificar as articulações para consolidar-se como candidato do PSDB à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso em 2002.
Anteontem, Serra falou ao telefone com todos os governadores do PSDB. Impressionara-o a versão, originada no encontro que os tucanos realizaram semana passada, em Goiânia, de que cinco deles já haviam fechado apoio a Tasso Jereissati (CE). A exceção seria Geraldo Alckmin (SP).

Serra não só pôde comprovar que a versão era apenas isso mesmo -uma versão-, como também aproveitou para marcar uma conversa pessoal com cada um. Ainda anteontem, Serra esteve em Alagoas (PE) e Fortaleza (CE) a serviço, tipo de viagem que pretende tornar mais frequente. Hoje, por exemplo, estará novamente em Goiânia. O ministro também pretende ir a Belém (PA).
Os encontros entre Serra e Tasso sempre foram marcados pela cordialidade. Em público e no privado. Em Goiânia, por exemplo: após Serra assumir o discurso de candidato, os dois almoçaram juntos. Anteontem, em Fortaleza, os dois mantiveram a cordialidade em público. Mas, quando ficaram a sós, era visível a frieza mútua de tratamento.

Serra está agendando também dois encontros importantes para a costura interna de sua candidatura: Aécio Neves (MG), presidente da Câmara, e o ministro Pimenta da Veiga (Comunicações), aliado de Tasso.
Pimenta, às voltas com sua candidatura ao governo de Minas, ainda manifesta dúvidas aos amigos sobre o que é melhor para os tucanos. Além disso, é uma ponte confiável com Jorge Bornhausen (SC), presidente do PFL.
Aécio Neves, por outro lado, é nome-chave para qualquer candidato tucano que deseje cair nas graças da bancada do PSDB na Câmara. Uma pesquisa recente feita pelo Ibope revelou que Aécio, devido ao fraco desempenho demonstrado por Tasso e Serra nas pesquisas, teria o apoio de 55% da bancada para ser o candidato que os tucanos procuram.

O deputado mineiro disfarça e diz apenas que em 2002 será "candidato em Minas". É claro, fica envaidecido com os números das pesquisas, mas se dispõe apenas a fazer o meio-campo tucano.
A movimentação de Serra tem razão de ser: a principal queixa dos tucanos e dos demais partidos aliados é seu estilo seco de fazer política. Um figurão do Congresso, após almoçar com Serra, saiu elogiando as qualidades do ministro, mas fez uma ressalva: "Ele não sabe ser parceiro. Ainda não entendeu que política é parceria".

O fato positivo para Serra, na semana, foi a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) segundo a qual Alckmin pode concorrer à reeleição do governo paulista. Uma decisão diferente levaria seus adversários a articular a candidatura de Alckmin ao Planalto.
A decisão deu fôlego a Serra e redobrou sua disposição para intensificar as articulações. Após o PSDB, Serra tentará convencer os demais partidos aliados de que ele pode impor a quarta derrota de Lula numa eleição presidencial.


Artigos

Os Bin Laden da Paulista
CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Parecia o relato de uma reunião do Comitê Central da Al Qaeda, a rede terrorista que Osama bin Laden é acusado de comandar. Mas, olhando melhor, deu para perceber que Guilherme Barros, o editor do "Painel S.A." desta Folha, estava apenas contando o que ocorria na reunião da diretoria da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
O fato é que a cúpula da indústria sequestrou teses caras à esquerda e jogou-as sobre as fundações da política econômica do governo.

"Câmbio administrado", gritou, por exemplo, Roberto Nicolau Jeha, o vice-presidente da Fiesp, usando um codinome para o inominável (controle cambial).
Outro vice-presidente, Nildo Masini, chegou a propor que a turma da Fiesp tirasse o paletó e marchasse pela avenida ao lado dos trabalhadores (soldados e camponeses também?) para cobrar mudança do modelo econômico.
Os industriais têm toda a razão em enxergar na política econômica o seu grande Satã. Faz muito tempo que economistas insuspeitos de fundamentalismo de esquerda (como Delfim Netto e Luiz Carlos Mendonça de Barros) vêm dizendo que o governo FHC adotou políticas com um viés antiprodução.
É razoável supor que a turma da Fiesp tenda a fazer bem menos estragos na política econômica do que os terroristas conseguiram em Nova York e no Pentágono.

Primeiro, porque é tarde demais para o governo mudar alguma coisa, condenado que está a ser apenas gerente da crise. Segundo, porque a própria Fiesp é um pouco o Afeganistão: sua velha base foi tão severamente bombardeada pela política econômica que perdeu quase todos os dentes.
De todo modo, a rebelião dos industriais mostra que os termos do debate econômico mudaram, o que é um sinal relevante para 2002.


Colunistas

PAINEL

Até a última gota
FHC avisou nesta semana os ministros que serão candidatos em 2002 de que eles devem deixar o governo até 31 de dezembro. Os tucanos, no entanto, só querem sair em abril, prazo final de desincompatibilização.

Caminho dos pampas
Eliseu Padilha (Transportes) já decidiu que deixará o cargo antes do prazo determinado por FHC. A decisão foi motivada pelo descontentamento com a falta de recursos para seu ministério.

Foguetório eleitoral
FHC disse a Alckmin que quer acionar o botão da implosão do Carandiru em abril. A transferência dos presos começará em dezembro. A implosão é tratada pelo PSDB como o grande trunfo do partido na eleição de SP.

Reação imediata
A Executiva do PFL reúne-se hoje em Brasília. Dirigentes da sigla defendem a elaboração de uma nota condenando a posição do PSDB no encontro de Goiânia, quando tucanos disseram não haver hipótese de Roseana encabeçar a chapa aliada.

Acusou o golpe
FHC não gostou da manobra feita pelo PFL no Senado para atrasar a sabatina de Andrea Matarazzo, indicado para a Embaixada de Roma. Viu uma tentativa de atingir Serra. Desde que Roseana subiu nas pesquisas, as relações entre o PFL e o Planalto não são das melhores.

Mau exemplo
O carro oficial de Marco Aurélio de Mello (STF) passou ontem pela manhã a 100 km/h na pista principal do Lago Sul, em Brasília, onde o limite é de 60 km/h. O ministro estava no veículo.

Regulagem do acelerador
Candidato ao governo do RN, Henrique Alves diz que o PMDB não tem motivo para apoiar um tucano na sucessão de FHC. "Itamar é um ótimo nome. Mas tem de ser menos emocional. Pensar mais no futuro. Não dá para criticar o tempo todo uma gestão que o PMDB apoiou".

Nossa vez
O presidente do Banco do Brasil, Eduardo Guimarães, aumentou o próprio salário e arrumou um problema. Seu salário saiu de R$ 9 mil para R$ 23 mil, enquanto os bancários ficaram à míngua. A categoria ameaça parar. O protesto foi batizado de "Também queremos".

Diferença sutil
O programa de TV do PMDB, a ser exibido hoje à noite, vai dizer que o partido sempre esteve ao lado de FHC na defesa da moeda. Mas que está na hora de defender a moeda no bolso do consumidor brasileiro.

Pragmatismo eleitoral
Não é à toa que o PT tem demonstrado solidariedade a Paulo Maluf na Câmara de SP - o partido ajudou a barrar a criação de uma CPI para investigar obras da gestão do pepebista: o PT teme que, sem o pepebista na eleição estadual, Geraldo Alckmin ganhe no primeiro turno.

Outro lado
A Prefeitura de SP diz que os gastos com publicidade até outubro de 2001 (R$ 17,1 milhões) incluem trabalhos contratados na gestão Celso Pitta que não foram pagos. O ex-prefeito teria deixado de herança R$ 3,6 milhões para Marta Suplicy pagar.

Visitas à Folha
Walter Wieland, presidente e diretor-gerente da General Motors do Brasil, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de José Carlos da S. Pinheiro Neto, vice-presidente, de Joseph H. Damour, diretor-geral de marketing e vendas, de Pedro Luiz Dias, diretor de comunicação social, de Eduardo C. de Andrade, diretor de marketing, de Nelson Silveira, gerente de imprensa e de relações públicas, e de Paulo Roberto Leoni, vice-presidente da McCann Erickson do Brasil.

José Erivaldo Arraes, diretor da construtora Marquise S/A, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Valdeci Verdelho, vice-presidente da Paulo Andreoli & Associados.

TIROTEIO

Do sociólogo Emir Sader, professor da USP, sobre FHC vetar projeto de lei que tornava obrigatórias as aulas de sociologia e filosofia no ensino médio:
- Fernando Henrique Cardoso deveria renunciar à aposentadoria de professor de sociologia.

CONTRAPONTO

Tempos bicudos
No mês passado, o deputado federal Jaques Wagner, provável candidato do PT ao governo da Bahia, participou de encontros políticos em Macaúbas (BA) e voltou para Salvador de ônibus-leito. Em Ibotirama, dois passageiros anunciaram um assalto.
Um dos ladrões pediu que Wagner entregasse a carteira. Revirando os documentos do deputado, encontrou a carteira de identificação da Câmara, que tem o brasão da República.
- Sujou, ele é policial! - gritou o assaltante ao ver a carteira.
Wagner, com medo de ser morto, começou a gritar:
- Não sou policial, sou deputado federal!
O ladrão acreditou em Wagner, mas reclamou:
- Que deputado ferrado... Anda de ônibus e não tem dinheiro na carteira.
A dupla fugiu levando o relógio e dois celulares do deputado. E maldizendo o azar.


Editorial

MERCOSUL CONGELADO

Brasil e Argentina concordaram nesta semana em criar mecanismos emporários de salvaguarda no comércio entre os dois países. O objetivo alegado foi o de permitir que o Mercosul atravesse as dificuldades criadas pela crise argentina.
Porém teria sido melhor dizer que o objetivo é o de aliviar a situação da Argentina, e não a do bloco.
Os mecanismos e os setores atingidos ainda não foram definidos, o que só traz mais incertezas para a indústria brasileira. Afirmou-se que essas decisões serão tomadas sob a inspiração das regras da Organização Mundial do Comércio.

A OMC permite, por exemplo, que países sobretaxem produtos cujas importações tenham aumentado de maneira significativa e abrupta, colocando em risco a indústria local.
Os governos brasileiro e argentino procuraram destacar que as salvaguardas mostram que há flexibilidade no Mercosul. Também foi reiterado o caráter crucial da Tarifa Externa Comum e reafirmado o objetivo de constituir a médio prazo uma moeda comum para o bloco.
Mas a divergência entre os regimes de câmbio flutuante brasileiro e o fixo argentino cria problemas de administração extremamente difíceis.

A desvalorização do real, por exemplo, tem levado a Argentina a reivindicar sobretaxas para exportações do Brasil, o que fere os princípios de uma zona de livre comércio.
Mas as dificuldades são ainda maiores. Afinal, o Mercosul é mais do que uma zona de livre comércio. É uma união aduaneira -acordo que, além de zerar as tarifas de importação entre seus sócios, também unifica a taxação sobre produtos oriundos de países de fora do bloco.

Nesse sentido, a Argentina já obteve do Brasil em 2001 a permissão para zerar suas tarifas de bens de capital para nações de fora do bloco, prejudicando a indústria brasileira.
Nesse contexto, é inútil saudar a flexibilidade do bloco e ao mesmo tempo ressaltar o caráter crucial da TEC. Mais distante ainda é estabelecer um compromisso de criar a médio prazo uma moeda comum para o Mercosul quando cada país reafirma seu regime cambial.


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10/11/2001


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